Enigma molecular – 1ª fase

Como imitar é uma forma de homenagear (assim como facada é uma forma de carinho) e todas as boas idéias já foram tidas (não tem uma gramática aqui perto, eu não sei se essa frase fez sentido), vou “pegar emprestada” a idéia do Atila e vou publicar enigmas moleculares para entreter os fins-de-semana dos leitores e para cobrir os buracos no meu calendário, agora que diminui a frequência de postagens.
As regras são simples: vejam a molécula e digam, nos comentários, o seu nome e de onde ela vem.
Vou começar com uma bem fácil, bastante espalhada pelo Lablogs:

E aí, conseguem identificar ou precisam acordar antes?
Resposta segunda-feira bem cedo.

A busca pela vida noutros cantos

Desulforudis audaxviator
Encontrados a uma profundidade de quase três quilômetros numa amostra de água extraída do fundo de uma mina na África do Sul, esses microorganismos (também chamado de extremófilos, por fazer parte do grupo de seres que vivem em condições que chamaríamos de extremas, como ao redor de jatos de água superaquecida no fundo do mar ou no gelo eterno dos pólos) vivem num ambiente privado de oxigênio e que alcança temperaturas de até 60 graus centígrados.
Num exemplo de (possível) evolução, acredita-se que essas bactérias se formaram na superfície e migraram para dentro da terra, alguns milhões de anos atrás, onde nada mais há senão eles mesmos.
Eles tiram sua energia do hidrôgenio e sulfato produzido pelo caimento radioativo do urânio (que é um elemento que, através desse processo de caimento, ajuda a aquecer o planeta, evitando que nossa bola de pedra se solidifique de uma vez por todas) e constróem eles mesmos suas moléculas orgânicas, utilizando água, carbono inorgânico e nitrogênio, proveniente de amônia encontrada nas redondezas e que é um tanto quanto tóxico para nós. Mas também nós não somos extremófilos…
Aliás, oxigênio é tóxico para essas criaturas. Sinal de que não tem contato com tal gás há muitos milhares de séculos.
Nada vivo havia sido encontrado a uma profundidade grande assim e, de acordo com o sequenciador de genoma ambiental (um aparelho que conta os genes de tudo que houver numa amostra e diz a porcentagem de cada) dos pesquisadores, essa microfauna é composta exclusivamente desse tipo de organismo (99,99%, sendo o resto apenas detrito de coisas vindas mais de cima).
Agora imaginem que o planeta é apagado superficialmente, incluindo aí evaporação dos oceanos, transformando a Terra numa Vênus 2.0, mas retem (ainda leva acento?) sua integridade física.
Essas bactérias subterrâneas seriam as únicas coisas a sobreviver, porque a temperatura exterior não as atingiriam de imediato e as mudanças seriam lentas o suficiente que possibilitariam adaptação por parte dos sulferides.
Com o passar dos milênios, elas seriam o único traço de vida presente no mundo.
Mas seriam indetectáveis para um observador externo ou que mandasse sondas que não perfuram suficientemente fundo!
Vida é razoavelmente fácil de aparecer e se estabelecer, pois vai lutar até a morte para se manter viva.
Nem que tenha que descer para as profundas para respirar nitrogênio e comer urânio!
A descoberta de seres assim aumenta as esperanças/possibilidades de encontrarmos vida fora daqui.
Basta uma colônia de bactérias dormentes num pedaço de rocha atingida por um meteoro e lançada ao espaço (evento inacreditavelmente comum!) encontrar um local razoável para despertar e pronto. A semente está plantada!
Outra notícia relacionada; 10% da biomassa terrestre reside debaixo da superfície dos oceanos.
Vida alienígena, extraterrestre, não precisa ser verde, jogar baralho nem dar descarga. Sequer precisa se feita de silício ou titânio.
Precisa nem estar vivo!
Se contiver DNA e vier de outro planeta, é o suficiente.
Apóiem o SETI (eles têm um ótimo podcast).

Pré-natal para Síndrome de Down

Antigamente (até ontem, eu acho), existia um teste, feito nas futuras mães, para se saber se o feto era portador da síndrome de Down.
O teste consistia em se enfiar uma agulha na barriga grávida da mulher para colher uma quantidade de líquido amniótico (que envolve o feto dentro da placenta) e testar os genes da futura criança.
Além de altamente incômodo e ATERRORIZANTEMENTE ASSUSTADOR para a mãe, o procedimento introduzia o risco de dano ao semibebê.
Agora, cientistas da Universidade de Stanford, EUA, desenvolveram um novo método que depende da colheita apenas do sangue da prenha em questão.
Depois do sangue num vidrinho, basta contar e comparar genes, separando os da criança em desenvolvimento e verificando se eles são alterados.
Um teste do pezinho antes de um pé estar disponível!
Mas e depois?
Leiam o resto clicando aqui.

Cheiro de café

Da série “eu já sabia!”, li uma notícia (New Scientist, via BBC) que diz que o cheiro do café já é suficiente para acordar o cérebro.
Um teste foi feito em ratos deixados sem dormir por um dia inteiro. Ao fim da maratona de alerta, os animais foram expostos ao aroma de café e os cientistas registraram altos níveis de atividade em genes funcionais que indicam que o cérebro está “disposto”.
Uma resposta parecida com a registrada quando os ratos ingeriram cafeína.
“Eu já sabia!” porque sempre que passo pela seção de café do supermercado e sinto a lufada de trimeteilxantina eu preciso parar por um segundo para apreciar enquanto meu cérebro liga o turbo.
Duas observações, no entanto, são pertinentes:
1 – os testes nos roedores podem não traduzir bem para humanos, pois os genes são diferentes, e;
2 – o que eu sinto no mercado, obviamente, é prazer por estar sentindo o cheiro de algo em que sou (quasi) viciado.
Se fico mais alerta é pela antecipação de encostar os lábios uma xícara cheia do meu ópio negro.

Delícia...

Delícia...


Numa notícia relacionada (pela própria BBC), café descafeinado aumenta o risco de doenças coronárias.
Eu acho é pouco!
Beber café sem cafeína é um absurdo, uma bizarrice, um atentado à natureza!
Café sem cafeína é o mesmo que x-salada sem salada!
É como um leite sem lactose (como se o desnatado já não fosse uma afronta grande o suficiente), goiabada sem goiaba ou água seca!
Pessoas que bebem café descafeinado são as mesmas (pelo menos para mim) que fazem churrasco vegetariano (urgh!).
Não come carne? Não faça churrasco!
Não gosta de cafeína? Beba guaraná (porque ninguém merece tomar chá)…

Republicado: Lápis e papel na mão!

O artigo a seguir foi originalmente publicado por mim no meu outro blogue, no dia 27 de abril de 2008.
Clique no link acima e leia lá. O Google não gosta de artigos repetidos.

Off-topic: sinceras desculpas

Queria manter este espaço exclusivo para divulgação científica (deixando o resto das minhas coisas ali), mas não consigo deixar essa passar:
Gostaria de dizer à pessoa que aqui chegou procurando por “crítico em forma de poesia que tenha a palavra arco-iris é azul” que sinto muito não poder ajudar…
=¦¤/

Carnaval Científico – Grandes Descobertas Científicas

Artigo participante do I Carnaval Científico do Lablogatórios.
Muitos já devem ter ouvido falar de Norman Borlaug, ou O Homem que Salvou Um Bilhão de Vidas, ou o Pai da Revolução Verde.
Agrônomo, Ph.D. em genética e em patologia vegetal, Borlaug desenvolveu uma variedade nova de trigo muito resistente a doenças e com altíssima produtividade.
Isso lhe garantiu o Nobel de Paz em 1970, por, teoricamente, ter salvo 1 bilhão de pessoas da morte por fome.

Porém, o meu artigo de hoje não é sobre ele (que, tecnicamente não descobriu coisa alguma, apenas trabalhou duro com um propósito bem delineado e chegou ao resultado esperado), mas sobre alguém possivelmente bem menos conhecido, que avançou a ciência um pouco mais, mesmo que para o lado errado inicialmente.
Seu nome é Thomas Midgley Jr. e é provável que ele tenha matado, de fato, 1 bilhão de pessoas.

Engenheiro mecânico, mexendo em carros no início da década de 20, ele descobriu que o barulho de motor fora de tempo (aqueles pipocos que soam como tiros que costumam vir de carros velhos) diminuia quando se misturava iodo à querosene.
Mas apenas diminuir não era o suficiente, ele queria acabar completamente com a zoada, então partiu para testar cada um dos elementos da tabela periódica e descobriu que chumbo era o melhor de todos.
Como resultado, todos os veículos, por setenta e tantos anos, usaram chumbo misturado à gasolina, espalhando, bem espalhadinho, várias toneladas desse metal pesado e venenoso pela atmosfera terrestre.
Não satisfeito em resolver apenas 1 problema em vida, Midgley (pronuncia-se “mídj-lí”) queria fazer algo quanto ao dióxido de enxofre e a amônia usados em refrigeração (por serem ambos gases potecialmente perigosos à saúde e unanimemente nocivos ao olfato).
E, em 1930, com uma meta na cabeça, em apenas três dias ele descobriu o diclorofluormetano (di-cloro-fluor-metano), um gás inerte, inodoro, atóxico, não inflamável, não corrosivo e benéfico, ao qual deu o nome freón.
Havia então sido criado o primeiro dos clorofluorcarbonos, ou CFCs, compostos químicos diretamente responsáveis pela destruição da camada de ozônio, que protege nossas frágeis peles e olhos da radiação ultravioleta enviada grátis pelo sol.

O verde é o ozônio, o roxo é a falta dele e a massa continental abaixo é a Antártida

O verde é o ozônio, o roxo é a falta dele e a massa continental abaixo é a Antártida



Graças a Thomas Midgley, hoje nós temos uma miríade de problemas respiratórios, sanguíneos e dermatológicos.
Um só homem, em menos de dez anos, conseguiu fragilizar tremendamente a nossa saúde enquanto ao mesmo tempo nos ensinou (de maneira cruel e traumatizante) a importância de planejar e testar exaustivamente novas tecnologias antes de confiarmos todas as nossas esperanças numa solução aparentemente simples e inócua (a curto prazo) mas que se revela depois ofensiva e com complicações inimagináveis (a longo prazo).
Humanos somos e tendemos a cometer os mesmos erros como se não fôssemos capazes de aprender. Exemplo recente? Gordura trans!
Ótima no começo, boa para misturar açúcar com gordura, mas utilizada indiscriminadamente sem testes de longa duração que poderiam ter concluido como esse material nos faz mal, antes de nos fazer mal.
A grande descoberta científica de Midgley não foi a do chumbo na gasolina nem a do freón na geladeira, mas a descoberta da necessidade de estudos extensivos e duradouros antes da precipitação apressada e precoce de efeitos que enchem os olhos mas cegam o raciocínio e a razão.

Republicado: Como nós sabemos que cachorros vêem em preto e branco?

O artigo a seguir foi originalmente publicado por mim no meu outro blogue, no dia 21 de abril de 2008.
Clique no link acima e leia lá. O Google não gosta de artigos repetidos.

O maior número primo

Para vocês terem idéia da brutalidade destes números, um computador residencial, trabalhando sozinho, precisaria de 4 anos de processamento para testar CADA número de 100 milhões de dígitos, ou, 500 anos para testar UM número de 1 bilhão de dígitos.

Interessou? Cliquem no trecho para ler o resto.
Eu vi no Cybervida, via tecnol.ogia.com.br

Resenha – Felicidade: Os Mandamentos Para Chegar Lá

Recebi esse livro (que acompanha um CD) quarta-feira passada e comecei a lê-lo com a intenção de escrever a resenha no fim de semana, o que obviamente não aconteceu.
O motivo foi o seguinte: eu estava lendo com um caderno de anotações do meu lado, o que propiciava que eu escrevesse uma refutação de cada linha que lia. Ou seja, eu estava escrevendo mais do que lendo.
Por não conseguir chegar sequer a metade do volume, resolvi mudar minha abordagem e deixei o caderninho de lado.
Mas não tem jeito, é uma obra de “auto-ajuda” escrito por Lair Ribeiro (esse mesmo autor escreveu um com o título Como Passar no Vestibular, cheio de dicas como “leve um chocolate e uma garrafinha d’água para a prova” enquanto omitia o melhor conselho de todos: estude a matéria).
Eu tenho problemas com isso desde a concepção: quem lê um livro de auto-ajuda escrito por outrem está recebendo AJUDA, pura e simples, nada de AUTO ajuda. É como ir num restaurante auto-serviço (self-service) onde alguém faz seu prato sem lhe perguntar o que você quer comer. Ou alguém fazendo ginástica por você.
Eu e minha mãe concordamos que o livro é uma “babaquice” (palavra dela que eu achei adequada), mas por razões diferentes: ela acha que ele é uma “coleção de idéias óbvias” enquanto eu o vejo como uma miríade de falácias e erros deliberados de interpretação de causa e efeito (minha mãe é uma diplomata, eu sou um chato).
Alguns itens dessa coleção incluem visões grosseiras e simplísticas de evolução e interação humana, definições errôneas de fisiologia e medicina em geral e promove uma psicologia “solução mágica”, que pode curar tudo com a mesma resposta.
Eu tenho o dever cívico de não recomendar a leitura para pessoa alguma, pois para alguém esclarecido seria um tremendo aborrecimento e perda de tempo e para alguém que precise de ajuda seria um desperdício de energia, dinheiro e tempo que não adicionaria coisa alguma ao seu estado inicial de necessidade.
Meu maior problema com o volume é o uso freqüente de metafísica e linguagem pseudocientífica, que parece dar validade às besteiras descritas.
Frases como “leis universais que regem todos os indivíduos” (leis realmente universais regem tudo, não só pessoas) dão a entender, e depois são confirmadas explicitamente mais adiante, que todas as pessoas (nunca animais, plantas ou rochas) são governadas por regras fixas e imutáveis que comandam suas personalidades e lhes dão suas características de caráter, fazendo com que todos sejam “iguais” potencialmente.
Algumas passagens interessantes, no entanto, são umas raras onde o autor aconselha ao leitor a não esperar que as oportunidades caiam do céu, que se vá atrás do que se quer, “se mexa e trabalhe por aquilo que deseja”.
Uma pessoa que realmente tire proveito do livro não precisaria passar da página 23, onde lê-se algo do tipo “por que fazer amanhã se é só começar neste segundo?”. Alguém realmente determinado a mudar sua vida pode largar o livro onde está e ir rumo à mudança, sem precisar continuar a se apoiar nas muletas daquela leitura (ou a ouvir o CD que acompanha o pacote e apenas resume, sem acrescentar, tudo que nele está escrito).
Mas a principal característica que eu senti na leitura é uma contradição, como o cartaz colado num muro que diz “proibido colar cartazes neste muro”.
Um conjunto de regras para seguir que se combinam para nos dizer que seguimos regras demais e que é exatamente isso que nos prejudica.
“É proibido proibir!”
Finalmente, Felicidade está para O Segredo assim como Não Te Esquecerei (Renato e seus Blue Caps) está para California Dreamin’ (The Mamas and The Papas). Uma versão, adaptada ao brasileiro comum que ainda não ouviu falar em quantum, mas sabe o que é força superior.
OU
Alguém pode me provar errado e fazer uma resenha positiva do livro nos comentários.
Eu não consigo.
Demonstração do DVD (vendido separadamente), que coincide perfeitamente com uma parte da faixa 1 do CD:


Pela Editora Nova Fronteira.
A venda nas melhores livrarias ou pela Internet.

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