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Plantas dão sensação de aconchego ao ambiente

Esses dias, uma estimada vizinha que por pura coincidência tem um apartamento com uma decoração parecida com a do meu, disse após entrar em casa: “Sua sala parece mais aconchegante que a minha, por quê?” Os tons do nosso piso de madeira, das paredes, do sofá, do tapete, do granito que separa a sala da cozinha americana, do piso da cozinha e dos eletrodomésticos são muito parecidos. Em alguns desses casos, usamos os mesmos materiais no revestimento – como o tipo de piso de madeira. Então, qual seria o segredo para essa sensação de conforto? Olhando em volta, dois detalhes chamaram a minha atenção.

 

Colocamos – meu marido e eu – três abajures espalhados pela sala. Todos eles têm lâmpadas fluorescentes compactas, escolhidas por nós por poupar mais o ambiente do que uma incandescente. Elas duram dez vezes mais (10 mil horas) e consomem 20% do que uma incandescente para produzir o mesmo fluxo luminoso – segundo essas informações. Como não gostamos da cor, geralmente, azuladas das fluorescentes, pagamos um pouco a mais para comprá-las na tonalidade amarelada – o que gera maior conforto visual. Além disso, optamos por lotar o ambiente de abajures porque não queríamos um estádio de futebol em casa. Acendo cada abajur de acordo com a necessidade e quase nunca as onze lâmpadas do plafons do teto. Por exemplo, se recebo visitas, ligo os três abajures. Ao ver televisão, um ou dois. Para circular durante a noite, apenas um. Essa luz difusa gera maior sensação de aconchego.

Outra possível resposta para nossa dúvida são as plantas. Tenho oito vasos na sala – sendo um aquela garrafa com trigo seco. Elas colorem o ambiente ao mostrar em suas folhagens e flores em qual estação do ano estamos – outono, inverno, primavera ou verão. Apontam se o clima está seco, quando sugam mais água, ou úmido. Também se está frio, ou seja, época em que podem crescer menos ou necessitam de menos água. Outras vezes, as plantas pedem ajuda para lutarem contra os pulgões – ô praguinhas! Essas protagonistas nos lembram que fazemos parte da natureza e do meio ambiente: dependemos da terra, da água e do ar. Quer sensação mais calmante do que o cheirinho de mato molhado? Ou pasmar observando o vento balançando as folhas? Elas remetem esse passado não tão distante abandonado para vivermos empilhados sobre o cimento e nos achando independentes da Terra em que habitamos. As plantas dão vida ao concreto pintado.

Claro que, como qualquer ser vivo, as plantinhas precisam de atenção. Para quem alega a falta de tempo ou diz que é desligado para regá-las, deixo uma dica simples: adote cactos ou o “bambu-da-sorte”. Respectivamente, regue e troque a água uma vez por semana. Se possível, também apele para as flores e folhas secas na decoração. E receba de volta como agradecimento um abraço verde! Boa semana!

Como reutilizar garrafas e potes de vidro

Eu adoro receber amigos e familiares no meu apartamento. Sou de uma família grande, nasci acostumada com os locais cheios de pessoas, animais e plantas onde todos se sentiam… em casa! Poucas foram as vezes que me vi sozinha em um cômodo por muito tempo. Afinal, haja pessoas. E eu gosto disso. Se foi convidado para ir ao meu apartamento, pode entrar sem bater e abrir a porta da geladeira sem pedir licença. Já é de casa! Para dar as boas-vindas, procuro sempre deixar a casa florida. Pessoas mais flores, uma combinação colorida.

Além das plantinhas da varanda – já falei sobre elas aqui -, eventualmente, compro outras flores como as do campo, gérberas ou rosas. Coloco elas em qualquer utensílio doméstico com espaço para água, como jarras e copos grandes, e em garrafas de vidro reutilizando-as. Algumas dessas garrafas, como a que hoje exibe o trigo da foto, guardo desde antes de ter a minha casa. Essa, em específico, era a embalagem de um licor do Nordeste. A menor da das fotos foi um frasco de perfume antigo e a outra, a embalagem de uma bebida feita com vodca. Procuro sempre guardar garrafas diferentes para usá-las como vasos. Uma combinação delicada, não? Veja as fotos – só não repare porque escolhi as que já tinha no computador, não costumo tirar fotos dos arranjos.
E para acabar este post com gosto de Páscoa, a última foto é de uma compota de vidro reutilizada pela minha professora de canto e fono. Ela fez os chocolates que estão dentro, embalou-os e colocou o doce no pote enfeitado com esse tecido estampadinho. Toda atenciosa, deu o docinho na ecoembalagem. Linda surpresa! Boa Páscoa!

Ideias para fazer uma festa reutilizando material

Ontem, fui à festa de aniversário do meu sobrinho lindinho, o terrível pirata dos sete mares! Meus cunhados e seus sogros, sempre caprichosos e com extremo bom gosto, organizaram o tema pirataria marítima no esquema faça-você-mesmo (clique nas fotos para ampliar). E eu, fã incondicional de tudo o que é relacionado ao mar, perguntei se poderia compartilhar as boas ideias. Eles toparam! Isso porque, além da fofura de festa, eles reutilizaram muitos materiais que virariam lixo. Dá para perceber?

Embora alugar enfeites infantis – desde que não utilizem isopor – seja ambientalmente correto, afinal serão usados várias vezes, a festa se torna mais autoral e personalizada quando quem a organiza coloca a mão na massa. Mas isso não significa comprar o enfeite e jogar fora depois de usá-lo. Nada disso. No caso das festas infantis, você pode preparar junto com a criança os ornamentos. Será mais uma diversão, na certa. E, também, a chance de abordar a importância dos “3 Rs” (reduzir, reutilizar e reciclar) de maneira agradável e nada ecochata.

 

Na festa do piratinha, os barquinhos enfeitando a mesa do brownie – os pais distribuíram pedacinhos desse doce no lugar do bolo embrulhados nos papéis de bolinhas – foram feitos com caixas de leite e o maior, com caixa de sapato! Ficou incrível, não? Já os barquinhos repletos de tesouros de chocolate são aquelas típicas dobraduras de papel. Se preferir, você pode usar papel reciclado ou reutilizar as folhas daquele bloco todo riscado que fica jogado ao lado do telefone. Será engraçado ler os rabiscos na carcaça do barco.

 

Os docinhos feitos de noz – e que delícia – foram colocados dentro das próprias nozes cortadas ao meio substituindo as forminhas de papel. Além de dar um toque rústico e natural, as nozes lembram pequenos barquinhos. As tartaruguinhas, bolachinhas com carapaça de beijinho e pinceladas de chocolate, foram colocadas diretamente no prato para doces e bolos de porcelana. O uso desse utensílio elimina o uso de forminhas. E, assim, foi festa afora.

 

Um mimo, não? Essa galera dos verdes mares não teme o tufão.

Conheça o design do Norte do Brasil

A doce designer gráfica Ana Paula Campos – que poderia facilmente ser sósia da Amélie Poulain -, minha colega na revista Pesquisa Fapesp, passará o mês de abril na Floresta Amazônica catalogando a arte local junto com uma amiga. Depois dessa incrível viagem, trará na bagagem um pouco do conhecimento sobre o design do Norte do Brasil para compartilhar conosco. Conheça o projeto, intitulado Objetos da Floresta, nas palavras da própria Ana Paula e acompanhe on-line a peregrinação das duas moças:

A ideia do projeto Objetos da Floresta começou com o encantamento despertado na designer Andrea Bandoni quando visitou pela primeira vez Belém, no Pará. Objetos, cores, texturas, costumes locais e todo um universo conectado à natureza de maneira intensa, sustentável e tão diferente de nossa realidade na grande metrópole.

Somos amigas de longa data e parceiras em projetos de design. A notícia de um edital de intercâmbio em artes visuais lançado pela Funarte apareceu justamente no momento em que conversávamos sobre esta experiência. Assim veio a ideia de inscrever um projeto propondo uma viagem experimental à Amazônia, com o objetivo de ver a floresta com os olhos do designer, procurando encontrar novas referências para a área que mesclem a cultura – produto humano, racionalizado – com a natureza, o selvagem, em sua forma mais exuberante. Andrea me convidou para embarcar (literalmente) com ela nessa viagem, o que eu prontamente aceitei.

 

Além de ver de perto o cotidiano das pessoas da Amazônia, faremos visitas a diversos locais, como centros de produção e associações comunitárias, instituições ligadas ao estudo e preservação da floresta, museus e universidades, e ofereceremos dois workshops gratuitos de três dias cada, em Manaus (www.museudaamazonia.org.br) e em Belém (sescboulevard.blogspot.com.br). A ideia é refletir e experimentar juntamente com designers e arquitetos locais sobre assuntos como design conceitual, sustentabilidade e identidade. Voltando da viagem, publicaremos um livro eletrônico que ficará disponível para download também gratuito, com reflexões sobre a experiência e alguns dos objetos encontrados.

 

Espero que tenham gostado da nossa ideia e que visitem o objetosdafloresta.com. Lá temos mais informações sobre a parte conceitual do projeto e dos workshops, um roteiro dos locais que pretendemos visitar e, a partir de abril, um diário que acompanhará nossa viagem, mostrando nossas descobertas à medida que forem acontecendo, com um olhar particular sobre a Amazônia.
Sorte e boa viagem!

Google Street View debaixo do mar

As imagens são tão incríveis que preciso compartilhar. O Google e a Universidade de Queensland, na Austrália, com o patrocínio do grupo multinacional de seguros Catlin, estão mapeando fotograficamente a Grande Barreira de Corais australiana, a maior do mundo com 2,3 mil km de comprimento. O objetivo do projeto, chamado Catlin Seaview Survey, é verificar os impactos do aquecimento global nesse ambiente marinho.

Nós, peixes fora d’água, podemos fazer um tour virtual pelo maravilhoso mundo do coral sem molhar um dedinho! As instituições disponibilizam as imagens no esquema Google Street View – Seaview (mar + vista) , pegou? – para qualquer ser humano que navegue na internet. Basta você clicar aqui e cair no mar australiano. Por enquanto, apenas sete pontos do coral estão disponíveis, mas 20 já foram fotografados. O grupo diz que irá publicar as imagens já tiradas – e quem sabe outras novas.

 

Se você tem medo de mergulhar ou curiosidade sobre como é a vida marinha, eis a chance. Não é a mesma sensação que pular no mar carregando um cilindro nas costas, mas dá para saciar a vontade. Além da página do projeto, os organizadores criaram um canal no Youtube – que tem, por enquanto, apenas um vídeo. Para saber mais informações sobre o projeto clique nos links: Catlin Seaview Survey, Universidade de Queensland, press release da Catlin Group, matéria na NewScientist e post no Guizmodo.

Como é mergulhar
Lembro do meu primeiro mergulho com cilindro como se fosse ontem: ponto Cagarras, Fernando de Noronha, 2009. Estava ansiosa no Porto Santo Antônio. Enquanto esperava o barco que nos levaria ao ponto de mergulho, com os cotovelos apoiados no encosto do banco de madeira, observava os siris indo e vindo com a maré no fundo do mar e jogava conversa fora com um forasteiro que se autodenominava “pirata”.

 

Ele morava em São Paulo e, a cada seis meses, seguia para a ilha da fantasia admirar seu animal preferido: a ave fragata. Durante o voo, a pirata aérea rouba o alimento de outros pássaros batendo na cabeça deles até regurgitarem o peixe pescado.

 

O céu da manhã continuava azul límpido pontilhado de próximas aves quando a embarcação aportou. Respirei fundo: a hora se aproximava. Sempre quis mergulhar. Era um sonho, mas ao mesmo tempo, um pesadelo. Sentia falta de ar só por pensar em permanecer debaixo da água presa a um cilindro que tem a metade do meu peso – mal eu sabia seria amarrado, na minha cintura, mais pesos. Mas a curiosidade, para variar, era maior que o meu receio.

 

Após navegarmos por menos de meia hora em direção a outras ilhas do arquipélago mais ao norte, o capitão desliga o motor. Chegamos. Paramos em frente a uma ilha rochosa. O mar estava calmo. O céu também. As aves. Vamos ao que chamam de “bastimo” guiado por instrutores. Tivemos uma breve aula em alto mar sobre mergulho e como proceder com os equipamentos. Beleza! Sou sorteada para ser guiada por um dos instrutores mais experientes – e bem humorados.

 

Vesti o macacão de borracha, os pés de pato, a máscara. O instrutor me ajudou a colocar um colete inflável, pesos na cintura e, por fim, o cilindro. A maioria dos marinheiros de primeira viagem saltaram em direção a água. “Quem garante que o colete suporta na superfície do mar o meu peso e mais o de todos esses equipamentos comigo?”, pensei. Não quis pular. Já na água, o instrutor me deu a mão e eu saltei sentada. Agora, vamos lá!

 

Estava tão tensa que nem reparei no azul profundo em minha volta. Segundos seguidos, fiquei eufórica. U-A-U. Aquele mundo, que só tinha visto em documentário ou da superfície com meu equipamento de snorkeling, se abria. Rapidinho, senti uma paz tomando conta do meu corpo e da minha mente.

 

O guia percebeu que eu não apertava mais a sua mão. Viu minha risada estampada. E me guiou por um mundo de corais que se fecham ao se aproximarem dos dedos, polvo vermelho arredio à nossa presença muito próxima dele, moreias verdes e coloridas ameaçadoras a menos de 30 cm de distância, tartarugas com comportamento parecido ao do filme “Procurando Nemo”.

 

Além da sensação de paz e segurança, o que mais me chamou a atenção foi passar despercebida pelos peixes e tartarugas. Eles não se assustavam com a nossa presença. Pareciam até chegar mais perto por curiosidade. Éramos peixes. Um novo mundo calmo e colorido se abria. Encantador.

 

Atingimos cerca de 15 metros de profundidade. Eu olhava para cima, via o paredão de pedra sobre mim e na superfície o sol refletido. Enquanto viajava naquela nova imensidão, o guia cobrava a subida. A meia hora passou como se fosse um minuto. Eu fazia que não com o dedo e a cabeça. Queria mergulhar mais… De nada adiantou teimar. Colete inflado pelo guia, superfície à vista. Bem que os instrutores alertaram: “Quando estiver lá embaixo, não vai querer subir”. E, assim, eu me apaixonei.

Aprenda com o passado da Ilha de Páscoa

A dica de hoje é o Museo de Arqueología e Historia Francisco Fonck, na litorânea cidade com ar-condicionado natural Viña del Mar, no Chile. Ele primeiro atrai a atenção por expor um grande moai (aquelas estátuas da Ilha de Páscoa) com mais de dois metros em seu jardim – este, aliás, era o meu interesse inicial, pois queria novamente a euforia sentida ao ver um moai no British Museum. Pesquisando sobre o museu, vi que ele tinha, além de uma área destinada à história natural, mais peças da polinésia chilena. Já me deu coceira. Tenho loucura por essas ilhas do Oceano Pacífico. Aliás, já que estou toda cultureba, se você também gosta da cultura polinésia veja o filme ” Tabu, a Story of the South Seas” (1931), dos cineastas Robert Flaherty e Friedrich Wilhelm Murnau – a obra é a vanguarda muda e em preto e branco dos documentários atuais.

Viajando de volta ao Chile, o museu expõe muitos textos sobre a Ilha da Páscoa. Além da já sabida (geralmente sem detalhes) história de que os próprios moradores da ilha, o povo Rapa Nui, a desmatou inteira, lá descobri que sua cultura é bem diferente das outras civilizações polinésias ou indígenas contemporâneas (antes do século XVII). Entre as informações que chamaram a atenção: ninguém até hoje sabe sua origem exata, cada moai tem um nome (quem lembrar dos dados do que está exposto no Museu Fonck e no British Museum deixe nos comentários deste post), eles eram mais guerreiros que o povo do Hawaii e do Tahiti (brigaram à beça entre os próprios povos e para que os europeus fossem embora da ilha) e praticavam a horticultura. Esta está diretamente relacionada ao desflorestamento do local.

Os rapanui pescavam, mas a horticultura era a base da sua subsistência – alguns indígenas brasileiros são coletores (vivem de colher frutos e afins da natureza, sem plantar). Eles cortavam e queimavam árvores para abrir lugar aos cultivos principalmente de: batatas, taro (“batata dos trópicos”) e inhame. Para produzir o fogo, friccionavam um pedaço de madeira dura sobre o tronco de uma planta chamada hau hau. Nas festas, cozinhavam a comida em grandes fornos cobertos por folhas e húmus. Os tocos de árvores também eram usados em fornos de residências, nas cremações, nos cerimoniais. Porém, o uso indiscriminado da madeira ao longo do tempo causou a falta de matéria-prima, dificultando a construção de embarcações, o que impedia migrações.

Enquanto isso, a população crescia na ilha. Consequentemente, cada vez mais, o espaço livre diminuía e os conflitos entre grupos rivais aumentavam. Havia aristocracia, sacerdotes, guerreiros, gente “comum”. Segundo o museu, a batalha do Poike entre dois grupos foi o momento culminante da crise na ilha no fim do século XVII. Depois dessa guerra, os habitantes tiveram que se virar com os recursos naturais e pessoais que sobraram. As plantações foram protegidas com jardins de pedras para conservar a umidade. Os cadáveres deixaram de ser cremados: seus ossos eram guardados limpos dentro de câmaras debaixo de altares. As cerimônias asseguradas eram para proteger a fertilidade e para saber administrar com destreza os recursos para a subsistência.

Além de várias histórias, como essas informações, o museu também conta com algumas peças do período precolombiano (inclusive uma múmia). Como o principal museu de arte precolombiana do mundo estava fechado para reformas de expansão, o Museo Chileno de Arte Precolombino, me contentei com o pouco que se mostrou muito. E fui feliz aprendendo com uma cultura que ainda vou conhecer mais de perto ao visitar sua terra natal. Sonhar é preciso. Boa viagem!

O Pablo e o mar

Aqui estão duas, hoje e amanhã, breves dicas para quem aproveita o carnaval para programar viagem ainda sem destino ou ao hermano Chile. A primeira delas é o museu Isla Negra, localizado na cidade litorânea El Quisco – apesar do nome, ele não está instalado em uma ilha. Fiquei emocionada ao visitá-lo por ser uma das casas do poeta Pablo Neruda e por sentir pertinho a proximidade do escritor com o mar. Relação que já conhecia por meio de seus livros, mas pessoalmente se revelando uma surpresa marejada.

Pablo Neruda amava o mar e sentia por ele um grande respeito. Brandava ser um marinheiro em terra firme. No quintal de sua casa encravada em uma praia pedregosa, com o constante estrondoso barulho das ondas se chocando contra elas, colocou um velho barco comprado em certa ocasião. Nunca levou-o de volta às águas, dizia que não precisava. Gostava de beber com os amigos sentado em seus bancos e, ao levantar, já saía mareado da embarcação.

Dentro de todos os cômodos da “casa-barco” repleta de personalidade, reutilizava diversos objetos principalmente remetentes, claro, ao mar como as esculturas inseridas na frente das embarcações – não lembro o nome dado a elas em português, em espanhol se chamam “mascarón de proa”. Vou me segurar nos detalhes sobre a decoração para evitar estragar as surpresas. Apenas ressaltar que, para Neruda, as residências deveriam ser lúdicas. E destacar sua consciência ambiental já naquela época, antes da década de 1970.

Certa vez, ao observar um dia agitado do mar, o poeta viu um objeto boiando próximo às pedras. Pediu a Matilde, sua última esposa, ajuda para retirar o que se relevou um pedaço maciço de madeira. “O mar me deu de presente o tampo de uma mesa”, disse. Depois de muito esforço, o casal levou para dentro de casa a peça a ser instalada em seu escritório caseiro.

Essas são poucas – e descritas neste post de maneira muito simples para um poeta tão grandioso – de muitas impressões e histórias guardadas em minha memória após visitar o abrigo de Neruda e ler as suas obras. Sua vida é um exemplo de respeito ao meio ambiente, amor às artes e compaixão ao próximo. Se tiver oportunidade de visitar sua residência que hoje é o museu Isla Negra, agarre-a firmemente.

Enquanto isso, do meu “apartamento-barco”, esta simples mortal que agora, mais ainda, se sente parte de uma versão feminina do poeta – alguém que me entende -, resiste a mostrar para outros os poemas que escreveu relacionados ao tema e deixa um registro do legado de Neruda para você se marear com ou sem o balanço das ondas:

El mar

 

Necesito del mar porque me enseña:
no sé si aprendo música o conciencia:
no sé si es ola sola o ser profundo
o sólo ronca voz o deslumbrante
suposición de peces y navios.
El hecho es que hasta cuando estoy dormido
de algún modo magnético circulo
en la universidad del oleaje.
No son sólo las conchas trituradas
como si algún planeta tembloroso
participara paulatina muerte,
no, del fragmento reconstruyo el día,
de una racha de sal la estalactita
y de una cucharada el dios inmenso.

 

Lo que antes me enseñó lo guardo! Es aire,
incesante viento, agua y arena.

 

Parece poco para el hombre joven
que aquí llegó a vivir con sus incendios,
y sin embargo el pulso que subía
y bajaba a su abismo,
el frío del azul que crepitaba,
el desmoronamiento de la estrella,
el tierno desplegarse de la ola
despilfarrando nieve con la espuma,
el poder quieto, allí, determinado
como un trono de piedra en lo profundo,
substituyó el recinto en que crecían
tristeza terca, amontonando olvido,
y cambió bruscamente mi existencia:
di mi adhesión al puro movimiento.

Tuitando no Roda Viva

Hey, uma nota rápida. Segunda-feira (6), fui ao programa Roda Viva da TV Cultura como tuitera. Sérgio Gabrielli, que está deixando o cargo de presidente da Petrobras, era o entrevistado. Ele falou sobre vários temas polêmicos como o alto custo da gasolina no país e as comuns propagandas institucionais da empresa. Com relação ao meio ambiente, disse que a indústria automobilística não tem, no Brasil, tecnologia suficiente para evitar a poluição causada pelos veículos ao consumirem o combustível proveniente do petróleo. Sobre os vazamentos do ouro negro durante a exploração, afirmou que a empresa investe em tecnologia para evitar tragédias ambientais. Concorde ou discorde, o papo foi quente com direito a todos (entrevistados, apresentadores e perguntadores) falarem ao mesmo tempo e continuarem as discussões até nos intervalos (bastidores). Interessou? Veja o programa na íntegra aqui. Você também pode checar as melhores partes da conversa no meu perfil do Twitter.

 

Obs.: Na foto acima, seguro a charge que Caruso (esquerda) fez de nós – tuiteiros de plantão – durante o programa. Sou a de verde e a Amanda Wanderley, do podcast Decodificando, ao meu lado.

Estacionamento para bikes parece “as europas”

Noites e manhãs frias em pleno dezembro de verão, casas com arquitetura alemã, pinheiros plantados em passeios públicos, florestas circundado a cidade e estacionamento para bicicletas no centro comercial. A descrição não parece de uma cidade brasileira, não é mesmo? Deixando o gosto duvidoso da arquitetura e da introdução de espécies exóticas de lado, ter um lugar para parar as magrelas no principal centro comercial turístico de Campos do Jordão, no interior de São Paulo, é um mínimo apoio aos ciclistas (foto). Acho civilizado. E o povo usa. Quem vai trabalhar. Quem vai comer ou comprar. Quem é turista. É para todos. As quatro bicicletas da foto tiraram quatro carros das entupidas ruas do badalado “centrinho”. Melhor se exercitar do que ficar dentro do possante meia hora dirigindo a 5 km/h até encontrar uma vaga na rua ou no estacionamento – e dirigir por no máximo 6 quilômetros para chegar ao tal centro, distância da maioria dos hotéis. Todas as cidades brasileiras deveriam ter um lugar destinado às bicicletas nos centros comerciais. Isso, sim, é ser “phyno”.

Obs.: Conhece mais cidades tupiniquins com estacionamento para bikes? Conte aí!

Pedalando até o Horto Florestal de Campos do Jordão

Fiquei tão viciada em andar de bicicleta que descartei a possibilidade de passar minha folga do trabalho longe dela. Fiz duas viagens – e trouxe de ambas vários aprendizados para compartilhar neste blog, aguarde. Na primeira, fui para Campos do Jordão bregamente intitulada “Suíça Brasileira” e marketing que, aliás, acaba desmerecendo a belezinha de município. Lindinho, não pela sua arquitetura inspirada “nas Europas”, mas porque está inserido no meio da Serra da Mantiqueira. As paisagens são inspiradoras.

Apesar dos morros que encontramos na cidade e no entorno dela – como era de se esperar de uma Serra -, o lugar é fantástico para quem gosta de pedalar. Possui uma ciclovia plana, uma pequena estrutura – melhor do que o quase nada de São Paulo – para estacionar a bicicleta em frente aos estabelecimentos, ruas calmas no verão, estradinhas de terra e muito ciclista. Vou abordar tudo isso nos posts que veem por aí. Bom, além disso, li que um dos passeios imperdíveis para quem está começando a pedalar era andar de bicicleta no Horto Florestal do município. E aí fui eu.

 

A curiosa teve a belíssima ideia de ir de bicicleta até o Horto. Antes de ir, perguntei para um morador como era o caminho: “Tranquilo, uma reta plana”. Para quem está de carro, né? A avenida – parece rodovia, mas não é – até o parque possui uma leve subida, imperceptível. Como ainda sou café-com-leite na pedalada, penei nos dez quilômetros. Afinal, ainda havia mais trilhas no Horto. Escolhi a trilha da Cachoeira da Galharada – ao final chega-se a ela com direito a estacionamento para bicicletas (foto) – e uma trilha especialmente para bicicletas. As outras são mais indicadas para caminhada.

 

O Horto Florestal vale o passeio: bem cuidado, sinalizado e com atividades para todas as idades. Ele está localizado entre Minas Gerais e São Paulo, se intitulando a maior extensão contígua de pinheiros brasileiros no Sudeste distribuído em vales e morros com altitudes que variam de 1030 a 2007 metros. Agora, se você levar a bicicleta até Campos do Jordão vá pedalando para o parque. O caminho se revelou uma atração à parte. Saiba mais no vídeo acima!