Parem de ajudar o Planeta, por favor!

Estou em um momento de mudança de paradigmas, de vai ou racha. Tento, desde que comecei esse blog, ter uma visão positiva das ações verdes que vejo por aí. Mesmo detestando “green washing” busco ver o que há de bom na propaganda, ou na ação promovida por uma empresa. Mesmo duvidando de vários produtos “ecologicamente corretos”, busco ver o que há de bom nisso, se há enriquecimento de uma cultura, preços justos, respeito aos trabalhadores, entre outras coisas.
O momento “estou em dúvida quanto às minhas tentativas de ver pontos positivos” veio por conta de três acontecimentos essa semana. Estes três acontecimentos estão me levando a abandonar o velho pensamento e iniciar um novo, que estou chamando atualmente de “parem de ajudar o Planeta!”. Ele precisa de uma folga de tantas intenções de ajuda. Creio até que ele deve ficar melhor sem elas.
Atente! Não estou dizendo sobre TODAS as intenções. Só das representadas pelos três acontecimentos da semana.
Pare.jpgBy elNico on Flickr
Primeiro acontecimento: veio através da lista de discussão dos sciblings. Estarrecedor! O dito gestor ambiental da DERSA, Marcelo Arreguy Barbosa tem a cara de pau de dizer que “a natureza é a responsável pelas mortes, jamais o empreendimento”, justificando (se é que isso é possível) a morte de animais (inclusive de espécies ameaçadas de extinção), direta ou indiretamente relacionadas com a construção do trecho sul da obra do Rodoanel, em São Paulo. [Saiba mais aqui.]
Como não? Seguindo a lógica do dito gestor ambiental, a natureza é obviamente responsável pelo derretimento das calotas polares (afinal, quem mandou a natureza subir a temperatura média global?) e também pela escassez de água para beber em algumas áreas do globo (natureza boba, chata e feia! quem mandou programar a deriva continental e a distribuição de fontes de água potável desta maneira?)
Segundo acontecimento: veio de uma conversa com a Claudia Chow e, depois, da minha leitura dos posts (aquele e esse) sobre uma certa ação, provavelmente relacionada ao programa Aprendiz Universitário. Clau Chow, aproveitando seu momento Roberto Justus, demitiu todo mundo e com razão! Se os profissionais que estão preparados para ingressar no mercado de trabalho tem, frente aos recursos apresentandos pela dita operadora, essa visão pobre e burra sobre os potenciais de projetos sustentáveis de uma empresa estamos ferrados!
Gente!!!! Não pode!!! Estou estarrecida de novo, e é só terça-feira! Pára com isso! É ótimo plantar árvores? Fato! Todo mundo gosta de ganhar “eco-brindes”? Fato também! Mas até quando os profissionais vão empurrar a responsabilidade para o SOS Mata Atlântica ou para alguma empresa de brindes?! Bora fazer algo novo?!
O terceiro acontecimento: esse veio do Discutindo Ecologia e foi o mais decepcionante de todos. Juro… fiquei triste mesmo, fiquei chocada, fiquei mal o dia todo (e por isso estou escrevendo esse post). Numa ação desajeitada e aparentemente mal planejada, o Greenpeace enfiou os pés pelas mãos. A ideia – muito boa, mas de boas intenções… – era chamar a atenção dos líderes mundiais reunidos no encontro do G20, para que olhassem para as pessoas e para as mudanças climáticas antes de tomarem suas decisões.
Pois bem… o próprio Greenpeace contrariou suas reivindicações e os próprios ativistas, bem ali, no local da manifestação, causaram transtornos para as pessoas e para o meio ambiente. Parece pouco, mas, por conta da ação foram produzidos centenas de quilômetros de congestionamentos, pessoas ficaram atrasadas, estressadas e enlouquecidas, nem sei quantificar a quantidade de gases do efeito estufa emitidos. Bela ação para mostrar o despreparo e a falta de planejamento logístico dessa instituição que merecia mais de seus ativistas.
Por favor, Marcelo Arreguy Barbosa, aprendizes universitários e Greenpeace! Se for desse jeito, pelamordedeus: Parem de ajudar o Planeta!

Pegada 22 – Quando a irresponsável tem poder

Fato:
Mais de 100 animais silvestres, parte de espécies ameaçadas de extinção, morreram desde o início das obras do trecho sul do Rodoanel, que ocupa área de Mata Atlântica.
Explicação:

Os animais receberam o tratamento adequado. A natureza é a responsável pelas mortes, jamais o empreendimento“. Gerente de gestão ambiental da Desenvolvimento Rodoviário SA (Dersa), Marcelo Arreguy Barbosa.

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Saiba mais: Jornal da Tarde