Cura do câncer – ascensão e queda de um mito
Hoje cedo, na lista de discussão do Lablogs, surgiu uma mensagem questionando a veracidade de um email relatando a eficácia de um tratamento contra cânceres de pele e renal.
O email começa com “Boas notícias são para partilhar” e descreve como uma vacina, desenvolvida por cientistas brasileiros, “que mostrou-se eficaz, tanto no estágio inicial como em fase mais avançada” (sic) e cita o nome de um médico que a teria desenvolvido (José Alexandre Barbuto) e o hospital onde ele trabalharia.
Uma busca pelo nome desse médico (registrado no Conselho Federal de Medicina como José Alexandre Marzagão Barbuto) resulta em matérias da revista Época e da página Jornal da Ciência (esta mantida pela SBPC) datada de 2005.
Que bom, corroboração independente!
A notícia parece meio velha, mas continua sendo boa!
Diferentemente da última vez, eu não me aprofundei muito na busca (voltei a trabalhar hoje) e não li mais que três ou quatro links e não fui mais além do que ver se esse médico realmente existia e era registrado no CFM, mas o que tirei dessa notícia não foi “oba, uma cura para a doença que mais mata no mundo!”, mas que isso mostra que cada tipo é um diferente.
Explicando melhor: não pode existir uma (01) cura do câncer porque não existe um câncer. Essa é apenas uma denominação para uma situação onde determinado tecido perde o controle e se multiplica irresponsavelmente.
E cada tecido é um tecido independente. Sangue é bem diferente de pele, pulmões distintos de ossos.
Continuando o meu dia, esperando um tempinho para escrever sobre isso, mais mensagens chegam sobre o assunto; um dizendo que o email é um spam usado para aumentar o fluxo de visitas (com fins financeiros) de uma página citada no final com um nome bem sugestivo (algo como cancer-curado.com) e outro, com o texto retirado da página do hospital citado, esclarecendo a notícia (leia tudo o que eles têm a dizer aqui), dizendo que a tal vacina não é lá essas coisas todas, bem longe dos 80% fornecidos pela matéria da revista já citada.
Passaram-se três horas do momento em que o mito surgiu até ser eliminado, não sem antes passar pelo estágio de quase-certeza.
Mais uma vez devo me lembrar que ceticismo é um estado constante de vigilância (que se torna chato vez por outra, é fato) e que se algo para bom demais para ser verdade, geralmente o é (principalmente quando se trata de curas para cânceres).
(Agradecimentos são necessários a Cláudia, Agostinho e Rafael.)
—
Outros spams destruídos:
Alpiste não cura diabetes nem nenhuma outra coisa;
Como reconhecer um spam;
Motivos para não incluí-los em meus textos;
Spam da Doença de Chagas em feijão;
Spam sazonal da gripe suína;
Spam dos batons com chumbo;
Spam do camarão e da vitamina C;
Spam dos absorvente internos que causam câncer;
Spam do benzeno em condicionadores de ar de automóveis.
Estatística inútil
Eu pretendo ainda me juntar com Tine para escrever um artigo com conteúdo de verdade sobre iliteralidade estatística, mas aqui vai uma migalha (sempre lembrando, ainda estou de férias e sem posse de um dicionário).
Acabo de voltar de um banheiro público (internet sem fio de acesso grátis!) onde li um cartaz cuja função seria me conscientizar de que não dispomos de muita água e que devo economizar (ou pelo menos não desperdiçar, já que não vejo como economizar água num banheiro público).
O texto no papel diz: “Apenas 1% da água do mundo é potável”
Isso deveria me fazer pensar que temos pouca água? Se a intenção era essa, não funcionou.
Ter 1% de alguma coisa não significa necessariamente que temos pouco daquilo, mas que temos muito de outra coisa.
Exemplo: menos de metade do oxigênio do mundo está na atmosfera.
Isso é pouco?
Não.
Todos nós respiramos normalmente todos os dias.
Esse dado só indica que tem muito mais oxigênio em outro lugar, mas não diz coisa alguma sobre o número absoluto, que é a quantidade necessária para o bom funcionamento dos pulmões das baleias azuis e dos musaranhos capoeiristas.
Ter apenas 1% da água em estado bebível não informa sobre a falta ou abundância dela.
Se noventa e nove partes em cem do que está no meu copo não é passível de consumo, eu ficaria preocupado.
Mas se 99% do que está na mesa não é comestível (contando talheres, pratos, copos, tampo e toalha de mesa), eu ainda posso encher meu bucho de cuscuz com bode e café com leite.
Um por cento da água do planeta não está no mar ou circulando dentro de animais e plantas, mas não podemos esquecer que esse número aparentemente minúsculo ainda representa algo muito grande.
Tudo que existe e que pode ser observado no universo soma apenas 5% do total.
Outro dado interessante e já conhecido para aqueles que veem TV: 80% das bactérias não estão nos dentes!
Veraneio
Eu estou correntemente de férias da minha vida (não uma figura de linguagem como “as férias da minha vida”, mas eu tirei férias do que costumava ser minha vida como quem se afasta do trabalho. Nem o cabelo mais eu estou cortando) mas sempre acho que tenho uma obrigação com meus leitores (que quase certeza também estão de férias, mas mais convencionais férias) e resolvi vir por aqui mais uma vez para dar um alô e ver o que está acontecendo no mundo.
Eis a primeira coisa que eu encontrei:
Uma escultora australiana cobriu suas esculturas caninas com “penas de pássaros mortos”. Um mórbido detalhe extra para uma prática já não muito normal.
Como estou, reitirando, de férias, meu dicionário não está por perto e não sei o exato significado de “mórbido”, mas acho que se ela usasse penas de pássaros ainda vivos tal atividade poderia também ser considerada mórbida.
Não tenho muito o que falar pois não tenho lido ultimamente (não estou, claro, contando a leitura de padrões de ondas e pegadas de gaivotas) nem aprendido muito (não há muito o que aprender quando o dia se resume a alternar “churrasco” e “caranguejada” com “almoço” e “jantar” e a mais complexa atividade mental é lembrar onde larguei meu copo antes de tirar outro da prateleira.
Propositalmente não estou lendo blogue algum (incluindo meus vizinhos de Lablogs) para não correr o risco de uma estafa que estrague o repouso anual.
Eu tinha certeza que tinha me sentado aqui para dar alguma informação (acho que sobre a sensação de se tomar um banho frio de chuveiro de tardezinha depois de passar a manhã de molho em sal e sol), mas a falta de uso deu à parte pensante e organizadora do meu cérebro um par de sandálias de dedo, uma espreguiçadeira e uma caipirinha bem gelada, o que a fez se recusar a me ajudar.
Não sei se tome suco de cajá ou de graviola agora. Malditas escolhas!
Até a próxima!
Resposta da sexta-feira
Ainda não me organizei o suficiente neste começo de mês para escrever outro enigma, mas devo ao menos dar a resposta do último como prometido, apesar de ninguém ter tentado…
Os números se referem ao ângulo aproximado de rotação dos planetas do sistema solar, de mercúrio a netuno (pobre plutão).
Até a próxima (assim que eu me recuperar).
Votação
Estou concorrendo como melhor blogue de ciências na página do Best Blogs Brazil (um prêmio para a Internet blogueira brasileira. O que o Oscar seria, em comparação ao Grammy, se o Troféu Imprensa, em relação ao Globo de Ouro, premiasse blogues, diferentemente do Emmy, que não o faz).
Não sei como isso aconteceu, mas agora que estou no páreo, quero ganhar!
É difícil, minha concorrência é pesada (o Lablogs em peso está representado lá, felizmente) e eu sou apenas um garoto do interior com aspirações fantásticas que está morre-não-morre de sono no momento em que escreve isto (sabem uma dor que dá nas pernas quando se está com extremo sono?).
O link direto (porque eu sou gente boa) para a votação é este http://www.bestblogsbrazil.com/2008/node/29 (clique ou copie e cole. Tudo para melhorar a experiência de navegação dos meus leitores).
É necessário se cadastrar (canto superior na barra azul-claro do lado esquerdo), mas é tão rápido que dez minutos depois será até difícil compreender o quão rápido aquilo se deu, tornando o fato, e a concomitante perda de tempo devida a ele, totalmente irrelevante no campo das coisas importantes da vida.
Cadastro => Categoria Ciências => 42.
=¦¤þ
Enigma da sexta-feira
Mudei o nome para algo mais definitivo. Gostaram?
Hoje sim eu tenho um enigma de vergonha para vocês. E tenho quase certeza da resposta!
Vamos a ele.
O que significa a seguinte sequência de números?
0, 177, 23, 25, 3, 27, 98 e 28?
A resposta eu darei dia 9, aproximadamente.
Recolhendo a correpondência
Passei por aqui hoje só para ver se tinha comentário pendente e aproveitar para espanar as teias de aranha e deixar avisado que eu só volto ano que vem.
Este fim de ano me está sendo mais agitado e cheio de coisas que um cachorro morto em cima dum formigueiro.
Em janeiro, por outro lado, estarei de férias e deverei aparecer aqui mais vezes (voltando também com as minhas capciosas perguntas das sextas-feiras). Não precisam avisar à polícia.
Preciso também avisar para que meus leitores não esqueçam de algo importantíssimo que ocorrerá à meia-noite entre o dia 31 e o dia primeiro. Adicionem um segundo aos seus relógios.
Essa medida se deve ao fato de a Terra girar mais lentamente que os nossos relógios (ela é velha e sábia e não compartilha da nossa pressa).
Portanto, a tradicional contagem regressiva para o ano novo deve se dar assim: 5… 4… 3… 2… 1… +1… FELIZ ANO NOVO!
Dia primeiro é feriado no mundo todo. Relaxem e aproveitem.
Depois do ovo em pé…
Eu sou descendente de africanos, como prova essa minha caricatura simpsoniana:
E no dia que surgiu a idéia de uma blogagem coletiva sobre a África eu fiquei excitadíssimo e cheio de idéias.
No dia em que chegou o email dizendo que “semana que vem”, todas as minhas idéias desapareceram mais rápido que coragem de poodle quando o alvo de seus latidos se move.
Eu até quis culpar o infame “bloqueio de escritor” mas não consigo imaginar um autor de livros jogando vôlei.
Então, eis que estava um dia sem ter muito o que fazer e resolvi ler a internet toda e tive a idéia de falar do ovo (o título deste artigo se refere à estória do Ovo de Colombo (quem não a conhece, clique aqui e leia), onde resolve-se um problema aparentemente difícil de uma maneira completamente simples que deixa a todos com a sensação de “por que não pensei nisso antes”).
Dois produtos simples, desenvolvidos para melhorar a qualidade de vida daqueles sem condições de desenvolver produtos eles mesmos.
Enquanto lia e escrevia, notei que poderia incluir no carnaval e passei a redigir com esse propósito (apesar de eventos fora do meu controle tenham me impedido de participar em tempo).
O primeiro deles é um canudo que possibilita o portador a beber água com segurança, mesmo que esta esteja salobra, barrenta, contaminada ou imprópria para o consumo de um jeito ou de outro.
O LifeStraw (link em inglês) é eficaz contra bactérias e vírus e, por conter carvão ativado, também útil em barrar partículas sólidas.
Água limpa e segura para todos.
Ponto para nós!
Mas de onde vem a água?
Em algumas partes, os poços estão a vários quilômetros das vilas e aldeias e as crianças são geralmente escaladas para a tarefa de andar muitas léguas carregando baldes cheio de água que aumentam de peso a cada passo.
Porém isso pode chegar ao fim, graças ao Hippo Water Roller, talvez a mais simples das invenções úteis neste mundo (prevejo que daqui há algumas décadas será enquadrada no rol das máquinas simples, entre a alavanca e o plano inclinado).
Basta encher o tanque de 90 litros e sair rolando-o por aí.
Não é mais necessário a força de um semideus ou a disposição de um maratonista para se trazer água suficiente para toda a família.
Água que pode ser bebida sem medo com o canudinho da vida.
Dois pontos.
Devo mencionar também que li sobre um gerador eólico portátil, mas não achei tão prático assim.
Algo sobre a dependência de se morar num lugar com vento e a baixa produção não me animaram muito.
É uma idéia boa, sem dúvida, mas ainda precisa melhorar para chegar ao nível dessas duas aí em cima.
Esta foi a minha pobre tentativa, corrida porém atrasada, de participar da blogagem coletiva sobre a África, promovida pelo nosso condomínio.
Eu vou tirar uns dias de férias da minha vida e devo reaparecer com a mente revigorada e com a alma bronzeada em breve.
Mas não me esperem com a respiração presa. Minha viagem de volta pode atrasar se eu perder a escala saindo de Sanidade para o Mundo Real.
Até logo.
=¦¤þ
E a lua?
Dessa vez não fiz pegadinha, a resposta para a pergunta de sexta-feira passada é bem simples: nas mesmas regiões que o Sol.
Esse vídeo mostra uma simulação da Lua vista na cidade de Alert, no Canadá (latitude de 64,5°N), durante o solstício de inverno.
A lua cheia ocorreu dia 12 de dezembro, mas o satélite nasceu dia 7 e só se pôs dia 17.
Isso se dá porque durante o inverno, a Lua percorre mais ou menos o mesmo caminho que o Sol percorre no verão, quando fica visível por vários dias.
E o mesmo fenômeno também se dá no hemisfério sul, em junho (em latitudes suficientemente altas que permitam que haja o Sol da meia-noite).
Pensando melhor, talvez o fato da pergunta não conter uma pegadinha tenha sido em si uma…
Estafa. Vou deitar.
Mais perguntas bestas aqui.
Enigma reformulado 2
Mantendo a tradição iniciada semana passada, mais uma pergunta envolvendo a Lua:
Por causa do ângulo de rotação da Terra, durante os verões nos pólos (meio do ano no norte, fim do ano no sul) o Sol não se põe, movendo-se elipticamente no céu, jamais descendo abaixo do horizonte.
Assim como a estrela, é sabido que nosso satélite também surge e some em pontos diferentes na nossa abóbada celeste todos os dias, efeito esse causado, novamente, pelo ângulo de rotação terrestre.
Pergunta: em que regiões do planeta o mesmo ocorre com a Lua, de modo que ela passe mais de um dia sem desaparecer do céu?
Respostas na segunda-feira às oito horas da manhã em ponto, Hora Legal Brasileira, que é o horário natural, não o de verão (um alô para o Luiz Netto!).
Ah, os comentários aqui embaixo então sendo moderados e só aparecerão segunda-feira, portanto não se desesperem achando que seus comentários não chegaram aqui.
A moderação não é uma medida de censura, mas uma de anticola, para que respostas anteriores não influenciem as novas.
Mais enigmas aqui.