Uma homenagem a Alan Turin

Está todo mundo falando dele e eu quero ser popular, então aqui vai outro enigma!
(Sacaram aí o jogo de palavras? Ele descobriu o código do.. ah, destá.)
Qual o número mais adequado para completar a linha?
2; 10; 12; 16; 17; 18; 19; ?
Respondam e discutam aqui nos comentários que eu colocarei a resposta segunda-feira. Quero ver o desenvolvimento, hein!?

Abram os vidros e deixem o spam sair

Mais um dia, mais um spam, mais um artigo combatendo essa praga.
O de hoje é um sobre carros e benzeno que pede a todos os motoristas para não ligarem o condicionador de ar assim que entraram em seus carros pois blá blá blá.
(Mais uma vez, é parte da minha política não incluir o texto para não confundir, senão daqui a seis meses tem uma ruma de gente pensando “é verdade sim, eu vi num blogue de ciência!” e isso é uma das últimas coisas que eu quero.)
Quem já recebeu o dito cujo pode conferir, quem não ainda recebeu espere um pouco. Ele vai chegar.
Vamos lá.
A primeira coisa que eu gosto de checar nesse tipo de mensagem é a consistência interna: entre o primeiro e o último parágrafo há alguma contradição?
Logo no começo temos uma lista de problemas que o produto causa. No final, temos outra lista.
Para mim, isso tem cheiro de empolgação do autor, como Chaves quando se empolga e fica chutando o ar, dizendo “zás, zás, e isso, e mais aquilo, e mais aquilo outro e, e, e…”.
Quem estava escrevendo não se satisfez com apenas seis doenças, aí antes de acabar o texto incluiu mais três ou quatro.
E sim, existe uma contradição pequena, mas que está lá.
O email afirma que o produto “causará leucemia”. Não é “pode causar”, é “vai causar, se ligue!“.
E ainda na mesma linha diz que “pode causar câncer”, assim, bem despreocupado. “É, pode ser que cause, mas não sei, não tenho certeza. É mais um ‘talvez’ que um ‘é batata!'”
Primeiro diz que vai (leucemia é um tipo de câncer), depois diz que talvez.
E a conjugação verbal? cáspite, deplorável!
Meu segundo problema (depois da gramática) é a miríade de doenças distintas e não-relacionadas que podem decorrer da exposição à substância protagonista.
Esse tem até “envenena os ossos”. Ou seja, não tente fazer caldo com benzeno por perto.
Agora, as informações testáveis: níveis seguros e exposição, sensações olfativas e relação com doenças.
O primeiro eu não achei confirmação ou negação, então vou ignorar. Até porque 76% das pessoas inventam estatísticas para confirmar seus argumentos, o que torna todos os números do email inúteis para mim.
O segundo é fácil. O autor assemelha “cheiro de carro novo” a toxicidade.
Segundo um estudo coreano, quanto mais velho o carro, mais benzeno ele produz.
Ciência 1, spam 0.
O mesmo estudo concluiu que a exposição aumentava durante o inverno, quando não se usa ar-condicionado em carros.
2 x 0
A principal fonte de benzeno é externa, vindo diretamente da gasolina, e não interna, proveniente de painéis e dutos de ventilação, como sugere o email.
3 x 0
Terceiramente, leucemia foi associado sim a benzeno. Que não é liberado pelo painel do carro, então não se preocupem por isso.
Outro ponto que eu checo sempre é a origem. Esses emails são geralmente traduções, então procurar em outras línguas sempre revela alguma coisa.
Por exemplo: é afirmado no texto que o nível aceitável dentro do carro é de “0,05 gr por cm2” (sic).
Um email em inglês de maio deste ano (o mais antigo que consegui rastrear, fazendo desse o spam mais novo do pedaço) fala em 50mg por pé quadrado, que daria 0,05 miligramas por centímetro quadrado, mil vezes menos.
Tem mais um pouco de matemágica incluída que difere medonhamente da versão em inglês, mas como eu disse, esses números não fazem sentido para mim.
Eu tenho quase certeza de que o original não foi escrito no Brasil por causa desse dado bastante explícito: “Se estacionado em área externa, sob o Sol, a uma temperatura superior a 16ºC”.
Exatamente em qual lugar do país existe uma área externa sob o sol onde o interior de um veículo não atingiria os dezesseis graus em cinco minutos?
Nossas contas sempre são pelo menos acima de vinte graus.
Isso é seguido por um conselho que pelo meu ponto de vista é pouco prático: “Recomenda-se que abra os vidrose porta para sair o ar quente interior antes que entre no carro.”
Desconsiderando a estrutura textual que me dá náuseas sempre que leio, quanto tempo esse “ar quente” demora para se dissipar?
Morando numa cidade muito quente e ensolarada como é Natal, posso dizer que esse tempo vai além dos limites da paciência da maioria das pessoas que eu conheço.
Eu concordo que os vidros devem permanecer abertos um tempinho, mas com o carro em movimento. E não para aerar o benzeno-mortal-envenenador-de-ossos, mas para tirar o calor-mortal-criador-de-círculos-sudoríferas-sob-os-braços de dentro do veículo.
Por fim, fica a dica: manter os vidros abertos enquanto o carro está andando aumenta a circulação do ar dentro do veículo, dissipando calor mais rapidamente e economizando combustível que seria gasto para condicionar o ar forçosamente.
Via ClauChow, minha atravessadora de emails sem sentido.

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