O Geófagos e a Rede Minas de Televisão 2

Caríssimos!

Na próxima semana, na Rede Minas de Televisão, será apresentado o último episódio do Programa Planeta Minas sobre a Serra do Espinhaço.

Quero registrar que achei excelente a matéria exibida nesta semana sobre a Serra do Cipó. Foram entrevistados vários pesquisadores, entre estes, os Analistas Ambientais do Parque, João Madeira e Kátia Ribeiro. Todos os entrevistados mostraram, de alguma forma em seus argumentos, a importância do desenvolvimento de pesquisas naquela área, enfatizando a necessidade de preservação daquele ecossistema.

Lembrando que o objetivo mestre do Geófagos é a divulgação científica, parabenizamos a toda a equipe de produção do programa Planeta Minas pela iniciativa e pela oportunidade que nos deram de divulgar nossas pesquisas.

Particularmente, quero reiterar os meus agradecimentos à Jornalista Julia, ao Operador de Câmera e Diretor Jordane, e ao Cenógrafo e Motorista Paulo.

Sinceros agradecimentos a todos!

Elton Luiz Valente.

E.T. O resultado da primeira fase do nosso trabalho, ou seja, a tese, deve receber um ponto final muito brevemente. Uma vez que ela estiver catalogada na Biblioteca da UFV, eu prometo colocar um lembrete aqui no Geófagos, buscando um meio de disponibilizá-la a todos da melhor forma possível.

O Geófagos e a Rede Minas de Televisão

Caríssimos Geófagos!

Tenho a grata satisfação de anunciar que a Rede Minas de Televisão vai apresentar uma série sobre a Serra do Espinhaço. Será apresentada no programa “Planeta Minas”, que é exibido toda terça às 21:40.

Pois bem! A produção do programa, buscando informações na Web sobre a Serra do Espinhaço, encontrou o Geófagos e, através dele, a nossa pesquisa de doutoramento que trata das relações entre o solo e a vegetação na Serra do Cipó.

Resultado! Entraram em contato comigo e agendamos uma visita ao Departamento de Solos da UFV e daqui fomos para a Serra do Cipó. Foram feitas umas tomadas lá, in loco. Foi uma experiência boa, embora não tenha sido fácil, tendo em vista que a televisão exige objetividade, clareza, períodos curtos (entenda-se respostas curtas) e o não uso de termos técnicos. Some-se a isso o “nosso” despreparo psicológico e técnico para suportar, sem sobressaltos, aquela expressão GRAVANDO! Espero, enfim, ter correspondido às exigências acadêmicas e televisivas das respostas.

A série tem início hoje, 17/02, às 21:40. Nós devemos aparecer na próxima terça, 24/02. O último programa da série será exibido na outra terça, 03/03.

Só para reforçar, o “Planeta Minas” é exibido toda terça às 21:40, com repeteco na sexta, às 13:30, e no sábado, às 18:30. Divirtam-se!

Quero agradecer, em nome da Comunidade Geofágica, a oportunidade de divulgar o nosso trabalho e a gentileza com a qual fui tratado pelos profissionais da Rede Minas com os quais tive contato, em especial, à equipe designada para me acompanhar em Viçosa e na Serra do Cipó. São eles: a Jornalista Julia, o Operador de Câmera e Diretor Jordane (quase um Francis Ford Coppola), e o Cenógrafo e Motorista Paulo.

Sinceros agradecimentos a todos!

Elton Luiz Valente.

Vive le Roi

Não pude desperdiçar a oportunidade de escrever o primeiro post da mais nova encarnação do Geófagos. Certamente novos leitores surgirão, então um pequeno histórico pode ser relevante.
O nome Geófagos foi inspirado em dois eventos aparentados. Quando decidi criar o blog Geófagos, eu acabara de cursar minha última disciplina no doutorado em Solos e Nutrição de Plantas na Universidade Federal de Viçosa, disciplina chamada Pedogeomorfologia, que resumidamente trata da interação entre a geologia e o relevo influenciando a formação dos solos e estes “retroinfluenciando” os dois primeiros. O professor, Carlos Schaefer, durante toda a disciplina enfatizou o papel crucial da biota do solo sobre a formação e características dos solos tipicamente tropicais, como os Latossolos. Minhocas e cupins são os principais atores nesta peça milenar, ambos geófagos. Neste mesmo período eu estava lendo fascinado o último livro publicado por Charles Darwin, The formation of vegetable mould through the action of worms, with observations on their habits, que entre outras coisas trata da surpreendente ação das minhocas na formação da camada superficial, enriquecida em matéria orgânica, de solos de regiões temperadas. Novamente, geófagos fazendo solos.
Por fim, inspirado na minha impressão de que, afinal, somos todos geófagos, estava decidido o nome do blog. A decisão de escrever um blog de divulgação científica surgiu, primeiramente, pela ânsia de expor em linguagem clara o muito ou pouco que eu até então aprendera ou fizera em ciência; e pela constatação de que muitos dos blogs de ciência que eu então lia, a maioria extintos, discutia muito a divulgação científica mas não divulgava nada. A vocação, por assim dizer, de divulgador científico foi despertada em mim pela leitura fascinante da coluna que o saudoso paleontólogo americano Stephen Jay Gould mantinha na revista Natural History. Controvérsias à parte, ninguém escreveu sobre ciência tão bem quanto Gould, sinceramente acredito.
A primeira versão do Geófagos foi timidamente lançada em julho de 2006, na plataforma Blogspot. Quando realmente vi que havia leitores interessados e que o tempo não era perdido, resolvi “profissionalizar” o blog um pouco mais, principalmente em termos de visual, e mudei para o WordPress. Nesta segunda fase convidei alguns amigos do doutorado para escrever conjuntamente o Geófagos e a tarefa foi aceita pelo Carlos Pacheco, pelo Elton Valente e pelo Juscimar Silva. Elton e Juscimar, assim como eu mesmo, terminaram já o doutorado. O Pacheco está nos finalmentes. Crescemos, recebemos mais leitores do que ousáramos desejar e fomos enfim convidados pelo Carlos Hotta e pelo Átila Iamarino para fazer parte do condomínio de blogs de ciência Lablogatórios. Aceitamos entusiasticamente e não nos arrependemos.
O espírito empreendedor de Hotta e Iamarino abriram as portas para que pudéssemos hoje publicar o Geófagos na versão brasileira da maior plataforma de blogs científicos do mundo. É uma oportunidade que desejávamos mas que nem sempre acreditamos possível. Para mim em especial, esta nova etapa do Geófagos vem acompanhada de perto de uma nova e feliz etapa profissional como pesquisador da Embrapa Hortaliças. O ano de 2009 será sem dúvida memorável. Faremos tudo para manter e melhorar a qualidade dos posts publicados no Geófagos e tentaremos ser uma referência para aqueles que procurarem informações acessíveis sobre Ciência do Solo, Agricultura e Meio Ambiente. Que o Geófagos viva.

Evolução

Caríssimos leitores e amigos, este é provavelmente o último post publicado no Geófagos como parte do condomínio Lablogatórios. A partir da próxima semana, faremos parte da elite mundial dos blogs de divulgação científica, os ScienceBlogs. Será a quarta mudança por que passará o Geófagos. Comecei timidamente com o Geófagos dia 22 de julho de 2006, poucos dias depois de meu trigésimo aniversário, ainda na plataforma blogspot. O número de leitores aumentou, assim como o ritmo de minhas atividades. Decidi transferir o blog para a plataforma WordPress e convidar alguns amigos para colaborarem na empreitada, primeiro o Juscimar Silva e depois o Carlos Pacheco e o Elton Valente, passando o Geófagos então a ser uma equipe. Desde quase o início, tinha a ambição de ser um dia um ScienceBlogger ou algo semelhante, embora não soubesse bem se isto seria possível. Foi. A chave para isso foi o convite feito pelos acadêmicos empreendedores (uma espécie raríssima) Carlos Hotta e Átila Iamarino para que o Geófagos fizesse parte do condomínio de blogs científicos Lablogatórios. Aceitamos quase imediatamente e não nos arrependemos um iota. Estamos agora nos preparando para a quarta encarnação do blog Geófagos, novamente intermediada pelo Carlos Hotta e pelo Átila Iamarino. Esperamos manter os leitores fiéis e angariar muitos outros. Aqueles de vocês que assinam o feed não precisam se preocupar, a atualização será automática. Muitíssimo obrigado a todos e espero que continuem nos lendo. Le Roi est mort, vive le Roi!

Feliz dia de Darwin!

Hoje se comemora mundialmente os 200 anos de nascimento do naturalista inglês Charles Darwin, patrono do Geófagos, descobridor do mecanismo pelo qual as espécies mudam ou perecem, a seleção natural. Indubitavelmente um ser humano ímpar, meu ídolo pessoal, tio Charles, como gosto de chamá-lo, mudou com sua perigosa idéia simples todo o pensamento humano, definindo novos rumos para a ciência e filosofia. Darwin é daqueles raríssimos cujo mero nome é um título. A partir da leitura de seu livro sobre o papel da minhoca na formação de horizontes orgânicos em solos, The formation of vegetable mould through the action of worms, with observations on their habits, tive a idéia do nome deste blog. O Geófagos comemora entusiasticamente este dia, esperançoso de que chegue o tempo em que visões supersticiosas primitivas do mundo dêem definitivamente o lugar à visão maravilhosa da vida que o trabalho iniciado por Darwin nos proporcionou.

Um pouco de geoquímica II

Olá amigos da comunidade geofágica, depois de algumas conversas e puxões na orelha, I’m back!
Turbulências ocorridas nas minhas tarefas diárias me levaram a perda total da administração do meu tempo e, com isso, negligenciei o Geófagos. Sinceras desculpas a todos, em especial aos meus amigos autores deste blog, os quais eu crédito toda a fama, não merecida, a mim atribuída pelos leitores.
Pois bem, agora com tudo nos devidos lugares e fazendo o tempo correr a meu favor, manterei maior regularidade nas postagens em respeito a todos vocês leitores e aos meus companheiros de jornada. Obviamente a prioridade será falar de ciência, Pilar Mestre deste blog, mas já peço desculpas no caso de algum deslize.

Assim, retornando ao trabalho, vou pagar minha dívida com vocês, respondendo ao Quiz deixado na minha última postagem: Porque, de maneira geral, se observa mais feldspatos potássicos (ortoclásio, KSi3AlO8) do que cálcicos (anortita, CaSi2Al2O8) nos solos tropicais?

Na tentativa de facilitar o entendimento, vamos adotar os dados listados na tabela abaixo:

Energia molar de formação de alguns óxidos metálicos, nos minerais silicatados

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Íon

Grupo

minerais silicatados

Energia (kg/cal)

Ca2+

839

Mg2+

912

Fe2+

322

K+

299

H+(na oxídrila, OH)

525

Ti4+

2882

Al3+ (nos sais)

1878

Al3+ (nos Al silicatos)

1793

Si4+ nos MSiO4 Nesossilicato

3142 (18852)

Si4+ nos MSi2O7 Sorossilicato

3137 (21511)

Si4+ nos MSiO3 Inossilicato

3131(25048)

Si4+ nos MSi4O11 Inossilicato

3127 (27290)

Si4+ nos MSi2O5 Filossilicato

3123 (29981)

Si4+ nos SiO2 Tectossilicato

3110 (37320)

M = metal (Fe, Mg, Ca, Al, K, etc.);
Os números entre parênteses foram calculados fixando as quantidades de oxigênio

Como podemos observar, a energia de formação das pontes entre os metais alcalinos e alcalinos terrosos e oxigênio são menores em relação a ligação Al-O, que por sua vez é inferior as ligações Si-O.

Antes de responder ao quiz e indo um pouco mais adiante, a partir dos dados acima podemos extrair mais duas informações importantes: a sequência de cristalização e a estabilidade termodinâmica desses minerais, ou seja a maior ou menor resistência deles ao intemperismo. Por exemplo, a energia de formação para os diferentes grupos de minerais silicatados (dados entre parênteses) aumenta na direção dos nesossilicatos para os tectossilicatos, onde claramente há um aumento no número de íons silício por mol de oxigênio. Na medida em que ocorre este aumento, maior é a estabilidade do mineral. Deste modo, é por isso que observamos a grande quantidade de quartzo (tectossilicatos) nos solos tropicais.

Concluindo, na medida em há o aumento na substituição do Si pelo Al na estrutura do mineral, ele se tornará mais susceptível ao intemperismo por causa do enfraquecimento da estrutura cristalina. Como mencionado no post anterior, no ortoclásio (KSi3AlO8) a relação Si:Al é 1:1, contra 2:2 para anortita (CaSi2Al2O8). Respondido? Espero que sim e qualquer dúvida estamos ai para ajudar.

PS: Observem o valor da energia de formação dos óxidos de Ti! Agora está mais claro porque a presença do rútilo (TiO2) e da ilmenita (Fe2+TiO3) tem sido rotineiramente constatada nos solos de regiões tropicais.

Juscimar Silva

O Auto da Barca do Inferno: Uma Referência

Por Elton Luiz Valente

No próximo dia 12 comemora-se o bicentenário de nascimento de “Tio Charles” (Darwin) e 150 anos da publicação de sua grande obra A Origem Das Espécies. Para a Comunidade Geofágica, esta é uma data festiva e de altíssima relevância histórica, principalmente para a História da Ciência.

Estive neste fim de semana em Belo Horizonte. Não resisti à tentação de assistir ao filme O Dia Em Que a Terra Parou, uma adaptação rasa (para não dizer plana, com ligeira inclinação para o ralo) do original de 1951, que já não era lá grande coisa, mas pelo menos tinha a Guerra Fria como trunfo (o enredo da canção homônima de Raul Seixas é muito mais plausível).

Ora direis, e daí? O que tem a ver uma coisa com a outra? Darwin, o filme, O Auto da Barca do Inferno (de Gil Vicente) e os propósitos primevos do Geófagos? Vamos lá!

O “quase misterioso” Gil Vicente encenou O Auto da Barca do Inferno pela primeira vez em 1517, em Lisboa, Portugal. A peça é uma crítica impecável às organizações sociais humanas. Uma obra prima. Portanto, Gil Vicente é considerado o fundador da moderna dramaturgia em língua portuguesa. A peça é uma alegoria dramática do julgamento das almas. Há duas barcas à espera: uma, a que vai levar a maior parte dos julgados, é guiada pelo próprio Diabo, a outra é guiada por um Anjo. Entre os “réus” há figuras “ilustres” da sociedade. Ou seja, figuras tacanhas, cuja “relevância” está em promover os vícios que corroem a humanidade.

Quanto ao filme O Dia Em Que a Terra Parou (em ambas as versões), a humanidade é, ela própria, retratada como o seu maior inimigo. Em tempos de “aquecimento global”, esse argumento (citando Erich Remark) não traz ‘nada de novo no front’. Já discutimos no Geófagos que a Terra não precisa de ninguém para “salvá-la”, ela se salva sozinha, sempre foi assim, ela é auto-regulável. Nós é que precisamos nos salvar de nós mesmos.

Darwin nos deu, senão a maior, pelo menos uma das maiores contribuições neste sentido. Mas o homem tem um problema freudiano com a evolução. O homem se recusa a aceitar que não é “a obra máxima” da criação de Deus, menos ainda da Natureza. Note-se que para ser a obra máxima da criação precisa-se de um criador, de uma figura patriarcal, que se encaixe perfeitamente em um universo de dimensões imagináveis, que esteja ao alcance de nossa compreensão demasiadamente humana, urdido em um enredo de epopéia maniqueísta. Como “constante de ajuste”, encaixa-se nessa equação a hipocrisia (pois todos têm necessidades forjadas na evolução das espécies e muitas destas necessidades são conflitantes com as “determinações do criador”).

Daí, Tio Charles, cujas armas são argumentos embasados na razão, na lucidez e no bom senso, não tem como lutar, muito menos vencer, essa batalha que é travada no terreno das freudianidades humanas. Se fossem superados esses vícios freudianos e essas ilusões, talvez pudéssemos, quem sabe, chegar ao super-homem de Nietzsche.

Platão tentou nos tirar da caverna uma vez. Darwin, com toda sua sabedoria, humildade e boa vontade nos deu uma enorme contribuição neste sentido. Nenhum teve êxito. Ou seja, enquanto isso vamos nos apertando, nos acotovelando na ante-sala da Barca do Inferno. Pois ninguém vai nos salvar de nós mesmos. É uma empreitada inglória, de teor quixotesco, tentar salvar quem não quer ser salvo.

 

Mudanças: cultivo protegido

Nestes últimos sete meses a quantidade de mudanças por que eu e minha família passamos foi impressionante: mudamos de cidade, mudei de universidade, mudamos novamente de cidade e eu de nível, deixei de ser um estudante e me tornei até que enfim um pesquisador realmente. E mudei completamente de área de pesquisa. Durante minha pós-graduação trabalhei com a interação entre o solo e a matéria orgânica, agora trabalharei com uma das áreas da horticultura que menos utilizam o solo: o cultivo protegido.

O cultivo protegido é resumidamente um conjunto de práticas de agricultura em que se modifica drasticamente o meio para se atingir o crescimento vegetal ótimo. Para se alcançar este nível de otimização, o cultivo é realizado em um ambiente protegido, em geral estufas (greenhouses). Embora às vezes o plantio seja feito diretamente no solo, o mais comum é que se utilize práticas hidropônicas ou aeropônicas em substratos inertes. Desta forma, além de se controlar o ambiente físico, monitorando temperatura e umidade, controla-se também o ambiente radicular, a disponibilidade de nutrientes, pH da solução nutritiva, temperatura da água. É de certa forma uma visão urbana e futurista da agricultura. Aliás, se a humanidade algum dia estabelecer colônias em outros planetas ou na lua, a produção de alimentos deverá ser feita em ambientes protegidos, utilizando-se a maior parte da tecnologia desenvolvida aqui mesmo.

Na Terra, no entanto, a prática do cultivo protegido visa produzir alimentos principalmente em períodos ou lugares em que as condições climáticas locais são ou estão inadequadas ao plantio a céu aberto. Em geral, esses períodos são também aqueles em que as cotações dos produtos são mais altas, exatamente pela escassez no mercado. Eis por que as hortaliças hidropônicas são comumente mais caras. A agricultura protegida, principalmente a horticultura,  pode ser praticada inclusive em locais em que há escassez de terras. Existem inclusive propostas de criação de fazendas verticais em um mundo excessivamente urbanizado. O cultivo em ambiente protegido pode além disso tornar o uso de água e nutrientes, além de outors insumos, uma prática mais racional em um mundo de recursos naturais escassos ou escasseando.

Uma pergunta incoveniente!

Resolvi escrever esse post em resposta a uma pergunta que vem me acompanhando desde o momento em que resolvi especializar-me (em nível de mestrado e posteriormente de doutorado) em Ciência do Solo. Na entrevista de seleção do mestrado, ela foi feita pela primeira vez. O questionamento era “Por que um Engenheiro Ambiental deseja especializar-se em Ciência do Solo”? Essa incômoda perguntinha ainda seria feita em diversas outras oportunidades, inclusive em outras entrevistas para diversos fins.
Bem, para início de conversa , algumas colocações já foram por mim feitas aqui e aqui. A resposta parece-me óbivia, mas pelo que tenho visto não é. Citarei a seguir alguns dos pontos que nortearam e ainda norteiam minhas respostas e que, acredito eu, deixam claro a importância dos solos para as questões ambientais.
Em primeiro lugar gostaria de citar a prórpria definição do termo “meio ambiente”, conforme obtida no Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente, publicado pelo IBGE no ano de 2004. Tal publicação pode ser obtida aqui. Segundo ela, meio ambiente refere-se ao “conjunto dos agentes físicos, químicos, biológicos e dos fatores sociais susceptíveis de exercerem um efeito direto ou mesmo indireto, imediato ou a longo prazo, sobre todos os seres vivos, inclusive o homem”.
No meu modo de ver os solos estão enquadrados diretamente como agentes físicos e ainda indiretamente como agentes químicos, biológicos e sociais. Logo, ele também é objeto de estudo das Ciências Ambientais e consequentemente da Engenharia Ambiental, que é uma das vertentes das primeiras. As funções ecológicas dos solos são os maiores exemplos dessas relações diretas e indiretas. A capacidade de reter poluentes e/ou contaminantes, sustentar edificações, ser meio de desenvolvimento de plantas, ser meio de produção de alimentos, estar em contato direto com águas superficiais e subterrâneas, de sustentar a macro, meso e microfauna edáfica, de fornecer importantes nutrientes para o desenvolvimento da vida, participar dos ciclos biogeoquímicos ativos no planeta, entre outras, é que me permitem dizer que sim, os solos também são compartimentos ambientais de vital importância. Estão intimamente ligados à manutenção de uma boa qualidade de vida para os seres vivos, inclusive os “human beings”.
Mas por que então essa pergunta continua sendo feita constantemente e o espanto está na face do interlocutor quando o mesmo percebe que meu currículo posterior a graduação em Engenharia Ambiental foi feito com base nesse importante compartimento? Vejo diversas respostas para tal, mas duas, na minha opinião, sobressaem às demais. A primeira é que a Engenharia Ambiental deriva da Engenharia Civil e, como tal, desde o seu nascimento esteve muito voltada às questões referentes ao saneamento. É também à esse motivo que atribuo a evidente lacuna de questões biológicas no currículo dos diversos cursos de Engenharia Ambiental país a fora. Outro aspecto importante é que a Ciência do Solo, por outro lado, sempre esteve ligada às Ciências Agrárias e, portanto, ainda há “ranço” tal que questões inovadoras ligadas à ela, por exemplo as tecnológicas e ambientais, ainda sofrem certo preconceito por parte dos cientistas do solo clássicos. O conjunto da obra é, como eu disse em um post antigo, o solo como um compartimento esquecido pelas ciências ambientais.
Carlos Pacheco

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