A melhor forma de descascar o ovo cozido perfeito

Antes de qualquer coisa (exceto estas duas frases), eis a receita do ovo cozido perfeito:

Deite um ovo (que foi retirado da geladeira com antecedência e que já se encontra em temperatura ambiente) em uma panela e despeje água fria da torneira em quantidade suficiente para cobrí-lo completamente. Adicione uma ou duas pitadas de sal e leve ao fogo médio.[1]

Assim que o conjunto começar a ferver, desligue o fogo e deixe o ovo em repouso por quinze minutos. Isso vai fazer com que ele cozinhe gentilmente sem que ultrapasse a temperatura interna ideal de 65°C (mais ou menos. Não me cite no seu TCC).

Findado o quarto de hora, escorra a água quente e volte a cobrir o ovo com água fria. Deixe-o por cinco minutos ou até que seja possível manuseá-lo ainda ligeiramente morno.[2]

Aí você descasca!

Usando o método de cozimento descrito acima, seu ovo ficará completamente cozido mas ainda macio.

Então, basta escolher o tipo de sal e degustá-lo lentamente.

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[1] – Não, o sal aqui não é para aumentar a temperatura de ebulição da água, porque a quantidade sugerida é irrelevante para o processo. O que o sal vai fazer ali naquele conjunto é proteger o ovo de um vazamento. Se a casca estiver trincada, a clara – ainda bastante líquda – vai vazar quando o ovo se expandir na água quente. Se sua água estiver suficientemente salgada, a clara vai se solidificar mais rapidamente, o vazamento vai ser contido e o buraco vai ser tampado.

[2] – Descascar um ovo quente é mais fácil que um frio porque a membrana que fica imediatamente abaixo da casca adere menos à clara em tais condições.

A latrina dos deuses (ou, a cólonização do espaço)

Detrito espacial. Delícia.

Recentemente, cientistas espaciais completaram uma análise de detritos orbitais, recuperados depois de circular a Terra durante vários anos, e descobriram que a maior parte deles estava revestida por uma fina película do que foi elegantemente descrito como “matéria fecal”, proveniente do desleixo que astronautas têm com seu saneamento.

Isso pode resolver um dos mistérios da origem da vida no nosso planeta, que parece ter brotado quase que imediatamente após o surgimento de condições favoráveis, e não após os bilhões de anos de tentativa e erro molecular necessários para o que Isaac Asimov chamou de “trabalho visionário da probabilidade”.

Obviamente, formas de vida organizadas precisariam ter ocorrido apenas uma vez nesta galáxia caso a primeira civilização a desbravar o espaço fosse tão descuidada com o meio ambiente como nós somos.

Anos atrás, Hoyle e Wickramasinghe sugeriram que a vida tinha origem cósmica e não terrestre. Eles podem estar certos, embora não exatamente da maneira que imaginaram.

É uma ideia humilhante a de que podemos ser fruto de esgoto despejado. O primeiro capítulo do Gênesis certamente exigiria uma revisão drástica.

Por outro lado, se (como alguns filósofos sugerem) a Terra, de fato, abriga a única vida no Universo, esta questão deplorável vem sendo corrigida. Pelo menos podemos nos conformar (eu evitaria dizer “inspirar”) com o fato de que nossos descendentes já estão a caminho das estrelas.

No entanto nós certamente não iríamos reconhecê-los.

E seria indelicadeza perguntar como exatamente eles chegaram lá.

Arthur C. Clarke, para a revista Ad Astra, edição de janeiro/fevereiro de 1999.

A NASA confirma que a urina dos primeiros astronautas era ejetada imediatamente (hoje em dia eles guardam líquidos por mais tempo para criar espetáculos luminosos belíssimos), enquanto os detritos sólidos eram comprimidos e estocados para remoção em terra, sendo liberados para o espaço apenas os gases produzidos pelas fezes (se um saco libera gás e não há meio para propagação das ondas sonoras, o peido faz barulho?). Aliás, o problema com dejetos intestinais é tão complexo que antes dos primeiros lançamentos espaciais os astronautas faziam uma dieta “pobre em resíduos” por até duas semanas antes da viagem e, algumas vezes, se submetiam até a enemas.

E pensar que toda criança já quis ser astronauta.

No espaço, todo dia é dia de exame de fezes!

Não posso, porém, dizer o mesmo dos russos quanto ao seu saneamento orbital. Não consegui achar informações oficiais negando, mas correm boatos (o que seríamos sem eles?) de que os primeiros cosmonautas não armazenavam lixo por muito tempo. Um dos casos mais divulgados é o de um saco de lixo da estação espacial MIR que teria colidido com um satélite indonésio, cobrindo-o de fezes.

Há também o caso do cosmonauta que foi proibido de usar o banheiro americano da Estação Espacial Internacional devido aos efeitos cóloncolaterais da rica dieta soviética que “aumenta os custos de armazenamento e reciclagem“.

Pois é. O espaço, que já foi chamado de “a fronteira final”, hoje é pouco mais que uma cidadezinha do interior com carnaval tradicional onde foliões precisam pagar para obrar no banheiro dos outros. Com a diferença que o proprietário do bojo não cobra armazenagem em sua fossa séptica.

Por isso, proponho, de hoje em diante, outro lema:

Espaço: a fronteira fecal.

Satélite indonésio após o incidente, segundo relatos de testemunhas.

Outra coisa que não consegui confirmar: a veracidade dos fatos relatados no texto de Clarke.

Mas o mundo seria tão mais legal se fosse tudo verdade mesmo, não é?

E vocês, o que acham?

Este blogue é a favor do aborto

É muito fácil para alguém que não tem útero ser contra o aborto. Da mesma forma, é extremamente conveniente para alguém já nascido apontar o dedo e julgar a opção alheia.

Se uma mulher não quer sofrer a violência ao seu corpo que é uma gravidez nem está mentalmente preparada para enfrentar o mundo de incertezas debilitantes que será a concepção e criação de outro ser humano, por que você, sem útero e já nascido, é contra? Você se acha realmente tão importante assim a ponto de ditar o comportamente e o futuro de outrém?

Ah! Você teve um filho não-planejado e deu tudo certo? Parabéns. Você é minoria.

Sabe aquele assalto que ocorreu semana passada? Provavelmente o bandido foi fruto de um acidente e cresceu como uma criança indesejada (esclarecimento rápido: alguns já nascem ruins independente da criação. Felizmente porém, são poucos).

Talvez, uma adolescente com opções seguras e não-condenáveis preferisse interromper o processo, para, em outra ocasião, já tendo ela condições emocionais (e financeiras), levasse uma gravidez ao seu desfecho. Como ela não tem o direito de escolher o destino do próprio corpo, ou corre o risco de morrer (seja tomando um remédio abortivo, seja após usar os serviços de uma clínica clandestina), ou terá um filho com grandes possibilidades de virar marginal (link em PDF).

E, me adiantando aos xingamentos, ameaças e acusações gramaticalmente incorretas infanto-retro-fictícias de “era bom que sua mãe tivesse abortado você”, digo aqui que, antes de ter ficado grávida de mim, minha mãe sofreu um aborto espontâneo. Então, ao invés de me desejar a morte no pretérito imperfeito, ache bom e saiba que você escapou. O mundo correu o sério risco de ter dois de mim.

Saiba também que, mesmo você esperneando, agitando seus punhos cerrados ao vento e amaldiçoando a parte da humanidade que discorda da sua insignificante opinião, brasileiras fazem abortos todos os dias. Elas são muitas. Provavelmente uma é até alguém da sua família de quem você gosta bastante.

Sabe quando você está falando mal de uma pessoa sem perceber que ela está atrás de você, ouvindo tudo? Pois é. Da próxima vez que você vocalizar suas ideias quanto à temperatura do mármore do inferno destinado àquelas que abortam, lembre que você pode estar ferindo seriamente os sentimentos de alguém muito próximo a você.

Drauzio é pró, Ratzo é contra.

Acho que escolhi o lado certo.

Coisas que um casal cético conversa ao caminho do trabalho: orgulho branco

Minha mulher parou de blogar para poupar os punhos mas o phasmatis blogus não a deixa parar de blogar. As ideias são muitas e o tempo curto, então ela usa o trajeto ao trabalho para gravar vídeos. Virou uma videoblogueira (tudo bem, eu sou baterista. Os dois se equilibram).

Esta manhã, resvalou em mim. Estávamos papeando e quando o assunto “orgulho branco” surgiu ela aproveitou para gravar.

Eis o que temos a dizer (em cinco minutos, ao som de Tower of Power):

Ah, se for ouvir perto de alguém sensível, lembre-se que eu participo falando. Logo, existe um pouco de linguagem forte (mais especificamente, a palavra “arrombado”).

Comentem. Vai que a gente se anima e grava mais alguns.

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