Seu reveião nunca mais será exatamente diferente dos últimos dois

Obviamente estou supondo que vocês, meus leitores, não subscrevem às correntes religiosas que sorridentemente condenam ao inferno todo e qualquer infiél tolo o bastante para estar perto de garrafas de champanhe no período compreendido entre o momento em que primeiro estouram até a ocasião quando suas rolhas e respectivas gaiolas de arame são cuidadosamente recolhidas, atenciosamente agrupadas e ponderadamente descartadas no lixo comum junto com cascas de melão, guardanapos preenchidos com as inalcançáveis resoluções para o ano recém-principiado, copos e talheres descartáveis, jujubas azuis e, eventualmente, um ou dois brincos das mais alcoolicamente desleixadas.

Penso que aos sacerdotes de tais agremiações anatematizadoras falta o auto-controle presente no resto dos seres humanos terráqueos que são capazes brindar o início de um ciclo arbitrário no calendário sem perder seu intrínseco senso de moral, não recorrendo, por exemplo, ao expediente de preparar um sarapatel com os restos viscerais de um lactente para em seguida servi-lo no osso parietal do infante aos sofridos pais deste. Não sei quão escatológica é a aversão daqueles líderes ou a qual desejo eles tanto temem sucumbir ao consumir quantidades moderadas de álcool, mas suas imprecações contra os que negam se submeter são como se o grave som seco e torácico produzido pelo estalo de uma rápida despressurização carbônica seguido do excitado fervilhar entornante e fluido (e, de quando em vez, um “ai, meu olho!”) de um espumante sendo mecânica e metodicamente preparado para o consumo fosse uma espécie de convite, sem necessidade de RSVP, personalizado e caligrafado pela própria mão de Lúcifer com os dizeres “na minha casa, às oito, sem falta”. Eu não entendo.

Contudo, novamente, estou supondo. Pessoas comumente bem ajustadas podem, devido a eventos traumáticos, apenas não gostar de permanecer nas cercanias de recortes de cortiça artificialmente acelerados e aleatoriamente direcionados que podem dar início a dolorosas circunstâncias, como o incidente do trauma ocular acima aludido.

De toda forma…

Em 2009 eu mostrei como criar (mais ou menos, com o mínimo de explicações possível) uma tartaruguinha e nas últimos horas de 2010 eu diminui ainda mais o meu trabalho e apenas colei uma foto de uma cadeirinha, ambas mini-esculturas feitas apenas com o arame que segura a rolha de uma garrafa de champanhe espumante (o nome formal é “gaiola”) e a plaquinha de metal de propaganda segurança e usando somente meus dedos.

Abaixo, uma tartaruga e uma cadeira que fiz exclusivamente para este especial de fim de ano:

Agora, mantendo a tradição (“criando”, na verdade. Ainda estou no terceiro ano e não sei se minha imaginação vai durar tanto assim), uma escultura pós-ano que preparei antes: O Bluesman (ou O Guitarrista de Axé, caso você esteja festejando num hotel em Natal).

I woke up this morning... on a new year's day...

Novamente, vou explicar muito pouco porque realmente não vejo propósito. Se sua capacidade de projeção e visualização espacial não for suficiente para fazer sentido de uma foto, instruções não vão ajudar muito.
Vou só dizer que a plaquinha foi amassada ao redor da parte que forma o espaldar da cadeira (visível na outra foto) para formar a guitarra e que esta está precariamente encaixada no corpo do boneco (ou seja, são duas peças separadas).

E vocês? Conseguem criar alguma figurinha para animar (ainda mais) nossas festas de fim de ano? Para ajudar a criatividade, vamos nos impor duas restrições: 1) usar apenas a gaiola de arame, o disco metálico de segurança e a rolha em si, e; 2) considerando que estamos inseridos numa festa sem as nossas fiéis ferramentas, podemos usar somente nossos dedos ou alavancas improvisadas, como chaves (que carregamos nos bolsos) ou outras tampas (de cerveja, por exemplo) encontradas no recinto. Que tal?

P.S. sabe aquela sensação opressiva que alguns dizem ter no começo da noite do domingo? Já há algum tempo que não sinto aquilo, mas no primeiro dia do ano é tiro e queda. Para mim, dia primeiro de janeiro tem um peso diferente.

Será que é a gravidade que muda? Porque eu sempre passo boa parte daquele dia nas ruas, que sempre estão inevitavelmente vazias…

Não. O que eu sinto é um peso a mais. Se eu estivesse notando a mudança de gravidade deveria me sentir mais leve.

Destá, foi um lapso.

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