Podar é preciso. Esconder não é preciso.

Hoje, dia Internacional da Mulher, 8 de março de 2010, descobri que um comentário meu foi apagado do blog A Vida como a vida quer, no post #oquevcfaria se pudesse reclamar da falta de verde na sua região?. Deixei um comentário contrário, hoje voltei lá pra saber se tinha provocado alguma reação, e tinha! Meu comentário foi deletado.

Me surpreende um blog de uma mulher, jornalista, mãe, bastante conhecido e bem frequentado, esconder um comentário contrariando sua opinião. Afinal, na minha cabeça de blogueira, bióloga e mulher, blogs são locais de interação, não só quando essa interação concorda com o autor, mas também quando discorda – Claro!!!!! Há limites. Sem argumentos ou com xingamentos a qualquer pessoa – a mim ou a qualquer um dos meus comentaristas ou criticados – também não entra… mas argumentado? Fiquei pasma. Será que é porque tratava-se de um publieditorial?

Não tem problema. A internet é um local livre. Então, vou reformular e reescrever meu comentário aqui!

Meu comentário todo baseou-se nesse ponto do post:

“Lembrei desta história ontem porque o edifício que fica do outro lado da rua chamou a prefeitura para podar as árvores. Ao ver o caminhão, já me alertei. E exatamente neste momento, vejam que feliz coincidência, recebi um release contando da ação da XYZ para reflorestar milhares de árvores.”

O que incomodou foi que podar árvores parece ser igual a desmatar. E não, jovem padawan, não é. No post original também há um vídeo com a autora inconformadíssima que a prefeitura estava podando uma árvore e cortando uma árvore pequena. 

Oh céus. Vamos falar sobre poda.
tree_trimming_truck.jpg
Podar árvores é fundamental. Tão fundamental quanto à arborização das cidades. O verde em grandes cidades como São Paulo, diminuem a poluição sonora e atmosférica, controlam a temperatura, atraem aves, insetos polinizadores, e trazem harmonia e qualidade de vida.
Entretanto, dependendo das espécies de árvores escolhidas e onde elas são plantadas, árvores podem trazem problemas. 
Considerando a parte aérea, pode haver prejuízo na fiação de rede de energia elétrica e telefonia e entupimento de bueiros (principalmente no outono se essas árvores perdem as folhas). Considerando as raízes, pode haver prejuízo no asfalto e calçadas e danos em encanamentos. Considerando manutenção, a árvore pode envelhecer e apodrecer, pode estar oca por conta do ataque de cupins e formigas. Por essas e outras, podar e fazer a manutenção das árvores é fundamental. Fazer o planejamento de que árvores vão crescer e que outras devem ser podadas no início da vida, também. Podar árvores necessita de treinamento e técnica e não é qualquer cidadão que pode fazer esse serviço.
Podar árvores pode ser bastante perigoso, principalmente se redes de alta tensão estiverem por perto. Também deve-se estar preparado para prever onde o galho vai cair. E para onde levá-lo depois da poda.
Em relação à retenção de gases do efeito estufa, todos sabemos que o gás carbônico é utilizado pelas plantas para fazer fotossíntese. Em última análise, para produzir a energia necessária para a planta sobreviver e para crescer – produzir novos galhos, novas folhas, crescer em diâmetro. Quando uma árvore pára de crescer, a quantidade de gás carbônico retida pela planta é menor do que quando ela está em crescimento. Desse modo, a poda é importante para manter a planta absorvendo gás carbônico e retendo carbono (óbvio, há de se saber o que foi feito com os galhos cortados: se eles não foram aproveitados, ou foram queimados, por exemplo, o carbono volta para a atmosfera).
Em resumo: adoro quando blogs falam sobre meio ambiente e biologia. Mas a informação tem que ser correta – e se não for, tem que aceitar ser corrigida. Senão vira desinformação. 
E poda é bom, sim. E poda não é desmatamento, caro Watson.
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Atenção: Fiscalizar como as prefeituras regularizam e fornecem licença para empresas especializadas fazerem as podas é questão de cidadania. O que é feito do lixo orgânico e se as técnicas utilizadas estão corretas deve ser conhecido. Fiscalize sua prefeitura e as empresas que prestam serviço. Acha que a poda é ilegal? Pergunte para o prestador de serviço e confirme na prefeitura. Para se fazer podas é necessário ter licença e ser especializado. Se seu vizinho está podando, ou se você está assistindo uma poda ilegal, denuncie.

Vermicomposteira gringa

Minha vermicomposteira (mais aqui) vai bem, obrigada. Produz uma quantidade de chorume muito maior do que minhas plantas são capazes de consumir, processa todo o meu lixo orgânico (com raras exceções como carnes, gorduras e frutas cítricas ou vegetais fedorentos), é pequena, não cheira nem fede e as minhocas estão crescendo como nunca.

Hoje vi o design de uma vermicomposteira gringa. Pra minha necessidade pessoal não serve. É grande. E o espaço que tenho para uma vermicomposteira não toma muito sol, o que acabaria com a ideia toda do produto que é ser um “jardim de ervas vertical”. As ervas não cresceriam jamais nesse espaço. Entretanto, achei o design interessante deveras. Só não gostei da cor. Branco não combina com terra, minhocas ou chorume. Olhem que bonitinha:

vertical_garden.jpg

A ideia toda é simples: três prateleiras, com três “vasos”. Os “vasos” podem ser retirados da prateleira, e neles se vê um buraco por onde passa líquido (que, no caso, é o chorume). Como o chorume é rico em sais minerais e água, taí o meio perfeito para regar e nutrir as plantas de uma só vez. O processo todo pode ser visto no esquema abaixo, dividido em 6 partes e livremente traduzidos do site oficial por mim.

1. Os restos orgânicos são colocados na vermicomposteira (a tradução bonitinha é “fazenda de minhocas”).

2. O processamento do alimento pelas minhocas produz o chorume, que, pela ação da gravidade, acumula-se na parte inferior da vermicomposteira. Mais chorume poderá ser recolhido quanto mais água se adicionar à vermicomposteira.

3. Acionando-se a bomba com o auxílio dos pés, o chorume é levado pra o reservatório em cima dos “vasos”.

4 e 5. Do reservatório, o chorume vai escoando lentamente através dos vasos, fazendo a irrigação e a fertilização da terra dos vasos (que tem um buraco em cima e outro embaixo).

6. O excesso de chorume é recolhido na parte inferior da prateleira que tem comunicação com a vermicomposteira e então, pode ser novamente bombeado para a parte superior do sistema.

Bacana, né?

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Fontes:

Blisstree.com
Xavier Calluaud

Yes, we can! (or not)

Esse, foi o Obama que convenceu milhões de norte americanos, convenceu líderes e povos do mundo, convenceu o comitê do Prêmio Nobel [Yes, we can!]

E esse foi o Obama que falou na COP-15 hoje de manhã:

Muitos comentários negativos ao discurso “sem sal” do Presidente Barack Obama surgiram no Twitter. Entretanto, o discurso segue a proposta para política externa norte-americana.
Pessoalmente, fiquei decepcionada. Esperava um discurso mais acalourado acalorado (tks Takata!), que levasse a galera ao delírio! Um discurso Yes, we can! Um discurso Let’s do it! Mas não… um discurso com as propostas já levadas anteriormente, um discurso que não empolgou outros chefes de Estado, delegações ou imprensa americana (que até onde fontes in loco informam, vaiaram o cara). Pra não perder as esperanças, espero que, mesmo não tendo empolgado, o discurso baste. Último dia de COP. Vamos ver o que vai acontecer agora.

O que o Diogo Mainardi sabe sobre o clima?

Veja Mainardi.png

E hoje, o Diogo Mainardi descobriu que ser cético do clima dá IBOPE. E publicou um texto ruim. R-U-I-M. Fato: prestou um deserviço à divulgação de ciências de qualidade, usou entrelinhas para desrespeitar cientistas, principalmente meteorologistas, e, de quebra assumiu que não sabe nada sobre um assunto – o que é uma novidade pra mim pois não é todo dia que se vê um jornalista renomado admitir ignoráncia sobre um tema. 

 
Claro que ele não afirmou: sou ignorante sobre esse tema. Não! Longe disso! Mas, num texto de pouco menos de 3.000 caracteres (incluindo espaços) o jornalista conseguiu juntar apenas 8 coisas que remetem sobre o grande tema “aquecimento global”. 
O que o Diogo Mainardi sabe sobre o clima? Aqui vai um resumo: 
1. “que é um assunto pra lá de aborrecido” 
2. “que meteorologistas do mundo inteiro reuniram-se em Copenhague” 
3. “que se continuarmos a emitir CO2, a temperatua da Terra aumentará sem parar” 
4. “que meteorologistas de O Globo calcularam a temperatua mínima do Rio de Janeiro, ontem chegaria a 22 graus”, mas “na realidade, ela foi 20,6 graus” e que, se eles erram de um dia pro outro, que dirá em uma centena de anos? 
5. “que o alarme dos meteorologistas sobre aquecimento global se baseia em um gráfico com forma de taco de hóquei” 
6. que um meteorologista “analisou doze troncos de pinheiros siberianos” e chegou ao gráfico em forma de taco e que professores do mesmo instituto foram “flagrados manipulando alguns desses dados” 
7. “que há mais gelo do que em 2006” na calota polar ártica 
8. “que leitores foram amedrontados pela imagem de um urso polar canibal” 
9. “que no segundo turno, de acordo com a última pesquisa eleitoral do IBOPE” […] “Dilma Rousseff continua a derreter”. 
Trechos entre aspas retirados de: Eu e o urso canibal
Fato que eu poderia ficar aqui tentando desmentir cada uma dessas afirmações – ou nem isso… poderia apenas cobrar referências bibliográficas para cada uma dessas afirmações que não linkam para nada, menos ainda artigos científicos (de cientistas céticos ou não) – com exceção da última, já que eu não costumo me meter em assuntos que eu não domino – mas não vou. Conheço meus leitores e sei que os comentários serão ricos. 
Escrevo esse post para parabenizar Diogo Mainardi pela corajosa atitude de assumir que sabe oito coisas sobre “mudanças climáticas”. 
Eu também sugeriria alguma bibliografia para que se conheça quem são os ganhadores do Prêmio Nobel da Paz de 2007, quem são as pessoas reunidas em Copenhague e para diferenciar meteorologistas de climatologistas – além claro, de uma bibliografia extensa, rica em pesquisas, discordâncias e concordâncias sobre um modelo matemático complexo que levou a um gráfico “com forma de taco de hóquei” porém essas respostas são facilmente encontradas quando se navega em google.com.
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Também publicaram sobre esse assunto: (Você também publicou? Mande-me o link!)

Papertoy da COP15

Sabadão de preguiça pra mim.
Então, nada melhor do que um papertoy, tipo tubo, que não dá trabalho (preguiça, lembre-se dela).
Tá aqui no souzacampus.com! Eu adorei, principalmente a referência da COP-15. Espero mesmo que venha um presente de lá para nós!

E “A Tirania do Petróleo” vai para…

Vamos por partes.

Como fiz o sorteio: euzinha aqui, copiei e colei o nome de todos os comentaristas no espaço reservado para isso no site Random.org.

Por que essa estratégia e não usar, simplesmente, o número que o blog já deixa do lado de cada comentário? Por que lá existem comentários meus, e também alguns comentaristas voltaram para discutir mais. Então, para me eliminar e para não dar mais chances para uns do que para outros, a estratégia de recortar e colar nome por nome dos comentaristas e eliminar os repetidos foi a escolhida.

Número 1: Adicionar os nomes

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Nome adicionados (são 20): expectativa, expectativa!!!!

Número 2: Random!

TP_expectativa.png

And the Oscar goes to…..

Olha… eu detesto aqueles caras que fazem sorteio e ficam “cozinhando” o resultado até que saia para um amigo/amiga. D-E-T-E-S-T-O. Mas, que parece que esse sorteio foi marmelada, isso parece.

Número 3: O resultado

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Randomizei com todos os nomes para que, caso haja desistência do prêmio, o segundo, terceiro, e até encontrarmos um vencedor, possam ser contactados.

Parabéns a todos! E principalmente, parabéns à Ediouro por ter tido a coragem de traduzir e publicar esse documento fantástico!
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A Tirania do Petróleo é da Ediouro e foi uma cortesia para este blog. Um segundo exemplar do livro também foi cedido como cortesia pela editora para que fosse sorteado entre os comentaristas do post Resenha: A Tirania do Petróleo.

A reconstrução do tempo

Há vários dias quero escrever sobre como anda minha percepção do tempo – principalmente nas grandes cidades – nos dias atuais. Tudo começou com uma reflexão em um feriado qualquer: ir ou não a um aniversário na quinta feira a noite do outro lado da cidade. Aniversário, boca livre, encontro com a família estavam de um lado. Caos, trânsito, estresse de congestionamento pré-feriado, do outro.

Ganhou, claro, o “vou ficar em casa”. Poxa vida… marcar aniversário numa quinta-feira a noite pré-feriado é muito ruim e muita sacanagem. E, depois da reflexão, votei que era um desrespeito enorme com as pessoas. Todas. As convidadas e as anfitriãs. 

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Relógio astronômico de Praga. Flicrk, crédito de simpologist.

Em outro feriado qualquer, festa em outra cidade. Quando? No domingo à noite, volta de outro feriado. Trânsito, trânsito. Caos. Litros de combustível queimados para ficar parado. Estresse. Nem preciso dizer que ganhou, de novo, o “vou ficar em casa”, né? Gente… não dá. Temos que nos readaptar às novas realidades do mundo. Temos um mol de carros das ruas, não vamos acabar com todos eles amanhã, o IPI continua baixo, o que só significará mais carros nas ruas. No caos das preparações pré e pós-feriado, até os transportes públicos são caóticos. E, nas duas condições acima, ir de bicicleta, a pé, de patins, estava absolutamente fora de cogitação.

Dia de semana. Reunião de trabalho. Nada mais justo, necessário e digno sair para uma reunião de trabalho. Hora marcada: 17:00 hs. Eu fico mesmo pensando se temos o direito de entrar em contato com quem marcou a reunião e dizer: “Amigo, pelamordedeus, não dá pra ser mais cedo? Sabe, é que, se locomover em São Paulo às 17:00 horas é um caos. E as 18:30 horas, estimado para o fim da reunião, é pior ainda.” 

Óbvio, que não pude me aguentar e entrei em contato. Vai que… né? Ainda bem que eram pessoas que entendem a lógica do trânsito e toparam adequar o horário. Aperta agenda daqui, aperta dali. Remarca um telefonema internacional, pede licençinha pra atender um telefonema durante a reunião. Nada disso, mesmo, me incomoda mais do que ficar horas no trânsito. Nada.

Sinto, de verdade, que o aniversário, a festa, a reunião, e tantos outros eventos que convidamos e somos conviados diariamente, não são marcados para “sacanear” com as pessoas. Definitivamente não são. Mas, me intriga o fato de ainda não termos nos dado conta – eu inclusive – de que alguns horários não são mais praticáveis, não são mais saudáveis.

Vai ser difícil se adequar aos limites temporais dos próximos tempos? Sem dúvidas. Mas eu vou tentar.

Resenha: A Tirania do Petróleo

Rastro de Carbono adverte: este post pode causar azia e má digestão.

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Há um tempo recebi o livro A Tirania do Petróleo – a mais poderosa indústria do mundo e o que pode ser feito para detê-la, Antonia Juhasz, 2009, Editora Ediouro. Digo “há um tempo” mas o que quero dizer é “há muito, muito, muito tempo”. A Tirania do Petróleo não é um livro para qualquer um, nem para qualquer estado de espírito. Mais do que um livro, A Tirania do Petróleo é um documento completíssimo sobre essa indústria que, é mais do que uma indústria. É governo sem ser governo. É opinião pública sem ser pública. É guerra e paz. É meio e fim.

Pouca gente se dá conta, mas não temos petróleo desde sempre (e nem o teremos para sempre). A primeira grande descoberta de petróleo nos Estados Unidos, por exemplo, deu-se no dia 27 de agosto de 1859. Antes disso, pasmem, usávamos óleo de baleia como combustível para velas e lamparinas. De 1859 para cá, o consumo de petróleo aumentou vertiginosamente. Para se ter uma ideia, em 1900 existiam 8 mil carros trafegando. Em 1915, eram 2 milhões e 500 mil. Cinco anos depois, em 1920, 9 milhões e 200 mil automóveis trafegavam. Viva Henry Ford e o modelo de produção em série! A indústria do automóvel alavancou de vez a era do petróleo e quem alavancou de vez a indústria do petróleo foi Rockefeller

Rockefeller era o tipo de cara sem escrúpulos para os negócios. Dê-se conta de um cara de 7 anos que sai, compra balas, divide em porções e vende, com lucro, para os irmãos. Dê-se conta de cara que aos 22 compra um “substituto” para ocupar seu lugar no exército e faz uma fortuna vendendo suprimentos para o governo federal. Dê-se conta de um cara que aos 24 começa a comprar refinarias, e depois matéria-prima para barris de petróleo, carros-tanque e navios de transporte, depósitos e aos poucos é dono de toda uma cadeia de produção. Rockefeller construiu a indústria do petróleo e a guiou com mãos de ferro. Derrotou os pequenos proprietários que se recusaram a vender suas empresas familiares porque tinha o poder de ditar o preço do óleo, ou o poder de ditar o preço do transporte. O cara sem escrúpulos doou todos os seus talentos para a indústria petrolífera. Conhecer Rockefeller é conhecer a indústria do petróleo.

A indústria de petróleo tinha poder demais nas mãos. A percepção desse fato começou em alguns Estados e depois alcançou a esfera nacional, com fortes campanhas antitruste. Aos poucos, o grande monopólio de Rockefeller, a Standard Oil, se fragmenta em sete, que passam a trabalhar sob uma conduta: um cartel. Conhecemos essas empresas pelos nomes de agora, Exxon, Mobil, Chevron, Texaco, Amoco, BP, Conoco, Marathon, entre tantas outras. E sabemos que várias dessas já nem existem mais e foram favorecidas por processos de fusão e compra, numa “volta ao passado”, numa cartada espetacular, com objetivos comuns de manipular a oferta do petróleo, aumentar preços, derrubar governos, comprar votos, financiar guerras, intimidar pessoas.

“O preço do petróleo ainda está desalinhado dos fundamentos normais da oferta e da procura” Phil Flynn, 2008, in: A Tirania do Petróleo p. 135.

Considere uma indústria tão poderosa que pode financiar candidaturas de pessoas de confiança. Considere agora que, formar uma dúzia de pessoas unidas por interesses alinhados aos da empresa não é uma tarefa fácil, nem rápida. Considere então que, se há dinheiro, há possibilidade de financiar candidaturas de qualquer pessoa, por tanto tempo, que essa pessoa passa a se sentir responsável por atender a seus interesses. Pronto. Agora você tem a imagem do caos, e é capaz de entender porque certas leis se perpetuam, porque certos favorecimentos acontecem, porque o que parece absolutamente errado, torna-se, inexplicavelmente, regra.

Pegue o exemplo do Clean Air Act, de 1970, nos EUA, que introduz nova legislação para tornar refinarias de petróleo menos poluentes. Fantástico? Saiba que a legislação só opera sobre refinarias construídas APÓS 1970. OK. Não precisa ser muito sem escrúpulos para imaginar o que uma pessoa sedenta por lucros faria. Não há novas refinarias, nem projetos de refinarias, nos EUA, desde 1976. Isso as torna cada vez mais obsoletas, antiquadas e perigosas. Refinarias velhas, utilizando-se de processos antigos de refino de petróleo, emitem muito mais poluentes do que o realmente necessário para sua operação. Sem contar no perigo causado não só para quem mora nas redondezas de uma, mas para os trabalhadores, frequentemente submetidos a explosões e vazamentos.

“As reduções de emissões e um meio ambiente melhor beneficiam a sociedade de diversas maneiras. No entanto, a magnitude e a incerteza das exigências ambientais e sua aplicação aumentam os custos e afetam negativamente o investimento doméstico em refinarias.” National Petroleum Council, in “A Tirania do Petróleo p. 199.

Mas dá pra dizer que a indústria do petróleo não investe em tecnologias emergentes de energia? Não dá. Segundo John Felmy, economista-chefe do American Petroleum Institute, “nosso setor nos [últimos] cinco anos, investiu quase 100 bilhões de dólares – mais de duas vezes e meia do investimento conjunto do governo federal e todas as outras empresas dos Estados Unidos” . Pena que “tecnologias emergentes de energia” não são pra indústria petrolífera o que é para nós. Não se trata de energia eólica, solar, biocombustíveis. Trata-se de areias betuminosas, xisto petrolífero e liquefação de gases – claro!

Por esses exemplos e trechos, perceba que “A Tirania do Petróleo” é mais do que um documento sobre meio ambiente e políticas públicas. É um documento sobre a história dessa indústria poderosa, sobre os homens e mulheres que  construiram essa indústria e que fazem de tudo para mantê-la viva. É a história do poder acima das leis, acima das fronteiras, acima dos governos. É a história de contratos, acordos, posses – de terras, de países. Entenda um pouco mais do porquê das Guerras do Golfo, da tomada do Iraque e a morte do então coadjuvante nesse jogo de cartas, Saddam Hussein. Entenda mais sobre os governos Bush (pai e filho), saiba quem é quem no poder durante o período de seus governos e deixe-se envolver por esse documento que é um passeio na história da humanidade e ainda explicará muito das tomadas de decisões que estão por vir.

Saiba mais sobre esse livro da própria autora, Antonia Juhasz nesse vídeo (em inglês):

 

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A Tirania do Petróleo é da Ediouro e foi uma cortesia para este blog. Um exemplar do livro será sorteado entre as pessoas que deixarem comentários nesse post até o dia 30 de novembro de 2009.

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Também resenhou esse livro no SBB:

+ Discutindo Ecologia

Wildlife Photographer of the Year 2009 – minhas escolhas

Estou um mês atrasada. Mas, como eu não me importo com isso e coisa bonita não envelhece… aí vão minhas 5 escolhas do Wildlife Photographer of the Year 2009!

Coloco numa não-ordem. Dessa vez não saberia escolher qual eu mais gostei entre as cinco.  

1. Porque pegadas surpreendem a todos, de carbono ou não.

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2. Porque a vida deve ser simples assim.
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3. Porque ser simples também significa ir a luta.

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4. Porque precisamos sempre nos lembrar que a natureza é grande.
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5. Porque parecer frágil, não significa necessariamente, ser frágil.

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Quem mais escolheu suas favoritas:

Ainda não flopou, mas eu voto que vai flopar*

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Fonte: http://nypost-se.com/news/world_news/flopenhagen-could-things-go-rotten-in-the-state-of-denmark/

*Flopar é um aportuguesamento (?) do verbo inglês to flop que significa mudar, falhar, ou melhor, miar.

* O termo “Flopenhague” tem sido usado mundo afora. No Brasil, por Claudio Angelo, no Laboratório.

A regra é clara: o Protocolo de Kyoto vale só até 2012. O Protocolo de Kyoto cumpriu seu papel na medida em que trouxe um monte de novidades: a inauguração de uma era onde pensar no meio ambiente tornou-se chave em diversos setores, a possibilidade de mudança de uma estratégia energética e econômica baseada em consumo de recursos para estratégias baseadas em recursos renováveis, a possibilidade de mudanças no estilo de vida de cada um, de modo que cada um pensasse mais no meio ambiente.

Fato é que, sem punições para os países que não cumprem com suas metas, o Protocolo de Kyoto fica meio “frouxo”. Eu entendo que, de repente, é óbvio que, nossos camaradas governantes, têm o DEVER SOCIAL, POLÍTICO E AMBIENTAL de cumprir com as metas – e por isso não precisavam de uma “punição”, porque, afinal, o descumprimento parecia, simplesmente, burrice. Estamos falando que, no caso de um descumprimento, as chances de tornar a vida na Terra um tanto mais insuportável são grandes. Veja. Tornar a vida insuportável pode significar extinção gradativa ou diminuição considerável na riqueza de centenas, milhares, de espécies animais e vegetais. Inclusive uma tal de Homo sapiens, que no momento, me parece pouco “sapiens”.

Então tá. Como bons “sapiens” que somos, já entendemos que o prazo de validade do Protocolo de Kyoto está chegando ao fim. Também parece óbvio que tenhamos que substituí-lo por alguma coisa, outro acordo mundial, outro compromisso com redução de gases do efeito estufa, outro compromisso com energia renovável, investimento tecnológico, crescimento baseado em eco-economia, respeito às comunidades mais vulneráveis, respeito à vida e à saúde da  população do mundo. Óbvio? Nem tanto. 

A COP-15 acontece o mês que vem, há exatos 20 dias (acompanhe o countdown aqui). Há um ano ela era a esperança da manutenção de um acordo mundial sem precedentes na história. Hoje, já duvido. Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção do Clima, disse oficialmente que os representantes dos países presentes na COP-15 devem chegar lá com decisões claras, de modo a garantir que essa reunião seja o marco de um novo tratado entre os países signatários de Kyoto (leia mais aqui). A ver pelo Brasil, tenho dúvidas de que “decisões claras” sejam de fato o que os representantes levarão. Atualmente voto mais num “eu só faço se o fulano fizer”, “só diminuo se meu vizinho diminuir”, “só proponho metas se os países emergentes também reduzirem”. Quer apostar? Eu espero perder.

Minha bola de cristal diz que China e EUA vão mijar no pé e chegar lá de mãos abanando. Os países emergentes, que tanto fizeram e significaram para a confecção do acordo de 1997, perderam totalmente as rédeas da liderança e agora só pensam em como tirar proveito do resto. Vide o Brasil, que não tem metas de redução baseadas nas emissões de 1994 (diferente do universo, as “reduções” brasileiras adotam critérios de “estimativas de emissões previstas para 2020” – ridículo), dificilmente adotará alguma meta decente e só quer saber de cobrar os outros. Conta os metros quadrados de não-desmatamento da Amazônia mas assiste de camarote a savanização do Cerrado e a transformação do nosso maior bioma em pasto – ou monocultura, depende de quem chegar primeiro. Discute de portas fechadas o novo código florestal e aos poucos torna mais enxutas nossas unidades de conservação.

Nosso Ministério do Meio Ambiente? Esse, sinto muito, perde qualquer discussão para o forte e poderoso Ministério da Agricultura, independente dos ministros que ocupem as casas. Com a Agricultura não tem tempo quente. Tem que ter produção. E pra produzir precisa espaço. E se aquela “mata feia” não dá dinheiro, arranca fora que tem o que nos dê. E assunto encerrado.

Mas uma vez, estou esperando ver essa COP-15 naufragar. Não vejo esforços dentro da nossa casa, não vejo esforços no exterior. E como acordos mundiais do porte de Kyoto dependem de boa vontade dos governantes, sinto que não teremos boas notícias em 20 dias. Uma pena. Mais uma vez o lucro e o dito “desenvolvimento a qualquer custo” vão vencer. 

Saiba mais:

+ Anfitrião de Copenhague e EUA já falam em adiar acordo sobre clima 

+ Prazo do Código Florestal não deve ser prorrogado, diz ministro

+ Brasil, UE e emergentes vão pressionar China e EUA para meta de CO2, diz Minc