Mas médicas cubanas têm sim cara de empregada doméstica!

Anteontem, uma jornalista da minha terra escreveu em sua conta do Facebook o seguinte (sic):

“Me perdoem se for preconceito, mas essas medicas cubanas tem uma Cara de empregada domestica. Será que São medicas Mesmo??? Afe que terrível. Medico, geralmente, tem postura, tem cara de medico, se impõe a partir da aparência…. Coitada da nossa população. Será que eles entendem de dengue? E febre amarela? Deus proteja O nosso Povo!”

Declaração de Micheline Borges em seu Facebook

Declaração de Micheline Borges em seu Facebook

Repetindo o título, as médicas cubanas têm sim cara de empregada doméstica!

Explico:

As cubanas são marrons. E as marrons brasileiras são, via de regra, pobres.

Por serem pobres, brasileiras não têm acesso a educação de boa qualidade.

Por não terem uma base educacional decente, brasileiras não podem entrar em cursos muito concorridos de faculdades públicas, como medicina. E, por serem pobres, não podem pagar uma faculdade particular ou sequer os materiais indispensáveis e caros que até cursos públicos exigem.

Por serem marrons, são pobres; por serem pobres, têm educação deficiente; por não terem educação suficiente, não são médicas, ou engenheiras, ou advogadas, ou arquitetas, ou psicólogas, ou dentistas. São domésticas.

Como Cuba tem educação para todo mundo, às vezes até forçada[1], até quem é marrom pode virar médica.

Lá. Aqui não. Aqui as marrons precisam ganhar dinheiro limpando “casa de família“.

Ou seja, as médicas cubanas são sim parecidas com nossas domésticas. E, pela primeira vez, eu entendi porque o conceito de cotas educacionais (raciais ou sociais, aqui tanto faz, a cor da pela é intrinsecamente ligada ao salário do fim do mês) é importante.

Talvez seja defeituoso e enviesado (como o próprio programa Mais Médicos), mas é importante. Se por nenhum outro motivo, pelo menos para que pessoas como Micheline Borges, branca (deus proteja as bases líquidas e o pó-de-arroz!), saibam que o que estão dizendo é preconceito. Mais especificamente racismo e xenofobia.

A 'branca' jornalista Micheline Borges. Foto retirada de seu perfil público do Facebook, via Google Cache.

A ‘branca’ jornalista Micheline Borges. Foto retirada de seu perfil público do Facebook, via Google Cache.

Micheline, eu sei que você não tem noção do que seja sofrer e lutar para ser alguém na vida e é incapaz de se colocar no lugar de outrem, mas fica difícil “ter postura” e “se impor” quando se passou a vida toda tendo certeza de que se é um ser inferior por causa de tanto condicionamento pela sociedade, representada por pessoas como você, justamente pela “aparência” que você, jornalista branca e loira (Koleston FTW!), tanto preza. Para racistas, como você, só parece médica quem não parece doméstica (ver falácia do escocês).

E sim, cubanos sabem o que é febre amarela e dengue. Até mais do que nós, natalenses.

Finalmente, antes de clamar ao seu amiguinho invisível por ajuda procure se informar sobre o que ele tem a dizer de comportamentos com o seu. Seja burra mas pelo menos seja consistente.

———

[1] Se você se formou em administração, por exemplo, e não tem no que trabalhar, o governo cubano “pede” que você volte para a faculdade e se forme em, digamos, jornalismo. Isso é um caso real de um motorista (!) que acompanhou meu pai em Cuba.

Não proteste. A culpa é sua mesmo.

Vocês, com acesso ao Facebook e mais que vinte segundos de concentração, leiam este relato e, principalmente, assistam aos vídeos linkados no final.

Aos demais, resumo: o Brasil é uma desgraça. Enquanto uma pessoa é presa ilegalmente por exercer um ^direito constitucional^ (aspas irônicas), um estádio (construído com dinheiro roubado) lotado comemora um jogo de futebol.

Você mora num país onde vinte e tantos fedorentos chutando um couro inflado tem mais importância que a Magna Carta. Você prefere apanhar da polícia a ter o direito de processar o Estado pela surra indevida.

Você, pessoalmente, deixou o país chegar nesta situação, onde o presidente da Câmara dos Deputados roubou seis milhões de reais, deixando órfãos sem comida e idosos sem remédio, e os deu a um bode (sim, o animal).

Henrique Eduardo Alves, o mesmo ladrão que em 2002 estava sob investigação por ter 15 milhões de dólares em contas fora do país enquanto claramente sonegava o Imposto de Renda, cometendo um crime conhecido como “evasão de divisas”, descrito na famosa Lei do Colarinho Branco, artigo 22. Investigação que, dois meses depois, PUF!, sumiu.

O que eu posso fazer contra ele? Ele é presidente da Câmara (e deputado a 42 anos consecutivos) e tem, pelo menos, 150 vezes mais dinheiro que eu. Existe algum mecanismo para que eu, cartorário com meus impostos em dia, possa processar esse cretino por ter roubado tanto dinheiro meu? Ou, pelo menos, um que me garanta que a Constituição ainda existe, já que eu posso ser preso por nada e ele pode roubar à vontade sem consequências?

Não, não existe. Eu posso até tentar fazer algo, mas é só até esta etapa que eu chegaria. Posso até pagar os cinco reais que o sebista aqui ao lado cobra numa Constituição, mas seria só mais um amontoado inútil de folhas entulhando meu lar.

E por quê? Porque você deixou isso acontecer. Mas por que a culpa é sua? Ela é menos minha que sua, porque eu pelo menos vivo de tentar, inutilmente, fazer algo. Mas também sou culpado. Todos somos. Todo os brasileiros que vivem aqui e que já viveram aqui desde sempre são culpados.

Nosso país é um lixo. Uma abominação, uma anomalia, um câncer. Todo o dinheiro que é produzido por nós, trabalhadores, é consumido por ladrões da estirpe de Henrique e Maluf (este procurado pela polícia do mundo e foragido aqui) e psicopatas como José Dirceu, Renan Calheiros, Collor. Acobertadores de bandidos como Lula, FHC, Dilma; homicidas em massa como Rosalba Ciarlini, Micarla de Sousa, Eduardo Paes; mentirosos compulsivos como Haddad, Sérgio Cabral, Alckmin, etc, etc.

100% do que você produz lhe é roubado. Você tem uma poupança no banco, mas lembra que ela já foi confiscada? Você guarda o dinheiro em casa, mas sabia que o Primeiro Ministro de Myanmar, certa vez, disse que as notas mais altas (de 50 e 100) deixaram de ter valor? Milhares de famílias acordaram um dia com seus colchões cheios de papel sem valor que costumavam ser suas economias da vida toda. “Isso não pode acontecer aqui”, você diz? Por que não? Quem vai impedir? Qual mecanismo existe neste país para impedir algo assim? Nenhum, é a resposta.

O Brasil é um lixo. E eu só não saio daqui de novo porque meus currículos ainda não foram enviados.

Nessa tal Copa das Confederações (que é tão sem sentido quanto não poder embarcar numa aeronave com um recipiente maior que cem mililitros em volume) a FIFA vendeu ingressos para cadeiras que não existem.

A Copa do Mundo é deles. Nossa é só a conta.

A Copa do Mundo é deles. Nossa é só a conta.

O link para o relato (Facebook, novamente) está embebido na foto. Clicái-a.

O problema não é a FIFA. O problema é você que achou que seria uma boa ideia uma Copa do Mundo num país de terceira. A culpa é sua por ter deixado que o seu representante aceitasse as demandas de uma empresa estrangeira que vai levar 100% do lucro da competição.

Três vezes em menos de dez anos, na verdade, com Jogos Pan-Americanos, Copa e Olimpíadas. Porque vinte e tantos fedorentos estragando uma vegetação rasteira é mais importante que a segurança da sua mãe numa rua escura.

Aqueles vagabundos desocupados que estão atrapalhando o trânsito porque não querem pagar vinte centavos a mais deixaram de existir quinta-feira, sob as bênçãos de Santo Antônio e dos cacetetes da polícia neandertalizada que protege você de uma vida melhor e mais digna para um possível filhote que venha a sair de você.

Ao contrário do que estão dizendo, a polícia não é mal treinada. Ela é excelentemente treinada. O problema é que ela é treinada aqui, no lixo.

O problema não é a polícia. O problema é o treino. Ou, melhor ainda, o local onde o treinamento se dá.

Os policiais são excepcionais e retêm 100% do treinamento. O problema é que o treinamento é dar tiro na cara de favelado. Pelas imagens fica claro que “munição menos-que-letal” é algo alienígena para os soldados (sim, jamais esqueçam que quem patrulha as ruas são soldados militares) que atiram somente paralelamente ao chão, à altura da cabeça, sendo que com balas de elastômero ou latas de gás.

Nossa polícia militar é um grande esquadrão de extermínio. O problema é que nos últimos dias eles têm usado uma munição inadequada.

Ainda no Facebook eu li a seguinte frase: “Somos [jornalistas] a polícia militar do pensamento contando as mesmas histórias sempre sobre vandâlos e bárbaros que querem destruir a ordem e o progressso“. Mas o que isso significa? Significa que a polícia bate em você e o jornalista diz que você é o culpado porque ambos, policial e jornalista, assim como os réus de Nuremberg, estavam “apenas cumprindo ordens”.

E quem dá as ordens? Você? Não.

Mas a culpa é de quem?

Exatamente.

Não se enganem. Os protestos começaram por causa de vinte centavos.

Mas graças ao despreparo, irresponsabilidade e desgoverno, hoje os protestos se tornaram algo muito maior.

Você vive num país sem leis, sem proteção, sem infraestrutura e sem condições básicas de cidadania. Esses protestos estão do seu lado, do nosso lado.

Brasil 2013

Nada justifica truculência. Especialmente em protestos pacíficos. Não se acovarde agachado aos pés dos mais fortes; junte-se aos mais fracos. Eu gostaria de, pelo menos uma vez em minha vida, ter orgulho (ou “menos vergonha”, como disse Bartholomew JoJo Simpson) do meu país. E você?

———

P.S. Não vou conferir o texto mais do que já o fiz (confesso que sob lágrimas). Se existirem ainda erros, que se danem. Tanto os erros quanto você que veio aqui comentar acerca deles.

Reclamações quanto à minha conduta devem ser encaminhadas para o meu email pessoal com cópia para a diretoria do Scienceblogs Brasil (procurem, não é difícil achar). Ou não, não me importo. Descobri recentemente algo chamado “perspectiva”.

Processos civis e criminais devem ser mandados ao meu endereço físico. O que eu escrevo aqui não é de responsabilidade do portal ou de seus colaboradores e eu espero que você morra dolorosamente por tentar me reprimir.

Entrevista com o presidente do CREMERN, Jeancarlo Cavalcante

Uma semana atrás, um vídeo surgiu e foi apresentado pelas redes nacionais de televisão mostrando o médico cirurgião Jeancarlo Cavalcante ao fim de uma cirurgia, perguntando a uma enfermeira onde estava o fio de aço para fechar o tórax de um paciente do Hospital Walfredo Gurgel, maior hospital de emergência do estado do Rio Grande do Norte. O fio em questão, no entanto, havia acabado, fazendo com que o cirurgião não pudesse finalizar corretamente a cirurgia, o que o levou a fazer a denúncia em vídeo

Três dias atrás, no mesmo hospital, não havia antibióticos, remédios para pressão ou sequer soro fisiológico, demonstrando o quão grave é a situação da rede de saúde pública do estado do Rio Grande do Norte, representados pela governadora (formada em Medicina) Rosalba Ciarlini Rosado e seu secretário estadual de saúde, o cirurgião Isaú Gerino. Este, declarando publica e sarcasticamente que prolene é o material mais usado (o que não é verdade, nem de longe) e abrindo um processo contra Jeancarlo por “falta de ética”, enquanto aquela indagou “se não tinha o fio de aço, por que então começou a cirurgia?”, criando uma situação abstrata onde o cirurgião deveria ter um rol dos equipamentos e suprimentos sempre memorizado (devendo também conferir um por um, ao invés de iniciar a cirurgia de emergência o quanto antes) e, no lugar de tentar salvar a vida do paciente, deixá-lo morrer por omissão.

Nenhum dos dois, até agora, pediu desculpas à população pela falta de insumos pelos quais nós, contribuintes do estado, já pagamos. Sequer admitiram que a situação é insustentável e irresponsável, preferindo desviar o foco da própria irresponsabilidade usando o Dr. Jeancarlo como alvo, futilmente o processando por uma suposta falta de ética da qual tanto Rosalba quanto Isaú são os mais culpados.

Após a denúncia, surgiram fotos de uma mulher dando à luz na calçada de outro hospital (Santa Catarina, segundo maior do estado) e vídeo de um outro paciente (estava numa maca! Que sortudo!) bombeando a ventilação mecânica nele mesmo. É difícil de entender, mas assista ao vídeo neste link.

Falta soro e sutura nos hospitais, mas dinheiro para queimar existe. Mais precisamente trezentos mil reais gastos três semanas atrás na queima de fogos da madrugada do dia primeiro deste.

R$ 300 mil queimados enquanto falta antibiótico em salas cirúrgicas.

Secretário Isaú Gerino, governadora Rosalba: vocês são dois irresponsáveis. Não adianta culpar um médico que não tem como trabalhar decentemente nem dizer que o problema vem de outras administrações. No momento em que, ao invés de tentar resolver, vocês atacam publicamente e processam futilmente o denunciante, vocês estão mostrando o verdadeiro caráter de vocês para a população.

Pena que não existe conselho de ética para políticos. Mas aguardem um processo civil assim mesmo. Cansei de ver o descaso, desdém e a indecência com os quais vocês tratam o meu estado e sua população.

Isaú Gerino - um dos culpados.

Isaú Gerino – um dos culpados.

Enquanto isso, caríssimos leitores, vejam aqui a entrevista que fiz ontem a noite com o médico Jeancarlo Cavalcante (e visitem o Dispersando para mais informações e contexto):

Agradecimentos especiais a outro doutor, Karl, pela pronta ajuda.

Homeopatia é feita de nada e NÃO funciona contra dengue

Em Natal, a prefeita Micarla de Sousa (eleita pelo PV) sancionou a Lei nº 6.252, de 25 de maio de 2011 (link em PDF) que diz:

A PREFEITA DO MUNICÍPIO DE NATAL,

Faço saber que a Câmara Municipal aprovou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º – Autoriza o Poder Executivo a realizar estudos e pesquisas no sentido de adotar medicação homeopática, no combate e prevenção de dengue em Natal.

I – A medicação a que se refere o artigo 1º poderá ser ministrada nos bairros que apresentem os maiores índices de infestação da doença ou nas áreas onde a equipe técnica da Secretaria Municipal de Saúde definir como prioritárias ou de risco iminente para proliferação de casos;

II – A aplicação do medicamento será executada pelas unidades de saúde, na dosagem prescrita por profissional competente;

III – A Secretaria de Saúde do Município de Natal, através de uma equipe multidisciplinar, fará o acompanhamento e monitoramento, com as notificações necessárias, dos usuários atendidos pela medicação a que se refere o artigo 1ª desta Lei.

Art. 2º – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Um grande problema não é o texto acima, mas a maneira como a coisa foi levada à frente. Esses “estudos e pesquisas” não ocorreram. Especialista não foram consultados e, especialmente, o Conselho Regional de Medicina não foi ouvido.

Entrando em vigor, essa lei certamente beneficiaria, e muito, algumas pessoas, tendo em vista que homeopatia é feita de nada.

O pior, no entanto, é o fato de existirem pessoas em cargos altos (como prefeita e vereadores) que não só acreditam nessa macumba disfarçada de medicina que é a homeopatia como não têm o mínimo interesse na saúde da população (se tivessem, teriam consultado infectologistas ou teriam procurado o CRM, o que não ocorreu).

Jeancarlo Cavalcante, presidente do Conselho, falando ao jornal Tribuna do Norte disse que, tanto a sanção quanto a aplicação dessa lei são “uma temeridade”. Mas ele disse isso porque é o presidente.

Como eu não devo contas políticas a ninguém, posso dizer com mais letras: dar homeopatia a pessoas doentes ou tentar usar homeopatia para prevenir doenças potencialmente fatais é uma irresponsabilidade e demonstra, mais uma vez, o descaso do poder administrativo da minha cidade para com a população, cujo interesse deveria ser prioridade.

Por mais que esse “passe de mágica” (como disse ao mesmo jornal o presidente da Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia, Hênio Lacerda) estivesse sendo aceito por ingenuidade de Micarla de Sousa, seria dever da primeira servidora pública da cidade procurar pessoas que, ao contrário dela, realmente soubessem do que se trata medicina, doenças, tratamento, etc. Confiar na própria suposta inteligência é, demonstrativamente, um erro para pessoas assim, em cargos tão importantes.

Em entrevista ao Novo Jornal, Munir Massud, Professor da UFRN e especialista em Bioética Médica, aponta que homeopatia “não serve para nada. Na Medicina, o que não é científico não é ético”. E, para o Conselho Nacional de Saúde, antes de ser usado em humanos, um medicamento precisa ser fundamentado com experimentações prévias, cientificamente. Coisa que a homeopatia falhou em fazer 100% das vezes que tentou.

Em vista disso, a Secretaria Municipal de Saúde informou ao Novo Jornal que: “em razão da polêmica levantada pela lei, irá solicitar um parecer técnico à Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia”.

Sim, vocês já devem ter notado. A Secretaria de Saúde só irá se informar a respeito com especialistas no assunto porque o CRM e a própria Sociedade de Infectologia foram atrás.

Então, ao invés de combater o mosquito (não há uma propaganda de prevenção, um só folheto pregado em poste, nada), a prefeita achou por bem beneficiar financeiramente os feiticeiros medievais que venderiam água a preço de remédio. Porque, já que a população não gosta dela, porque ela haveria de gostar da população, não é?
Já que ela nem se trata aqui, por que então cuidar do sistema de saúde do município?

Recapitulando: matérias circularam pela Tribuna, Novo Jornal (já citados), Diário de Natal e nominuto.com após uma coletiva de imprensa organizada pelo Conselho Regional de Medicina e pela Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia, pois nenhum dos dois órgãos foram consultados antes da prefeita passar uma lei dando água e açúcar para a população como forma de combater a dengue.

Mas eu vou esperar até Micarla divulgar o resultados dos estudos e testes que realizou, segundo prevê a lei que ela promulgou semana passada.

Enquanto isso, pessoas de fora, estejam avisadas: não venham a Natal em hipótese alguma. Gastem seu dinheiro turistando na Paraíba ou no Ceará. Aqui vocês podem morrer de Dengue a qualquer minuto.

Não há mais salvação para nós, natalenses, mas estamos resignados quanto à falta de estrutura da prefeitura para combater um mosquito.

Como consolação, fiquem com Amanda Gurgel, uma das poucas coisas boas que aconteceram na minha cidade nos últimos anos.

E que venha a Copa!

Desafio #ten23 – overdose homeopática. Ou, ‘o dia em que eu não morri’

Atenção: todas as aspas usadas neste texto são irônicas.

Estou neste momento preparando um diário dos “efeitos colaterais” da “overdose” homeopática que tomei hoje, dia 5 de fevereiro de 2011, e que deverá ser postado amanhã (eu não “morrendo” daqui pra lá, obviamente) com direito a fotos e vídeos.

No entanto, agora, assistam ao momento em que “me matei” homeopaticamente:

Se você não sabe do que estou falando, leia isto.

Atualização: assistam ao meu vídeo-diário com as provações sofridas por mim ao longo das vinte e quatro horas subsequentes à overdose clicando no seguinte link: Desafio #ten23 – overdose homeopática: vídeo-diário

Vejam o acontecido por um outro ângulo, através da câmera de Jairo, meu colega de “overdose”:

E leiam seu texto sobre o ocorrido em Um deus em minha Garagem.

Relato de um natalense decepcionado

Em entrevista a um jornal da minha cidade, o neurocientista Miguel Nicolelis falou da decepção de ter montado o Instituto Internacional de Neurociências de Natal e não ter recebido apoio do governo da cidade ou do estado.

A matéria completa vocês podem ler clicando neste link. E aqui, no 42., vocês poderão ler o meu desabafo.

Eu tenho orgulho de ser natalense, mas por ter nascido aqui, não por ser cidadão desta cidade-sítio, onde os governantes-donos têm como único propósito de suas vidas públicas se locupletar às custas da ingenuidade e, ultimamente, impotência alheias.

Nosso vice-eleito-tornado-governador Iberê Ferreira de Souza tinha, até um dia desses, câncer no pulmão. Sorte dele que temos um hospital de referência para o tratamento de cânceres na nossa cidade, não é mesmo?

É, pura sorte, assim como acertar os números premiados da Mega Sena. Pois quando foi diagnosticado, nosso vice-tornado-governador-posteriormente passou a ir algumas vezes por ano para o que provavelmente é o hospital mais caro do Brasil, o Sírio-Libanês, em voos fretados para tal propósito.

Nossa excelentíssima prefeita Micarla de Souza (não posso confirmar parentesco entre eles, mas não me surpreenderia, sendo o meu estado governado por oligarquias familiares) sofre de um problema no sangue, talvez infelizmente herdado do pai, Carlos Alberto de Souza, ex-senador dono de um canal de tv (morto em 1998).

Novamente, prefeita de uma cidade que tem um excelente hospital para o combate de cânceres mas que, ao invés de usá-lo, visita o já citado Sírio-Libanês para uma radiografia do abdome.

Pode ser também que eles tenham medo de ir na Liga. O bairro lá é bem perigoso.

Por que não então visitar o Instituto de Radiologia? É tão pertinho da prefeitura.

Será que a prefeita não tem plano de saúde? Porque dinheiro eu sei que ela tem, já que pagou passagem para São Paulo e o atendimento e exames no hospital mais caro do país.

Quando um governante não usa os recursos disponíveis da região que administra, ele está, no mínimo, dizendo que tais recursos não prestam ou que não estão à altura de sua magnificente importância.

No máximo (talvez), ele está cuspindo na cara daqueles que só podem usar daqueles meios e não contam com um poço-sem-fundo de dinheiro público para lhes pagar passagens, hospedagem e hospitais privados.

Micarla é jornalista e dona de um canal de TV (também herdado do pai), mas Iberê sempre foi político e o tratamento dele foi bem mais caro. Sempre que ele pediu um empréstimo? Porque salário de político é razoavelmente baixo para os padrões de vida de alguns.

Mas o que isso tudo importa, agora que a Copa da FIFA vai acontecer aqui em Natal, não é mesmo?

Nós temos um estádio que vai ser derrubado, junto com todo o centro administrativo onde funciona a governadoria e suas secretarias, para a construção de um novo. Porquê exatamente eu não sei dizer (fora a oportunidade de ver muito dinheiro circulando de mão em mão que alguns de nós certamente gostam muito), mas a conversa que mais roda é que isso criará mais empregos.

Que tal abrir uma fábrica? Pelo menos depois de pronta ela vai gerar algum tipo de produto. Porque Copa do Mundo não gera empregos, gera bicos.

Voltando para o estopim deste artigo, Nicolelis diz na entrevista: “será que os governantes não pensam em como criar empregos de valor agregado, educar o povo?”

Educar o povo? Alô? Miguel, você é brilhante, mas acho que passou tempo demais fora do nosso querido país.

Um povo educado não se deixa ser cuspido na cara. Pelo menos não por muito tempo. O que menos um governante de terceiro mundo quer é um povo educado.

Eu vi algumas cenas da enchente em Alagoas e ouvi alguns comentários que partiram meu coração. Por exemplo: várias crianças adoecendo por estarem brincando na lama, mulheres desenvolvendo doenças de pele por estarem até o joelho lavando roupa em água pós-transborda contaminada, pessoas com leptospirose por beberem água da rua e demais coisas que um povo com um mínimo de educação evitaria fazer.

“Ah, mas as crianças precisam brincar…”

Sim, mas não precisa ser na lama.

Um povo educado não se contaminaria bebendo mijo de rato.

Um povo educado também não aceitaria o descaso com nossos semelhantes conterrâneos.

Um povo educado não deixa seu povo sofrer na mão de um governo mesquinho com cifrões nos olhos.

Um povo educado não permite que se torre milhões em UPAs quando nossos postos de saúde existentes estão sem condições de pleno funcionamento por falta de pessoal, material, equipamentos e, em alguns casos, estrutura física.

Nicolelis, infelizmente, deposita sua confiança na UFRN que está construindo o Campus do Cérebro que “deverá ficar pronto no próximo ano”.

Eu retornei à universidade recentemente num curso pioneiro, cheio de guéri-guéri, com investimento de bolso fundo, lousa eletrônica, prédio próprio, professores decentes, e blá blá blá que já vai no segundo ano tendo aula em salas improvisadas cedidas por outros centros acadêmicos, com cento e cinquenta alunos por sala, porque o prédio não ficou pronto.

Mais uma vez aquele número: “segundo ano”. O curso foi criado em 2009 e não existe local para funcionar.

Pelo que eu vejo, o esqueleto do prédio já está todo construído e os equipamentos todos comprados, mas falta ainda o acabamento. Afinal, não dá para assistir a aulas em salas sem janelas ou eletricidade.

Eu assisti a uma palestra de Nicolelis e chorei. Literalmente. De soluçar e precisar assoar o nariz.

Não sabia que possuía capacidade de me emocionar daquele jeito ouvindo um barbudinho carecóide falar sobre os equipamentos que crianças de comunidades carentes estão usando para aprender ciências.

Eu fiz anotações durante a palestra e comecei a escrever um artigo assim que cheguei em casa, mas nada que eu escrevia demonstrava suficientemente o quanto a escola do Instituto é revolucionária.

Eu garanto que as crianças que lá estudam estão recebendo melhor educação do que qualquer um que esteja lendo isto recebeu. Escrevo isso na pedra, com meu próprio sangue.

Igual, talvez. Pouco provável, mas não impossível. Melhor? Nunca!

Existe também um complexo de saúde para mulheres que é 100% gratuito. É tão de graça que é até difícil compreender. É mais grátis que sopão. É a coisa mais linda do mundo.

Qualquer mulher pode entrar lá e ter seu pré-natal feito pelos melhores equipamentos existentes na face do planeta Terra, terceiro a partir do Sol, sem pagar absolutamente um único centavo de qualquer moeda que seja.

O sonho de Miguel é ter um escola que vai do pré-natal à pós-graduação com o melhor ensino do mundo. Só isso.

A escola ele já tem. O resto é questão de tempo.

Eu encho os olhos de lágrimas quando penso na iniciativa de Nicolelis aqui e no futuro dessas crianças que estão na melhor escola do mundo, mas sou a favor do fechamento do instituto, da escola e de tudo mais que ele trouxe para cá.

Eu espero que a iniciativa dele cure o Mal de Parkinson, mas não aqui em Natal. Não quero ver um desses cretinos que controlam nossa política levar sequer o mínimo de crédito por algo que beneficiará absolutamente toda a humanidade sem que eles tenham movido um átomo para facilitar esse acontecimento.

Enquanto o Rio Grande do Norte e sua capital forem governados por essa patota sem o menor resquício de responsabilidade pública que, visando melhor controle posterior, não quer que nossas crianças se eduquem adequadamente (e que propagandeiam como nosso sistema de saúde é ruim indo se tratar fora), Natal não merece ter um centro de excelência em coisa alguma.

Tem dias que eu acordo com vergonha de ser natalense.

Mídia moderna, jornalismo antiquado

O diário natalense Tribuna do Norte, agora a pouco, atingiu a marca de 600 seguidores no Twitter.
De quando em quando, alguém cuja função anterior ainda não consegui apurar, tuíta uma chamada curta (passível de ser facilmente repetida sem a necessidade de cortes) e um link para uma notícia na página do jornal.
Para quem ainda não conhece, o Twitter é um meio para informar pequenas coisas a quem quer que os siga, em tempo real (ou no espaço de tempo necessário para que suas mensagens sejam lidas), e vice-versa, possibilitando que se leia qualquer mensagem mandada por outrem.
O “pequenas coisas” se deve ao fato de, cada mensagem, ou twit, poder conter no máximo 140 caracteres, ou exatamente o conteúdo desta linha.
As mensagens mandadas pela Tribuna não dizem coisa alguma, são apenas as manchetes das notícias que eles querem que todos leiam em sua página na Internet.
Isso é equivalente a Sherlock Holmes embarcar num avião supersônico para chegar mais rápido à cena de um crime munido apenas de lupa.
Meios de ponta para métodos há muito ultrapassados.
Isso me ocorreu mais fortemente ontem quando eu sai do trabalho para almoçar e encontrei a rua impedida e o tráfego nela parado.
Passei mais de vinte minutos num trecho que em condições normais me tomaria apenas cinco.
A equipe de jornalismo da Tribuna do Norte sabia disso e tuitou: “Acidente entre ônibus e carros congestiona trânsito no Centro” e incluiu um link que não abre na minha neolítica máquina computacional.
A maneira twitter de dar a notícia seria “evitem a Rio Branco, ela está parada” e um link para a notícia. Quem pudesse, como eu, evitaria essa rua.
Mas preferiram pensar com os pés e colocar um meninote na esquina, gritando EXTRA, EXTRA!
Eles não estão nessa para prestar serviços mas sim para propagandear o próprio sítio.
E é por essa mentalidade que eu acho é pouco que diploma de jornalista agora só serve para esconder infiltração.
Custa acompanhar as mudanças?
P.S.
Parabéns aos agentes da STTU pela ação rápida de coordenação do tráfego.
O telefone de lá é 156 ou 3232-9095 e eles atendem 24 horas por dia. Se vocês virem algum carro parado em local indevido ou um sinal sem funcionar, liguem e me ajudem a não morrer de raiva antes dos 35.
Pode demorar pois eles têm poucos carros, mas eles eventualmente chegam.
P.S.2
Já que hoje é dia de política aqui no SbBr, a imbecil excelentíssima prefeita Micarla de Souza vai mais uma vez mudar o nome da secretaria, que passará a se chamar SEMOB.
Eu sei disso porque conversei bastante com dois “amarelinhos” uma noite dessas.

Com quantas pintas se faz uma bochecha sardenta?

Sábado eu fui a um evento que consistia em: perder todo o senso de civilidade e auto-estima dançando do pior jeito possível, comer o máximo de derivados de milho que a Lei permita, tentar a todo custo manter a integridade física de seus apêndices articulados e de sua camada protetora externa apesar da constante ameaça de artefatos explosivos e o livre tráfego de faíscas, fagulhas, chamas abertas e estilhaços, e voltar para casa absolutamente defumado devido à exposição contínua à resíduos de partículas suspensas provenientes da queima de tecido orgânico de vegetais lenhosos. Ou, como costumam chamar por aqui, um arraiá.
Pois bem, enquanto tentava não ter o meu cabelo inflamado por um tal de chuveirinho (artefato produzido primariamente para uso infantil que produz um efeito semelhante a o de um maçarico de acetileno) nem meus tímpanos irremediavelmente rompidos por rápidos deslocamentos de ar provenientes de reações altamente exotérmicas, notei algo interessante: quase todas as garotas estavam com as bochechas excessivamente avermelhadas e, dentro da área afetada, alguns pontos pretos.
Bom, essa não é a parte mais interessante (nem tampouco o fato de todas elas terem suas cabeças emolduradas por tranças presas por fitas coloridas).
O que mais me chamou atenção naquelas sardas artificiais foi a observação (e posterior confirmação) de que todas elas eram idênticas.
Tendo notado que cada mulher chegou num momento distinto e tendo visto minha namorada pintando as suas, rapidamente peguei um atalho mental, eliminei vários passos de raciocínio e cheguei à conclusão de que todas fizeram exatamente o mesmo desenho de maneira independente das outras.
dado5.pngMas, fiquei com a pergunta: por que cinco pontos, com um no meio e quatro nos flancos, como num dado?
rosinha.jpgO modelo que mais me vem à cabeça quando penso em “festa junina” associada à “fantasia feminina” é Rosinha, e ela não tem sardas.
De onde estaria vindo a idéia de criar tal padrão?
Como essa foi a primeira vez que notei a semelhança, não posso dizer que sempre foi assim, mas especulo que seja.
Vou continuar minhas investigações e, caso tenha alguma novidade que valha a pena ser contada, venho aqui e conto.
Enquanto isso, caso alguém já saiba a resposta, por favor me diga.
E o mistério da cara-de-dominó permanece…
domino.jpg

Omni Bostus Est

Desculpem a agressividade do título, mas eu passei a semana sem escrever porque passei a semana lendo muitas notícias.
Geralmente isso me faz querer escrever, mas estou na fase baixa da minha bipolaridade e passei a semana chorando (por dentro) por causa do esforço perdido que é tentar ensinar alguma coisa a alguém nesse mundo.
Vinte e tantos blogues excelentes de Ciência, explicando tudo no mundo de um jeito fácil, amigável, interessante, engraçado, charmoso, carinhoso, etc, etc, aí vem um jornal televisivo vespertino com uma audiência quinhentas mil vezes maior que a nossa e caga nas nossas cabeças, dizendo que a gripe suína vai dominar o mundo a menos que usemos agulhas de acupuntura molhadas em preparações homeopáticas (exagero, mas a mensagem é parecida).
Isso e minha cidade foi escolhida como uma das sedes da Copa da FIFA de 2014.
Já disse antes, digo de novo: me sinto cavando um buraco n’água.
Estou de mau humor hoje, dá p’ra notar?

Mais um blogue no mundo, dessa vez sobre comida – propagandIgor

Pois é, abri um restaurante virtual.
Na verdade, é mais um guia de restaurantes.
Não, melhor ainda: é uma lista de lugares que frequento onde digo o que como e bebo.
É, essa é uma boa definição.
Onde comer (e beber) em Natal, meu mais novo blogue, com o Selo Igor® de Qualidade.
Dêem uma passada por lá, que apesar de abrir as portas hoje, já estou cozinhando desde o mês passado.

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