Energia escura; o lado negro da Força trabalhando

De acordo com o as melhores informações que temos hoje (que são inúmeras, então se você quiser questionar a validade do corpo científico de evidências a esse respeito, comece a juntar provas contrárias de hoje e volte aqui em 2113), existe um negócio no universo chamado Energia Escura que, como muitas outras coisas em física (raios-x, Big Bang, etc), tem um nome ridículo porque físicos têm mais o que fazer (como criar acrônimos, por exemplo).

Esse negócio esquisito não interage com a luz e está empurrando as coisas para longe lentamente. Ela também ocupa mais ou menos 70% do Universo. E 70% de tudo é muita coisa, vá por mim.

"Eu lembro quando tudo isso eram galáxias..."

“Eu lembro quando tudo isso eram galáxias…”

O adjetivo “escuro” vem do fato dela não ser luciferamente detectável. E, por estar realizando trabalho (empurrando as coisas), o outro termo, “energia”, surge. A etimologia é a parte simples.

A parte complicada é saber o que diabos é isso. Alguns chamam até de “anti-gravidade” porque seu efeito é exatamente o oposto desta força fundamental. [citation needed] Após alguns bilhões de anos, tudo estará tão afastado do resto que nenhuma estrela será visível a partir de nenhuma outra, tornando o Universo um lugar impossivelmente escuro. Mas ela não para aqui; a Energia Escura vai continuar a expandir o Espaço até que a matéria comece a se desintegrar, molécula por molécula, átomo por átomo, quark por quark. A esse cenário, dá-se o nome Big Rip.

E agora, graças ao cosmólogo teórico George Lucas, podemos ter uma ideia de como essa energia veio a existir.

George Lucas

Em Guerra nas Estrelas (ou Uma Nova Esperança), primeiro filme de uma série duvidosamente razoável, Lucas nos apresenta ao conceito de Força.

Obi-Wan “Ben” Kenobi diz: “A Força é o que dá poder ao Jedi. É um campo energético criado por todos os seres vivos. Ela nos circunda e nos penetra. É o que une toda a galáxia.

Em seguida, Darth Vader, Lord dos Sith diz: “Não tenha tanto orgulho desse terror tecnológico que você construiu. A habilidade de destruir um planeta é insignificante perto do poder da Força.

Como vimos, a Força é algo que permeia todo o universo desde muito tempo atrás (premissa inicial dos filmes) e que viaja a velocidades altíssimas, talvez até instantaneamente, emprestando mecanismos de emaranhamento quântico.

Nós sabemos da velocidade com a qual a Força se move por causa de outra frase de Kenobi, no momento em que a Estrela da Morte (o “terror tecnológico citado acima) destrói o planeta Alderaan em Uma Nova Esperança. Ele diz: “Senti um grande distúrbio na Força… como se milhões de vozes de repente gritassem de terror e fossem silenciadas imediatamente. Temo que algo terrível tenha acontecido.

Em outro momento, no episódio 5, O Império Contra-Ataca, o Imperador Galáctico surge para Vader em forma de holograma e fala de um “distúrbio na Força”, ao qual este responde: “Também senti” (Vader está em seu destróier, num campo de asteróides, enquanto o Imperador está num planeta distante, e ambos notam o súbito distúrbio).

Estou também supondo que os hologramas ao vivo sejam transmitidos pela Força.

Estou também supondo que os hologramas ao vivo sejam transmitidos pela Força.

Na película seguinte, o Mestre Yoda elucida ainda mais a permeabilidade da Força: “Pelo meu tamanho não me julgue, pois meu aliado é a Força. E um poderoso aliado a Força é. A vida a cria, a faz crescer. Sua energia nos circunda e nos une. Seres luminosos nós somos, e não esta matéria imperfeita. Você deve sentir a Força ao seu redor; aqui, ali, entre você, eu, a árvore, a pedra, em todo lugar, sim. Até entre o chão e a nave.

"Não tente. Faça ou não faça. Não existe tentar."

“Não tente. Faça ou não faça. Não existe tentar.”

Energia que circunda e une? Isso reitera o que foi dito por Obi-Wan, junto com “criada por todos os seres vivos”. Mas notem que ele não diz “criada apenas pelos seres vivos”. A vida faz parte dessa energia, que aumenta proporcionalmente àquela, mas não a limita. Isso fica ainda mais claro no episódio 3, A Vingança dos Sith, quando Yoda diz: “Morte é uma parte natural da vida. Regozige-se pelos que estão à sua volta que se transformam na Força”.

É bom ter em mente que, até agora, só discutimos o lado “claro” da Força. O lado “do bem”, o lado que busca a união. O lado negro, por outro lado, é o perfeito oposto, o lado “do mal” que busca afastar e desunir. É como se a Força Clara fosse a gravidade (que é diretamente proporcional à massa, logo, a quantidade de seres vivos influi na “força” gravitacional) e a Força Negra fosse uma anti-gravidade, funcionando de forma semelhante a que observamos a Energia Escura se comportar.

Mas como isso pode se dar?

Ainda no episódio 3, Yoda revela a Obi-Wan que “um velho amigo” descobriu o “caminho para a imortalidade”. Este amigo é Qui-Gon Jinn, mestre de ambos, que após estudar o “segredo da Velha Ordem dos Whills” (responsáveis, entre outras coisas, por relatar os acontecimentos da galáxia numa espécie de enciclopédia, fonte das descrições nos inícios dos filmes), aprende como voltar do mundo dos mortos e “reter sua consciência, talvez até sua aparência física”.

Então temos confirmação de que é possível, com o auxílio da Força, permanecer vivo eternamente, inclusive mantendo a própria consciência.

Bu!

Bu!

O Imperador é o manipulador da Força mais poderoso. Isso é flagrante pelo fato de que ele consegue esconder sua identidade real (Senador Palpatine) até dos mais fortes Cavaleiros Jedi, que jamais suspeitam dele. Ele também consegue, sozinho, manter viva a proibida Ordem dos Sith, desde a morte de Darth Maul até o recrutamento, vários anos depois, de Anakin “Vader” Skywalker.

Em O Império Contra-Ataca, é mencionado que o Imperador previu que seria morto por Luke Skywalker. Isso é confirmado em O Retorno do Jedi pelo próprio Imperador, que diz: “É inevitável. É o seu destino. Você, como o seu pai, agora é meu!”.

Lord Bento dos Sith

Lord Ratzo dos Sith

Se ele realmente era tão poderoso a ponto de ter poder de previsão, como excelente manipulador que era, sem dúvida ele sabia de que forma iria morrer. E por ser tão bem treinado, é possível supor que ele também tivesse conhecimento do truque da Ordem dos Whills de voltar do submundo dos mortos.

Traído por seu pupilo em proteção do filho, o Imperador é jogado no reator de energia da máquina mais terrível e poderosa de todas; a Estrela da Morte.

(Ele planejou usar Luke para provocar Anakin a ponto de ser jogado no reator e se dissipar pelo Universo)

A ordem dos Sith é guiada, de certa forma, pelo ódio (“Ódio, medo, agressão. Eles são o lado negro.” – Yoda, episódio 6). O imperador foi traído em seus últimos momentos de vida, o que possivelmente aumentou seu ódio e, proporcionalmente, o seu poder, já o maior de todos. Ele está também usando o ataque mais poderoso que a Força proporciona, o raio-força.

Finalmente, o Imperador Sidious, Mestre Lord Sith Dooku, cai no reator num pico de energia absoluto. Ele é, então, atomicamente desintegrado pelo reator.

Como sabemos, isso aconteceu numa galáxia muito, muito distante, há muito tempo. Desde então, o Imperador encontrou o caminho para a imortalidade, mantendo sua consciência com seu desejo de vingança e poder. Ao invés de se reconstituir em sua forma física, ele vem espalhando sua influência pelo Universo, lentamente. Ele vem usando a Força para criar trabalho, que é a definição de energia. O Imperador Sidious fez a Força Negra (Dark Force) criar a Energia Escura (Dark Energy).

Imperador caindo

No episódio 2, Ataque dos Clones, Yoda está conversando com o senador Palpatine, alter ego do Imperador, e apesar de ser o Jedi mais bem treinado, não desconfia que o senador seja um Sith. No entanto, uma frase sua é profética. Cientificamente profética.

O Lado Negro obscurece tudo. Impossível de ver, o futuro é.

Assim como impossível de ver será o Universo em seu estado final, o Big Rip.

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Em português meu trocadilho fica péssimo. Este deveria ler “Dark Energy; the Dark Force at work“.

O lens flare como forma de expressão

Muito se discute atualmente acerca do uso do efeito de reflexo de lente, ou lens flare, pelo diretor de Super 8 e criador de Felicity, J.J. Abrams.

Mas o que diabos é esse tal de lens flare que parece irritar tanto os neo-nerds? [1]

Se você tentou fotografar alguma coisa contra o sol, provavelmente já percebeu como a imagem não fica exatamente cristalina. Por causa do excesso de luz, a imagem aparece esbranquiçada, com pouco contraste ou simplesmente ruim demais para ser aproveitada até no Instagram, repositório de tudo que não presta em termos de efeitos visuais.

lens-flare-wiki

O efeito pode ser também o de escurecer a imagem enquanto o software da câmera se concentra em proteger seus filtros regulando o obturador para uma velocidade mais rápida, captando praticamente apenas a luz do sol.

lens-flare

Outra manifestação do efeito são círculos (ou, por vezes, outras formas geométricas [3]) psicodélicos, como os da primeira foto lá em cima, causados quando a fonte de luz não está diretamente no campo da lente mas ainda assim a afeta, infiltrando raios fora de eixo, como no diagrama abaixo.

lente

Ou seja, para um lens flare ocorrer, são necessárias duas coisas: uma lente e uma fonte de luz intrusa.

Nos sets completamente verdes e inexistentes dos filmes grandiosos de hoje em dia não existem acidentes. Não existe uma lâmpada pendurada num lugar errado dando interferência no resto da cena. Se a imagem estiver estourada, com ruído ou com pouco contraste, tenha certeza de que foi proposital.

Então, vem a pergunta: por que usar, num filme milionário, um (d)efeito tão amador que geralmente é causado por um erro de preparação?

A resposta: preservação da suspensão de descrença. Mais sobre isso adiante.

George Lucas, por exemplo, é fortemente criticado pelo uso excessivo do chroma key, abandonando a técnica antiga de animatronics e modelos em escala reduzida em busca de maior flexibilidade (um boneco do tipo Gizmo, de Gremlins, não pode dar saltos e piruetas de forma convincente, como o faz Jar Jar Binks) mas, segundo alguns, em detrimento do senso de realidade que a interação de humanos com objetos físicos e reais proporciona. Mas logo ele, que um dia foi multado pela Directors Guild of America (Associação Americana de Diretores) por não incluir créditos no começo de Star Wars justamente para não destruir a suspensão de descrença ao dizer claramente aos espectadores que aquilo era um filme feito por atores!?

O revolucionário (nem tanto) O Hobbit causa frisson com sua alta taxa de quadros (48fps, o dobro do comum) mas Peter Jackson pré-resolveu o problema da suspensão de descrença usando mais locações (cenários reais) do que sets verdes (o famoso chroma key já citado). Ou seja, é mais difícil o espectador sair do mundo fantástico no qual está imerso porque percebeu algum artefato visual que o lembrou de que aquilo na tela não é um documentário de verdade.

Nada de computação. Apenas uma câmera deslizando sobre um papel.

George Lucas está sendo julgado pelas pessoas que sabem que existe um anão dentro de R2-D2 e que o movimento quebradiço dos olhos e lábios de Jabba são controlados por um técnico com um controle remoto na mão. Ou seja, essas mesmas pessoas conseguem identificar que o ator está contracenando com uma bola de tênis pendurada numa vara de pescar na frente de um fundo verde ou azul ao invés de realmente defletindo raios laser de um flutuante módulo de treinamento Jedi. Para quem não assistiu ao primeiro Jurassic Park no cinema (o principal filme de transição entre as técnicas de marionetes e computação) porque não era ainda nascido, isso não faz diferença. A cara esquisita de Falcor com sua língua obviamente mecanicovertebrada parece ridícula e antiquada para a geração que já cresceu com computadores de alta eficiência e capacidade de processamento.

Eles querem mais é mergulhar junto com Anakin na lava enquanto ele perde permanentemente o braço. A nova trilogia de Star Wars é para eles, não para nós.

Mas, se depender de J.J. Abrams, teremos nossa doce, doce vingança geriátrica em breve. E graças aos lens flares.

A geração para qual Jar Jar Binks foi criado sempre viu filmes digitais de alto orçamento com cenários e personagens virtuais, onde cada costura no bolso da bermuda do terceiro figurante sem fala numa cena de pânico é planejada e calculada. Música não tem mais chiado de fita (silêncio digital é absoluto, já que não existem mais cabeçotes roçando em plástico magneticamente embebido), o preto não é mais mofado (deixou de ser a representação de uma cor que foi filmada, processada e projetada – três passos envolvendo luz -, para ser a absoluta falta de estímulo luminoso) e a imagem não tem mais riscos e marcas de cortes (não existe mais fita para desgastar no projetor a cada sessão nem para ser recortada e colada para depois ser copiada – agora é tudo um arquivo digital incorruptível).

Como o sol no plano de fundo não é mais o Sol, estrela primária do nosso sistema planetário, mas sim uma série de uns e zeros, as lentes não são mais sobre-estimuladas e não distorcem o que estão captando (que está sendo perfeitamente iluminado por trás, com luz indireta e difusa, etc, etc termos técnicos, etc). A única coisa que o reflexo na lente faz para os representantes da corrente geração consumidora de blockbusters é tirá-los da trama, fazendo-os lembrar que aquilo é um efeito incluido na pós-produção.

“No espaço, ninguém ouve você reclamar do lens flare…”

Ao usar o tão previamente evitado reflexo de lente, Abrams inteligentemente reconecta os fãs antigos com os filmes contemporâneos.

Ao mostrar a USS Enterprise envolta num clarão supostamente indesejado, ela fica contextualizada num universo onde ela existe, é real e está sendo filmada! O diretor se utiliza de um truque para enganar nosso cérebro e fazê-lo crer ainda mais na existência daquele universo do qual ele (o cérebro do espectador) não deve sair, pois ao lembrar que o lens flare ocorre com lentes e uma fonte de luz intrusa, a associação com “esta cena foi filmada por uma câmera in loco” é praticamente inevitável. Mas só para quem assistia a Os Trapalhões Nas Minas do Rei Salomão num assento de madeira numa sala com ventilação ambiente e já viu o efeito ocorrendo naturalmente nas mãos de um operador de câmera inexperiente seguindo as orientações orgânicas de um diretor mal pago num filme de baixo orçamento.

Ou seja, ao tirar os espectadores jovens da ilusão de que aquilo é real pois foi filmado, o diretor paradoxalmente coloca os mais velhos ainda mais dentro do mundo onde aquilo é real pois foi filmado! No espaço sideral! HÁ MUITO, MUITO TEMPO!

E isso é genial!

Mal posso esperar o novo filme da terceira trilogia de Star Wars. [2]

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[1] – Aqueles que cresceram sem saber muita coisa mas hoje em dia gostam de dizer “bazinga” e se autodenominam “nerds” por gostarem de ver TV e por nunca terem calçado um sapato social.

[2] – Mentira, posso esperar até bem confortavelmente. Não sou exatamente um cinéfilo.

[3] – Tem ainda o efeito como o da imagem abaixo, onde o reflexo não forma círculos mas cortes horizontais, por causa da distorção anamórfica usada para projeções em telas largas (widescreen). Sugiro que leiam a respeito, pois é bem interessante.

A única coisa real nessa cena é a má atuação.

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