Sobre ratos, homens e ilhas

Tornou-se já quase um lugar comum usar a Ilha de Páscoa (denominada pelos nativos como Rapa Nui) como exemplo do que a exploração excessiva dos recursos naturais pode fazer ao meio ambiente: é conhecimento consolidado que a derrubada das palmeiras nativas do gênero Jubaea para transportar pedras utilizadas na construção das famosas estátuas antropomórficas gigantescas (os moai) levou à extinção da espécie na ilha, tornada um local praticamente sem árvores, e aos prejuízos ambientais daí decorrentes, principalmente perda do solo por erosão, o que teria causado a decadência da população local. Trabalhos recentes, no entanto, têm posto em xeque esta versão dos fatos. Na edição de setembro da American Scientist o arqueólogo Terry L. Hunt relata como suas pesquisas na ilha o levaram a questionar o conhecimento aceito. Primeiro, seus dados mostraram que a colonização da ilha por polinésios se deu mais tarde do que se pensava, os dados de datação por carbono feitas por ele indicam a presença humana a partir de 1200 A.D. e não 800, como era aceito. Segundo, além da derrubada das árvores pela população, seus dados mostram que a grande população de ratos teve um papel primordial na extinção da Jubaea ao se alimentarem das sementes da planta. Terceiro, a decadência da civilização local se deveu mais ao genocídio promovido por exploradores europeus do que à degradação ambiental propriamente. A degradação ambiental causada por ratos na Oceania não é exclusividade de Rapa Nui, o mesmo aconteceu em outras ilhas, inclusive na Nova Zelândia. No Brasil, a introdução de animais exóticos em ilhas causou pelo menos um caso de degradação ambiental dramática: a introdução de cabras na Ilha de Trindade levou ao desaparecimento completo de grandes extensões de matas e a quase completa perda do solo por erosão. O semi-árido brasileiro que se cuide.

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