Rapidinha: 2011, um primor de número
2011, além de ser um número primo em si, pode também ser o resultado da soma de onze (outro primo) números primos consecutivos: 157 + 163 + 167 + 173 + 179 + 181 + 191 + 193 + 197 + 199 + 211.
Ao mesmo tempo, é também o resultado da soma de outros três (idem primo) primos consecutivos: 661 + 673 + 677.
E antes que perguntem (espero que tenha dado tempo), o próximo ano com essa propriedade (primo, expresso como soma de primos) será 2027, resultado da soma de vinte e cinco primos.
25 não é primo, mas a soma de seus dígitos, 2+5, bem como a soma dos dígitos do ano, 2+0+2+7, são.
Mas 2011 é mais legal.
Florais de Bach – tocata e fuga de uma ideia sem cabimento
Hoje temos vídeos no 42.
Aproveitem esta rara oportunidade.
Você se acalmou após assistir ao vídeo acima? Não? Então a culpa é sua, pois você deveria estar agora mais calmo que uma encosta pré-deslizamento.
Afinal, a flor acima é uma tal de Impatiens que, segundo os proponentes dos Florais de Bach, cura impaciência.
Isso mesmo. Cura impaciência.
Mas o que são Florais de Bach exatamente, você pergunta? Eu não vou me meter a responder. Vou deixar isso para os especialistas. Porque quem melhor para responder isso que os especialistas, não é mesmo?
Segundo a página FloraisdeBach.org (sic):
Criados por um médico inglês nos anos 30, os Florais de Bach são 38 essências de plantas e florais que podem ajudá-lo a administrar as pressões emocionais do dia-a-dia. Cada floral é indicado a uma emoção específica. Pode ser tomando individualmente ou misturado de acordo com o que estiver sentindo.
Agora, com calma, vamos analisar o trecho acima (retirado daqui):
“Criados por um médico inglês nos anos 30…” <= E jamais reformulados ou atualizados para se adequar às novas descobertas, estudos e pesquisas do campo da Medicina porque, pelo visto, já nasceu perfeito. E é assim que o mundo funciona, né?
Continuando: “…os Florais de Bach são 38 essências de plantas e florais que podem ajudá-lo a administrar as pressões emocionais do dia-a-dia. Cada floral é indicado a uma emoção específica.”
Ou seja, os seres humanos possuem uma gama de somente 38 emoções. Ou então a terapia está devendo em eficácia para certas emoções, como por exemplo a sensação de desconforto e intimidade que algumas pessoas têm ao sentar numa cadeira recém desocupada por outrem e que ainda retém um pouquinho de calor de bunda alheia.
Mas calma, na mesmíssima página eles também afirmam que “Os Florais de Bach são completamente naturais e podem ser utilizados por toda a família, ou até em plantas e animais, pois sua ação é suave.”
Então, exceto fungos, bactérias e minerais, só existem trinta e oito estados emocionais distribuídos por todo o planeta?
Tem dia que eu cuspo mais que isso.
Sabe o que mais é completamente natural? Cabelo.
Mas eu creio que você não comeria molho de soja feito de cabelos, não é?
Voltando um pouco: algumas da “38 emoções” são, de fato, situações da vida. Estar “sobrecarregado por obrigações que a vida lhe impõe“ por exemplo, não é uma emoção.
No entanto, flor de olmo curaria esse problema. Talvez fazendo hora extra enquanto você dorme?
Outra “emoção” descrita é “Sofre com a solidão, necessita ser ouvido por alguém” que, apesar de ser uma situação que envolve terceiros, pode ser curada tomando-se flores de urze.
Nunca conversamos pessoalmente, mas não tenho dúvidas de que ela é excelente companhia. Se não fosse, por que seria receitada como cura para solidão?
Agora, vamos para a apresentação do produto.
Antes de pesquisar para este texto, eu achava que “florais de Bach” era uma espécie de aromaterapia, que nada mais é que uma técnica de relaxamento para o tratamento de uma doença muito comum hoje em dia: excesso de dinheiro.
Todavia, fiquei bastante surpreso ao aprender que os tais florais são diluídos em álcool e água a ponto de perder suas propriedades aromáticas.
Da página Native Remedies:
Notem que esse é mais um link para uma página de especialistas. Eu não estou inventando nada disso nem pegando de fontes céticas.
Hoje eu estou deixando que eles atirem no próprio pé.
Outra coisa bem interessante que achei foi o Manual Básico de Florais de Bach, onde se recomenda: “Não misturar [o tratamento] com bebida alcoólica”.
Talvez para evitar o coma alcóolico, visto que os florais contêm mais ou menos 50% conhaque.
Bom conselho.
Resumindo a besteira até aqui: Florais de Bach são preparações homeopáticas de aromaterapia.
Traduzindo: um grande nada reforçando um placebo vagabundo.
Apesar disso, uma consulta pode facilmente custar setenta e cinco reais ou até mais e cada vidrinho de 50ml (estimado pelo tamanho do conta-gotas na foto, pois o site FloraisdeBach.org não divulga a quantidade do produto, que eu acho ser contra o Código do Consumidor, como talvez no Artigo 66, mas…) custa, no mínimo, mais quarenta reais.
Então até agora temos aproximadamente vinte e cinco mililitros de àgua mais vinte e cinco de álcool que não fazem coisa alguma por você ou pelas suas emoções, por quarenta reais.
Fora a consulta de setenta e cinco que eu suponho não ser obrigatória. O que seria contra o Código de Ética Médica (Artigo 99, link em PDF), caso essa fosse uma modalidade de saúde, o que não é o caso.
(Eu continuo citando FloraisdeBach.org porque eles garantem que “Somente a Assinatura Bach garante que você adquiriu os Florais de Bach Originais, elaborados como sempre foram desde os tempos de Dr. Bach, com tinturas produzidas exclusivamente no The Bach Centre em Mount Vermon” [grifo meu para evidenciar a imutável mentalidade arcaica desses pseudocientistas].
Novamente, hoje eu estou deixando a munição toda com eles. Leiam a sessão “Como Tomar os Florais de Bach” para uma aula de contradições que, de certa forma, sugere que o vídeo lá em cima pode também fazer efeito.)
Agora, para descontrair um pouco, um vídeo de uma interpretação da obra de outro Bach (este mais do tipo “Johann Sebastian”): Tocata e Fuga em Ré Menor, tocado em Harpa de Copos, por Robert Tiso.
Enquanto apreciam, tentem descobrir qual a relação que o vídeo abaixo tem com o texto acima.
E aí? Alguma ideia?
Antes de entregar, vou dar uma última chance para pensar.
Retirado do PubMed, temos um estudo com grupo de controle, duplo-cego, randomizado (amém) e com cruzamento parcial sobre a eficácia do tratamento em ansiedade relativa a testes.
We conclude that Bach-flower remedies are an effective placebo for test anxiety and do not have a specific effect (em português: “concluimos que florais de Bach são um placebo efetivo para ansiedade relacionada a testes e não causam um efeito específico”).
Mas só se você não souber disso. O que acabou de deixar de ser verdade, então eu arruinei o efeito placebo dos florais (que é em grande parte causado pela ação do terapeuta mais do que pela substância em si) para você. Ainda mais um motivo para parar de pagar caríssimo por essa enganação.
De nada.
ATENÇÃO: Se você, amigo floreiro de Bach, conseguir achar um outro estudo publicado num periódico respeitado e que contenha, ao mesmo tempo (detalhe importantíssimo), as palavras “controle”, “duplo-cego” e “randomizado” e que comprove a eficácia do tratamento, eu gostaria muito de lê-lo.
Morderei minha língua com prazer.
Agora, finalmente voltando para o vídeo: a Harpa de Copos é um instrumento que usa pouco mais que água e promessas para criar uma ilusão montada pelo seu praticante.
A diferença é que Tocata e Fuga pode realmente acalmar as pessoas.
Vidente Tara é uma criminosa?
Eu não sei se a mensagem a seguir constitui um crime ou não, mas acho que a exploração barata da fé alheia não deveria ser deixado de lado e encarado com algo normal ou inofensivo.
Clique na imagem para ver a página completa.
Mesmo ignorando os erros de concordância e de grafia, não dá para ler a página completa (link na imagem acima) sem sentir um gosto ruim no fundo da garganta.
Porque tirar proveito da inocência dos outros com esse tipo de seboseira comprovadamente falsa faz mal sim!
“Má sorte” é nada mais que estatística levada para o lado pessoal.
Alguém com problemas financeiros que consulta uma irresponsável do calibre dessa Vidente Tara (que provavelmente nem existe, não passando de um nome de fantasia de alguma empresa) vai apenas ter sua crença reforçada e fará muito pouco para realmente sair do buraco, esperando que sua “sorte” mude ou usando algum método ridículo (simpatias, por exemplos) para facilitar o processo de “reversão da adversidade”.
Isso me dá nojo. De verdade.
Como se chapar sem drogas
Apareceu por aí um textinho interessante sobre como sentir sensações estranhas sem o uso de substâncias ilícitas (ou modificadoras do estado normal de consciência).
Eu gostei e achei que deveria não só espalhar como adicionar algumas coisas à lista.
(O título diz “como se chapar com segurança sem drogas”, mas eu não garanto a segurança de nada aqui porque tudo isso pode ser tornar vício que, de certa forma, é sempre uma coisa perigosa.)
1 – Hipotensão postural ou “levantar rápido demais”.
Uma forma bem comum de se sentir mal que é razoavelmente parecido com estar bêbado por alguns segundos.
Para atingir esse estado de desorientação, diminua rapidamente a pressão sanguínea dentro do seu crânio. A melhor maneira de fazer isso é se deitar no chão com as pernas para cima, respirar aceleradamente por alguns segundos e levantar o mais rápido possível.
Cuidado: você pode desmaiar e bater com a cabeça no chão no processo, causando outro tipo de alteração de consciência, mas de forma bem mais grave e permanente.
Efeito momentâneo comum: desorientação.
2 – Hiperventilação ou “nirvana acelerado”.
Alguns monges gostam de passar dias sentados contabilizando o ar que entra e sai de seus narizes para alcançar um “estado de consciência mais elevado”, o que quer que isso signifique (i.e. nada), mas uma forma de se chegar lá sem perder horas da sua vida é respirar fundo o mais rápido possível por alguns minutos para aumentar a quantidade de oxigênio no seu sangue (eu não acho que a mistura gasosa realmente mude tanto assim, mas o efeito é real de todo jeito).
Cuidado: isso cansa bastante, então certifique-se de que seu sistema circulatório aguenta o esforço. Você não quer sofrer um derrame, né?
Efeito momentâneo comum: euforia.
3 – Alucinação hipnogógica ou “paralisia do sono”.
Eu tive isso naturalmente e foi um dos eventos mais aterrorizantes da minha vida (clique aqui para ler o relato). Talvez forçar o acontecimento seja mais interessante, ainda não testei.
Segundo a lista (que pode ser lida em inglês no primeiro link deste texto), basta deitar-se completamente imóvel, resistindo ao máximo o impulso de se mexer até que seu cérebro se engana (o que não é raro, vides ilusões de ótica) e acha que você já está pronto para sonhar. Coisas bizarras se seguem.
Cuidado: você pode ficar traumatizado para sempre e passar a acreditar em fantasmas e afins.
Efeito momentâneo comum: o abandono completo da razão e pensamento crítico. Você realmente vai acreditar que uma força maligna e sobrenatural está agindo sobre seu corpo.
4 – Euforia do corredor ou “overdose de endorfina”.
Tendo sido, durante boa parte da minha vida, um atleta, eu garanto a existência deste. Faça o seguinte: se exercite (correr é uma maneira boa, mas nem todo mundo sabe correr atleticamente) moderadamente até além da sua capacidade perceptível. Você vai sentir um cansaço incrível e uma vontade irresistível de se deitar num lugar ventilado pelos próximos vinte e cinco dias, mas não pare. Logo após esse ponto, você cruza um limiar e seu cérebro, com pena do seu corpo, libera uma quantidade incrível de endorfina, proporcionando um prazer imensurável, indescritível e inefável e que também é viciante. No entanto, você provavelmente vai passar os próximos cinco dias sentindo todos os músculos que possui reclamando vociferozmente, o que vai impedir que você de fato se vicie nisso.
Mas vale a pena enquanto dura.
Cuidado: novamente, tenha certeza de que seu coração não vai explodir com o esforço e que você está respirando o suficiente para não desmaiar em alta velocidade.
Efeito momentâneo comum: muito prazer, seguido de imensa exaustão.
A lista acaba aqui, mas eu ainda posso citar alguns métodos de se drogar usando somente seu próprio corpo.
5 – Alucinação auditiva hipnogógica ou “ei, você aí dormindo”.
O que acontece aqui é muito estranho, mas você só tem seu cérebro a culpar. Quando estiver quase dormindo, comece a pensar no seu próprio nome, no equivalente mental a “em alto e bom som”. Você pode até apimentar um pouco com alguns vocativos tipo “ei, [seu nome]!”.
Quando você começar a dormir, vai achar que está acordado ainda e que há alguém ao seu lado, em alto e bom som (desta vez fisicamente), chamando sua atenção.
Talvez você não consiga dormir por algum tempo depois disso por causa do susto, mas é interessante.
Cuidado: tenha certeza de que você não vai ficar achando depois que foi alguma alma penada puxando seu pé enquanto você dormia, especialmente se, no outro dia, você souber que alguém que você conhece morreu durante a noite.
Efeito momentâneo comum: medo do escuro.
6 – Embriaguez psicológica ou “ebriedade pavloviana”.
Esta só funciona se você já bebe e sabe como é se embriagar (clique aqui para um relato mais dramático).
O método é o seguinte: vá para onde você geralmente vai para beber e com as mesmas pessoas com quem você geralmente se embriaga. Passe o tempo que você passaria normalmente mas, e aqui está o segredo, não beba uma só gota de álcool.
O ambiente e as companhias terão, depois de várias sessões, condicionado você de tal maneira que, mesmo sem beber, você se sentirá embriagado.
Cuidado: nenhum. Sempre que você lembrar que não está bebendo, ficará sóbrio instantaneamente.
Efeito momentâneo comum: embriaguez.
7 – Alucinação do prisioneiro ou “vendo estrelas”.
Este aqui ocorre geralmente como efeito do primeiro desta lista (hipotensão postural), mas pode ser ativado sem aquele contexto.
Se tranque num quarto completamente escuro (que é uma coisa bastante difícil, mas você precisa estar com os olhos abertos e sem enxergar coisa alguma para que funcione) e espere uns vinte minutos. Seus olhos vão tentar se adaptar aumentando a sensibilidade da retina até que você veja alguma coisa, real ou não. Em algumas pessoas o resultado é tão intenso que chega a parecer com uma tela de televisor fora do ar, mas o mais comum são apenas algumas “faíscas fantasmas” passando pelos seus olhos.
Isso também ocorre comigo quando eu olho por muito tempo para um céu sem nuvens. Depois de alguns minutos, eu começo a ver as faíscas cinzentas cruzando minha visão através do campo azul do céu aberto, porém praticamente nada quando comparado com o que acontece na escuridão total.
Infelizmente a maioria de nós vive em locais onde a maior escuridão é, na verdade, uma penumbra, suficiente para tornar nossa visão monocromática mas não para ativar essa reação exagerada da retina. Mas lembre-se: guarda-roupas são geralmente bem escuros de noite.
Cuidado: se alguém acender uma luz onde você estiver, seus olhos vão doer bastante.
Efeito momentâneo comum: alucinação visual intensa.
8 – Desaparecimento ou “ponto cego”.
Nem tanto uma alteração de consciência, apenas uma curiosidade. Para enxergar, nossos olhos precisam se mover constantemente. Fixar o olhar em um ponto faz com que ele desapareça até que os olhos (ou o ponto) se movam.
É um pouco difícil conseguir isso olhando para um monitor (que não é estático, mas pisca várias vezes por segundo) mas bastante fácil num papel.
Desenhe um ponto num papel e olhe fixamente para ele por alguns segundos (tentando não mexer os olhos) e, pasme, o ponto desaparece!
É por isso que quando olhamos para um foco forte de luz, aquele ponto negro na vista desaparece e só volta a aparecer quando as condições mudam (ou seja, quando piscamos). A queimadura temporária na nossa retina (sim, queimadura) está fixa num ponto, então depois de algum tempo deixamos de percebe-la.
Cuidado: nada quanto à técnica, mas evite olhar para o sol porque sua retina pode ficar irremediavelmente danificada e desenvolver para sempre um ponto cego no seu campo visual.
Efeito momentâneo comum: alegria da descoberta.
Relate sua experiência nos comentários ou adicione mais algum tipo à lista.
Heurística em uma simples lição
A grosso modo, dá-se o nome “heurística” ao processo de busca da verdade por intuição ou experiência.
Simplificando ainda mais: heurística é um “atalho mental” que nós usamos para chegar rapidamente a uma conclusão de maneira que esta esteja o mais perto possível da “verdade”, porém nem sempre com êxito.
Um exemplo interessante, vindo da Universidade da Pensilvânia, nos diz que temos uma tendência a estimar o peso das pessoas de acordo com suas larguras, independente da altura dos indivíduos. Via de regra, o mais gordo é o mais pesado (esse é o atalho mental), no entanto, um baixinho gordinho pode pesar bem menos que um gigante esbelto, apesar disso (em acordo com a nossa experiência) ser mais raro.
Mas esse mesmo erro de conceito (e uma certa incapacidade de adicionar muitas coisas ao mesmo tempo) nos faz achar que várias pequenas porções de um alimento fornecem menos calorias que uma só porção grande, mesmo quando o pedaço maior é, de fato, menor que a soma dos pedaços menores (em outras palavras, achamos que um bife de 300g tem mais calorias que um bife de 500g cortado em vinte pedacinhos porque somos ruins de conta), o que nos faz comer, sem culpa, um pacote de 200g inteiro de Fandangos Eco enquanto torcemos nosso nariz dietético para uma batata assada de 150g.
Heurística nos faz chegar a conclusões que estão mais ou menos certas no menor tempo possível. Evolutivamente isso faz sentido, já que não é tão vantajoso ficar muito tempo ponderando se aquilo é mesmo um tigre dente-de-sabre.
Dessa maneira, podemos ver as fotos a seguir e dar valores diferentes ao que é, basicamente, a mesma coisa. Notem:
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A reação comum à foto acima é: “Ooommmm, que fofinho, o bebezinho com um chapéu de pele”.
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Temos aqui uma reação parecida, mas o conjunto já não é tão fofo assim porque o bicho ainda está vivo e, potencialmente, pode machucar a garotinha. Existe uma reserva maior, caracterizada por um “om” menor e menos efusivo e por pausas de tensão entre as frases: “Oomm, que linda… fazendo o furão de chapéu…”
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Aqui, novamente, exatamente a mesma coisa, porém agora se trata de um adulto. Já sem expressões de fofura, lemos a foto como: “Hum…” e evitamos contato visual enquanto atravessamos para o outro lado da rua.
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Mesmíssima situação, mas agora evitamos contato visual com a raposa morta e temos um: “Credo, que velho macabro!”
A próxima foto pode ser bastante perturbadora para alguns. Por favor, exerçam discrição ao contemplá-la.
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MILAGRE DA CIÊNCIA REVELADO! O PODER EM SUAS MÃOS!
Você sabia que você possui um potencial infinito?
Já está no mercado um produto revolucionário que vai mostrar todo esse potencial como se fosse a LUZ DO DIA!
Graças a efeitos quânticos, agora é possível criar fótons a partir DO NADA!
E melhor ainda, do conforto do seu lar!!
Se sinta especial criando luz a partir do nada com uma tecnologia que já existe há 130 anos!
Antiga assim então você sabe que ela é boa!!
Você tem o poder em suas mãos!
Com o nosso ultramoderno Agitador Quântico Infravermelho de Elétrons você terá a capacidade de enxergar em condições prévias de escuridão total!
É o escuro que agora tem medo de você!
Nosso sistema utiliza as propriedades poderosíssimas do vácuo para amplificar a eficiência do aparelho e para manter você em contato com o Universo, que é feito de vácuo!!
Brilhante!
Imagine! Você terá um pouco de vácuo na sua casa!!
O MESMO VÁCUO do Universo, que é infinito! Isso significa poder infinito!
Nossa tecnologia utiliza o poder incontestável do misterioso eletromagnetismo!
Se um ímã de pulseira já cria bem-estar e agulhas elétricas curam qualquer coisa, imagine o que toda uma sala (ou quarto) da sua casa cheia dessa energia benéfica não faria!! Magnestimo elétrico!!
É o melhor dos dois mundos!!
Einstein, o cientista mais inteligente que já existiu, pregava que Energia e Massa são a mesma coisa, você só precisa da Luz!
E agora você terá tudo isso na sua sala (ou no seu quarto)! Um aparelho que finalmente confirma as ideias que Einstein inventou HÁ MAIS DE 100 ANOS ATRÁS e cria LUZ a partir do NADA usando apenas ENERGIA!!
E ISSO NÃO É RELATIVO!!!
Feito a partir de produtos 100% naturais e sem o uso de conservantes ou pesticidas! É seguro e SUA FAMÍLIA poderá finalmente respirar aliviada!
E mais, todos os materiais usados na confecção do Agitador Quântico Infravermelho de Elétrons no Vácuo são reciclados! Comprando nosso aparelho você estará ajudando a Mão Natureza a se livrar do desperdício de materiais como dióxido de silício, que é simplesmente jogado por aí sem o menor controle do GOVERNO, e outros, como o tungstênio, um elemento CHEIO DE QUÍMICA!!
Proteja o Meio Ambiente, crie um futuro iluminado para seus filhos e ainda ENXERGUE NO ESCURO!
É ou não é um milagre!?
Método Científico Ilustrado
A Teoria das Placas Tectônicas e a Mecânica Quântica são dois exemplos que me ocorrem considerando o contexto acima.
Isso talvez seja o melhor argumento contra a imortalidade artificial que alguns almejam, pois a não ser que exista um sistema que passe a desconsiderar a opinião de velhos de mais de 300 anos, suas ideias e influência manteriam o mundo num constante estado de preservação do que já existe em detrimento de avanços de qualquer natureza.
Eu sou contra longevidade indefinida.
Exceto a minha. Eu pretendo viver para sempre.
E vem funcionando até hoje.
—
Retirado e traduzido por mim (sem permissão) do excelente razoável Surviving the World, desenhado por Zach Weiner, do ainda melhor (este sim, excepcional) SMBC, de onde saiu o próximo quadrinho (igualmente manipulado sem permissão por mim) com a melhor piada para engenheiro que vi nos últimos anos:
Chau. Vou passear no lado negro e não sei se volto.
Eis que estava eu a pensar se ainda valia a pena permanecer por aqui quando tive uma burrifania que me fez resolver descer do púlpito erigido sobre a plataforma elevada acima da passagem de nível onde repousa o pódio sobre o qual se encontra a base do meu pedestal de marfim e ouro e pensar mais a respeito dos motivos alheios para coisas além da minha compreensão.
Foi então que senti o gostinho do lado negro.
Percebam:
Gêmeos univitelinos são geneticamente idênticos; dois organismos derivados de um mesmo encontro gamético fruto do amor entre duas pessoas. Ou estupro.
Por que então cada uma dessas pessoas tem uma personalidade diferente? Do par, um é geralmente mais calmo e passivo enquanto o outro é mais agitado e controlador.
Desde a concepção, tudo no desenvolvimento dessas duas pessoas é exatamente igual.
Exceto duas coisas: posicionamento intrauterino e o momento do nascimento.
Considerando que nosso primeiro lar é o ventre de nossas mães (cada um na sua, senão dá confusão) e que este, do nosso ponto de vista fetal, é imóvel, podemos estender a metáfora e tratar o berço primário da nossa criação como uma casa, pois apesar desta também estar em constante movimento relativo a milhões de outras coisas no Universo, está absolutamente impávida em relação ao que realmente nos importa: nosso CEP.
Uma das inúmeras “tradições milenares” (há controvérsias aqui quanto à longevidade da técnica adiante nominada) que conseguiu sobreviver às pressões seletivas socio-temporais foi o Feng Shui, que nos ensina que devemos tratar nossa habitação como a caverna de um dragão, e que para finalmente conseguirmos viver confortavelmente devemos pensar em como o supracitado mítico réptil alado se sentiria ao passear distraidamente por nossos quartos e banheiros.
A organização estética dos aposentos agradaria, segundo tal filosofia, não só aos olhos como também à alma, nos fazendo viver melhor.
Um irmão que tenha passado a maior parte do seu citomerismo embrionário num nódulo indetectável de energias domiciliarmente negativas gerado pela proximidade maior do fígado (o órgão filtrador de tudo que há de ruim no corpo da progenitora, quem sabe até incluindo as tais “energias” de efeito cumulativo e não-metabolizável) vai crescer psiquicamente mais retraído e tímido, com medo do mundo onde foi gerado.
A não ser que seja mais descontraído e relaxado, num corajoso gesto de desafio contra seu desenvolvimento oprimido.
Bom, de toda forma essa disposição relativa não é algo testável ou previsível. Mas existe, não existe?
E essa existência não é tautológica e ontologicamente prova de sua própria existência? Eu me pergunto…
Agora, deixando as coordenadas histéricas de lado, vamos ao parto:
Por mais que o intervalo de tempo entre o nascimento de um e de outro dos gêmeos seja pequeno, jamais será igual a zero. O exponencial avanço tecnológico dos nossos aparelhos de mensuração temporal prova isso com mais e mais precisão a cada dia (ou attossegundo).
Logo, isso abre caminho para uma hipótese (ou teoria, como queiram, pois a prostituição do vocabulário pelos cafetões ideológicos não conhece limites) que responsabilize o horário do acontecimento natalício como definidor do caráter pessoal.
E qual melhor marcador de tempo que o homem pré-medieval conhecia senão os astros?
Daí, um pequeno salto intelectual torna perfeitamente cromulente e aceitável a suposição da criação de uma relação causal entre a posição de pontos de luz na abóboda celeste e os maneirismos de um indivíduo qualquer em situações sociais. A Astrologia deve estar certa, eu concluo.
Isto é, desde que a facção escolhida seja a adequada.
Por que não? É tão bom quanto qualquer outro sistema, haja visto que não sabemos ainda o que define “personalidade”.
Por que não, então, usar o momento em que nascemos como padrão?
Para aceitar esse ato de fé nem precisamos definir “nascimento” também, especialmente considerando o quão complicado isso seria. Qual parte da criança precisa transpor o umbral materno para que ela possa ser considerada nascida de fato?
Vamos manter a impossibilidade de atos simultâneos para corpos diferentes enquanto consideramos dogmaticamente um recém-nascido como um ponto adimensional. Acreditar é bem mais fácil.
E já que estamos nessa, vamos abraçar também tudo que eu venho combatendo há tanto tempo.
(Tempo esse que foi completamente estruído, deixo aqui registrado.)
Como explicar inteligentemente o efeito placebo que ocorre não só em humanos adultos como também em bebês e cavalos sem poder cognitivo de enganarem a si mesmos? Por que não chamar isso de “homeopatia”?
Talvez os praticantes de Reiki não gostem muito, contudo poderíamos usar também “alinhamento de energias”, “manipulação de meridianos”, “efeitos quânticos macroscópicos” dentre várias outras denominações, pois foi justamente para isso que Deus inventou a classe gramatical dos sinônimos. Vamos todos dar as mãos e usá-los.
Quem sabe esse toque não seja também terapêutico e milagroso?
É tão mais fácil assim. Aceitar. Simplesmente aceitar.
Explicações são tão demoradas e complexas. Fé é sempre o melhor caminho.
Ou pelo menos o de menor resistência para nossos elétrons mentais. Uma espécie de “aterramento intelectual”.
Qual razão teríamos para complicar o mundo quando ele tem dado certo até agora?
Por mais argumentum a posteriori que tenham sido os últimos dez mil anos, o fato irrefutável de nós estarmos aqui, eu escrevendo e você lendo, prova que o mundo funciona.
Método científico? Pensamento crítico? Racionalidade? Ceticismo? Às favas com todos eles.
Se Ugh, nosso ancestral testudo, tivesse parado para raciocinar, medir e tentar entender o comportamento do felino dentuço que o perseguia à toda velocidade, não estaríamos aqui, repassando à frente, para a próxima geração, nossos medos originais de fábrica e já pré-instalados nem forçando as pobrezinhas das nossas crianças a tomar decisões que afetarão suas vidas enquanto eles não têm capacidade sequer de entender o que significa “futuro”.
É impossível ensinar alguém a pensar.
Aliás, até agora tem sido impossível entender como alguém pensa, já que ainda não inventaram um medidor de ideias.
Então, se pode existir um pensamento inexplicável em mentes separadas, como provar que telepatia também não existe e que é apenas um pensamento compartilhado pelo Sub-Etha através de um processo sensormático?
Quem me garante com 100% de certeza que Medicina e Farmacologia funcionam e que Biologia, Física e Química estão 100% corretas o tempo todo?
Homeopatas, padres, acupunturistas, rabdomantes, hippies, vendedores de cristais e água ozonizada, terapeutas do esparadrapo, cartomantes, videntes, usuários de Mac, veganos, cromoterapeutas e demais crentes têm absoluta confiança em seus tratamentos/estilos de vida e me garantem sem qualquer margem de erro que estão completa e irremediavelmente corretos em suas asserções e escolhas de seus objetos de adoração venerável.
Qual dos dois parece mais tentador? A incerteza hesitante ou a certeza categórica?
Devo admitir; depois que os olhos se adaptam ao obscurantismo e o nariz se acostuma com o cheiro da decadência, o lado negro não parece tão ruim.
Até a volta.
Se houver uma.
—
P.S. Todavia, como ainda não tenho um tumor intratável no meu lobo parietal nem sofri lobotomia frontal total, sei que Autohemoterapia não funciona.
Nem no Mundo Mágico da Loucura Absoluta a AHT funcionaria.
Limites existem até para os delírios mais insanos.
Alopatia é uma farsa!
Sim, vocês leram certo. O conceito alopático de cura é criação de mentes doentes e é mantido por pessoas sem escrúpulos ou vergonha na cara!
Duzentos e alguns anos atrás, o físico Samuel Hahnemann raciocinou da seguinte forma:
Estamos em pleno século 18 (cento e trinta anos antes da descoberta da penicilina e quase cem antes da teoria dos germes que explica que ficamos doentes por causa de organismos microscópicos e não por causa de miasma ou mal cheiro) e a maioria das pessoas terminalmente doentes que recebem sangrias ou laxantes poderosos morre por algum motivo ainda desconhecido. O que posso fazer para ajudar?
Já sei! Vou purificar a água que essas pessoas estão bebendo!
E, para não parecer tão prosaico, vou usar um argumento de antiguidade e basear minha técnica no pensamento do famoso charlatão/alquimista/astrólogo de um século ainda mais atrasado que o meu, o famoso Paracelsius, que achava que veneno pode curar o envenenado, e vou usar água destilada para diluir cocô de rato/catarro de tuberculoso até que não sobre uma só molécula do veneno/toxina no meu frasco limpo de água tratada e pura (quinze anos antes de Avogadro demonstrar o princípio de diluição máxima)!
Aí, aproveito o embalo e desenvolvo uma “técnica” para “potencializar” o efeito benéfico do reagente inexistente enquanto magicamente elimina seus efeitos maléficos, e que consiste em saculejar a água (100% pura dentro de um vidro esterilizado) um número arbitrário de vezes (porém sempre divisível por 10, que é um numero bonito e redondo, cheio de propriedades mágicas), e invento um nome bem marcante para ela, quase um cacófato, mas nem tanto, que faça rir da primeira vez mas perca a graça rapidamente… humm.. vejamos… Ah! Sucução!
Beleza! Estou pegando fogo! Agora vou provar que café causa cáries, olheiras, impotência e toda sorte de doenças crônicas humanas![1]
E a isso ele deu o nome de “homeopatia”, estuprando a língua helênica até que ela concordasse que isso seria grego para “igual à doença”, pois como já vimos, o espertão acreditava que doença cura doença (e deu até nome ao rebento fruto dessa violência: Lei de Similares, que apesar de se dizer “lei” só é cumprida na Terra da Fantasia, no município de Ignorantópolis, capital do estado de Magicolândia).
Achando pouco tal atrocidade contra a vida, os bons costumes e um dos idiomas mais antigos da humanidade (no entanto sendo apenas fruto do seu tempo), cunhou também o termo “alopatia”, que aparentemente deveria significar “contrário à doença”.
(Esse método linguístico aglutinativo é equivalente à ideia de que posso inventar o termo “mesamormelada” para descrever um caso hipotético que envolva o objeto mesa, o sentimento amor e a sobremesa marmelada e esperar que concordem comigo que isso faz sentido fora da minha cabeça.)
Agora alguém por favor me responda e me tire essa dúvida que me aflige já há algum tempo: sendo alopatia o inverso ideológico e idiomático de homeopatia, qual seria o remédio que representaria o contrário de uma dor de cabeça? Talvez uma pílula feita de um cérebro saudável e indolor?
E o oposto de tuberculose? Catarro comum?
Se eu tiver diarreia, devo me medicar com o quê exatamente?
Homeopaticamente eu sei. As respostas são, respectivamente: estresse diluído, silueta bacilar magicamente impressa nas moléculas de água e bosta nenhuma.
Mas e alopatia?
Farsa! Pura farsa!
Hahnemann, como eu sugeri, era um médico preocupado com a vida de seus pacientes e que criou, para a época, um método melhor do que fazer as pessoas vazarem por ambas extremidades do aparelho digestivo. Funcionava, quando funcionava, por fazer absolutamente nada!
Algumas doenças precisam exatamente disso; ficar quietas. O corpo se vira eventualmente.
Logicamente seus tratamentos não funcionavam sempre, mas aí entra o bom e velho viés de confirmação e o “dom da caneta” que só relata casos de sucesso.
Mas e os homeopatas atuais que continuam enganando o público com essa canalhice intelectual pejorativa de “alopatia”? Qualé a desculpa deles? Ignorância ou desonestidade?
Homeopatia é exatamente o que diz ser: medicina alternativa.
Quando medicina alternativa comprova sua eficácia e mostra que funciona ela muda de nome. Vira “medicina“.
E sabem qual é a alternativa para saúde?
Exatamente.
Querem cuspir na cara dos médicos que se lascam todos os dias para tentar salvar algumas vidas que, sinceramente, não deveriam ser salvas?
Cuspam, mas não enquanto eu estiver olhando.
—
[1] Seria essa a origem do Starbucks e seu café infinitamente diluído e ligeiramente morno?
O segundo episódio do Dispersando está no ar!
E agora com équio!
quio
quio
io
io
o
o…
Não, brincadeira, não tem eco. Mas agora tem uma página exclusiva!
scienceblogs.com.br/dispersando
Lá vocês escontrarão todas as informações que eu não dei aqui sobre o primeiro episódio e tudo sobre o podcast do ScienceBlogs Brasil de hoje em diante, portanto dirijam seus leitores de feed para lá que, brevemente, seus tocadores de mp3 conseguirão baixar automaticamente os episódios vindouros.
Eu só não sei quando, porque Internet é muito complicada. São muitos tubos. Mas em breve. Antes breve do que.. humm.. não-breve?.
Bom, antes do terceiro episódio sair, sem dúvida.
BAIXEM!