Num certo dia… (conto)

Eu estava revirando minhas coisas por causa de uma reforma e achei um caderno que, pelo conteúdo de algumas poucas páginas decifráveis, parece ser de 1999.

Além de desenhos aleatórios, símbolos musicais e algo que eu seriamente julgo ser um estudo numérico do alfabeto cuneiforme (sério!), achei o texto abaixo. Eu sei que parece completamente aleatório e inconsequente, mas ele tem uma razão de ser que, depois de apontada, se torna incrivelmente óbvia. Será que vocês conseguem decifrar?

Ei-lo, ipsis litteris, em toda a sua aleatoriedade de um Igor aos 18 anos:

A goteira da bica no quintal de Maria, a mulher de Pedro que trabalha com ferro, já tinha escavocado o piso de pedra quando o acidente se repetiu; a mesma chapa metálica que serve de apoio para os espetos portugueses de figueira e que já tinha ferido Pedro na coxa quando Maria distraiu-se e a deixou cair, caiu novamente, desta vez inexplicavelmente, em cima do dedão do pé de Maria, inchando-o imediatamente.

E isso tudo como se já não bastasse Nino, filho mais velho do casal, quase ter quebrado a perna quando caiu da goiabeira por ter se aventurado nos galhos mais finos atrás das melhores goiabas do pé. Nesse dia, o olhar de desespero dos pais era tão intenso que, apesar da imensa fila, o garoto foi atendido de imediato. O mesmo, porém, não aconteceria com Maria. Mas, como estava chovendo, muitos que preferem não se molhar, nem sairam de casa e a fila do pronto socorro estava até pequena. Em casa, Cascudinho, apelido para Pedro Cascudo Júnior, o filho mais novo, decidiu por manter a fêmea de pardal na gaiola, apesar do macho ter fugido pela manhã depois que ele esqueceu a gaiola aberta por causa do barulho da mãe gritando pelo pé ferido e dos latidos infindáveis e estridentes do cachorro do vizinho, que de tão velho já está banguelo.

Se alguém se interessar realmente acerca da chave decifratória e não conseguir descobrir qualé, eu escrevo a resposta em algum lugar.

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