Somos Todos Africanos!

A Ciência tem dito há muito tempo que todos nós viemos da África. Mas um estudo da Universidade da Pensilvânia, liderado pela pesquisadora Sarah Tishkoff, publicado recentemente pela Science, anunciado em diversos veículos de comunicação, inclusive no Brasil (Folha de São Paulo e Revista Veja – edição 2112, por exemplo), e já um tanto badalado aqui na internet, joga mais luz sobre a origem do homem moderno.
Em estudos de diversidade genética dos vegetais, cultivados ou não, considera-se como centro de origem de determinada espécie o local do globo onde ela apresenta a maior diversidade genética. Foi exatamente isso que os pesquisadores do referido estudo fizeram. Identificaram na África o local onde se encontra a maior diversidade genética entre nossos irmãos. Fica numa região entre a Angola e a Namíbia.
Para a espécie humana, há outro fator importante que reforça os resultados genéticos. A afinidade linguística e cultural.
Assim sendo, o Jardim do Éden fica mais próximo dos brasileiros do que poderíamos imaginar. Angola e Namíbia são países banhados pelo Oceano Atlântico, logo ali na frente. Um grande contingente de africanos daquela região veio (foi trazido) para o Brasil nos tempos da Colônia. Mais que isso, a Ciência tem dito há muito tempo que todos nós somos descendentes dos africanos – europeus, caucasianos, asiáticos, esquimós, australianos, ameríndios, todos, indistintamente.
Eu, que sempre digo ser descendente “por afinidade” dos índios Botocudos e Malalis, tenho motivos para comemorar.
Saúde a todos!

Judeus nos sertões

Em minha adolescência, a curiosidade natural pelas origens, conjugada com a leitura entusiasmada da Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, levaram-me a pesquisar a genealogia da minha família junto a parentes mais velhos do sertão paraibano. A genealogia, junto com a heráldica, tornou-se por um bom tempo um hobby muito querido, a que dediquei muitas horas boas. O doutorado infelizmente interropmpeu isto, mas ficou o interesse.
Em minha pesquisas mais de uma vez encontrei referência à presença de cristãos-novos, ou marranos, na ascendência de muitas famílias sertanejas, inclusive a minha. Estes cristãos-novos eram judeus portugueses e espanhóis, sefaraditas, convertidos à força no início da idade moderna na Península Ibérica. Muitos, apesar da conversão superficial, mantinham em segredo práticas da antiga religião e eram chamados de judaizantes. Com a colonização das Américas, muitos fugiram para cá e uma quantidade expressiva parece ter se deslocado o mais para o interior possível, procurando os sertões, terras onde a mão firme da Inquisição dificilmente alcançaria. Apesar de o catolicismo se ter tornado a religião da maioria dos descendentes destes judeus conversos, uma quantidade notável de rituais de origem claramente judaica persistiu em muitas comunidades sertanejas.
Depois de ler em um jornal que um rabino americano identificara costumes claramente judeus em um lugarejo no extremo oeste do Rio Grande do Norte, a fotógrafa Elaine Eiger e a jornalista Luize Valente tiveram a idéia de fazer um documentário sobre as práticas judaicas mantidas por diversas famílias do sertão nordestino. Surgiu daí o interessantíssimo “A Estrela Oculta do Sertão“. Li esta semana um artigo na revista Smithsonian, “The ‘Secret Jews’ of San Luis Valley”, que me mostrou algo óbvio e em que no entanto nunca tinha pensado muito: a presença de descendentes de judeus sefarditas em todo lugar onde houve colonização ibérica e a possibilidade de se comprovar geneticamente o que talvez não passasse de lendas ou tradições mal contadas.
Uma equipe de médicos americanos, discutindo sobre a incidência incomum de um tipo agressivo de câncer de mama em mulheres de origem hispânica do sul do estado do Colorado, na fronteira com o Novo México. Ao contactar uma oncologista de Nova Iorque, Ruth Oratz, pedindo conselhos sobre o caso, ela disse de forma enfática “Estas pessoas são judias, não tenho dúvidas”. Este tipo de câncer é causado por uma mutação observada quase que exclusivamente em descendentes de judeus do centro e leste da Europa. Claro, estas mulheres são hoje católicas, mas sua genética denuncia que são descendentes de cristãos novos que procuraram o sertão dos Estados Unidos. Por sorte, a Inquisição não dispunha da tecnologia de screening genético.

Pero Vaz de Caminha, a Heterose, a Evolução e a Raça Brasileira: Um Ensaio

Por Elton Luiz Valente
Senhores, isto não é uma hipótese, muito menos uma tese, nem contestação, talvez uma constatação e apenas um ensaio, uma digressão para aproveitar o restinho das férias.
Nestes tempos politicamente corretos, mas de idéias vazias e interesses torpes, uma expressão que traz a palavra “raça”, no que se refere às populações humanas, deve causar algum frisson, tanto entre os bem intencionados quanto entre os hipócritas. Digo já! Sou contrário às “cotas raciais” ou qualquer outra coisa do gênero. Na sua tentativa de juntar pela força da lei, as cotas segregam e eu sou a favor da mistura livre, da beleza da miscigenação. Nesse quesito, a História Brasileira é quase uma fábula, e nem é necessário citar Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre ou Sérgio Buarque de Holanda, renomados estudiosos da Brasilidade. Mas sobre a fábula, o médico, antropólogo, etnólogo, professor, ensaísta, poeta e primeiro radialista do Brasil, Roquette-Pinto, disse certa vez: “Martius demonstrou que a história do Brasil seria fábula ou romance se lhe faltassem as bases da etnografia regional, e da etnografia geral“.
Então vamos à História e aos fatos. Aqueles europeus caucasianos, ou judeus, ou outros quaisquer, segregacionistas, endogâmicos, principalmente os mais ricos, os da “nobreza”, da Europa, Estados Unidos, África do Sul (do apartheid calvinista), Austrália e etc., que por razões segregacionistas diversas como econômicas, religiosas ou de puro preconceito, praticavam e ainda praticam a endogamia, produziram como resultado aquela gente com muito peito e pouca bunda, para ficar só no fenótipo.
Por outro lado, aquele europeu que veio para o Brasil, sem pendor ou pudor segregacionista e com muita necessidade, e se deslumbrou com nossas índias nuas e com as pretinhas africanas cheias de charme, produziu no seu afã um choque genético racial, uma heterose, um vigor híbrido, um verdadeiro avanço no sentido da evolução humana, tanto Darwinista quanto sócio-cultural ou etnogenética, em todos os sentidos. Eis a Mulher Brasileira, com peito, bunda, brilho, inteligência e etc. Ou alguém aí não conhece a Juliana Paes?
Estes europeus, dados à miscigenação, vieram já no primeiro contingente da Esquadra de Cabral que aportou nestas terras. Aqueles dois grumetes que fugiram e os dois degredados que aqui foram deixados certamente estão entre eles e, de quebra, inauguraram a raça brasileira. Mas o ilustre da Esquadra é outro, chama-se Pero Vaz de Caminha. Há um trecho de sua famosa Carta – que a hipocrisia da Igreja Católica cortou de nossos livros de história – em que ele descreve, com maestria e deslumbramento, a anatomia pubiana de nossas índias. Vou transcrevê-lo daqui a pouco. Salomão, quando comparado a Pero Vaz de Caminha, perde de longe com o seu pretenso Cântico dos Cânticos. O poema de Salomão é uma tentativa de sedução fracassada de um bode velho. O trecho da carta de Caminha é o deslumbramento de um artista diante do novo, do inusitado e do belo.
E não sejamos machistas. A coisa aconteceu também, ou principalmente, do ponto de vista das mulheres. Muitas das Damas da Corte e muitas das mulheres dos senhores de engenho, barões e coronéis se deixaram seduzir pelos índios e pelos negros africanos.
Vide o caso (com trocadilho e em todos os sentidos) de Ceci e Peri – a nobre portuguesa e o índio guarani – Ficção? José de Alencar sabia das coisas! E tem mais. As índias e africanas também se deixaram seduzir por aqueles branquelas europeus. Na região leste de Minas Gerais tem uma história emblemática, em que a filha do Cacique de uma tribo dos Aymorés, Lorena, se apaixonou por um colonizador português. Diante da proibição veemente do Cacique, que era contra o romance, ela pulou de um despenhadeiro, na face escarpada de um paredão de granito que hoje recebe seu nome, Pedra Lorena, na cidade mineira de Aimorés. Triste e sublime amor. Qualquer semelhança com Romeu e Julieta ou Ceci e Peri, ou Iracema, terá sido mera coincidência.
Mas para a felicidade geral da nação, são muitas as histórias menos trágicas e mais libertadoras, como o famoso casamento de João Ramalho com Bartyra, filha do Cacique Tibiriçá, para horror de Padre Anchieta e seu séqüito de jesuítas do Planalto de Piratininga (São Paulo), pois João Ramalho, além de ter muitos filhos com outras índias, era um homem casado, cuja família ficara em Portugal.
Ainda no século XVI, os calvinistas (intolerantes e radicais extremados), cujas aventuras fracassaram por aqui, espalharam boatos de toda sorte na Europa, principalmente na França, apimentando-os com a nudez de nossas índias, para detratar o ilustre Nicolas Durand de Villegagnon, famoso Cavaleiro de Malta, Diplomata e Almirante francês que fundou a lendária França Antártica no Brasil. A França Antártica foi uma colônia francesa instalada no Rio de Janeiro por Villegagnon entre 1555 e 1567, e teve até uma capital na Baía de Guanabara, denominada Henriville em homenagem a Henrique III da França. Consta que a confusão armada pelos calvinistas envolveu até a belíssima Jacy, filha do temido e respeitado Cacique Cunhambebe, da tribo Tupinambá, amigo e colaborador de Villegagnon, com o qual redigiu um dicionário Tupi-Francês. E a França Antártica se perdeu, mais por conflitos internos e desentendimentos entre os próprios calvinistas, que aqui estiveram a convite Villegagnon, do que propriamente pela resistência portuguesa. Ou seja, fracassaram porque não souberam lidar com a liberdade que a natureza lhes proporcionava aqui.
E não vamos nos esquecer de Chica da Silva (ou Xica da Silva, como queiram), que é em si o resultado da preta no branco, e que encantou de forma arrebatadora o famoso contratador João Fernandes de Oliveira, nada menos do que o então mais poderoso e mais rico cidadão destas plagas. E a mulata se tornou A Rainha de Diamantina (Arraial do Tijuco) no século XVIII.
Se estas são as histórias dos famosos, dos nobres e as filhas dos caciques que, portanto, foram dignas de registros históricos, imagine-se o que não fez a peãozada, a plebe, e as não menos graciosas índias, negras e mulatas menos famosas, ou seja, o povão, principalmente os que aqui chegaram nos primeiros anos da colonização, como aqueles dois grumetes foragidos da Esquadra de Cabral, dos quais nem se sabe o nome, mas que escaparam de uma existência de horror e sevícias (sendo eles os seviciados) para viver a liberdade plena sob a glória e sobre as filhas de Tupã.
Então, para finalizar, voltemos à Carta de Caminha, onde ele descreve as índias de Pindorama. Este trecho da Carta deveria fazer parte da letra do Hino Nacional Brasileiro, de tão revelador que é. Primeiro porque Caminha demonstra conhecer bem o assunto, quando compara a anatomia feminina entre nossas índias e as damas de Portugal. Segundo, por sua segurança em tratar deste assunto com o Rei de Portugal e ainda dizer que as daqui são mais formosas do que as de lá. Terceiro, se Caminha com todo o domínio da matéria ficou deslumbrado com nossas índias, imagine quem ainda não tinha visto uma mulher completamente nua, ao vivo, e se deparou com uma Cunhã-Porã nas praias brasileiras. É impossível não misturar as raças.
Eis o trecho da Carta:
“…Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas de cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam.” “…E uma daquelas moças era tão tingida de baixo a cima, e certo era tão bem feita e tão redondinha, e sua vergonha tão graciosa que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições envergonhara, por não terem as suas como ela…
E fim de papo!

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