Ciência e arte

Até que enfim, um artista que não só se interessa, mas parece entender algo de ciência – hardcore science. Eis aqui um trecho de entrevista dada pelo escritor português António Mega Ferreira. Há uma luz no fim do grande colisor de hádrons. Através do De Rerum Natura.

Recuperação de áreas degradadas x Preservação de fragmentos florestais

A legislação brasileira, já em sua carta magna, afirma a necessidade do agente impactante em recuperar as áreas degradadas. No entanto, venho presenciando diversas discussões a respeito das técnicas de recuperação de áreas degradadas ultimamente empregadas pelos diferentes agentes degradores do ambiente. Os métodos empregados e, sobretudo, a eficiência dos mesmos muitas vezes vêm sendo discutidos. A comparação com a preservação de fragmentos florestais, atendendo à legislação pertinente às áreas de preservação permanente, tem sido constantemente feita por diversos pesquisadores, no entanto, algumas considerações a respeito devem ser feitas.
É verdade que diversos autores tem relatado ao longo do tempo o quanto os remanescentes florestais são mais eficientes em preservar a biodiversidade do que áreas recuperadas ou restauradas. No caso dessa última, apesar de os métodos levarem a área muito próxima da sua aparência inicial, a diversidade de organismos vivos ainda deixa a desejar. Nesse sentido, obviamente, quando possível é melhor que áreas intactas sejam destinadas à preservação. Essas áreas por diversas vezes apresentam-se fragmentadas, sem contato umas com as outras, formando verdadeiras “ilhas preservadas”. Os resultados do uso de tal método no que tange respeito à preservação da biodiversidade têm sido incrementados ainda pelo uso de corredores ecológicos ligando diferentes ilhas. Isso aumenta as interações entre as espécies e, consequentemente, aumenta a preservação da biodiversidade. Entretanto, nem sempre o uso dessa técnica é possível. A explicação para isso é simples. Por diversas vezes não existem mais fragmentos florestais nas áreas exploradas devido à intensa degradação ambiental sofrida ao longo do tempo. Então o que fazer?
Nesses casos e em outros, como por exemplo em áreas intensamente degradadas (talvez áreas de mineração sejam o melhor exemplo), a recuperação faz-se necessária. Técnicas de restauração podem ser aplicadas, no entanto, o seu custo elevado dificulta a sua aplicação . Entende-se por recuperação dar um novo uso à área, podendo ser revegetada, sendo destinada ao lazer, à um novo centro empresarial, à um campo de futebol, entre outras. Obviamente cada técnica a ser utilizada e também cada uso futuro a ser dado depende das características da área como a resiliência e resistência. A resiliência pode ser entendida como uma mola, definindo a capacidade da área impactada em retornar, pelo menos próximo, ao que era antes. Já a resistência representa a capacidade da área em resistir ao impacto. Enfim, a recuperação dessas áreas dependerá da disponibilidade de técnicas e da capacidade do ambiente, além dos interesses dos atores envolvidos. Por diversas vezes as técnicas de recuperação apresentam aspectos complicados como a necessidade de uma verdadeira “construção de um novo solo” ou uso de espécies exóticas, entre outras. Esses aspectos têm sido frequentemente questionados. Imaginemos uma situação onde é necessário a contenção de taludes. Outras vezes o uso de espécies fitorremediadoras é requerido. Faz-se necessário então o uso de espécies e crescimento rápido e, além disso, que muitas das vezes possam crescer em condições de fertilidade adversas. Esse fato as torna muito competitivas e despertam a preocupação com sua disseminação. Como elas se comportariam se suas sementes se alastrassem por áreas preservadas? Será que elas cresceriam em detrimento às espécies nativas? São todos esses aspectos  e muitos outros que ainda necessitam ser melhor entendidos e, consequentemente, dão margem à discussões e questionamentos.
Concluo essa pequena exposição acerca do assunto afirmando que ambas as técnicas são necessárias. Lançar mão de uma ou de outra depende das condições sócio-ambientais da área a ser impactada. No entanto, sempre que possível a preservação de fragmentos florestais, sobretudo com o uso de corredores ecológicos, deve ser aplicada visando a manutenção da biodiversidade.
Carlos Pacheco

O Pré-Sal e o desenvolvimento sustentável

A descoberta de petróleo na camada denominada Pré-Sal tem chamado a atenção do mundo inteiro. Isso não é por acaso. Economicamente e estrategicamente esse fato pode ser encarado como uma das grandes descobertas de recursos naturais economicamente exploráveis dos últimos tempos. Além disso, trata-se da descoberta de uma imensa riqueza em terras de um país corriqueiramente denominado de “em desenvolvimento”. O fato de existir petróleo a ser explorado em grande quantidade no fundo do Atlântico torna o Brasil como aspirante a membro da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), colocando-o tranquilamente entre os dez maiores produtores de tal produto. Isso vem a calhar em uma época onde já discutia-se até quando tal recurso, base da matriz energética mundial, estaria disponível. Por ser um recurso natural não renovável o mundo já preocupava-se com a necessidade de substituição de tal matriz o que, logicamente, geraria e gerará custos adicionais. Os iniciais 5 a 8 bilhões de barris e possivelmente até 80 bilhões de barris caíram como uma bomba destruindo todas as previsões de um fim muito próximo das reservas mundiais. O preço do barril de petróleo que estava nas alturas, hoje já não preocupa tanto. Sem sombra de dúvidas, economicamente o Brasil dá um salto importante em uma época estratégica, onde o “milagre do crescimento dá as caras” e as reservas de outros importantes exportadores do produto já não são tão grandes.
No entanto, uma coisa me preocupa. É notório e ratificado que os principais efeitos relacionados às mudanças climáticas globais são advindos, em grande parte, do uso de combustíveis fósseis. A utilização de matrizes energéticas mais limpas vem sendo apontada como a única saída disponível para obter-se um desenvolvimento econômico e ambiental concomitantes. Em outras palavras, o tão falado desenvolvimento sustentável. O Brasil sempre foi visto com bons olhos no cenário mundial pela utilização de biocombustíveis e também pela possibilidade de geração de energia hidroelétrica, solar e eólica. Mas e agora? Com a descoberta dessa imensa jazida de petróleo será que os olhos dos governantes brasileiros continuarão voltados para o desenvolvimento dessas fontes energéticas “mais limpas”? Sinceramente, tenho minhas dúvidas. Governos diferentes passarão ao longo da exploração do pré-sal e, nesse sentido, não sabe-se que uso se dará ao mesmo. Além disso, mesmo que a matriz energética brasileira continue sendo limpa, o país tornará-se um grande fornecedor de tais combustíveis fósseis para outros países. Resumindo, a descoberta do petróleo do pré-sal pode retardar a busca por novas matrizes energéticas, o que, por sua vez, provavelmente retardará o alcance dessas novas tecnologias limpas.
Para finalizar, volto a ratificar a importância dessa descoberta, colocando o Brasil definitivamente como um dos protagonistas do cenário mundial. A era de coadjuvante terminou. Estrategicamente o mundo volta os olhos para cá e nós, temos uma oportunidade ímpar para resolver muitos de nossos problemas. Porém, ambientalmente me preocupa o modo como essa riqueza será administrada. É necessário encontrarmos um ponto de equilíbrio entre a riqueza proveniente de tal recurso e a responsabilidade ambiental brasileira. E essa última, por sua vez, não pode estar só relacionada ao país em si. Ela deve estar intimamente ligada também com o planeta como um todo, afinal de contas, as mudanças são globais e não locais.
Carlos Pacheco

Ação conjunta de agências financiadoras do país injetam R$ 270.000.000,00 na criação de Instituos Nacionais

Termina hoje, 19/09/2008, o prazo para que pesquisadores brasileiros apresentem propostas ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para criação de pólos de excelência no país. A criação dos chamados Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia pode vir a se tornar, em um futuro não tão distante, um marco bastante representativo no desenvolvimento do mesmo. Em ação conjunta com a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior), FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais), FAPERJ (Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) e FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), estão sendo destinados cerca de R$ 270.000.000,00 na criação de tais institutos. Os recursos podem ser aplicados na aquisição de equipamentos, bolsas de pós-doutorado, iniciação científica, aperfeiçoamento profissional, infra-estrutura, entre outros. Investimentos dessa envergadura representam uma verdadeira “injeção de ânimo” no setor. É necessário agora que os pesquisadores brasileiros contemplados levem suas pesquisas em sentidos harmoniosos com as necessidades e interesses estratégicos do país de modo que toda, ou pelo menos boa parte da população, usufrua dos benefícios dessa ação.
Carlos Pacheco

Setembro- o mês do Protocolo de Montreal

Neste mês de setembro está sendo comemorado o 21ο aniversário da assinatura do Protocolo de Montreal sobre substâncias que reduzem a camada de ozônio , considerado um dos maiores avanços em benefício ao bem estar do nosso planeta.  Na conveção de Montreal ficou estabelecido a redução da produção e do uso de gases que danificam a camada de ozônio. Anos antes da Segunda Guerra Mundial foi descoberto um composto, os clorofluorcarbonetos-CFCs, gás até então considerado inerte, que revolucionaria a indústria de refrigeradores, tornando possível o armazenamento de alimentos e, principalmente, remédios a baixas temperaturas.

O ápice da utilização dos CFCs foi na década de 70, onde eles foram empregados exaustivamente na fabricação dos novos modelos de refrigeradores da época. Porém, na década de 80, mais precisamente no ano de 1985, descobriu-se que este gás estava causando passívo ambiental sem precedentes, que era a depleção da camada de ozônio- principal responsável pela retenção dos raios ultravioletas emitidos pelo sol. Estima-se que em torno de 99% da radiação emitida pelo sol seja retido pela camada de ozônio. Sem ela, provalmente, não seria possível a vida na Terra.
Ao atingir a estratosfera (segunda camada da atmosfera), o cloro, um dos principais constituinte dos CFCs, reage prontamente com o ozônio (O3) destruindo sua molécula, provocando a depleção da camada protetora. Como consequência da emissão continuada dos CFCs observou-se o surgimento de um buraco na referida camada que se ampliava a cada ano, sendo que este evento é mais catastrófico nos polos onde a espessura da camada é menor.
A partir desta constatação, na conferência da Organização das Nações Unidas-ONU do dia 16 de setembro de 1987, na cidade de Montreal, Canadá, foi assinado o Protocolo de Montreal proibindo o uso dos CFCs pelas indústrias, com exceção dos equipamentos utilizados para uso exclusivo em hospitais. De acordo com as estimativas realizadas por especialistas, se for seguido a risca os termos assinados no protocolo, em 2050 haverá o completo restabelecimento da camada de ozônio. Porém, o legado deixado pelo incomensurável uso dos CFCs pode perdurar por mais tempo, haja visto que ainda existem emissões, embora pequenas, desses gases e, por se tratar de um gas inerte na superfície, eles têm tempo de vida útil bastante longo. Alguns podem chegar a 150 anos.
Embora seja um fenômeno que ocorre na atmosfera, não se pode confundir a depleção na camada de ozônio com o aquecimento global. Não obstante, hoje já se admite que alguns gases partipam de ambos os fenômenos, tais como os hidroclorofluorcarbonetos (HCFCs) e hidrofluorcarbonetos (HFCs). Considerando a relação molar de 1:1, estes compostos são até 10.000 vezes mais potentes como gases de efeito estufa que o CO2. Diante disso, tem se proposto o cancelamento gradual da utilização dos HCFCs até o ano de 2030. Entretanto não há nenhuma restrição quanto ao uso dos HFCs.
O Protocolo de Montreal figura-se entre os vários bons exemplos do porquê o Protocolo de Kyoto deveria ser ratificado!
Juscimar Silva

Geófagos se candidatam ao BOBs

Isto mesmo, candidatamo-nos ao The BOBs, um prêmio para os melhores blogs do ano. Pedimos sinceramente aos leitores que apreciam nosso trabalho e nos consideram merecedores que cliquem neste link e dêem seus votos, é só marcar os quadradinhos e clicar em enviar. O resultado será anunciado em Novembro. Contamos com os votos de todos.

Gradientes de solo e vegetação nas partes elevadas da Serra do Cipó

Nesta semana, mais precisamente na quarta-feira, 17/09/2008 às 16 horas, vou apresentar o Seminário B, da Tese, no Anfiteatro do Departamento de Solos da UFV. Sintam-se todos convidados. Na oportunidade e em primeira mão, apresento aqui o Resumo que será distribuído:
A região da Serra do Rio Cipó, localizada na porção meridional da Serra do Espinhaço, corresponde a extensas áreas de Cerrado, Mata Atlântica, Capões de Mata e um dos mais ricos Complexos Rupestres do Brasil. O caráter transicional, entre os biomas Mata Atlântica e Cerrado, destacado em numerosos estudos de fauna e flora regionais é um dos fatores responsáveis pela notável diversidade biológica encontrada naquele ecossistema.
A região representa um dos mais importantes divisores hidrográficos em Minas Gerais. É ocupada em sua maior extensão pela bacia hidrográfica do Médio Rio São Francisco, que possui como cursos d’água principais o Rio Cipó e o Rio das Velhas, que escoam de sul para norte, e pelos rios que drenam a bacia do Rio Doce a leste, entre estes destaca-se como principal curso d’água o Rio Santo Antônio. A base geológica da Serra do Cipó é formada por uma matriz de Quartzito, pontuada por diques e intercalações de Anfibolito, Xistos, Ardósia, Folhelhos e Calcário marmorizado. Predominam nesta região as formações Proterozóicas. Na face leste, borda da depressão interplanáltica do Rio Doce, surgem rochas Gnáissico-Graníticas do Embasamento Cristalino, além de Xistos mais ricos em Biotita.
Os solos da Serra do Cipó, independentemente de sua matriz geológica, da profundidade do perfil e da fitofisionomia que sobre eles se desenvolve, são geralmente pobres em nutrientes e ricos em alumínio trocável. A pobreza química desses solos é devida principalmente à natureza da matriz geológica dominante do sistema e, em parte, às perdas por lixiviação e erosão que o sistema apresenta. Tais perdas estão associadas ao relevo fortemente movimentado, à natureza arenosa dos solos e à pouca espessura do solum (perfil incompleto do solo, formado pelos horizontes A e B, embora nele atuem os principais processos pedogenéticos). Neste ambiente predominam solos rasos e afloramentos rochosos. Muitas vezes o perfil constitui-se de apenas uma camada orgânica sobre a rocha, sustentando uma vegetação graminóide e/ou subarbustiva.
Em áreas pontuais, o controle estrutural pode favorecer o desenvolvimento de solos mais profundos derivados do intemperismo de Quartzito, bem como onde ocorrem rochas Metapelíticas ou Metabásicas, nestes dois últimos ambientes, os solos são bem mais desenvolvidos, argilosos e igualmente distróficos, apresentando horizontes A espessos e ricos em matéria orgânica. Nestas áreas de solos mais profundos, independentemente da rocha matriz, ocorre uma vegetação que grada de arbustiva a arbórea, caracterizada pelos Capões Florestais. Ainda que se observe nestes locais uma riqueza aparente, predominam ali solos extremamente pobres em nutrientes.
Embora alguns estudos tenham revelado as características pedogenéticas mais importantes dos solos em outros setores do Espinhaço, como no Planalto de Gouveia – Diamantina, quase nada se sabe sobre os solos do setor mais meridional desta serra, onde os Capões Florestais, verdadeiras “ilhas” em meio ao ambiente campestre que os envolve, são muito comuns e relativamente conservados, apresentando uma vegetação exuberante, apesar da extrema pobreza química dos solos.
O trabalho que ali desenvolvemos tem como objetivo caracterizar seqüências de solos, representativos das partes elevadas da Serra do Cipó, em diferentes litologias e formações vegetais, bem como evidenciar as relações solo-vegetação daquela área, através do estudo de gradientes de Campos Rupestres até dois Capões Florestais na região do “Alto Palácio”, Parque Nacional da Serra do Cipó (Parna-Cipó) e APA Morro da Pedreira.
Elton Luiz Valente

A Amazônia em cena

Em passagem por São Paulo-SP tive o privilégio de ontem (09/09/2008) assistir um espetáculo de sensações muito interessante. Denominado “A roda dos sonhos AMAZÔNIA” e baseado na obra de Márcia Theóphilo, a peça trata do ritual de alguns povos indígenas da região Amazônica que dá nome à mesma. A interação com o público (que participa no palco) e a grande utilização de luzes e sons causam sensações controvertidas, que nos fazem pensar no significado de pequenas coisas, como a interpretação dos sonhos e nosso comportamento social e ambiental, por exemplo. Quem tiver oportunidade vale a pena conferir. A peça está em cartaz no Centro Cultural São Paulo, localizado à Rua Vergueiro, 1000. A atuação é do Grupo Sensus, dirigido por Thereza Piffer.
Carlos Pacheco

Ranking do ensino superior

 
O ministério da educação (MEC) divulgou hoje, 08 de setembro de 2008, o ranking das melhores universidades do país. Para esta classificação foi utilizado um novo sistema de avaliação, o índice geral de cursos – IGC, onde são utilizados no cálculo do indicador a média dos Conceitos Preliminares de Curso (CPC) da instituição – componente relativo à graduação – e o conceito fixado pela Capes para a pós-graduação. Conforme o MEC, a média dos conceitos dos cursos é ponderada, de acordo com o número de matrículas dos alunos entre os diferentes níveis de ensino (graduação, mestrado e doutorado). De acordo este novo critério, a Universidade Federal de Viçosa (UFV) figura-se entre as três melhores, sendo a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) a número um do país. Nos desculpe o “bairrismo”, mas dentre as TOP 10, quatro são do estado de Minas Gerais. Obviamente que a nossa intensão não é levantar bandeira e, muito menos, bater no peito e dizer para todos que venham para a UFV ou para o estado de Minas Gerais porque aqui é o Éden, mas contribuir para deixar os nossos leitores antenados para os indicadores da educação brasileira que são úteis para futuras tomadas de decisões, no que tange a escolha de um bom curso e uma boa instituição.
Juscimar Silva

Necessidade de invovação na pesquisa brasileira em Ciência do Solo

Nessas últimas três semanas tenho feito uma grande revisão de literatura em periódicos nacionais e internacionais visando atender as exigências da minha qualificação. Nesse árduo caminho uma coisa tem chamado minha atenção. Em periódicos nacionais é recorrente a existência de trabalhos muito parecidos,  muitas vezes com apenas pequenas mudanças em uma ou outra fonte de variação do experimento. Como alguns poucos exemplos, cito o tipo de solo (diga-se de passagem muitas vezes são solos muito parecidos em que os resultados de um poderiam ser extrapolados para outro), as doses de nutrientes ou de contaminantes aplicados e o método utilizado. Os objetivos dos trabalhos por diversas vezes são os mesmos e os resultados, devido a já existente base de dados, são extremamente previsíveis. Em algumas áreas da Ciência do Solo essa situação é ainda mais crítica (não citarei a minha opinião de quais áreas são mais problemáticas por questões éticas). É nítida, muitas vezes, o desdobramento de um só experimento em diversos artigos, visando a quantidade, deixando de lado importantes informações que a análise conjunta dos dados permitiria. Em periódicos internacionais tenho percebido uma maior variação de temas estudados. Percebo nesses últimos a existência mais frequente de uma série de trabalhos que visam a aplicação de conhecimentos a anos acumulados, como por exemplo, a tentativa de modelagem do comportamento de nutrientes e contaminantes. Esses modelos, por exemplo, permitem prever o comportamento de determinados solos frente à entrada dos mesmos, reduzindo custos no meio agrícola e reduzindo os impactos ambientais da disposição de resíduos nos solos. Outras questões de aplicação prática dos conhecimentos adquiridos também existem e a realização da mesma é de suma importância para o desenvolvimento do país. Tenho sentido falta também dos estudos de contaminantes orgânicos em solos brasileiros, estudos esses citados amplamente na literatura internacional. Obviamente esses são apenas alguns poucos exemplos que mostram a necessidade de inovação de nossas pesquisas. Por fim, acredito que mão de obra qualificada existe. Talvez o que falte é um pouco mais de arrojo por parte de nossos pesquisadores e, obviamente, um pouco mais de estrutura física para que tais pesquisas inovadoras sejam realizadas.
Carlos Pacheco

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