Douglas Adams: frases aleatórias
“Estamos soterrados de tecnologia quando o que realmente precisamos é de coisas que funcionem.”
D.N.A
“Bebida amarga torna as pessoas mais críticas, mostra estudo” <= Não, não mostra.
Numa “matéria” (aspas irônicas) sobre um “estudo” (elas aqui novamente), a Folha.com dá uma aula de como jornalismo é feito atualmente: ctrl+c -> Google Translate -> ctrl+v.
Sem sequer a menor das críticas, o tradutor da Folha fez exatamente o que sua função exige, que é traduzir coisas. Pronto.
Com a diferença de que não se deu ao trabalho de incluir nem o nome do chefe do trabalho (Kendall Eskine) nem o nome da universidade que produziu tal primor de pesquisa (visto que “City University of New York” não é o mesmo que “Universidade da Cidade de Nova York”, a não ser que o jornal também traduza Cambridge e Oxford como “as universidades da Ponte de Came e Vau do Boi“).
A matéria foi capa do caderno Ciência e, como tal, deveria ter sido tratado com pelo menos uma nesguinha de ceticismo. Mas não, é bem mais fácil traduzir o que a New Scientist (adeus, qualidade) diz e deixar por isso mesmo.
A primeira linha já reforça o título, com: “O gosto amargo de uma bebida pode alterar o julgamento moral, fazendo com que as pessoas se tornem mais críticas.”
É? E quem disse?
Aí vem a primeira bomba: “Esse é o resultado de uma pesquisa realizada com 57 voluntários (…)”
Cinquenta e sete voluntários? Que amostra imensa!
AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH!
Já pode morrer?
Minha frase favorita do artigo: “(…) o grupo teve que analisar cenas como a de um homem comendo um cachorro morto (…)”. <= WTF!?
Mas não, não era necrozoofilia. Era apenas um lanche mesmo.
Só não sei se isso melhora ou piora o ocorrido.
A tradução continua peba e a necessidade de destruição não se mostra instantânea, até que chegamos no “curioso” dado que “surgiu” e que “mostrou que os partidários conservadores são mais afetados pelo gosto amargo, e consequentemente suas críticas, do que os liberais.”
É. Foi. Porque conservadores são naturalmente menos críticos que os liberais, não é?
NÃO! NÃO É!
E morrer agora, já pode?
Confundir causa e efeito é coisa de auto-hemoterapeuta. Esse tipo de falácia não deveria ter vez numa publicação que se propõe a divulgar Ciências.
Agora, meus amigos (porque em momentos de desespero, todos se tornam amigos), preparem-se para a maior conjectura já presumida numa matéria (notem a presença das Aspas Triplas do Repúdio) “””científica“””: “Embora o mecanismo entre paladar e comportamento não seja totalmente claro (…)”.
Não seja totalmente claro? Não seja totalmente claro?? E essa ████ existe??
Acho mais produtivo primeiro demonstrar que o mecanismo existe antes de insinuar a suposição de que já é um fenômeno bem estabelecido. É como dizer “embora o mecanismo entre florais de Bach e peidos de unicórnios não seja totalmente claro…”
Mas calma, ainda tem um restinho pegajoso no fundo desse copo marrom de Danone azedo das trevas. Vamos raspar com a colher (sic, sic, mil vezes sic).
Não tenho resquício homeopático de dúvida de que pesquisadores desse calibre realmente se perguntem coisas desse tipo.
Me lembra Homer Simpson, em referência a donuts, se perguntando se há algo que elas não consigam fazer.
Folha, por favor, melhore.
A veia da minha testa agradece.