Dez livros que marcaram a minha vida

Com muito tempo livre e sem ter algo mais construtivo para fazer, Rafael e Ana me incluiram numa corrente de Facebook. Com ainda mais tempo livre e com menos algos construtivos a fazer, eu aceitei o convite indicação intimação praga elo (porque é uma corrente, sacou? Hã? HÃ!?). Seguem as instruções.

Consiste em fazer uma lista com os 10 livros (ficção ou não-ficção) que tenham me marcado. A ideia não é gastar muito tempo, nem pensar muito. Não precisam ser grandes obras, apenas que tenham sido importantes pra mim. Eu tenho que marcar 10 amigos que vão gostar da brincadeira. E eles me incluírem quando fizerem suas listas para que eu possa ver a lista deles e conferir boas dicas.

O parágrafo acima está em Comic Sans porque é um trecho copiado. Eu jamais começaria uma frase com “consiste em”. O “e eles me incluírem” também não é da minha safra. Mas se vocês passaram mais que dois minutos no Facebook ultimamente sabem do que se trata. Então vamos aos livros:

1) Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa – Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira. Não somente para consulta. Eu o li de capa a capa e esse exercício em inutilidade foi bom para o desenvolvimento do meu pedantismo.

O primeiro Aurélio

Eu já lia Aurélio antes de virar Aurélio.

2) Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional – vários. Esta versão em especial é importante porque foi escrita por gente que sabe “tu” e “vós” saiu de voga há muito e que palavreado rebuscado é apenas uma forma de arrebanhar a massa ignorante que mal sabe escrever o nome direito, quanto mais conjugar verbos irregulares em segunda pessoa ou entender que está sendo ameaçado por um aproveitador da ingenuidade alheia. Também lida de capa a capa, me fez entender o sentido da palavra “hipocrisia” e descobrir que muito “religioso de verdade” jamais leu uma só linha do que tanto gosta de impor aos outros.

A seção de fantasia da minha biblioteca

A seção de fantasia da minha biblioteca.

3) Cândido – Voltaire. Me ensinou que otimista só se lasca. E que se você for bonzinho vai se lascar mais ainda.

4) Breve História de Quase Tudo – Bill Bryson. Num dia frio e solitário, numa biblioteca centenária de um país muito, muito distante, este livro reacendeu minha paixão por aprender – coisa que o Sistema Formal de Ensino (SiFodE) me havia estripado anos antes. O universo (ou natureza) é uma coisa massa. Ultramassa. Quem acha que não, ou nunca chegou a ser apresentado ao conceito, ou não gosta de pensar.

Nota-se que ele já foi bem amado. Tem muita informação já ultrapassada, mas continua sendo excelente.

Nota-se que ele já foi bem amado. Tem muita informação já ultrapassada, mas continua sendo excelente.

5) O Médico e O Monstro – Robert Louis Stevenson. Quando li este, ainda criança, notei como somos ruins em traduzir títulos. E quando digo “ruim”, uso no sentido de “aquele que gosta de fazer ruindade”, porque “Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde” não chocaria ninguém.

6) Coleção Descobrir – Editora Globo. Competiu bravamente contra o já mencionado SiFodE pela dominação da área da curiosidade no meu cérebro[1]. Perdeu, no entanto. Mas ainda guardo boas lembranças (apesar das instruções para montar uma “armadilha para fantasmas” que vieram em um dos fascículos).

Stevenson, Conan Doyle e King. LeCarre apareceu de gaiato na foto.

Stevenson, Conan Doyle e King. LeCarre apareceu de gaiato na foto.

7) The Meaning of Liff – Douglas Adams. Mais um dicionário, desta vez escrito por Douglas Adams. Fui ameaçado de expulsão da biblioteca supracitada se não conseguisse controlar minhas convulsões gargalháticas. Sofri dores abdominais por uma semana por causa do livro.

8) Dicionário Filosófico – Voltaire novamente. Terceiro dicionário. Poderia roubar e incluir um quarto, o Dicionário do Diabo, de Ambrose Bierce, mas este é bem parecido com aquele, o Filosófico sendo melhor. Me ajudou a entender que sarcasmo, ironia, desconfiança e chacota são armas mais poderosas que dogmas ou ameaças termodinamicamente impossíveis na criação de caráter.

Foto tirada em frente à biblioteca anteriormente aludida

Foto tirada em frente à biblioteca anteriormente aludida.

9) O Cão dos Baskervilles – Arthur Conan Doyle. Olá, ceticismo. Tudo bem? Meu nome é Igor Santos, prazer conhecê-lo.

10) O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu – Oliver Sacks. Ninguém é normal mas ninguém demonstra saber disso. Apenas alguns não conseguem esconder.

Oliver Sacks, mais um médico que sabe escrever.

Oliver Sacks, mais um médico que sabe escrever.

Quase entrou na lista: Uma Breve História do Tempo, de Hawking; Deus Não É Grande, de Hitchens; Deus, um Delirio, de Dawkins; uma coleção de contos de Lovecraft; Quatro Estações, de Stephen King; WWZ, de Max Brooks; A Vida na Terra, de Attenborough; um livro de Chico Anísio com o mais negro dos humores (Telefone Amarelo, talvez?), e a trilogia da distopia: 1984, Admirável Mundo Novo e Fahrenheit 451.

Melhores que a Escolinha do Professor Estereótipo.

Melhores que a Escolinha do Professor Estereótipo.


Ateus malditos! Por que precisam escrever tão bem?

Ateus malditos! Por que precisam escrever tão bem?

Só não entraram na lista porque não têm nome, autor ou editora: minhas apostilas de música.

Não entraram porque não são exatamente livros mas deveriam fazer parte da lista: Enciclopédia Koogan Larousse, blogs de ciência, meus livros de culinária, a revista Scientifc American (que, por incrível que pareça, foi minha porta de entrada no mundo dos podcasts), o roteiro do último episódio jamais produzido de Caverna do Dragão, a coleção de cromos do chocolate Surpresa, os rótulos das coisas, encartes de discos, uma enciclopédia/dicionário (mais um) da história da música (não encontro, devo ter perdido), a Constituição Federal, também lida na íntegra, e uma coleção da Reader’s Digest chamada Faça Você Mesmo.

Já lia DIY antes de virar sigla.

Já lia DIY antes de virar sigla.

Não entrou porque não lembro do nome: um de antropologia, que me fez perceber que somos todos macacos; um de histórias das religiões, que me fez perceber que somos todos macacos; um tratado filosófico, que me fez perceber que somos todos macacos metidos, e; um pdf de psicologia. Mas aí eu já sabia que somos todos macacos.

Alguns macacos são mais metidos a besta que outros.

Alguns macacos são mais metidos que outros.

Mas o livro que me marcou mais profundamente foi um de Lair Ribeiro que continha um CD que, fato desconhecido por mim, tende a explodir quando queimado.

Menção honrosa: A Divina Comédia. Primeiro livro que não consegui ler todo. Me ajudou a entender a bossalidade, especialmente daqueles que dizem tê-lo lido mas que sabem apenas da existência dos nove círculos do inferno, de Beatriz e Virgílio.

O "-pedia" em "Wikipedia".

O “-pedia” em “Wikipedia”.

Leiam também a lista da minha mulher e entendam porque me casei.

E a sua lista, como seria?

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[1] Eu sei que isso não existe, mas o SiFodE quis me ensinar o contrário.

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