2013 no 42. em números (em palavras {em imagens})

Em 2013 eu consegui escrever de forma vocabularicamente consistente e diversa (excetuando-se “ser” e “ainda”, dos quais ainda não conseguir ser livre), como mostra a nuvem de palavras abaixo.

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Não tão consistente assim foram as buscas dos leitores que findaram aqui. Me parece que, além dos que procuram formas alternativas para se drogar, consegui um bom público desmistificando spams e videntes.

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E agora, um poeminha pros paraquedistas.
Por favor, não achem que drogas ou catarro são vitamina mas saibam que Tupak é um charlatão que vai drogar seu intelecto e fazer você engolir besteiras. A Avon não vai chapar a ladra Tara, outra charlatã, nem vai fazer você ficar chapado, pois muito mal pode causar o alpiste, mas nada em comparação ao aborto que é o vidente que insiste em cuspir na cara da realidade, como uma diabetes em forma de batom (batons) que não contem nem camarão e nem muito menos chumbo. Essa foi a lição de 2013.

Hispter Darwin

DARWIN

Da falta de controle artística

Arte em geral (mas especialmente música, minha especialidade) tem um jeito de fugir do controle de seus autores, de tomar uma vida própria e se auto realizar independentemente de fatores externos. São como mini deuses que se formam em mini big bangs e passam a criar o resto de si mesmos.

Paredes de um museu moderno.

Paredes de um museu moderno.

Sempre existe aquela personagem cuja personalidade aflora sozinha e passa a escrever as próprias falas, agir de vontade própria dentro do contexto da estória.

Num livro de Scott Sigler, por exemplo, o “herói” principal da obra anterior morre porque as circunstâncias o levaram a uma situação da qual ele não pode escapar. Sigler fala sobre isso como se fosse um acontecimento real que ele apenas descreveu, onde a morte do personagem já aconteceu e ele apenas narra o que viu, como se ele não fosse o autor da vida e da morte.

Desenho velho num caderno antigo.

Desenho velho num caderno antigo.

Numa anedota – provavelmente apócrifa, Ariano Suassuna é perguntado por um curioso acerca de uma morte em um de seus livros. O questionador pede: “Ariano, como é que fulano morreu esfaqueado tantas vezes? O que aconteceu?” Ao que o autor responde: “Sei lá como foi, eu não estava lá quando isso aconteceu. Só sei que ele morreu e quantas facadas ele levou.”

Uma informação que é, ao mesmo tempo, vital e completamente desnecessária para o desenvolvimento da trama. O sujeito morreu esfaqueado, sim. Mas quem matou e por quê? Sei não. Esse detalhe aparentemente indispensável é absolutamente irrelevante. Basta que ele tenha morrido para a estória prosseguir.

Vermes floridos. Eu acho. Formas semigeométricas, na verdade.

Vermes floridos. Eu acho. Formas semigeométricas, na verdade.

Em música, quando a fagulha da ideia principal surge (e não se apaga imediatamente, perdurando num modelo evolutivo do pensamento), excetuando-se algumas escolhas estilísticas, todo o resto apenas vem à mente do autor que tenta transcrever o que está acontecendo o mais rápido possível para que o bonde musical não o deixe para trás numa mistura confusa de metáforas.

Mais paredes modernas.

Mais paredes modernas.

Em uma entrevista com o músico George Hrab, o entrevistador pergunta se os sinos na introdução da música Everything Alive Must Die Someday são “sinos funerários”, ao que Hrab responde: “Eu acho que não. Eu os entendo mais como os sinos de uma vila, celebrando a vida dali. Como a cena de abertura de um filme, com a câmera vindo pelas colinas e mostrando essa vila celebrando algo que você não sabe o que é, mas você vê toda aquela comunidade junta, unida.”

Notem que ele não diz “não, são sinos de celebração”. Ele diz que “acha” que não são funerários e “os entende” mais como sinos celebratórios. A música fugiu ao seu controle desde a introdução (que, em casos assim, é geralmente a última coisa a ser concebida e gravada).

Quantas obras você consegue reconhecer nessa foto? Clique para ampliar.

Quantas obras você consegue reconhecer nessa foto?
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Eu sinto isso quando faço uma música. Eu sei precisamente de onde está vindo aquele primeiro acorde e aquela escolha de compasso, mas daí para frente eu apenas obedeço às ordens que me são dadas e que às vezes são complexas demais para minhas habilidades melódicas e destreza geral.

Até quando quero escrever algo com um fim específico, como um poema sobre mijar na pia que necessariamente precisa acabar com “branca e alta louça fria” e que é imperativo rimar estruturalmente ABA CBC DDEE FFDD e etc, com cada linha de um certo tamanho (poemas, para mim, precisam ser também visualmente interessantes) e tal, eu só sei que quero rimar as entonações da primeira e da última linhas. O que acontece no meio me é um completo mistério.

Outro exemplo, mais rígido e delicado, é o da tradução de um poema sobre envenenamento com chumbo que já vem com estrutura fixa de métrica e rima. Eu não tenho muito o que fazer, apenas usar os termos corretos. Mas, mesmo assim, o resultado final não parece ser obra minha, mas apenas algo que eu vi escrito dentro da minha cabeça (mas não por mim) e transcrevi para o mundo externo.

A "obra" é isso do lado esquerdo. O resto é só efeito da foto, as paredes e uma porta. Clique para ampliar.

A “obra” é isso do lado esquerdo. O resto é só efeito da foto, as paredes e uma porta.
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Outro exemplo dessa falta de controle: sempre que eu visito um museu de arte moderna eu me sinto compelido a tirar fotos das paredes (como na primeira imagem deste texto, no museu Iberê Camargo). Por que? E por que, especificamente, as fotos são tiradas nos ângulos que são? E a foto imediatamente acima deste parágrafo, na galeria Saatchi? Por que esse efeito?

E esses desenhos absurdos salpicados aqui? O lápis encosta no papel e depois de uns dois minutos essas formas verminosas semitridimensionais estão lá, sem muita decisão consciente da minha parte. Mesmo porque se eu tentar primeiro visualizar o desenho, não vou conseguir fazê-lo.

OOutras vezes, no entanto, obras me surgem prontas no meio da rua e são fotografadas apenas como registro do ocorrido. Clique aqui para ir ao meu outro blog e entender do que estou falando.

Apenas um prato de bateria, um marcador permanente e um dia calmo. Clique para ampliar.

Apenas um prato de bateria, um marcador permanente e um dia calmo.
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Tem também aquele episódio que rola pela Internet de uma mãe que foi reclamar com a professora da filha por causa de uma nota em um trabalho de interpretação de texto. A professora, determinada e intransigente, diz que a aluna respondeu errado à pergunta “o que a autora do texto quis dizer com a frase blábláblá” e, por isso, tirou nota zero. A mãe, meio consternada, retruca com “mas como você sabe o que a autora quis dizer com essa passagem?”, ao que a professora responde com uma mini aula de interpretação, semiótica, história da literatura, etc. Ao final, a mãe com a expressão cansada, se levanta para ir embora e, finalizando o episódio, diz: “Engraçado você dizer isso tudo. Porque a autora do texto em questão é uma amiga minha de infância e a resposta que minha filha colocou no trabalho foi dada por ela, a autora do texto.”

Assim como Sigler e Hrab eu também não tenho certeza o que cada trecho de uma música minha significa ou como cada palavra foi parar naquele lugar para formar uma determinada frase.

Só sei que foi assim.

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Tenho pensado muito em música, sinestesia e consciência ultimamente por causa de uma discussão no blog de Karl acerca do que significa “ritmo”. Acho que vou escrever mais sobre isso nos próximos meses.

O lens flare como forma de expressão

Muito se discute atualmente acerca do uso do efeito de reflexo de lente, ou lens flare, pelo diretor de Super 8 e criador de Felicity, J.J. Abrams.

Mas o que diabos é esse tal de lens flare que parece irritar tanto os neo-nerds? [1]

Se você tentou fotografar alguma coisa contra o sol, provavelmente já percebeu como a imagem não fica exatamente cristalina. Por causa do excesso de luz, a imagem aparece esbranquiçada, com pouco contraste ou simplesmente ruim demais para ser aproveitada até no Instagram, repositório de tudo que não presta em termos de efeitos visuais.

lens-flare-wiki

O efeito pode ser também o de escurecer a imagem enquanto o software da câmera se concentra em proteger seus filtros regulando o obturador para uma velocidade mais rápida, captando praticamente apenas a luz do sol.

lens-flare

Outra manifestação do efeito são círculos (ou, por vezes, outras formas geométricas [3]) psicodélicos, como os da primeira foto lá em cima, causados quando a fonte de luz não está diretamente no campo da lente mas ainda assim a afeta, infiltrando raios fora de eixo, como no diagrama abaixo.

lente

Ou seja, para um lens flare ocorrer, são necessárias duas coisas: uma lente e uma fonte de luz intrusa.

Nos sets completamente verdes e inexistentes dos filmes grandiosos de hoje em dia não existem acidentes. Não existe uma lâmpada pendurada num lugar errado dando interferência no resto da cena. Se a imagem estiver estourada, com ruído ou com pouco contraste, tenha certeza de que foi proposital.

Então, vem a pergunta: por que usar, num filme milionário, um (d)efeito tão amador que geralmente é causado por um erro de preparação?

A resposta: preservação da suspensão de descrença. Mais sobre isso adiante.

George Lucas, por exemplo, é fortemente criticado pelo uso excessivo do chroma key, abandonando a técnica antiga de animatronics e modelos em escala reduzida em busca de maior flexibilidade (um boneco do tipo Gizmo, de Gremlins, não pode dar saltos e piruetas de forma convincente, como o faz Jar Jar Binks) mas, segundo alguns, em detrimento do senso de realidade que a interação de humanos com objetos físicos e reais proporciona. Mas logo ele, que um dia foi multado pela Directors Guild of America (Associação Americana de Diretores) por não incluir créditos no começo de Star Wars justamente para não destruir a suspensão de descrença ao dizer claramente aos espectadores que aquilo era um filme feito por atores!?

O revolucionário (nem tanto) O Hobbit causa frisson com sua alta taxa de quadros (48fps, o dobro do comum) mas Peter Jackson pré-resolveu o problema da suspensão de descrença usando mais locações (cenários reais) do que sets verdes (o famoso chroma key já citado). Ou seja, é mais difícil o espectador sair do mundo fantástico no qual está imerso porque percebeu algum artefato visual que o lembrou de que aquilo na tela não é um documentário de verdade.

Nada de computação. Apenas uma câmera deslizando sobre um papel.

George Lucas está sendo julgado pelas pessoas que sabem que existe um anão dentro de R2-D2 e que o movimento quebradiço dos olhos e lábios de Jabba são controlados por um técnico com um controle remoto na mão. Ou seja, essas mesmas pessoas conseguem identificar que o ator está contracenando com uma bola de tênis pendurada numa vara de pescar na frente de um fundo verde ou azul ao invés de realmente defletindo raios laser de um flutuante módulo de treinamento Jedi. Para quem não assistiu ao primeiro Jurassic Park no cinema (o principal filme de transição entre as técnicas de marionetes e computação) porque não era ainda nascido, isso não faz diferença. A cara esquisita de Falcor com sua língua obviamente mecanicovertebrada parece ridícula e antiquada para a geração que já cresceu com computadores de alta eficiência e capacidade de processamento.

Eles querem mais é mergulhar junto com Anakin na lava enquanto ele perde permanentemente o braço. A nova trilogia de Star Wars é para eles, não para nós.

Mas, se depender de J.J. Abrams, teremos nossa doce, doce vingança geriátrica em breve. E graças aos lens flares.

A geração para qual Jar Jar Binks foi criado sempre viu filmes digitais de alto orçamento com cenários e personagens virtuais, onde cada costura no bolso da bermuda do terceiro figurante sem fala numa cena de pânico é planejada e calculada. Música não tem mais chiado de fita (silêncio digital é absoluto, já que não existem mais cabeçotes roçando em plástico magneticamente embebido), o preto não é mais mofado (deixou de ser a representação de uma cor que foi filmada, processada e projetada – três passos envolvendo luz -, para ser a absoluta falta de estímulo luminoso) e a imagem não tem mais riscos e marcas de cortes (não existe mais fita para desgastar no projetor a cada sessão nem para ser recortada e colada para depois ser copiada – agora é tudo um arquivo digital incorruptível).

Como o sol no plano de fundo não é mais o Sol, estrela primária do nosso sistema planetário, mas sim uma série de uns e zeros, as lentes não são mais sobre-estimuladas e não distorcem o que estão captando (que está sendo perfeitamente iluminado por trás, com luz indireta e difusa, etc, etc termos técnicos, etc). A única coisa que o reflexo na lente faz para os representantes da corrente geração consumidora de blockbusters é tirá-los da trama, fazendo-os lembrar que aquilo é um efeito incluido na pós-produção.

“No espaço, ninguém ouve você reclamar do lens flare…”

Ao usar o tão previamente evitado reflexo de lente, Abrams inteligentemente reconecta os fãs antigos com os filmes contemporâneos.

Ao mostrar a USS Enterprise envolta num clarão supostamente indesejado, ela fica contextualizada num universo onde ela existe, é real e está sendo filmada! O diretor se utiliza de um truque para enganar nosso cérebro e fazê-lo crer ainda mais na existência daquele universo do qual ele (o cérebro do espectador) não deve sair, pois ao lembrar que o lens flare ocorre com lentes e uma fonte de luz intrusa, a associação com “esta cena foi filmada por uma câmera in loco” é praticamente inevitável. Mas só para quem assistia a Os Trapalhões Nas Minas do Rei Salomão num assento de madeira numa sala com ventilação ambiente e já viu o efeito ocorrendo naturalmente nas mãos de um operador de câmera inexperiente seguindo as orientações orgânicas de um diretor mal pago num filme de baixo orçamento.

Ou seja, ao tirar os espectadores jovens da ilusão de que aquilo é real pois foi filmado, o diretor paradoxalmente coloca os mais velhos ainda mais dentro do mundo onde aquilo é real pois foi filmado! No espaço sideral! HÁ MUITO, MUITO TEMPO!

E isso é genial!

Mal posso esperar o novo filme da terceira trilogia de Star Wars. [2]

———

[1] – Aqueles que cresceram sem saber muita coisa mas hoje em dia gostam de dizer “bazinga” e se autodenominam “nerds” por gostarem de ver TV e por nunca terem calçado um sapato social.

[2] – Mentira, posso esperar até bem confortavelmente. Não sou exatamente um cinéfilo.

[3] – Tem ainda o efeito como o da imagem abaixo, onde o reflexo não forma círculos mas cortes horizontais, por causa da distorção anamórfica usada para projeções em telas largas (widescreen). Sugiro que leiam a respeito, pois é bem interessante.

A única coisa real nessa cena é a má atuação.

Ilusão idiótica

Sempre que eu olho a imagem a seguir, passo vários minutos tentando entender o que está acontecendo com a barra e porquê os pesos estão nos lugares errados.

Aí desisto, vou fazer outras coisas e, quando volto, vejo imediatamente.

Por favor, descreva nos comentários o que você está vendo. Pode ser um exercício interessante.

Se você não viu nada demais, comente mesmo assim. Talvez seja só eu que não enxergo que preste.

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