Rapidinha – Mas já?

OITENTA E SETE dias depois, a empresa British Petroleum (BP) afirma ter interrompido o vazamento de óleo no Golfo do México.
Mas já?
Mas não fique feliz agora! Segundo a BP, o local do vazamento ainda estará sendo monitorado com máxima atenção pelas próximas 48 hs e só então poderá afirmar com certeza absoluta que novos vazamentos não ocorrerão.
Palhaçada.
Saiba mais:
G1 – Óleo para de vazar do poço da BP no Golfo do México pela primeira vez
BBC News – BP says oil has stopped leaking

Acompanhe:
Live feed from the Gulf of Mexico

A Ciência, por Claudio Angelo

Hoje, o jornalista Claudio Angelo se despediu da posição de Editor de Ciências da Folha de São Paulo com um post no blog Laboratório. Para um divulgador de Ciências, a troca do editor de Ciências de um jornal ou revista de grande circulação no país tem mais ou menos o mesmo gosto que a troca do técnico da seleção brasileira de futebol para a maioria da população. Isso porque, assim como o técnico da seleção, o editor de Ciências tem por objetivo traçar estratégias, escalar os melhores profissionais e lutar bravamente por um gol, neste caso, por uma pauta, por um assunto, que equilibrem a vontade de vender do dono do jornal/revista com a importância que a notícia representa no mundo científico.
Com o post “A Ciência não sabe de nada“, Claudio Angelo explica como ninguém o que é Ciência e como ela funciona: “A ciência é melhor em produzir dúvidas e perguntas”. É isso que provavelmente gera insegurança nas pessoas e produz correntes anti-ciência e negação da ciência por aí a fora – a luta às vezes disfarçada, às vezes descarada contra avanços tecnológicos e científicos como as vacinas, novos tratamentos à doenças, novos materias ou novas formas de cultivo de plantas ou de criação de animais, uso de energia nuclear, negação da participação do homem no aquecimento global, etc, etc, etc.
Talvez a maior pergunta que fica para a população geral é: Como podemos investir tanto investimento em dinheiro, pessoas, tempo, na produção de dúvidas e não de certezas? Citando o monólogo “Letting Go of God” interpretado por Julia Sweeney, Claudio Angelo enfatiza ainda mais essas dúvidas: “Os cientistas não conseguem decidir se café é bom ou ruim para a saúde, se o planeta está esquentando muito ou pouco, se o homem tem 100 mil ou 20 mil genes, se o Sistema Solar tem oito ou nove planetas.” E as dúvidas nunca acabam, nunca acabam, e é dessa insatisfação dos cientistas que as Ciências andam. O importante para os cientistas é, a todo custo, tentar refutar a todo tempo, a todo experimento, as hipóteses que ele ou seu grupo de pesquisa levantam. E é assim que tem que ser. Ciência sem a vontade louca do cientista de provar-se errado (e não certo!) não é Ciência.
Claudio Angelo deixa a Editoria para voltar a ser repórter, agora em Brasília, e deixa o cargo para Reinaldo José Lopes, um dos jornalistas de ciências mais competentes da atualidade e companheiro de condomínio, no Chapéu, Chicote e Carbono-14. Vida longa e próspera ao Reinaldo e que tenha forças para lutar por notícias, escalar profissionais e traçar estratégias para trazer o melhor da Ciência do mundo para a divulgação científica brasileira.
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Não deixem de ler a despedida do Claudio Angelo em “A Ciência não sabe de nada” clicando AQUI

Curva adiante

Estou há tempos pensando nos rumos desse blog.
Por um momento, pensei que o mais sábio seria dar uma grande pausa até que eu consiga retomar os estudos das políticas públicas e descobertas científicas na área de meio ambiente e mudanças climáticas – pausa esta que estou mesmo sendo ” deliciosamente forçada” a fazer. A consequência desse pensamento é o que temos visto nesse blog… um imenso vazio de posts.
Entretanto, minha pausa “deliciosamente forçada” não me fez deixar de pensar e considerar de maneira mais consciente minhas escolhas. De fato, essa pausa me fez mudar o olhar, mas não o método de olhar. Não sei se me faço clara. O fato é que estou pensando muito no meu consumo, nas minhas ações pessoais, enfim, mais em problemas práticos e do cotidiano de quem tem preocupações com o meio ambiente – e desse modo mudo um pouco o foco do olhar, já que políticas públicas e descobertas científicas ficaram de lado – mas não mudo o método, ou seja, ainda faço minhas análises críticas sobre qual o melhor para o planeta, sem que essa escolha seja economicamente ou socialmente inviável.
E a dúvida é: compartilhar ou não compartilhar essas novas ideias, mesmo que elas tenham um rumo diferente daquele que gosto de dar a esse blog. Se sim, mais posts com cara “pessoal” devem aparecer e menos, muito menos posts de ciências e política. Meu medo? Transformar o Rastro de Carbono num imenso blog pessoal e nunca mais retomar o caminho.
Então, de repente, considerei que não exatamente preciso mudar de caminho para continuar a escrever. Uma curva. Só farei uma curva. E voltarei a programação normal quando puder. Que tal?
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By Atelier Vanessa Maurer on Flickr

Alexandre Garcia, não me faça te pegar nojo!

TODOS os seres humanos da Terra são passíveis de erro. T-O-D-O-S. Isso faz parte da nossa humanidade. E eu acho essa uma das características mais lindas que podemos ter. A capacidade de errar e, de repente, reconhecer o erro, se desculpar, mudar de ideia, começar de novo.

Tem uma profissão que eu não gostaria de ter. Jornalista. Eu não ia me dar bem com a coisa. Não é do meu perfil. Jornalismo é uma profissão, pra mim, que exige uma dedicação maior do que 24 horas por dia, 7 dias da semana. O cara tem que estar absolutamente antenado com TUDO o que acontece no universo em volta dele. Quanto mais ele souber do que acontece, mais capacidade ele terá de conduzir bem uma entrevista, de expressar uma opinião, de moderar uma discussão, de escrever bem e claramente sobre um determinado assunto. E mais ele terá capacidade de formar opiniões nos ouvintes/leitores, mais ele terá capacidade de dar o tom certo a uma discussão, mais ele terá capacidade de fazer-nos mudar de ideia e, de repente, de nos direcionar para um ou outro lado – e essa última capacidade é, para mim, a mais poderosa do jornalista: poder ser tão coerente, tão coeso, tão bom argumentador de uma causa, que seja capaz de enrolar/ludibriar/convencer qualquer cidadão do mundo sobre praticamente qualquer coisa.

Pois bem. Jornalista é ser humano – até que se prove o contrário. E, como ser humano, jornalista é passível de erro.

Hoje ouvi a opinião de um jornalista daqueles das antigas, que tem voz, respeitados em seu meio e fora dele, sobre saúde. Sinceramente… Alexandre Garcia pôs-se a falar de um assunto que, claramente, não é a praia dele. Ouçam e tirem suas conclusões:

E, não deixe de observar as notas do Ministério da Saúde sobre o caso

Alexandre Garcia… não sou índia, mas melhor que fosse. E, respeito à diferença e ao livre arbítrio são valores que nós, brasileiros, não gostaríamos de perder. O direito que nós mulheres conquistamos de ter filhos e nossa pátria Brasil respeita tanto passa muito além dos argumentos contra a prática ou a escolha do parto que você mencionou. E, sinto muito que para você, um HIV positivo tenha menos direito do que HIVs negativos. E sinto muito também que saiba tão pouco sobre parto humanizado.

Achei que uma gafe tipo Boris Casoy fosse demorar mais pra acontecer…

Garis! Se vocês, do alto de suas vassouras e dificuldades tem tanta pureza em desejar felicidades para o mundo, quem não terá?

Mas… Boris Casoy e Alexandre Garcia são seres humanos. E como seres humano são passíveis de erro. E também são capazes de mudar de ideia, pedir desculpas e começar de novo.

Um planeta sustentável começa com práticas pessoais sustentáveis. E sustentabilidade significa respeito ao meio ambiente, respeito as possibilidades econômicas e respeito às pessoas.

Você vende carbono, mas eu posso não querer comprar.

Ah… as relações de compra e venda…

Vai lá o cidadão, trabalha, se esforça, bota um produto no mercado e nada de alguém querer comprar. Sei lá, pode ser o preço, pode ser a qualidade, pode ser que ele seja feio e de mau gosto e só você não notou, pode ser só que a hora de vender não era adequada pro produto (tipo tentar vender bronzeador em dia de chuva, sabe?)… Mas a verdade cruel é que pode ser que ninguém esteja interessado naquele momento.

Isso aconteceu ontem.

A BM&F (Bolsa de Valores Mercadorias e Futuros) realizou ontem, dia 8 de abril de 2010, o primeiro leilão de créditos de carbono voltados ao mercado voluntário (os outros dois leilões organizados pela BM&F foram do Aterro Bandeirantes e do Aterro São João, ambos do mercado regulado e ambos foram arrematados). 

Foram postas para leilão 180.000 unidades de redução de emissão verificadas de gases do efeito estufa, divididos em três lotes de 60.000 unidades cada. Uma unidade de redução vale 1.000 toneladas de carbono equivalente (Ceq), e tinham como preços iniciais de R$ 10,00 a R$ 12,00 a unidade, variando conforme o período em que foram gerados os créditos. Ou seja, para um lote de 180.000 mil unidades, esperava-se um faturamento mínimo de 1,8 milhões de reais.

Resumindo:

1 unidade = 1000 toneladas de Ceq = R$ 10,00 (no mínimo)

180.000 unidades = 1,8 x 10ˆ8 toneladas em Ceq = R$ 1,8 milhões (no mínimo)

Mas…

Nada foi arrematado.

Os créditos (validados pela UNFCCC) eram de titularidade e administrados pela Carbono Social Serviços Ambientais e referiam-se a redução de emissões gerados a partir da troca de combustíveis fósseis por biomassa renovável (bagaço de cana-de-açúcar, caroço de açaí, casca de arroz, entre outras) em fábricas de porcelana localizados em São Paulo (Panorama, Paulicéia), Pará (São Miguel do Guamá), Pernambuco (Lajeado, Paudalho), Sergipe (Itabaiana), Minas Gerais (Ituiutaba) e Rio de Janeiro (Itaboraí).

Isso me lembrou muitíssimo a reunião de ontem na FIESP, onde se propôs a constituição de uma comissão para definir normas para um mercado de carbono tupiniquim. Saiba aqui.