Eu disse que não escreveria mais sobre a Gripe A H1N1

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Parem o mundo que eu quero vomitar! Nele, preferencialmente.

Eu desisto.

Foi complicado no começo mas agora parece bastante simples. É impossível competir com ignorância gerada por desinformação gerada por pânico gerada por ignorância, todas de mãos dadas numa cadeia infinita de estupidez quadrática.

“Pérolas aos porcos” não é uma analogia apropriada. Os porcos podem até fazer alguma coisa com elas, nem que seja fuçá-las para o lado de modo que não se misturem com sua comida.

A sensação que eu tenho é de jogar pérolas embaixo da máquina de lavar roupa onde permanecerão para sempre num limbo inalcançável.

Quantos de vocês leram o que Carlos escreveu e passaram a mensagem adiante?

Agora, quantas das pessoas que receberam a mensagem fizeram o mesmo?

Porque eu mandei para todo mundo que costuma trocar email comigo e tenho certeza de que meu esforço morreu neles.

Levei até esculhambação por usar dados e evidências em meus esforços e por ter “mudado de opinião”, indo de “defensor de que a doença não era lá essas coisas todas” para “defensor da vacinação”. Porque essas duas afirmações são mutuamente excludentes, né?

Logo em seguida, no entanto, recebo já de terceira ou quarta mão um email com tantas cores e mudanças tão bruscas de tipo e tamanho de fontes que foi difícil ler até o fim sem ficar com dor de cabeça.

Esse email ridículo é tão mal escrito e cheio de erros que fica difícil corrigí-lo da mesma forma que é difícil contar todos os grãos de arroz num saco. É possível, mas é uma tarefa tão monstruosa que se torna previamente opressiva.

Um dos pontos levantados na mensagem é que mercúrio é tóxico e vacina tem mercúrio.

Botulismo também é tóxico e nem por isso milhões de pessoas ao redor do mundo deixam de injetá-lo frequentemente no rosto. Basta vir sob a alcunha de “Botox”.

Ferro é atraído por campos magnéticos e temos ferro no sangue. Por que operadores de eletroímãs não têm seu sangue esguichado de seus corpos durante a realização de seus serviços?

Porque substâncias existem em formas variadas na natureza. Ferro pode ser férrico ou ferroso. Um ajuda a transportar oxigênio para o cérebro de algumas pessoas enquanto o outro serve para fazer agulhas que são atraídas pelo campo magnético terrestre.

O mercúrio da vacina não o mesmo mercúrio dos termômetros de outrora, mas uma forma orgânica do negócio.

Tão segura para consumo humano que era usado em mertiolate. Disso ninguém lembra, né?

O email continua dizendo que a vacinação é uma forma do governo matar milhares de pessoas para tomar o controle.

Porque o governo já não tem o controle, né?

E menos pessoas é bem melhor para o governo, né?

Diz lá também que a doença foi criada em laboratório e que “a gripe “apareceu” no México” (sic).

Porque esta é a primeira vez que temos H1N1 no mundo, né?

Eu poderia fazer uma análise detalhada, ponto a ponto, do spam que recebi, mas eu não me importo mais.

Não sou mais adolescente, já percebi que não vou conseguir mudar o mundo.

Se estiver sendo injusto com alguém, peço desculpas.

Mas minha experiência justifica minhas palavras. O botão de foward rapidamente se torna difícil de apertar nesses casos…

Próxima vez eu coloco cores mais variadas e pontuação e gramática incorretas.

No começo da semana eu recebi um outro email de um rapaz que, se o ditado “clareza na escrita denota clareza de pensamento” for válido, é bem inteligente e capaz. Infelizmente ele está muito mal (possivelmente tendo sido erroneamente diagnosticado com uma doença fictícia) e a sensação de impotência pode ter feito com ele acreditasse em algo que não acreditaria em condições normais.

Ele me disse que pratica auto-hemoterapia e citou em favor da técnica alguns argumentos quebradiços dos crentes mais inflamados como “a Indústria Farmacêutica impede que a eficácia do tratamento seja testada” ou “é mais barato comprar agulha que comprar remédio”.

Mas eu digo mais nada. Se funcionar para ele, viva! Se não, o destino do sujeito não é da minha conta mesmo, então por que eu me importaria?

Não cabe a mim julgar (como me foi posto claramente em uma discussão recente) pois eu realmente sei muito pouco das coisas, mas, vendo daqui, o mundo não merece ser salvo.

E, se não fosse esse o caso, não seria salvo por mim de todo jeito. Então meu argumento morre logo na premissa.

Agora, eu vou ficar ali, estudando maneiras inovadoras de fazer coisas antiquadas, como usar o YouTube para assistir a vídeos filmados de uma TV ligada a um vídeo cassete reproduzindo uma fita produzida pela Editora Bloch em 1976.

Até.

P.S. Muito provavelmente este artigo está recheado de informações imprecisas e erros gramaticais, mas não se importem em corrigir. Eu não me importo mais.

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