A rocha que era pedra

Pesquisando imagens para um artigo vindouro, encontrei uma que não consigo não compartilhar.

Ei-la:

Suas visitas vão amar!

Isso aí é o tipo de coisa que dá para fazer em casa e impressionar as visitas (dependendo, obviamente, do nível das pessoas que freqüentam o seu lar).

Duas placas de vidro separadas por muito pouco (a espessura de um papel grosso ou algo com menos de meio centímetro de espessura, segundo meus cálculos baseados em Álgebra Achística, ou AA) e um punhado (dependendo do tamanho do seu punho, talvez você precise de dois ou três) de areia fina misturada com açúcar cristal colorido (essa é a descrição do experimento, mas se você conhecer um depósito de material de construção confiável, talvez consiga duas areias coloridas com granulosidade diferentes).

Então, você gentilmente derrama a mistura num canto entre as placas de vidro e observa o seguinte fenômeno: um montinho selvagem vai surgir e vai ficando mais alto até que desaba (os experimentadores chamam de avalanche, mas achei muito dramático). Os grãos de areia vão rolar até perder a energia cinética que os alimenta e vão morrer num determinado ponto. Os grãos de açúcar, por sua vez, são maiores e vão rolar mais um pouco (talvez por ter uma superfície maior eles consigam distribuir seu movimento por uma distância maior. Mas, novamente, AA) e se depositar além do limite dos grãos de areia. Com repetições suficientes, o monte vai ficar cada vez mais alto (e mais largo) e os grãos vão se depositar cada vez mais longe do centro e, conseqüentemente, criar camadas como as da foto.

Isso é análogo à formação de depósitos de rocha sedimentar, como xisto[1] calcário e arenito. Processos naturais (vento, água, etc) carregam partículas minerais que se desprenderam sob a força da erosão, por exemplo, e vão depositando-as num cantinho para usar depois, mas aí esquecem e deixam o acumular o serviço (acho que estou antropomorfizando demais as diferenças de pressão atmosférica e o desequilíbrio estático dos fluidos. Vou parar).

Depois de uma ou duas eras, o acúmulo é tamanho que o peso sobre as camadas inferiores é tão substancial que a pressão funde as partículas (litificação; pesquisem) que acabam virando um tipo de rocha.

~camadas~

Ou não, como é o caso das dunas (que podem ser pensadas como “pedras verdes” ou “fetos rochosos”).

Meu quintal.

Aliás, quem já passou algumas horas na praia sem mais o que fazer além de olhar a areia sendo soprada certamente já observou a criação de camadas superficiais regulares, como ondas de areia. Creio que a diferença de cor não seja apenas uma ilusão idiótica, mas o resultado da luz sendo refletida por texturas diferentes.

Teoricamente, seria possível criar um experimento de longa duração (ou uma instalação artística beeeeeeem longa), envolvendo milhares de toneladas de material e criar sua própria formação rochosa customizada!

Mas talvez isso seja lento demais para as suas visitas que já estão mais do que ansiosas para voltar para casa.

Concha que morre unida, fossiliza unida.

O mesmo processo (depósito, acúmulo, endurecimento) forma algumas camadas fósseis interessantes. Mas nem os meus visitantes, especializados como são, se sujeitariam a esperar uma demonstração desse tipo.

Só me resta sonhar…

[1] Xisto não é uma rocha sedimentar, mas metamórfica. Mais uma vez, por alguma razão que escapa ao meu conhecimento, eu confiei na Wikipedia em português. Grande erro. Acho que agora eu aprendo.

Cliquem aqui e aqui para verem o nível de qualidade da “enciclopédia livre” no nosso idioma.

Agradeço a Clau por ter me avisado.

Categorias