A vida é um grande experimento de priming…

Fonte: We’re Only Human
Autor: Wray Herbert
Tradução: André Rabelo

Uma das idéias mais robustas advindas da psicologia cognitiva em anos recentes é o priming (para entender o que é o priming, leia “aqui” e “aqui“). Cientistas têm demonstrado inúmeras vezes que conseguem influenciar de forma sútil as mentes inconscientes das pessoas  através de pistas, para pensar e agir de determinadas maneiras. Estas pistas podem ser conceitos – como frio, ou rápido ou  velhice – ou metas, como sucesso profissional; de qualquer forma, estes estímulos moldam nosso comportamento, frequentemente sem que tenhamos qualquer consciência de que estamos sendo influenciados.

Isso é desconcertante, especialmente quando você pensa sobre as implicações disso para as nossas crenças e ações cotidianas. Os experimentos de priming são feitos em laboratórios, usando estímulos escolhidos de forma deliberada, mas na verdade o nosso mundo está cheio de pistas que atuam em nossas mentes o tempo todo, para o bem ou para o mal. De fato, muitas das nossas ações são reações à estímulos aleatórios fora da nossa consciência, significando que as vidas que vivemos são muito mais automatizadas do que gostamos de reconhecer.

Mas quão automatizadas? Estamos realmente impotentes diante dessas pistas onipresentes? Ou temos algum poder para reconhecer e sobrepor estas forças? Existe alguma forma de nos protejer – nossas metas e intenções – da sinalização aleatória do mundo, especialmente destas influências intrusivas que minariam nossas vidas e valores? Continue lendo…

Enterrados por Más Decisões

A espécie humana se encontra hoje em uma situação grave em relação ao seu ambiente. São problemas sérios a serem enfrentados e que oferecem riscos para a nossa sobrevivência, como o aquecimento global, a expansão populacional, a escassez de recursos naturais e a destruição de florestas.

Mesmo com uma capacidade de raciocínio lógico tão suprema no reino animal, não fomos capazes até aqui de cuidar do nosso ambiente de forma sustentável, mesmo que soubessemos o que deveriamos fazer já há algum tempo. Nossas péssimas decisões no passado poderão ter consequências drásticas para a vida da nossa espécie na Terra.

ResearchBlogging.org

O psicólogo social Daniel Gilbert da Universidade de Harvard explica em um recente artigo publicado na revista Nature que possuimos cérebros otimizados para buscar comida e parceiros na savana africana, mas não tão bons para estimar consequências de longo prazo ou o impacto do consumo excessivo de recursos (Gilbert, 2011). Somos “pré-programados” para tomar decisões baseadas em necessidades de curto prazo. Continue lendo…

Prevalência Percebida de Ateus Diminui o Preconceito

O fenômeno religioso tem chamado cada vez mais a atenção de psicólogos e antropólgos nos últimos anos, muitos buscando explicações para a existência quase universal da religião em diferentes culturas, como já comentado aqui no blog. Mas pouco se tem estudado sobre as pessoas que não se enquadram dentro dessa tendência humana – os ateus.

Sendo uma minoria em muitos países, os ateus por vezes sofrem discriminação e possuem uma imagem excessivamente negativa em muitas culturas. Recentes levantamentos de opinião tem apontado os ateus como o grupo de pessoas em quem as pessoas menos confiariam, votariam para presidente do seu país ou gostariam que seus filhos se casassem (Edgell et al, 2006).

Buscando uma melhor compreensão deste fenômeno, alguns psicólogos têm se debruçado sobre a questão e avaliado estratégias para reduzir o preconceito. Um artigo publicado recentemente pelo psicólogo social Gervais (2011) relata 4 estudos indicando que a prevalência percebida de ateus pode diminuir o preconceito contra ateus por parte de religiosos. Continue lendo…

A Temperatura de um Copo Pode Influenciar Nossas Decisões?

Um estudo publicado em 2008 na Science (periódico de grande impacto mundialmente) obteve os seguintes resultados: pessoas que seguraram brevemente um copo de café quente perceberam uma pessoa alvo como significativamente mais calorosa (warmer) do que pessoas que seguraram um copo de café gelado; e pessoas que seguraram uma bolsa “terapêutica” quente responderam de forma mais prosocial em uma tarefa de tomada de decisão do que participantes que seguraram uma bolsa fria. Em suma, experiências com calor e frio parecem influenciar nossas percepções e até tomadas de decisões. Continue lendo…

Priming

Um paradigma experimental bem estabelecido na Cognição Social é o que investiga o processo de priming, já apresentado anteriormente no blog no texto sobre o Modelo Duplo de Processamento da Informação. O paradigma se baseia em uma idéia simples: a mera exposição de estímulos relacionados a determinadas categorias conceituais associadas na memória de uma pessoa resultará em maiores tendências comportamentais relacionadas a essas categorias. Em outras palavras, o termo priming se refere ao processo pelo qual experiências recentes criam, de forma automática, prontidões de conduta (Bargh e Chartrand, 2000).

John A. Bargh foi e ainda é um dos pesquisadores mais importantes no estudo de priming, e “nesse” vídeo ele discute de forma simples e objetiva a idéia do paradigma, apresentando um estudo realizado por um aluno do seu laboratório. Continue lendo…

As Aparências Enganam?

Comumente criamos impressões das pessoas com quem interagimos de forma espontânea, automática, rápida, inconsciente e com mínimo esforço cognitivo (Olivola e Todorov, 2010; Ballew e Todorov, 2007; Carlston e Skowronski, 2005), levando em consideração muitas vezes a primeira coisa que vemos nelas (Hassin e Trope, 2000) , por mais que não seja uma característica importante para fazer o julgamento.

Realizar tal inferência tem a vantagem de rapidamente nos fornecer informações relevantes para saber como interagir e o que esperar das outras pessoas. Apesar da informação inicial servir como parâmetro para avaliar posteriores informações adicionais, a impressão pode ser radicalmente mudada. Continue lendo…

Modelo dual de processamento de informações

Em inúmeras situações do nosso cotidiano, fazemos coisas aparentemente sem pensar muito, como quando dirigimos um carro, trancamos a porta de casa mas logo em seguida não lembramos se de fato fechamos, ou subimos escadas de um edifício. “Aonde eu estava com a cabeça” uma pessoa pode dizer ao se dar conta de que jogou na máquina de lavar a roupa limpa que ia usar e vestiu a roupa suja que ia colocar na máquina.

Em casos mais extremos, agir de forma “instantânea” pode ter resultados muito piores do que trocar roupas. Vejamos um exemplo dado por Fiske e Taylor (2008): Pedro está no shopping e vê de repente dois homens negros sendo perseguidos por um segurança branco, ambos vindo em sua direção. Quando Pedro se dá conta do que está acontecendo, o primeiro dos dois homens estava passando ao seu lado, mas ao ver o segundo homem se aproximar Pedro se levanta e o segura, achando que poderia deter ao menos um dos ladrões que o segurança perseguia. O homem agarrado diz que é o dono da loja e que o ladrão (o primeiro homem) estava fungindo.

Esses são exemplos de situações onde as pessoas parecem não estar muito atentas ao que fazem, de tão acostumadas que já estão em realizar certas ações ou de tão pouco tempo que dispõe para tomar uma decisão. Uma parte dos nossos comportamentos parece se dar de forma automática, sem que precisemos deliberar e planejar de forma consciente cada detalhe das nossas ações. A maioria das situações cotidianas demanda que nos comportemos de forma rápida e eficiente, sendo que se tornaria inviável para fins práticos se tivessemos que pensar sobre cada detalhe das nossas ações antes de realizá-las. Isso é o que vários estudos em Cognição Social tem investigado nos últimos anos.

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Cognição Social

A cognição social é um campo da psicologia social que investiga a forma como as pessoas compreendem as outras pessoas e elas mesmas (Fiske e Taylor, 2008). Surgiu do interesse de psicólogos sociais pela psicologia cognitiva, que começaram a utilizar os modelos cognitivos para entender os processos básicos subjacentes às interações sociais. Essa área de pesquisa tem como aspectos básicos:
  • o mentalismo, que confere importância aos processos e representações mentais;
  • a formação, operação e mudança dos processos cognitivos dentro dos contextos sociais;
  • a utilização de métodos, teorias e modelos desenvolvidos em outras áreas pela psicologia social, como a psicologia cognitiva e a neurociência social cognitiva;
  • a aplicação ao mundo real (aplicação à temas como comportamento de ajuda, preconceito, esteriótipos, relacionamentos íntimos e outros). Continue lendo…