Resenha – E Se?

“É provável que bifes sobrevivam ao romper a barreira do som. Se o bife estivesse só parcialmente congelado, ele iria se estilhaçar muito fácil. Contudo, se ele aterrissar na água, na lama ou em folhas, talvez fique ok.[1]

Plasma incandescente, petabits por segundo, gotas de chuva de um quilômetro de diâmetro, escala Richter negativa, cozimento gravitacional, quantos mortos existem no Facebook, o sinal UAU! e um secador de cabelos indestrutível. Este livro é, sem sombra de dúvidas, o meu filão.

Sem se manter numa mesma linha de raciocínio por mais de dois parágrafos, Randall Munroe, autor do sempre (estatisticamente) excelente XKCD, responde perguntas hipotéticas (e algumas aparentemente nem tanto) de seus leitores com um rigor científico encontrado apenas nas mais bem conceituadas instituições de publicação de webcomics. Afinal, apesar de ser roboticista, Randall é um cartunista humorista (ou “roboticisto”, “cartunisto” e “humoristo”, como o jornalisto Jô Soares acredita ser correto).

Foto do autor

Foto do autor

Um dos melhores capítulos é o que fala sobre o que aconteceria com a órbita terrestre se todas as pessoas se juntassem num mesmo lugar e pulassem ao mesmo tempo. E não digo isso porque o Scienceblogs é citado (é a matriz, afinal, mas está valendo) mas pela reviravolta épica que me pegou de surpresa. Pensamento lateral daqueles que caem para fora da página. E ainda me lembrou um texto épico meu.

Um livro extremamente divertido, fácil de ler (para mim foram três ou quatro horas de pura empolgação) e de acompanhar (as contas mais pesadas ele guarda para si e não “mostra o trabalho”, só dá a resposta). Divulgação científica de primeira com inúmeras piadinhas discretas espalhadas por todo lugar (incluindo no verso da folha de rosto que, quando trabalhei num jornal, chamavam de “serviço”) que certamente causarão gargalhadas em quem as encontrar dentre as 300 e poucas paginas.

Eu achei muito erro de tradução[2] e até alguns de gramática (e uns mistos, como muito uso de vírgula que sobrou do original mesmo não existindo em português). Mas não acho que a maioria das pessoas realize ou se incomode, com essas coisas.

e se

A minha cópia é da primeira edição e tem uma diagramação esquisita no inicio, onde um mapa com os oceanos do mundo esvaziados ficou praticamente sem África e Europa, que se perderam dentro da lombada. Mas, como sou gente boa, eis aqui o desenho original.

Em E Se?, lançado aqui pela Companhia das Letras, você também vai descobrir uma nova solução para a máxima do copo meio vazio, quanto custaria morrer num quebra-molas e, com a ajuda de girafas empilhadas, como uma criança de cinco anos pode destruir a lógica de um físico e a força de um arremessador profissional.

Minha cópia me foi enviada pela editora, mas é o tipo de livro que eu compraria sem hesitar. Recomendo fortemente para você que lê o 42. e não volta para casa com confusão mental. E, se você é fã do XKCD, nem sei porquê está lendo isto.

Ah, e para quem estiver lendo isto a tempo e precisar saber até sexta-feira:

Sweet.

———

[1] Intacto, no caso. Não ok para comer.

[2] Porém, preciso parabenizar o tradutor que teve a ideia de traduzir “flyover state” para “estado janelinha”. A melhor manobra tradução que vi desde que “blaster” virou “explosor” nos anos 70.

Categorias