“Homeopatia é remédio”

Recentemente, uma leitora (ou espectadora, mais especificamente) do 42. me convenceu, via email, de que homeopatia funciona.

Vou reproduzir aqui (sic, sempre lembrando) os argumentos dela para que vocês também sejam convertidos.

[nota: eu estava de férias e, mesmo com um assunto tão chamativo que claramente (conhecendo os apologistas que se dão ao trabalho de me alcançar por correspondência eletrônica) haveria de ter sido tão bem pesquisado e argumentado, aguentei bravamente e deixei para ler o email quando voltasse ao ritmo normal de vida.]

16/05

De: Suzane [suzane.******@hotmail.com]

Assunto: Homeopatia é remédio

Achei você bobão de tudo com aqueles vídeos da homeopatia.
Pra você ver que a homeopatia funciona, quando estiver com caganeira beba o Arsenicun Albun pra ver que cura, a não que ser que esteja com algo grave no intestino.
Minha filha que bebia antibiótico todos os meses pra dor de garganta, passou 13 anos sem tomar, pois quando tinha dor de garganta usava essa fórmula; Beladona, Mercurio solb.e Barita Carb.
A homeopatia não é milagrosa, é remédio e tem que tomar com perseverança.

Os vídeos aos quais ela se refere são os da minha overdose homeopática e meu vídeo-diário de sintomas.

Abaixo, minha resposta, no início de junho:

Pois é, remédio não precisa de perseverança. Homeopatia precisa porque, no fim das contas, dor de garganta se cura sozinha enquanto você está se enganando e pondo sua filha em risco de algo mais sério acreditando em bruxaria.

E, finalmente, agora há pouco, chega em minha caixa de mensagens sua réplica inescrupulosamente impenetrável impressionantemente inteligente, idioticamente inescusável instigantemente inescrutável, intragavelmente insípida incrivelmente inspirada, imbativelmente incompreensível intrinsecamente inédita, indescritívelmente impenetrável intrigantemente imaculada e inescrupulosamente ideológica impositivamente imparcial da correspondente imberbe?:

16/06

De: Suzane [suzane.******@hotmail.com]

Assunto: Homeopatia é remédio

Igor
Tenho pena de ti!
Esses dias ainda li, um cara achando um absurdo que a homeopatia tem remédio feito de veneno de cobra.
Eu disse pra ele: Boboca que não sabe de nada, o capotril que tu bebes que não é homeopático, pra pressão alta também é feito de veneno de cobra.
Mas num país que o médicos não dão valor na alimentação, o povo tem que ser doentão da cabeça e não confiar na homeopatia.

E pronto! Bastou isso para me converter à religião prática charlatã curativa da homeopatia.
Viu? É assim que a ciência funciona. Bons argumentos, apresentados de forma clara, preferencialmente por email, provando que homeopatia funcio.., opa, o que é isso?

Mil e oitocentos estudos mais tarde, cientistas concluem (mais uma vez) que homeopatia não funciona.

De acordo com a Revista do Smithsonian:

“Talvez você lembre de quando os cientistas desbancaram a homeopatia em 2002. Ou 2010. Ou 2014. Porém, agora um grande estudo australiano, analisando mais de 1800 trabalhos mostrou que homeopatia (…) é completamente ineficaz.

“Após avaliar mais de 1800 estudos sobre homeopatia, o Conselho Nacional de Pesquisa Médica e de Saúde Australiano (NHMRC) conseguiu achar apenas 225 que eram bons o suficiente para analisar. E uma revisão sistemática desses estudos revelou “nenhuma evidência de qualidade que apóie as alegações de que homeopatia é eficaz para tratamentos de problemas de saúde”.”

Aqui o link (PDF) diretamente para o estudo do NHMRC: Evidence on the effectiveness of homeopathy for treating health conditions.

Hum. E agora? Em quem eu confio? Numa análise sistemática de quase dois mil trabalhos feitos por uma instituição de boa reputação envolvendo centenas de profissionais qualificados que comprova que algo física, química, farmacológica e biologicamente impossível não funciona ou na opinião semi-inteligível de uma anônima da Internet que mal sabe usar pontuação, que me acha um “bobão de tudo” e que tem pena de mim?

Hum...

Hum…

Homeopatia, evangelhoterapia, teoria da harmonia energética e eu.

Ontem eu recebi dois emails. Recebi vários, na verdade (a maioria deles sendo de pessoas que acham que meu endereço é algum tipo de âncora ou registro oficial para todo e qualquer Igor Santos), mas com algum tipo de importância foram só dois.

E quando qualifico importância como “algum tipo”, quero dizer “sem a menor importância para qualquer ser vivo”. Porque o primeiro dos aludidos veio com o assunto “Colaboração” e com o título (sim, título, pois é como se fosse uma cópia de um panfleto qualquer) “Teoria da Harmonia Energética“.

Agora vocês vão ver porque estou perdendo meu tempo com isso. O email começa (sic):

A energia é essencialmente harmônica e as formas organizadas de energia, como é o caso da matéria, que é uma organização de energia percebida por nossos sentidos, tendem a voltar a ser energia.

Em primeiro lugar, o que significa “essencialmente harmônica”? Porque são necessárias pelo menos duas coisas para existir harmonia entre elas. Da mesma forma como não pode existir nado sincronizado individual não posso afirmar que A energia é harmônica. Falta um outro agente aí. Mas vamos ignorar esse erro conceitual básico e passar para outro; “matéria é uma forma organizada de energia”.

É? E a energia é, ao mesmo tempo, harmônica e desorganizada? Mas calma! Olhem o que vem a seguir:

Esta volta à energia é estimulada por ações desarmônicas, ou seja, que contrariam a harmonia energética. Assim sendo, ações poluidoras, por exemplo, desencadeiam processos destrutivos da matéria.

Eu vou organizar as afirmações em uma só linha para facilitar a visualização. “A energia é essencialmente harmônica, a matéria é uma organização de energia e tende a voltar a ser energia estimulada por ações desarmônicas”. Ou seja, o ^jênio^ que não consegue escrever duas linhas coerentes entre si acha que a matéria volta a ser harmônica por um processo de desarmonia. É como dizer que passar com o carro por cima de um violão bem afinado faz com que ele volte a ser afinado pelo fato de ter sido destruído. Ou algo assim, esse email me deixou confuso.

No nosso organismo, ações perturbadoras da harmonia desencadeiam reações, agravadas por novas intervenções perturbadoras da harmonia inicial.

Eu adoro frases como “desencadeiam reações”. Me lembra uma pichação que vi numa mesa da faculdade onde alguém escreveu com corretivo “a molécula do átomo”. A frase acima parece dizer muita coisa mas não sobrevive à mais superficial análise, como outra frase já discutida aqui. Sério, leia lá de novo e pense a respeito.

stephen%20fry

Na sociedade humana, decisões desarmônicas como, por exemplo, concentração de recursos financeiros em determinadas pessoas, contrariam a harmonia social, que é um aspecto da harmonia energética.

Harmonia social é um aspecto da harmonia energética? Então essas ações socialmente desarmônicas são desejáveis, já que foi estabelecido que a desarmonia traz harmonia. E é harmonia que queremos, não?

Portanto, sigam o conselho do email e concentrem seus recursos financeiros em mim! Vamos atingir o máximo de harmonia possível!

A Teoria da Harmonia Energética permite o entendimento da individualidade harmônica, mesmo sem substrato físico…” Opa, peraí! Preciso interromper aqui. Qual dos dois é: energia sendo harmônica em si mesma ou indivíduos (necessariamente materiais) são harmônicos mesmo não tendo forma física? Essa deve ser mesmo uma teoria de lascar porque só seus preceitos já estão em outro plano de existência.

Continuando:

…pois ela se aplica a um conjunto organizado de princípios harmônicos, orientados para pintura, arquitetura, artesanato, invenções úteis, música, magistério, verso, prosa, e tantas outras formas de ações harmônicas que encantam nossos sentidos e melhoram a qualidade de vida. Quem age segundo a harmonia energética preservará a individualidade, não importa sob que forma esteja atuando.

Pintura, arquitetura, artesanato, música, magistério, verso e prosa, essas invenções inúteis… Sem falar do magistério, esse grande encantador dos sentidos. Não passa um só dia sem que minha propriocepção e minha percepção temporal não sejam estimuladas pelo magistério.

E, novamente, por que devemos preservar a individualidade? Ela existe? Como “a energia” pode ser harmônica sendo desarmonizada pela matéria descondensada enquanto indivíduos sem substrato físico poluentes e músicos? Hein?

No parágrafo a seguir há um destaque por minha conta. Vamos ver quem consegue perceber o motivo.

Corruptos, corruptores, maus administradores, criminosos, assassinos, mistificadores, ladrões, demagogos, parasitas e tantos outros que agridem a harmonia social, simplesmente desaparecerão com a desencarnação, pois estavam em desacordo com a harmonia energética.

Todos desaparecerão. Seja por desencarnação, inumação, falecimento, vencimento do prazo de validade ou qualquer outro eufemismo ridículo que se queira usar. Mas deixando o galopante e relinchante óbvio de lado, volto a perguntar: se estamos procurando harmonia, por que devemos nos preocupar em manter a “harmonia social, que é um aspecto da harmonia energética” se a “volta à energia é estimulada por ações desarmônicas” e a “energia é essencialmente harmônica“? Eu quero harmonia! E, para isso, segundo as diretrizes da teoria, preciso ser desarmônico.

Esta singela, e despretensiosa, teoria permite que se entenda o que somos e o que seremos na eternidade., inexistindo qualquer julgamento, mas sim harmonia ou desarmonia energética.

E sabem por que não existe julgamento? Porque é impossível entender uma coisa que não faz sentido por ser apenas uma série de contradições. E o sujeito ainda quer entender a eternidade? #comôfas?

Vou suprimir o nome do remetente para preservar… não sei o que. Ia dizer “preservar seu bom nome” mas não fui eu que enviou o email. Email que, aliás, veio com o assunto “colaboração” apesar de nenhuma outra palavra a esse respeito ter surgido. Talvez ele queira que eu colabore com a desarmonia.

Tamos aí.

———

O segundo email, recebido nos últimos minutos do dia (certamente para algum outro Igor Santos que ainda não aprendeu como emails funcionam) é de um médico. *suspiro*

Infelizmente, como eu já disse aqui, homeopatia é uma especialização em medicina no nosso querido território político federativo brasileiro. Por mais imoral que isso seja, continua sendo verdade. Falando em imoralidades, eu sempre tremo um pouco quando ouço que o mesmo indivíduo se qualifica como pediatra e homeopata. Como é o caso desse próximo remetente que, apesar de se qualificar também como escritor, refere-se a si mesmo na terceira pessoa e acha que campo de assunto de email não precisa de pontuação, acentuação ou ortografia em geral, já que esse veio como “saude homeopatia e evangelho“. Sic, sempre lembrando.

"Eu sei o que estou fazendo, não se preocupe!"

“Eu sei o que estou fazendo, não se preocupe!”

Desta vez eu vou deixar o nome porque, apesar de tudo, nada do que ele escreveu para mim é considerado errado no querido território supracitado e infrapodal (mais sobre pés daqui a pouco).

Gilberto Ribeiro Vieira é médico pediatra e homeopata e escritor. Além disso, é professor do curso de medicina da Universidade Federal do Acre – UFAC e possui diversos livros publicados que abordam saúde, homeopatia e Evangelho. A conciliação desses dois temas rendeu diversas publicações.

Er, quais dois? Você citou três assuntos que, se tentassem, não poderiam ser mais opostos. Mantendo sempre em mente que homeopatia não é saúde, mas bruxaria e xamanismo, coisa que o evangelho rejeita fortemente (ver 2 Crônicas 33, por exemplo).

O objetivo principal é mostrar a possibilidade de obter benefícios ao se reunir conhecimento e espiritualidade, mesmo quando se caminha com relativa independência entre as religiões organizadas do cristianismo. Seu trabalho tem múltiplas faces.

Eu juro que li aquela última palavra como “faeces” mas talvez seja culpa de um viés involuntário meu. Falando em involuntário, viram ali como ele separou claramente “conhecimento” de “espiritualidade”?

E, para um escritor, ele até é meio ruinzinho em evitar ambiguidades. O que significa “relativa independência”? Minha interpretação é que ele é dependente de algumas religiões cristãs mas não tanto quanto alguém que pratique somente uma.

Discorrendo sobre as múltiplas fæces do seu trabalho, ele continua:

Na primeira predomina a ciência e o raciocínio. A jornada começa pela análise detalhada de alguns casos de cura do Cristo no Evangelhoterapia – a Ciência de Amar, juntamente com a descrição sucinta das virtudes divinas na criação – em Deus Radiografia Simples.

Faltou só incluir ciência e raciocínio ali. Especialmente no lugar de “virtudes divinas na criação“.

Em seguida, é conduzido um estudo rigoroso das palavras e contradições de Jesus em O Evangelho Dialético. Por fim, o autor tem o privilégio de apresentar a abordagem homeopática num enfoque inédito e contemporâneo em Homeopatia e Saúde: do reducionismo ao sistêmico, publicado por coedição pelo Conselho Regional de Medicina do Acre e a Editora da UFAC.

Novamente, cadê a ciência e o raciocínio? O que o estudo das palavras do Hércules judaico tem a ver com ciência? Porque já sabemos que homeopatia tem exatamente zero ciência e/ou raciocínio atrelados.

E, se o Conselho de Medicina do Acre for igual ao daqui, qualquer médico tem apoio editorial para lançar qualquer livro. Ou gravar um disco, pintar um quadro, expor fotografias, etc. O CRM gosta de incentivar médicos em suas perseguições artísticas. Então citar o CRM/AC como parceiro não é medalha de mérito.

Na segunda etapa prevalecem o sentimento e a fé.” <= Na primeira também, amigão.

Com esse enfoque, surgem crônicas repletas de ternura e criatividade em Os Filhos de Deus. Ao mesmo tempo, nasce um novo entendimento da relação íntima e profunda entre o Eu e o Pai em DeuS, graças à análise meticulosa dos versículos do Novo Testamento.

É sempre interessante quando um escritor se refere a si mesmo como criativo. Especialmente quando isso leva à frase “graças à análise meticulosa dos versículos do Novo Testamento”. Eu só queria dizer, já que estamos firmemente no mundo das pseudociências, que Freud mandou lembranças.

Por fim, o autor descortina o significado original dos chacras desde os pés – cidadania – ao mais elevado do homem – intuição – no instigante Poema das Moradas.

Isso está escrito desse jeito. Ele descortinou o significado original dos chacras. E, melhor ainda, o chacra da cidadania reside nos pés. Por isso que eu fiz aquele trocadilho lá em cima, sacaram? Não? Nem eu. Especialmente porque o chacra “mais elevado do homem” é a intuição.

E A P°яя4 DA CIÊNCIA, CADÊ!?

"chacras"

Uma terceira vertente é exposta em um livro que aborda dois temas: Adole*sente, publicado pela Secretaria de Estado de Saúde do Acre, une-se ao Adole*santo e mistura informação científica e reflexões cristãs, em linguagem direcionada aos adolescentes e às pessoas que se relacionam com eles.

Queria muito saber o teor e a qualidade dessa informação científica que o autor cita. Principalmente ajustando a linguagem para adolescentes.

(Vocês viram os títulos? Eu consigo até imaginar o quão estufado ficou o peito do autor ao pensar nesses excelentes jogos de palavras.)

E, encerrando os trabalhos, A Fraternidade em Movimento, obra que contém as experiências e opiniões do autor sobre um dos amores de sua vida, o Movimento da Fraternidade, iniciativa espiritualista de amor ao próximo, gerada em Belo Horizonte em meados do século XX. Alguns livros estão em edição e serão publicados em breve e, portanto, ainda não se encontram disponíveis. O preço de lançamento é promocional juntamente com o frete grátis por tempo limitado.

Eu gostaria de reiterar que quem escreveu isso tudo aí em itálico foi o próprio autor, através de seu email pessoal.

Lembram das profundas análises dos evangelho pelo autor? E lembram do 2 Crônicas, capítulo 33 lá em cima? A página pública do perfil do Facebook do autor mostra que, entre seus favoritos, está o Pai Toninho de Xango.

———

Pensamento fantástico, delírios místicos, dissonância cognitiva, dificuldade de autoanálise, negação do óbvio, teorias conspiratórias. Pseudociências vêm em várias embalagens diferentes. E boa parte delas custa dinheiro.

Boa noite.

Ilusões

Ilusões são enganos dos sentidos, ora percebendo coisas que não existem, outra não notando coisas reais. Todos somos suscetíveis a erros de percepção – alguns mais que outros.

Abaixo, uma lista das ilusões mais conhecidas (e outras nem tanto).

Quando você enxerga o que não está lá: ilusão de ótica.

Quando você não enxerga o que está realmente lá: ilusão idiótica.

Quando você só enxerga os símbolos que representam o que deveria estar: ilusão semiótica.

Quando você enxerga o que não está lá apenas com visão monocular: ilusão semi-ótica.

Quando você enxerga um macaco que não está lá: ilusão simiótica.

Quando você percebe uma coexistência entre o que está e o que não está: ilusão simbiótica.

Quando você só enxerga a vermelhidão da raiva a lhe incitar: ilusão psicótica.

Quando você ouve uma seqüência de notas que não estão a tocar: ilusão dó ré mi sol si fá.

Quando você enxerga uma reta que se aproxima infinitamente de uma curva sem jamais a tocar: ilusão assintótica.

Quando você enxerga desordem onde ela não está: ilusão caótica.

caos?

Quando você vê o branco dos olhos de quem não está a lhe mirar: ilusão esclerótica.

Quando você aspira o excesso de gás carbônico que está no ar: ilusão cianótica.

Quando você está num dos extremos políticos e acha que suas idéias vão fazer o país melhorar: ilusão patriótica.

Quando você se vê como um autômato obrigado a trabalhar: ilusão robótica.

Quando você calcula uma deformação contínua mesmo não tendo como provar: ilusão topológica.

Quando você encontra uma igreja anglicana do século 19 onde ela não pode funcionar: ilusão neogótica.

Quando você se vê em outro país apesar de lá não estar: ilusão exótica.

Quando você ouve uma lira tocando uma balada numa escala medieval que aquela não pode alcançar: ilusão em dórica.

Quando você acha que vive bem mesmo quando está a ponto de quebrar: ilusão eubiótica

Quando você lê palavras completas onde abreviações estão a dominar: ilusão estenógrafa.

Quando você acha que assistiu a um filme de Zé do Caixão que jamais iria ao ar: ilusão do Mojica.

Quando você percebe atos inocentes como libidinosos a ponto de se excitar: ilusão erótica.

Quando você ouve a voz de um físico teórico que não pode mais andar: ilusão lateral amiotrófica.

Quando você enxerga uma ameaça à liberdade do país enquanto livremente vocifera sua opinião sem ninguém lhe encarcerar: ilusão despótica.

Quando algo lhe induz ao sono mesmo não tendo mecanismos para funcionar: ilusão narcótica.

Quando você acha que está na Itália mas na verdade está na França, no meio do mar: ilusão de Córsega.

Quando você ouve zunir um carro feio que mal consegue acelerar: ilusão de Ford Ka

Quando você bebe suco de laranja puro e acha que está a se embriagar: ilusão de vodca.

Quando você cheira no forno um bacalhau com batatas, ovo, cebolas e azeitonas que não está a cozinhar: ilusão a Gomes de Sá.

Quando você enxerga várias críticas em um texto que não há: ilusão ecdótica.

Quando você glorifica uma janela suja ou uma torrada queimada por enxergar uma imagem que precisa de altar: ilusão apoteótica.

Quando você lê um tratado ultrapassado e acha que sabe diagnosticar: ilusão neurótica.

Quando você é um homeopata dizendo que vacinas se baseiam nos princípios da diluição infinita, chacoalhada para ativar: ilusão antibiótica.

Quando você é um auto-hemoterapeuta dizendo que se curou de uma doença sem conseguir provar: ilusão anedótica.

Previsões cientificamente estáveis para 2013

Alguns anos atrás eu previ várias coisas e conseguir errar 100% delas. Isso só prova como meu poder é forte, já que estatisticamente eu deveria ter acertado pelo menos uma ou duas (ou seja, eu sou mais poderoso que a Estatística (ou algo assim – não consigo construir uma frase positiva com dados negativos envolvendo flutuações numéricas) ou então preciso ser mais conciso e direto (o que não é difícil para mim, acreditem. Eu sei ser bastante direto e focado (como semana passada, por exemplo, quando fui resolver um negócio com meu plano de saúde e precisei passar em seis locais diferentes e falar com, literalmente, oito pessoas distintas (imagine só quem não tem plano de saúde e/ou um carro. O que me remete ao meu desejo de vender o meu (o que seria uma imensa economia, tanto de combustível quanto de manutenção (e até mesmo uma economia emocional, já que está cada vez mais difícil dirigir sem se aborrecer nesta cidade (e, pior ainda, está estacionar. Na rua já é impossível (apesar de eu achar que deve haver algum momento em que existam vagas, já que não creio que todos aqueles carros passem semanas estacionados (eu sei que eles não passam, a verdade é essa, vez por outra eu consigo uma vaga (algumas vezes (mas não sempre) até perto de algum estabelecimento que eu pretendo visitar) mas ou estaciono imediatamente ou perco a vez) ocupando os mesmos lugares, entra dia, sai dia) e os estacionamentos pagos estão ficando cada vez mais ridiculamente caros, o que aumenta ainda mais meu gasto com o carro) porque o motorista atual é só um pouco menos selvagem que um demônio-da-Tasmânia (especialmente os motoqueiros, que parecem ter algum fetiche com espaços apertados (e até mesmo quando não existem carros na frente eles andam costurando um trânsito virtual (o que só aumenta o desgaste do veículo (ou, como é mais costumeiro, ficam mirando a moto nas faixas pintadas no chão (o que me lembra uma criança tentando andar na ponta da calçada, se equilibrando) mesmo tendo toda uma rua livre para transitar) e os custos de manutenção de algo que deveria ser bem barato) que só existe na parte de seus cérebros que cria a expectativa e a recompensa (acho que às vezes até sexual (se bem que talvez “emocional” fosse uma palavra mais adequada para o contexto), se bem que não posso ter certeza do que se passa na cabeça de alguém assim), realizando a proeza de atrapalhar o trânsito preventivamente), talvez até causado pelo enclausuramento dos capacetes que usam (será que existe alguma correlação com isso? Pode ser que sim, vou pesquisar a respeito (nota mental: pesquisar o efeito do aumento da temperatura do capacete num cérebro já debilitado (ou seria o contrário, esse tipo de mente já seria predisposto?) pelo desejo de andar no meio de transporte mais arriscado já produzido) e talvez renda um post interessante) ou pela adrenalina constante que recebem na circulação) raivoso e acuado) e ainda eu deixaria de me preocupar em tê-lo roubado (a violência só piora, só piora), arranhado, etc) e investir o dinheiro em alguma coisa mais rentável), não contando as que confrontei por engano (porque, obviamente, os endereços nas guias estavam errados e desatualizados) e que não sabiam do que eu estava falando (não que as outras partes diretamente envolvidas também soubessem) nem como me direcionar ao lugar correto, mesmo assim não me tirando a concentração) em praticamente todos os momentos, jamais perdendo o fio da meada) para não confundir tanto os meus leitores com divagações aleatórias) ao invés do meu placar perfeitamente zerado.

Então, sem mais delongas, vamos às previsões para 2013!

Ao longo deste ano, terremotos inesperados ocorrerão na Europa e na Ásia, surpreendendo os moradores da região E virando notícia em vários locais ao redor do globo. Pessoas predispostas a esse tipo de comportamento se compadecerão e demonstrarão apoio (nunca se saberá ao quê exatamente).

Lá pelo meio do ano – prevejo que entre julho e agosto -, uma chuva de meteoros aparecerá no céu do norte, anunciando mudanças. A este fenômeno será dado o nome genérico referente aos filhos do primeiro grande herói. Visiono ainda que está herói teria cortado a cabeça de um terrível monstro com cabelos de serpente e que seu nome rima com a frase “ter seu“, que pode ser completada com coisas bonitas como “coração”, “número de telefone” ou “cachorro na minha casa nunca mais! Da próxima vez que você viajar, deixo-o num hotel”.

Um artista famoso vai fazer algo que chocará o mundo, enquanto alguns o defenderão, chamando de “arte” qualquer que seja a bizarrice que aquele venha a fazer. Trocadilhos com seu nome surgirão e seu nome virará um meme nas redes sociais. O termo “celebridade” será inadequadamente utilizado.

Em 2013, o planeta ficará em trevas. Pelo menos parte dele. E no dia 3 de novembro.

As noites de 25 de abril, 25 de maio (COINCIDÊNCIA???) e 18 de outubro também ficarão ligeiramente mais escuras. Isto é, nos locais com pouca iluminação artificial e dentro da região afetada pelos eclipses lunares.

Você que está lendo isto agora também está sendo pré-lido. Você (ou algum familiar ou alguém próximo) terá algum sintoma em pelo menos uma das regiões especificadas no diagrama abaixo:

Se você é mulher, as chances aumentam significativamente naquela parte mais abaixo. Aquela bem vermelha que parece está escorrendo. Viu qual é?

Um centenário morrerá. Seja literalmente ou apenas semanticamente, completando 101 anos e ultrapassando o título de “centenário”. De toda forma, prevejo que um centenário morrerá.

Em previsões relacionadas, antevejo o nascimento de um(a) futuro(a) centenário(a) e ainda acrescento que este(a) viverá até depois do fim deste século(a).

Vejo ainda futuramente que os homeopatas continuarão dizendo que o conceito científico de vacina confirma seus conceitos mágicos de ultradiluições de água com água² enquanto denunciam que toda a ciência médica está errada e mata milhões de pessoas. É também certeza que eles dirão que homeopatia é boa porque não muda há 200 anos (errado, mas já que estamos ignorando uma realidade, vamos ignorar todas as outras – menos as que nos beneficiam) e citarão, sempre que possível, a Talidomida.

O Sol mostrará toda a sua indiferença pela raça humana aumentando a incidência de casos de cânceres de pele e, mesmo com todo o calor que vem fazendo, continuará a brilhar normalmente, jamais diminuindo a temperatura terrestre.

Ele também vai mostrar sua indiferença a tudo, continuando a ser uma estrela inanimada e desprovida de consciência.

Para o meu prazer, continuarei a ser xingado pelos pseudocientistas que passam tanto tempo insistindo em me mandar estudar que ficam sem tempo de estudar eles mesmos. Qualquer coisa, não só o assunto sobre o qual eles dominam exatamente zero.

Este ano será o primeiro em vinte e seis cujos dígitos não se repetem.

Antecipo ainda que os calendários de outras culturas continuarão a ser um mistério para a maioria eurocêntrica que não entende porque os judeus dizem que estamos em 5773 ou qual motivo levaria os chineses a contar os anos em animais. Sério, como eles esperam obter alguma vantagem com isso?

E que Alá nos proteja!

E, finalmente, em 2013, alguns post ficarão inacabados, possivelmente causando tensã

Homeopatia, coitadinha, não tem vez porque a “Indústria Farmacêutica”, que se preocupa apenas com dinheiro, não deixa!

Por que homeopatia é gratuita, né? Todos os homeopatas são filantropos e fazem eles mesmos as preparações, sem qualquer custo para os clientes pacientes, não é verdade?

A pobrezinha homeopatia não tem do quê viver, apenas sobrevive de doações daqueles que por ela foram salvos, e… Opa, peraí! Que manchete é essa?

Multinacional homeopática processa blogueiro acerca de afirmações de que seu curativo mitológico “não tem ingrediente ativo”.

Samuele Riva, um blogueiro italiano, está sendo processado pela Boiron, multinacional francesa de “remédios” homeopáticos. Riva ousou fazer uma piada com a alegação de que Ooscillococcinum teria “ingrediente ativo”. A companhia alega que o produto é feito diluindo-se “oscillococcinum” (uma substância mitológica que dizem estar presente em fígados de patos, apesar de nenhuma evidência apoiar aquele fato) em 200 diluições de 1 para 100, o que “equivale a diluir 1ml do ingrediente original num volume de água do tamanho do Universo conhecido”.

Multinacional? Sim, a Boiron é, segundo eles mesmos, “grupo farmacêutico pioneiro e líder da Homeopatia no mundo”.

E uma multinacional está processando um blogueiro que teve o disparate de dizer que seus supostos remédios não contêm um ingrediente ativo que sequer existe.
Mas a homeopatia não tinha como único intuito curar todas as pessoas de todas as doenças do mundo de forma completamente grátis?

Não.

Homeopatia é uma indústria. Não é “farmacêutica” porque não existem fármacos associados aos seus produtos, porém é uma indústria assim mesmo.

E a Boiron está processando Samuele Riva porque ele disse que um remédio não pode ser feito com um ingrediente que não existe.

Explicitando, a Boiron diz que o Ooscillococcinum é feito diluindo raspa de chifre de unicórnio até que ele deixe de existir. Sem jamais ter existido em primeiro lugar.

Faz sentido para algum de vocês? Por que para mim não faz.

Samuele diz que a empresa não só ameaçou o provedor com um processo para apagar o post como exigiu “bloqueio de acesso ao meu website“.

E agora, fez sentido? Não, né? Que bom. Sinal de que não estou tão desconectado da realidade assim.

Homeopatia continua não funcionando mesmo quando você faz a diluição impossível de uma coisa que não existe.

Provas? Eu ainda estou vivo.

Via Kentaro, pelo GReader.

Homeopatia é feita de nada e NÃO funciona contra dengue

Em Natal, a prefeita Micarla de Sousa (eleita pelo PV) sancionou a Lei nº 6.252, de 25 de maio de 2011 (link em PDF) que diz:

A PREFEITA DO MUNICÍPIO DE NATAL,

Faço saber que a Câmara Municipal aprovou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º – Autoriza o Poder Executivo a realizar estudos e pesquisas no sentido de adotar medicação homeopática, no combate e prevenção de dengue em Natal.

I – A medicação a que se refere o artigo 1º poderá ser ministrada nos bairros que apresentem os maiores índices de infestação da doença ou nas áreas onde a equipe técnica da Secretaria Municipal de Saúde definir como prioritárias ou de risco iminente para proliferação de casos;

II – A aplicação do medicamento será executada pelas unidades de saúde, na dosagem prescrita por profissional competente;

III – A Secretaria de Saúde do Município de Natal, através de uma equipe multidisciplinar, fará o acompanhamento e monitoramento, com as notificações necessárias, dos usuários atendidos pela medicação a que se refere o artigo 1ª desta Lei.

Art. 2º – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Um grande problema não é o texto acima, mas a maneira como a coisa foi levada à frente. Esses “estudos e pesquisas” não ocorreram. Especialista não foram consultados e, especialmente, o Conselho Regional de Medicina não foi ouvido.

Entrando em vigor, essa lei certamente beneficiaria, e muito, algumas pessoas, tendo em vista que homeopatia é feita de nada.

O pior, no entanto, é o fato de existirem pessoas em cargos altos (como prefeita e vereadores) que não só acreditam nessa macumba disfarçada de medicina que é a homeopatia como não têm o mínimo interesse na saúde da população (se tivessem, teriam consultado infectologistas ou teriam procurado o CRM, o que não ocorreu).

Jeancarlo Cavalcante, presidente do Conselho, falando ao jornal Tribuna do Norte disse que, tanto a sanção quanto a aplicação dessa lei são “uma temeridade”. Mas ele disse isso porque é o presidente.

Como eu não devo contas políticas a ninguém, posso dizer com mais letras: dar homeopatia a pessoas doentes ou tentar usar homeopatia para prevenir doenças potencialmente fatais é uma irresponsabilidade e demonstra, mais uma vez, o descaso do poder administrativo da minha cidade para com a população, cujo interesse deveria ser prioridade.

Por mais que esse “passe de mágica” (como disse ao mesmo jornal o presidente da Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia, Hênio Lacerda) estivesse sendo aceito por ingenuidade de Micarla de Sousa, seria dever da primeira servidora pública da cidade procurar pessoas que, ao contrário dela, realmente soubessem do que se trata medicina, doenças, tratamento, etc. Confiar na própria suposta inteligência é, demonstrativamente, um erro para pessoas assim, em cargos tão importantes.

Em entrevista ao Novo Jornal, Munir Massud, Professor da UFRN e especialista em Bioética Médica, aponta que homeopatia “não serve para nada. Na Medicina, o que não é científico não é ético”. E, para o Conselho Nacional de Saúde, antes de ser usado em humanos, um medicamento precisa ser fundamentado com experimentações prévias, cientificamente. Coisa que a homeopatia falhou em fazer 100% das vezes que tentou.

Em vista disso, a Secretaria Municipal de Saúde informou ao Novo Jornal que: “em razão da polêmica levantada pela lei, irá solicitar um parecer técnico à Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia”.

Sim, vocês já devem ter notado. A Secretaria de Saúde só irá se informar a respeito com especialistas no assunto porque o CRM e a própria Sociedade de Infectologia foram atrás.

Então, ao invés de combater o mosquito (não há uma propaganda de prevenção, um só folheto pregado em poste, nada), a prefeita achou por bem beneficiar financeiramente os feiticeiros medievais que venderiam água a preço de remédio. Porque, já que a população não gosta dela, porque ela haveria de gostar da população, não é?
Já que ela nem se trata aqui, por que então cuidar do sistema de saúde do município?

Recapitulando: matérias circularam pela Tribuna, Novo Jornal (já citados), Diário de Natal e nominuto.com após uma coletiva de imprensa organizada pelo Conselho Regional de Medicina e pela Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia, pois nenhum dos dois órgãos foram consultados antes da prefeita passar uma lei dando água e açúcar para a população como forma de combater a dengue.

Mas eu vou esperar até Micarla divulgar o resultados dos estudos e testes que realizou, segundo prevê a lei que ela promulgou semana passada.

Enquanto isso, pessoas de fora, estejam avisadas: não venham a Natal em hipótese alguma. Gastem seu dinheiro turistando na Paraíba ou no Ceará. Aqui vocês podem morrer de Dengue a qualquer minuto.

Não há mais salvação para nós, natalenses, mas estamos resignados quanto à falta de estrutura da prefeitura para combater um mosquito.

Como consolação, fiquem com Amanda Gurgel, uma das poucas coisas boas que aconteceram na minha cidade nos últimos anos.

E que venha a Copa!

Medicina cura. Homeopatia mata. #ten23

Bob Marley, músico, nascido em 1945, diagnosticado com câncer metástico em 1980.

Preferiu se tratar com homeopatia.
Se homeopatia funcionasse, Bob Marley teria chegado aos 66 semana passada.

Morreu oito meses depois.

While touring in America, Marley went jogging in Central Park and collapsed on Sept. 21, 1980. Doctors discovered his cancer had moved into his brains, stomach and lungs. Though he tried many homeopathic remedies, Marley died in Miami on May 11, 1981.

José Alencar, empresário e político, nascido em 1931, diagnosticado com câncer abdominal em 1998.

Preferiu se tratar com Medicina.
José Alencar, não tão firme nem tão forte, mas ainda vivo.

Completará 80 anos em outubro.

O ex-vice-presidente da República José Alencar está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e seu quadro de saúde é estável, de acordo com o boletim médico divulgado nesta quinta-feira [10.02.2011]. O político está consciente e tomando antibióticos.

Homeopatia e rastafarianismo mataram Bob Marley.

Cirurgias e quimioterapia salvaram José Alencar. Várias vezes.

Então, antes de vir me dizer “eu sei que homeopatia funciona porque eu e minha família usamos”, pense em Bob, mon.

Homeopatia não funciona.

E isso não é só meu ponto de vista. É a realidade.

Desafio #ten23 – overdose homeopática: vídeo-diário

Ontem, às 10:23h, eu ingeri 200 pílulas de arsênico homeopático numa diluição de 30CH, o que, segundo os homeopatas, deveria ter me matado em poucos minutos.

Mas isso eles disseram antes do ato, quando ainda estavam na fase das ameaças veladas e tentando criar medo. Depois, quando eles perceberam que os participantes sabiam da nulidade de efeitos negativos e iriam em frente de todo jeito, eles mudaram de ideia e disseram que temos que dar mais dinheiro para a indústria homeopática tomando as preparações por muitos e muitos anos para termos sucesso no nosso suicídio.

De superdosagem de vida, aparentamente.

Fica cada dia mais claro que homeopatia, além de matar, também emburrifica.

Eu e Jairo, do Um deus em minha Garagem, tomamos a suposta medicação enquanto o processo era filmado. O vídeo pode ser visto neste link.

Em seguida, ainda no shopping, iniciei um vídeo-diário para registrar qualquer efeito colateral causado pela extraordinariamente imensa quantidade de nada que eu tomei. Abaixo vocês podem acompanhar minha saga, em nove vídeos (mas calma, nenhum tem mais de cinquenta segundos).

Continue lendo…

Desafio #ten23 – overdose homeopática. Ou, ‘o dia em que eu não morri’

Atenção: todas as aspas usadas neste texto são irônicas.

Estou neste momento preparando um diário dos “efeitos colaterais” da “overdose” homeopática que tomei hoje, dia 5 de fevereiro de 2011, e que deverá ser postado amanhã (eu não “morrendo” daqui pra lá, obviamente) com direito a fotos e vídeos.

No entanto, agora, assistam ao momento em que “me matei” homeopaticamente:

Se você não sabe do que estou falando, leia isto.

Atualização: assistam ao meu vídeo-diário com as provações sofridas por mim ao longo das vinte e quatro horas subsequentes à overdose clicando no seguinte link: Desafio #ten23 – overdose homeopática: vídeo-diário

Vejam o acontecido por um outro ângulo, através da câmera de Jairo, meu colega de “overdose”:

E leiam seu texto sobre o ocorrido em Um deus em minha Garagem.

Médicos, CFM, homeopatia e imoralidades

Antes de qualquer outra coisa, eu gostaria de deixar claro que homeopatia não é medicina fitoterápica ou herbácea.

Homeopatia, tradicionalmente, é apenas solvente (água ou álcool) e um espessante (farinha ou açúcar).

Homeopatia é baseada em três conceitos demonstrativamente falsos:

1º – uma doença pode ser curada pela sua própria causa (envenenamento por mercúrio pode ser curado tomando-se ainda mais mercúrio);

2º – quanto mais diluída uma substância, mais potente ela se torna (além de serem situações totalmente contraditórias, como que por mágica, a potencialização ocorre apenas para a substância que o homeopata quer, desconsiderando milhares de outras coisas que possam estar diluídas na mesma água), e;

3º – para essa potencialização ocorrer, a diluição precisa ser agitada um certo número de vezes (esse número é fixo para cada tipo de diluição e o frasco agitador deve se chocar com uma superfície firme porém macia. Como uma Bíblia encadernada em couro, por exemplo).

Por ter sido idealizada no século 18, é de se desculpar preceitos tão absurdamente ingênuos (pelo menos para nós, do cientificamente avançado século 21) e sem sentido.

Tenho certeza de que o criador da homeopatia tinha a melhor das intenções (leia mais sobre isso neste link), mas também as tinham os xamãs que achavam que cuspe e fumaça curavam febre.

A Ciência evolui. Coisas como homeopatia e florais que se mantêm imutáveis à luz de evidências de ineficácia não são Ciência. Longe disso.

A página da Associação Médica Homeopática Brasileira, na seção risivelmente intitulada “A ética da ciência“, demonstra claramente o desdém que a homeopatia em geral tem com a ciência médica.

Notem que no quarto parágrafo é dito abertamente que evidências não importam tanto(sic): “Não é o mérito terapêutico em si, que estamos analisando neste momento, pois isto, fundamentalmente, o tempo e as experiências nos darão melhores respostas“.

O que importa mesmo é o argumento de autoridade: “Queremos mesmo é destacar a importância de tal declaração [do presidente do Conselho Regional de Medicina do estado de Mato Grosso do Sul]”.

E o trecho acima diz respeito a uma declaração sobre o uso de “medicamentos” (aspas irônicas do mesmo tipo que são usadas no texto da AMHB quando falam de cientistas) homeopáticos para o tratamento e prevenção de gripe.

(Outro detalhe bastante perceptível é a necessidade que o autor do texto sente em notar há quanto tempo a homeopatia é praticada e reconhecida no Brasil. É até ligeiramente constrangedor.)

O resto do texto tenta ridicularizar cientistas da Organização Mundial da Saúde que se opõem ao criminoso (aos meus olhos) método de receitar água e açúcar para curar AIDS na África, levantando pontos como “nós sabemos o que é terceiro mundo” e “homeopatia não faz parte da ciência imperialista que contaminou os países africanos com aquelas doenças” (apesar de Malária ser uma doença endêmica da região… mas vamos ignorar esse pequeno fato, já que outros tão maiores também o estão sendo).

O que me leva adequadamente ao tema que pretendo expor aqui: imoralidades.

Eu, enquanto varria o chão do meu lar e exercitava minha capacidade cognitiva lógico-numérica, consegui enumerar quatro tipos de imoralidade acerca da homeopatia como especialidade médica.

São elas: pessoal, profissional, científica e institucional.

Imoralidade pessoal

O ser humano é, intrinsecamente, moral.

Simplificando: temos uma capacidade de reconhecer os outros como seres independentes e uma disposição inata para evitar causar-lhes dano.

Se um de nós vê outro em dificuldade (pense nas vítimas das enchentes recentes que tivemos) e sabe que possui a capacidade de ajudar (neste cenário, podemos ajudar doando roupas, comida e remédios), esse um é tomado por um desconforto emocional, fruto do reconhecimento da dor alheia, que faz a maioria dos seres humanos querer dar suporte aos outros que dele necessitam.

Logo, negar conscientemente esse apoio é, do ponto de vista deste argumento, imoral.

Uma pessoa com um grau de conhecimento suficiente para ser aprovado num vestibular genérico e se formar num dos cursos mais puxados do nosso sistema de ensino sabe, ou deveria saber, que expor outrem a riscos desnecessários é, para a maioria dos fins, errado.

Portanto, se você vê uma pessoa usando um tratamento completamente ineficaz (além do efeito de placebo, que pode ser conseguido gratuitamente por outros métodos) e que, ao desviar recursos monetários (homeopatia é um negócio caro, muito caro) e desperdiçar tempo (quem está se tratando com homeopatia geralmente não procura medicina real e pode ter sua condição piorada pelo tempo perdido), está comprometendo a própria saúde (e em muitos casos a saúde de seus filhos) e permite que isso ocorra sem, no mínimo, explicar o outro lado, você está sendo pessoalmente imoral.

Imoralidade profissional

Se você é médico, me arrisco a dizer que entrou nessa vida sabendo mais ou menos do que se tratava.

É certo que existem aqueles que querem virar médicos por status ou por salário, mas a faculdade cuida da maioria desses casos. A maioria entra (e, mais importante, sai) sabendo que o papel da Medicina na sociedade é ajudar os outros.

O foco maior da Medicina é a vida. Seja para salvá-la ou para fazê-la o mais suportável possível em outros casos. O médico é o agente que faz daquele objetivo uma ação; o Profissional da Saúde.

Ao exercer essa profissão, lhe cabe usar de todos os meios possíveis e razoáveis para que seus pacientes, se valendo da ciência médica, adquiram, recuperem ou mantenham sua saúde.

Os princípios homeopáticos (mostrados acima) são, ao mesmo tempo, impossíveis e desarrazoados, cabendo apenas ao mundo da ficção ideológica ou do pensamento mágico, onde tudo é possível.

Receitar pílulas de açúcar para tratar Tuberculose não é prestar um serviço de saúde mas apenas adequar-se a uma corrente de pensamento ultrapassada e desacreditada com quase dois séculos de imutabilidade dogmática.

O mesmo estilo mental que não enxerga cientificamente o quão implausível homeopatia é pode confortavelmente considerar olho-gordo como doença e receitar uma simpatia como tratamento.

Se você é médico e não se importa em manter-se atualizado com tratamentos modernos comprovadamente cada vez mais efetivos e prefere render-se ao curandeirismo de um século pré-científico receitando mágica para seus pacientes, você está sendo profissionalmente imoral.

Imoralidade científica

Estendendo o tema acima: se você é um agente de uma modalidade que deve se moldar aos achados contemporâneos dos avanços científicos, sejam eles quais forem (interrupção do uso de eletrochoque em doentes mentais; uso de medicamentos como alternativa para drenagem de líquido sinovial do joelho; redução de casos de extração previamente indiscriminada de amídalas; substituição de leprosários por antibióticos, entre outros) e não cumpre o que tal modalidade exige preferindo se manter fiel a ideias, por favor, cancele seu CRM e rasgue seu diploma. Você não merece a denominação de “Médico” e todo o peso associado ao termo.

Pinte a cara, compre um cachimbo, se mude para uma tenda no meio do mato e vire curandeiro.

A Ciência (ou o Método Científico, mais especificamente) tem um mecanismo embutido de auto-correção. Eu dei quatro exemplos no parágrafo acima de maneiras comuns de se tratar (pelo menos) quatro problemas de saúde que foram, se não completamente abandonados, pelo menos melhor pensados.

Isso não caiu do céu. Muita gente estudou por muito tempo para que avanços fossem possíveis e negar todo esse esforço isso em favor de uma ideologia é, em primeiro lugar, extrema arrogância (de achar que sua opinião vale mais que todas as evidências coletadas por tantas pessoas ao longo de tantos anos) e, em segundo, pseudociência.

Se você é médico, profissional da Saúde, e prefere negar todo o corpo científico-literário da sua profissão em prol de uma crença, você está sendo cientificamente imoral.

Imoralidade institucional
(Agora, a parte onde eu posso de verdade me dar mal.)

O Conselho Federal de Medicina aprovou e reconheceu o uso da homeopatia em 1980, quando o “presidente” da nossa querida nação era o General João Figueiredo. Não sou muito bom de política mas, durante uma ditadura militar, que poderes reais uma autarquia “(…) fiscalizada e tutelada pelo Estado” [Dicionário Houaiss Eletrônico 3.0] como o CFM tem de fato?

Se, na época, o primo de algum governador apontado pela presidência quisesse mudar a definição de “unicórnio”, ele conseguiria facilmente fazê-lo. Independente do bicho existir ou não.

O que é um pedaço de papel? E o que é um pedaço de papel com algo escrito que não vai afetar você diretamente?

Antes corrigir o que o pedaço de papel diz do que ter sua carreira apagada pela mão autoritária de algum ideólogo poderoso.

Deixando claro o que eu tentei esconder no parágrafo sem sentido acima: não tenho dúvida alguma de que a homeopatia virou especialidade médica porque algum poderoso quis que fosse assim e pronto. Em 1980, vivíamos num mundo onde isso era completamente possível (não que não seja também hoje em dia, que o diga Tiririca e seus recém-adquiridos 61,8%).

O que não cabe na minha cabeça (por maior que ela seja, e ela é enorme – vide foto) é que hoje, 2011, continuemos com esse joguinho. Eu entendo que o CFM é uma organização política, mas a vontade de agradar a todos (ou, mais certamente, não desagradar a ninguém) não pode ser colocada acima da responsabilidade institucional de criar um ambiente saudável para a população em geral.

O Conselho é uma organização reguladora, além de administrativa, e essa aparente carta-branca para pseudociência (que inclui acupuntura) pesa sobremaneira. É uma declaração aberta de apoio a práticas que não têm como comprovar seu valor e, sinceramente, um tapa na cara da Ciência Médica.

Não é possível manter esse tipo de atitude; tradição não é resposta. Manter homeopatia em seus quadros porque ela “sempre esteve lá” não é correto. Ao deixar que homeopatia permaneça como especialidade médica, o CFM está ignorando tudo que a ciência mostra ser correto para o benefício de nada. Porque homeopatia é exatamente isso; nada.

Os conselheiros que formam a instituição precisam escapar da politicagem que os mantêm calados (conheço pessoalmente vários deles e estou supondo que todos são excelentes praticantes da medicina baseada em evidência e só não se pronunciam contra esse abuso por força política), caso contrário o CFM acabará sendo só mais uma agência política. E desse tipo já temos suficiente.

Se você é conselheiro federal e deixa que a política fale mais alto que a ciência num órgão que deveria ser regida por esta com a finalidade de proteger a sociedade, eu sinto muito, mas você está sendo institucionalmente imoral.

E apenas mais um nisso.
10:23 - Homeopatia: é feita de nada

E como eu sei que vão pedir que eu prove a negativa, vou logo adiantando: a alegação extraordinária que requer provas extraordinárias é dos homeopatas, que precisam que todas as leis conhecidas da Física, Química e Biologia sejam inválidas para que a homeopatia funcione como eles dizem.

Fora isso, eu sei que homeopatia não funciona porque meu dragão invisível indetectável que flutua silenciosamente e cospe fogo sem temperatura que mora na minha garagem me disse. Sintam-se à vontade para provar que ele não existe e não é onisciente.

Homeopatia é feita de nada. Tanto que dia 5 agora eu tomarei uma “overdose” homeopática num local público. Se “remédios” homeopáticos funcionam, devem seguir a função dose-resposta que diz que a magnitude da resposta está relacionada com a dose (quanto mais eu tomo, mais eu sinto), até que se chegue num nível tóxico.

Mas a não ser que eu seja alérgico a açúcar (não sou, a não ser que ele esteja muito quente), nada acontecerá comigo.

Se você mora em Natal e quer testemunhar (já que não posso convidar ninguém a participar), entre em contato comigo para saber onde estarei.

Saiba mais sobre os outros corajosos (homeopatia é inofensiva, mas não posso garantir que não tenha um homeopata doido por aí querendo nos pegar) ao redor do mundo que farão o mesmo como parte da campanha mundial 10:23 acessando http://1023.haaan.com/.

Categorias