Saramago

É com sincera e profunda tristeza que leio a notícia da morte do escritor português José Saramago. Acredito que, além de um inigualável e insubstituível artista, perde-se um grande pensador. José Saramago foi o único ganhador do Prêmio Nobel de Literatura a escrever em português, língua à qual tentou, creio que com sucesso, restituir a beleza alcançada na obra do padre António Vieira, segundo suas próprias palavras. Foi um grande homem.

Carvão como melhorador de solos

Muitos trabalhos de pesquisa recentes, brasileiros e estrangeiros, têm avaliado o uso de carvão de origem vegetal como condicionador de solos, com o objetivo de aumentar os teores de matéria orgânica e a capacidade de troca de cátions do solo, melhorar a eficiência no uso de fertilizantes, promover o crescimento de microrganismos benéficos ao crescimento vegetal, entre outras características agronomicamente desejáveis.
 
A possibilidade de se usar o carvão como condicionador de solos surgiu ao se observar que certas características químicas das Terras Pretas de Índio (TPI) amazônicas, como maiores teores de matéria orgânica do solo, nitrogênio, fósforo, cálcio e potássio, maior capacidade de retenção de nutrientes (CTC potencial), valores mais altos de pH devem-se à presença na fração orgânica destes solos de grandes quantidades de carvão (também chamado de carbono pirogênico ou, na literatura internacional, biochar), até 70 vezes mais do que nos solos adjacentes que lhes deram origem, predominantemente Latossolos, resultado da adição de material carbonizado por populações pré-colombianas ao longo de muito tempo. A existência das Terras Pretas sugere que, pelo menos teoricamente, solos de baixa fertilidade, como os Latossolos da Amazônia, podem ser transformados em solos férteis, não apenas pela adição de fontes minerais de nutrientes, mas pela adição de compostos orgânicos estáveis na forma de carvão

Um problema comum a tratamentos que utilizem materiais orgânicos como condicionadores de solo é a inevitável decomposição, razoavelmente rápida em alguns casos, tornando necessária a reaplicação periódica do material. A decomposição ou outra forma de oxidação levam à diminuição nos teores de matéria orgânica e conseqüente perda dos efeitos benéficos alcançados. Para que isso não ocorra, há duas saídas possíveis – a adição periódica de insumos orgânicos ou a aplicação de material naturalmente resistente à decomposição.
 
O carvão, quando incorporado ao solo, demonstra notável resistência à decomposição devida a características químicas intrínsecas, como a presença de grupos funcionais fenólicos, que permitem sua permanência no sistema solo por períodos relativamente longos de tempo, ao contrário de outros materiais orgânicos cuja persistência no solo depende da proteção conferida pelas partículas minerais ou pela continuidade da aplicação. As Terras Pretas Amazônicas têm mantido seus altos teores de matéria orgânica centenas e até milhares de anos após as populações pré-colombianas que lhes deram origem as terem abandonado. Por sua recalcitrância e alto teor de carbono, a aplicação de carvão ao solo tem sido considerada uma prática eficaz de seqüestro de carbono visando mitigar os efeitos da agricultura sobre as mudanças climáticas globais.

Livro “Mudanças Climáticas Globais e a Produção de Hortaliças”

Não sei se adianta muito pedir desculpas aos leitores, se ainda há algum, e aos colegas blogueiros do ScienceBlogs Brasil. Eu, assim como os outros autores do Geófagos, temos estado afastados do Geófagos por motivos eminentemente profissionais. Obviamente não posso falar pelos outros, mas em meu caso tenho sentido as consequências, enfim, de ser um pesquisador. Nos últimos seis meses tive que viajar muito, escrever e submeter propostas de projeto, conduzir experimentos… Todas tarefas completamente normais na vida de um pesquisador mas que, no meu caso, têm deixado pouco tempo para o blog. Um projeto em especial consumiu uma quantidade considerável de meu tempo e agora volto aqui exatamente para apresentar o resultado do mesmo. “Meu” primeiro livro – Mudanças Climáticas Globais e a Produção de Hortaliças.

Realmente, “meu” não é ainda o pronome mais apropriado, porque fui apenas o editor e autor de uma breve introdução, além de ter organizado o Workshop que resultou no livro, cujos capítulo são os manuscritos das excelentes palestras então proferidas. A possessividade é reflexo apenas das longas horas passadas trabalhando sobre os originais, adaptando-os ao formato de livro, buscando laboriosamente os equívocos, ainda bem que escassos, sem dúvida pela inegável “expertise” dos autores.

Enfim, eis aí o resultado. Espero sinceramente que venha a ser útil para os envolvidos na área. É ainda uma primeira aproximação ao assunto, as influências das mudanças climáticas sobre a produção e a qualidade de hortaliças, mas creio que pode ser um início auspicioso, principalmente se vier a estimular mais interesse e pesquisas sobre o assunto. Para estimular o interesse, listo abaixo os capítulos do livro:

Mudanças climáticas e agricultura: Uma abordagem agroclimatológica
Autor: Eduardo Delgado Assad et al.

Uma análise do efeito do aquecimento global na produção de batata no Brasil
Autor: Carlos Alberto Lopes et al.

Como as mudanças climáticas poderão afetar as doenças das hortaliças?
Autor: Raquel Ghini

Impactos do aquecimento global nas doenças de tomateiro e meloeiro no Brasil
Autor: Ricardo Gioria et al.

Potential impacts of climate changes on the quality of fruits and vegetables
Autor: Celso Luiz Moretti et al.

The Role of Florida Cooperative Extension Services in the Climate Challenge
Autor: Clyde Fraisse

Medidas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas na produção de hortaliças
Autor: Adonai Gimenez Calbo et al.

Para finalizar, devo muito à equipe de colegas que colaboraram tanto na organização do Workshop quanto do livro e, principalmente, aos autores por prepararem materiais de tão alta qualidade. O livro pode ser adquirido a partir do site da Embrapa Hortaliças, pelo SAC (sac@cnph.embrapa.br) ou pelo telefone (61)-3385-9115.

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