Podridão desavergonhada

O blog Geófagos solidariza-se com todos os brasileiros decentes no desprezo e indignação pelo aumento desavergonhado nos salários dos congressistas deste país. Um congresso (com letra minúscula mesmo) indecente e corrupto, vergonha e desgraça da Nação, não merece sequer o dinheiro que já recebe, que dirá um aumento astronômico. Vergonha!

O solo de cá não é o mesmo de lá II

O conhecimento dos diferentes tipos de solo e a existência de um sistema de classificação abrangente e confiável, além da importância científica óbvia, tem uma importância prática crucial: o uso adequado dos solos de acordo com o fim que se pretende. Como já foi abordado em outros posts, a fase sólida dos solos é composta de uma fração mineral e uma orgânica. A fração mineral divide-se em frações de tamanho que também apresentam diferenças em relação à mineralogia e ao comportamento químico: fração areia, que é a mais grosseira, composta principalmente de quartzo e muscovita, é uma fração quimicamente praticamente inerte; fração silte, intermediária, composta majoritariamente por quartzo, também quimicamente bastante inerte; e fração argila, composta por aluminossilicatos secundários (argilominerais) e óxidos de metais (principalmente ferro e alumínio), é a fração quimicamente mais ativa dos solos e responsável, juntamente com a matéria orgânica do solo, pela retenção de nutrientes e outros elementos e substâncias. Classes diferentes de solos terão horizontes (ver a definição de horizonte de solo) com teores de areia, silte e argila diferentes. A proporção destas três frações em um horizonte ou solo é o que chamamos textura do solo. A textura de um solo nos pode informar muito sobre o comportamento esperado deste solo. Um solo argiloso poderá ser quimicamente mais rico, mas poderá também apresentar problemas de drenagem, impedindo a infiltração eficiente da água no solo, ou dependendo dos minerais da fração argila presente (que também poderão não ser os mesmos de solo para solo) poderá haver uma retenção de alguns nutrientes, como fósforo por exemplo, tão forte que a planta não consegue absorvê-lo. Solos mais arenosos em geral são quimicamente mais pobres, mas podem apresentar boa drenagem e todo o adubo aplicado poderá ser utilizado pelas plantas; no entanto, pela pobreza em argila estes mesmos adubos podem ser perdidos, levados pela água que infiltra, um processo chamado de lixiviação. De posse destas informações e de outras que se ganha ao se conhecer os vários tipos de solo, um agrônomo, um geoquímico, um agricultor terão menor possibilidade de tomar decisões incorretas no que diz respeito à utilização de um solo. Assim, um engenheiro ambiental saberá que a classe de solos arenosos conhecidos como Neossolos regolíticos, por exemplo, não será adequado para a disposição de lixo tóxico porque o excesso de drenagem poderá levar os contaminantes para as águas subterrâneas ou até superficiais; um agrônomo saberá que a aplicação de adubos fosfatados em solos conhcidos como Latossolos que sejam ricos no mineral goethita deverá ser um pouco superior à dose recomendada, para suprir tanto o solo quanto a planta; o agricultor da região de Viçosa entenderá que os solos mais avermelhados em que ele planta batata ou até mandioca são mais apropriados para essas culturas não por causa da cor vermelha, mas porque esta cor é reflexo da presença do mineral hematita, formado em locais de boa drenagem e maior aeração do solo, necessários para a produção de tubérculos, e por aí vai. (Continua)

5000 geófagos

O Geófagos atingiu a marca das 5000 visitas desde que abrimos as portas em julho! Obrigado aos leitores, espero que estejam gostando do que lêem e se estiverem que divulguem. O objetivo agora são os dez mil.

O solo de cá não é o mesmo de lá

Tenho me referido aqui muitas vezes ao solo como uma entidade não individualizada e às vezes mencionei solos como se houvesse vários. E realmente há. Se alguém me lê atenta e periodicamente terá notado que em algumas circunstâncias deixei entender (ou pretendi) que há solos diferentes em regiões de climas diferentes. Mas não só. Na verdade poderá haver solos diferentes dentro de uma mesma região climática, afinal de contas o clima não é o único fator que influencia a formação dos solos. Os pedólogos, que são os cientistas que estudam os fatores ambientais que formam os solos e principalmente os diferentes tipos de solos formados, majoritariamente acreditam que o modelo que mais didaticamente explica a variedade dos vários tipos de solo existentes é o modelo conhecido como clorpt, que é na verdade uma forma simplificada de expressar a função s=f(cl, o, r, p, t), que quer dizer que um solo qualquer é função da associação dos fatores clima (cl), organismos (o), relevo (r), material de origem (p) e do tempo (t). Obviamente, em uma pequena distância esses fatores podem variar muito possibilitando a formação de solos distintos em espaço de algumas dezenas de metros. Mas como reconhecer se um solo é diferente de outro? A primeira coisa que um pedólogo faz é observar as camadas mais ou menos horizontais (paralelas à superfície) que compõem um solo, chamadas de horizontes, que geralmente possuem propriedades físicas e químicas próprias de cada classe de solo. Existem, para a maioria dos solos, horizontes chave que indicam de forma razoavelmente clara qual classe determinado solo pertence: são chamados de horizontes diagnósticos; muitas vezes as características necessárias para a identificação preliminar de um solo podem ser visualizadas no campo, sem necessidade de equipamentos especiais, entretanto a identificação completa só é possível depois de uma série de análises físicas, químicas, mineralógicas e biológicas que só podem ser realizadas em laboratórios. Existem vários sistemas de classificação de solos no mundo, o mais abrangente é o americano (Soil Taxonomy) , mas o Brasil tem feito um excelente trabalho no levantamento e na classificação dos solos do território nacional e o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, coordenado pela Embrapa mas com a participação imprescindível de pedólogos de várias universidades e outras instituições de pesquisa, está já em sua segunda edição (publicada em 2006, a primeira edição é de 1999). (Continua)

O solo é um recurso natural renovável?

Um amigo recentemente me questionou, a partir de algo que escrevi aqui no Geófagos, se o solo pode realmente ser considerado um recurso natural renovável. Sua dúvida se referia ao tempo, geralmente muito longo, necessário para que um solo se forme. Primeiramente, creio que cabe aqui uma definição do que é recurso natural renovável. Segundo a enciclopédia eletrônica Wikipedia : “A renewable resource is any natural resource that is depleted at a rate slower than the rate at which it regenerates. A resource must have a way of regenerating itself in order to qualify as renewable”, numa tradução livre “Recurso renovável é qualquer recurso natural cuja exaustão (depleção) ocorre em uma taxa menor do que a de regeneração. O recurso deve ter a capacidade de regenerar-se para ser qualificado de renovável”. A mesma enciclopédia define recurso não renovável como “A non-renewable resource is a natural resource that cannot be re-made or re-grown” ou seja “é um recurso natural que não pode ser refeito ou recriado”, o que não é o caso do solo. Considerando o caso da água, por exemplo, normalmente considerada como um recurso renovável, creio que é consenso que a exploração excessiva em alguns locais está levando este recurso a ser não renovável, pelo menos nas taxas naturais atuais. O problema com estas definições, e com o entendimento do que é a renovação dos recursos naturais, é que a variável representada pela exploração humana é tanto imprevisível quanto em geral muito distante do que ocorre naturalmente com os recursos em equilíbrio. Tentarei me explicar mais claramente: consideremos o recurso natural peixe em equilíbrio com um predador natural, por exemplo o tubarão, obviamente do ponto de vista do tubarão o peixe é um recurso natural renovável. Agora ponhamos como predador a frota pesqueira japonesa, que pode exaurir de tal forma a população de uma determinada espécie podendo inclusive extingui-la, claramente o recurso poderá deixar de ser regenerável. No caso do solo, naturalmente a taxa de formação de solos é maior do que a taxa de exaustão (representada pela erosão) na maior parte dos ambientes que conheço; mesmo com a entrada do homem no sistema, o aumento das taxas de erosão poderiam ser equilibradas se mantidas no máximo iguais às taxas de formação. Nestes casos, penso que o solo é um recurso natural renovável. Em áreas em que a atividade humana é exercida de forma irracional as taxas de erosão têm se tornado maior do que as taxas de formação do solo, levando a grandes catástrofes ambientais e até a extinção de civilizações: o que se deve ter em mente é que a formação dos solos é um processo muito lento (mesmo em regiões tropicais úmidas, onde as taxas de intemperismo são maiores), alguns poucos centímetros de solo podem levar milhares de anos para se formar, mas podem ser perdidos em alumas dezenas de anos ou menos. Respondendo à pergunta do título, eu diria que se o homem não agir como uma infecção suicida, como vem fazendo até agora, o solo é um recurso natural renovável, mas a continuar promovendo práticas que aumentam a erosão (eliminação da cobertura do solo, aceleração da decomposição da matéria orgânica, uso de solos impróprios para práticas agropecuárias ou florestais, coivaras etc.) teremos que aprender a plantar em cima de pedras.

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