Ainda não flopou, mas eu voto que vai flopar*

Flopenhagen.png

Fonte: http://nypost-se.com/news/world_news/flopenhagen-could-things-go-rotten-in-the-state-of-denmark/

*Flopar é um aportuguesamento (?) do verbo inglês to flop que significa mudar, falhar, ou melhor, miar.

* O termo “Flopenhague” tem sido usado mundo afora. No Brasil, por Claudio Angelo, no Laboratório.

A regra é clara: o Protocolo de Kyoto vale só até 2012. O Protocolo de Kyoto cumpriu seu papel na medida em que trouxe um monte de novidades: a inauguração de uma era onde pensar no meio ambiente tornou-se chave em diversos setores, a possibilidade de mudança de uma estratégia energética e econômica baseada em consumo de recursos para estratégias baseadas em recursos renováveis, a possibilidade de mudanças no estilo de vida de cada um, de modo que cada um pensasse mais no meio ambiente.

Fato é que, sem punições para os países que não cumprem com suas metas, o Protocolo de Kyoto fica meio “frouxo”. Eu entendo que, de repente, é óbvio que, nossos camaradas governantes, têm o DEVER SOCIAL, POLÍTICO E AMBIENTAL de cumprir com as metas – e por isso não precisavam de uma “punição”, porque, afinal, o descumprimento parecia, simplesmente, burrice. Estamos falando que, no caso de um descumprimento, as chances de tornar a vida na Terra um tanto mais insuportável são grandes. Veja. Tornar a vida insuportável pode significar extinção gradativa ou diminuição considerável na riqueza de centenas, milhares, de espécies animais e vegetais. Inclusive uma tal de Homo sapiens, que no momento, me parece pouco “sapiens”.

Então tá. Como bons “sapiens” que somos, já entendemos que o prazo de validade do Protocolo de Kyoto está chegando ao fim. Também parece óbvio que tenhamos que substituí-lo por alguma coisa, outro acordo mundial, outro compromisso com redução de gases do efeito estufa, outro compromisso com energia renovável, investimento tecnológico, crescimento baseado em eco-economia, respeito às comunidades mais vulneráveis, respeito à vida e à saúde da  população do mundo. Óbvio? Nem tanto. 

A COP-15 acontece o mês que vem, há exatos 20 dias (acompanhe o countdown aqui). Há um ano ela era a esperança da manutenção de um acordo mundial sem precedentes na história. Hoje, já duvido. Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção do Clima, disse oficialmente que os representantes dos países presentes na COP-15 devem chegar lá com decisões claras, de modo a garantir que essa reunião seja o marco de um novo tratado entre os países signatários de Kyoto (leia mais aqui). A ver pelo Brasil, tenho dúvidas de que “decisões claras” sejam de fato o que os representantes levarão. Atualmente voto mais num “eu só faço se o fulano fizer”, “só diminuo se meu vizinho diminuir”, “só proponho metas se os países emergentes também reduzirem”. Quer apostar? Eu espero perder.

Minha bola de cristal diz que China e EUA vão mijar no pé e chegar lá de mãos abanando. Os países emergentes, que tanto fizeram e significaram para a confecção do acordo de 1997, perderam totalmente as rédeas da liderança e agora só pensam em como tirar proveito do resto. Vide o Brasil, que não tem metas de redução baseadas nas emissões de 1994 (diferente do universo, as “reduções” brasileiras adotam critérios de “estimativas de emissões previstas para 2020” – ridículo), dificilmente adotará alguma meta decente e só quer saber de cobrar os outros. Conta os metros quadrados de não-desmatamento da Amazônia mas assiste de camarote a savanização do Cerrado e a transformação do nosso maior bioma em pasto – ou monocultura, depende de quem chegar primeiro. Discute de portas fechadas o novo código florestal e aos poucos torna mais enxutas nossas unidades de conservação.

Nosso Ministério do Meio Ambiente? Esse, sinto muito, perde qualquer discussão para o forte e poderoso Ministério da Agricultura, independente dos ministros que ocupem as casas. Com a Agricultura não tem tempo quente. Tem que ter produção. E pra produzir precisa espaço. E se aquela “mata feia” não dá dinheiro, arranca fora que tem o que nos dê. E assunto encerrado.

Mas uma vez, estou esperando ver essa COP-15 naufragar. Não vejo esforços dentro da nossa casa, não vejo esforços no exterior. E como acordos mundiais do porte de Kyoto dependem de boa vontade dos governantes, sinto que não teremos boas notícias em 20 dias. Uma pena. Mais uma vez o lucro e o dito “desenvolvimento a qualquer custo” vão vencer. 

Saiba mais:

+ Anfitrião de Copenhague e EUA já falam em adiar acordo sobre clima 

+ Prazo do Código Florestal não deve ser prorrogado, diz ministro

+ Brasil, UE e emergentes vão pressionar China e EUA para meta de CO2, diz Minc

Copenhagen: desafios para um novo protocolo de emissões

O Protocolo de Kyoto tinha data para começar e tem data para acabar. Baseado em dados de emissão de gases do efeito estufa da década de 1990, o protocolo nem de longe é o melhor que os países podem fazer para diminuir a concentração de gases do efeito estufa presente na atmosfera além do que, já está pelo menos 20 anos defasado (leia mais sobre o protocolo de Kyoto aqui). Como o protocolo tem data para expirar (2012) é natural que os países signatários estejam se preocupando com os termos do seu substituto. 

A COP-15, que acontece no final desse ano em Copenhagen, deve ser crucial para as negociações acerca de novos termos e deve ser capaz de definir parâmetros e novas estratégias para a confecção de um novo documento. Será que os países signatários vão conseguir chegar a um consenso? Será que os países desenvolvidos vão conseguir reduzir suas emissões? E, mais importante, será que os países ditos emergentes, como Brasil, Índia e China vão concordar em ter metas de redução?

Em busca de respostas, a Universidade de São Paulo, representada pelo Instituto de Estudos Avançados, promoveu nessa terça-feira uma conferência com o ministro da Energia e das Mudanças Climáticas do Reino Unido, Ed Miliband. Antes da apresentação do ministro, professores da universidade e importantes nomes dos estudos das mudanças climáticas no Brasil tiveram tempo para expor suas opiniões. Entre eles, o Prof. Dr. José Goldemberg, o Prof. Dr. Jacques Marcovitch e o Dr. Luiz Fernando Furlan. 

A questão energética

Goldemberg, como sempre e dentro de sua especialidade, discutiu um pouco sobre a questão energética. Entre outras coisas, lembrou os ouvintes de que é necessário pensar que a energia trouxe bem estar e um nível de vida sem precedentes na história, mas que isso não significa que ela não deva ser modernizada. 

Como medidas para os países desenvolvidos, citou investimentos na melhoria da eficiência energética e no desenvolvimento em tecnologia para fontes de energia limpas e renováveis. Já para os países em desenvolvimento, é preciso uma política pública eficiente, que possibilite o desenvolvimento social, tecnológico e econômico de modo a garantir a conservação do meio ambiente – começando certo, e não tendo que mudar tudo como está acontecendo com os países desenvolvidos. Para o Brasil, redução do desmatamento da Amazônia, reflorestamento e uso de energias renováveis.

Para fechar com chave de ouro, Goldemberg assinala que devemos parar de agir com baixo-estima e síndrome de coitados e assumir responsabilidade pelas mudanças climáticas – afirmação com a qual eu concordo em gênero, número e grau.

A economia dos empresários

Furlan, como representante dos empresários, discutiu um pouco sobre o investimentos em desenvolvimento limpo e em produtos mais ecológicos. Sem deixar de lado o desenvolvimento economico, frisou que o consumidor deve estar preparado para assumir parte dos custos desse investimento. Pagar mais caro por produtos mais limpos ou assumir responsabilidade pessoal sobre o desmatamento da Amazônia foram alguns dos exemplos citados.

Em resumo, para os empresários, os produtos ou serviços “verdes” tem que ser economicamente vantajosos para a indústria e para isso, as pessoas devem estar dispostas a colaborar.

Nesse sentido, o Prof. Marcovitch ressaltou que apenas 10% dos empresários estão dispostos a investir em soluções criativas para as mudanças climáticas. Porém, mesmo que atrasados, os outros 90% tendem a seguir as ações dos 10% criativos.

O ministro britânico

A palestra de Ed Miliband foi excepcional no sentido de que trouxe para discussões os pensamentos e as dúvidas que todos temos em relação as mudanças climáticas, ao nosso estilo de vida e desafios pessoais que devemos ter. Citou que pessoas de diferentes países e culturas, com diferentes estilos de vida devem que estar unidos para desafiar as consequências das mudanças climáticas. Citou que, mesmo com responsabilidades diferentes, todos devem estar conscientes de que a mudança depende de todos. 

Todo mundo deve se perguntar que tipo de vida quer levar, que tipo de economia quer ter daqui pra frente, sabendo que, dependendo da resposta, o custo pode ser nossa sobrevivência. Nesse sentido, mudanças estão ocorrendo e oportunidades estão surgindo.

Vários setores devem estar unidos para que cheguemos a uma situação favorável. Como projetamos nossas cidades, nossas casas, como pensamos em mobilidade, investimos em transporte público, tudo deve estar conectado. Por isso, a Inglaterra acaba de lançar um plano de transição para uma política e economia de baixo carbono. O “The UK Low Carbon Transition Plan” pode ser downloadeado e lido aqui.

Uma das teclas na qual se insiste em bater faz referência a uma anotação feita no Protocolo de Kyoto e da qual o Brasil tem imensa participação durante as negociações lá entre 1994 e 1997 – as responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Quer dizer que, os países desenvolvidos são os principais responsáveis pela concentração atual de gases do efeito estufa na atmosfera e tem que ter maior participação na divisão do “bolo” das medidas anti-emissões. Sobre esse assunto, Ed Miliband ressaltou que, em menos de 20 anos, a maior parte das emissões de gases do efeito estufa devem estar vindo de países em desenvolvimento. Isso chama para a discussão a posição de países emergentes durante a COP-15.

Para terminar Ed Miliband ressalta que a falta de liderança dos políticos não deve ser desculpa para uma falta de atitude e liderança entre as pessoas e que os jovens, que vão sentir por mais tempo as consequências das mudanças climáticas, devem estar ainda mais esperançosos com nossas possibilidades de mudanças.

Ed Miliband também falou um pouco sobre questões mais específicas do Brasil, como os biocombustíveis e a relação do mercado consumidor com as novas diretrizes de baixo carbono. Mais sobre esses temas no www.twitter.com/paulabio.

Maiores emissores de CO2 do mundo

A lista dos países que mais emitem CO2 do mundo tem mudado. Em 2003, a lista fornecida pela ONU trazia como primeiro colocado os EUA, com uma emissão anual de 5.799.240 (X 1000) toneladas métricas de CO2, ou seja, 21,2% de toda emissão de CO2 do mundo saía de solo americano. Os EUA vinham seguidos pela China (15,2%), Rússia (5,4%), India (4,6%) e Japão (4,5%). O Brasil ocupava a 20ª posição, sendo responsável por 1,1% da emissão mundial.

Considerando a emissão de CO2 per capita, [UPDATE] lista em português [/UPDATE] tudo (ou quase tudo) muda. Ainda em 2003, a emissão per capita dos EUA era 19,8 tonnes de CO2. Na Austrália, este número era 18, no Canadá 17,9, na Arábia Saudita, 13. A China, o Brasil e a India tinham emissões per capita de 3,2, 1,6 e 1,2 respectivamente.

Segundo a “Netherlands Environmental Assessment Agency” a emissão global de CO2 vindas somente de uso de combustíveis fósseis aumentou 2,6% em 2006 (menos do que em 2005, cujo aumento tinha sido 3,3%). O maior contribuinte foi o aumento de 4,5% no consumo global de carvão, principalmente pela China, responsável por 2/3 desta quantidade. A China ficou em primeiro lugar da lista dos países mais emissores, ultrapassando os EUA, principalmente por conta do aumento no uso de carvão e por ser responsável por 44% de toda produção mundial de cimento.

Em números brutos, considerando apenas gases liberados da queima de combustíveis fósseis e a produção de cimento, os EUA tiveram uma produção de 5,8 bilhões de toneladas métricas de CO2 enquanto a produção da China foi de 6,23 bilhões de toneladas métricas de CO2. A China se defende lembrando que sua população é 4 vezes maior que a população americana e, considerando a emissão per capita, os EUA ficam com 19,278 tonnes de CO2 por pessoa, enquanto a China fica com 4,763 tonnes, em 2006.

Já os europeus têm o que comemorar. Entre 2004 e 2005 o EU-15 (Austria, Bélgica, Dinamarca, Finlandia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Portugal, Espanha, Suíça e Reino Unido) diminuiu suas emissões em 0,8%. Os maiores colaboradores foram a Alemanha (-2,3%), Finlandia (-14,6%) e a Holanda (-2,9%).

Para cientistas holandeses, se todo CO2 presente na atmosfera hoje fosse dividido entre os países responsáveis por suas emissões, os EUA seriam culpados por 27% do total, a União Européia por 20%, enquanto à China só caberiam 8%.

Sabia mais:
List of countries by carbon dioxide emissions – Wikipedia
List of countries by carbon dioxide emissions per capita – Wikipedia
Image:CO2 emission 2002
China now no. 1 in CO2 emissions; USA in second position
China Overtakes U.S. as No. 1 Emitter of Carbon Dioxide
Global and regional drivers of accelerating CO2 emissions
EU greenhouse gas emissions decrease in 2005