Desafios futuros à produção de hortaliças no Brasil

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A produção de hortaliças abrange cerca de uma centena de espécies que são cultivadas temporariamente.  Em 2011, a área cultivada com hortaliças foi de 946 mil hectares com volume de produção estimado em 19,4 milhões de toneladas. Acredita-se que o setor gere 2,4 milhões de empregos diretos (3,5 empregos/ha), cujo valor estimado da mão-de-obra empregada é estimado em 1,6 bilhão de reais (ABCSEM, 2011). Entretanto, a produção de hortaliças no Brasil deverá enfrentar na próxima década desafios prementes, alguns dos quais ainda carecem de respostas satisfatórias de pesquisa.

A aprovação do novo Código Florestal impõe ao setor agrícola limitações principalmente de cunho territorial e demanda respostas da área de pesquisa vinculadas ao incremento da produtividade com sustentabilidade e melhoria da qualidade do produto final. A crescente conscientização da sociedade sobre questões ambientais e o incremento da demanda sobre o uso dos recursos naturais pelas cadeias produtivas de hortaliças, se constituirão em fatores norteadores das atividades de pesquisa na área agrícola, visando o desenvolvimento de  sistemas  convencionais ou agroecológicos de produção com rastreabilidade, mais sustentáveis,  mais produtivos e mais eficientes no uso de insumos. Além disso, no Brasil os fatores conveniência, confiabilidade e saudabilidade, associados à qualidade do produto final, são reconhecidos por 34%, 23% e 21% dos consumidores brasileiros, respectivamente, como as principais tendências a serem buscadas.

Recentemente, tem-se verificado um aumento da renda per capita, com consequente migração de parte da população das classes mais baixas para a classe média. O incremento de renda e de nível educacional da população urbana brasileira tem criado um perceptível aumento na demanda por alimentos mais saudáveis. A percepção de que o consumo de hortaliças está ligado a um estilo de vida mais saudável põe esse grupo de espécies agrícolas em posição privilegiada, tendo-se ainda em vista que há muito espaço para expansão de produção, já que o consumo médio de hortaliças no Brasil ainda é baixo, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE (Anuário de Hortaliças 2013). A população de renda mais baixa é ainda a que menos consome hortaliças, com um consumo médio anual em torno de 19 kg/pessoa.

Por serem ricas em compostos bioativos, o consumo de hortaliças pode ainda auxiliar na melhoria do perfil nutricional da população brasileira. O consumo de hortaliças pode auxiliar na mudança de paradigma tão necessário em todo o globo terrestre: da cura para a prevenção de doenças. Apesar da associação com estilos de vida mais saudáveis, subsiste a preocupação da sociedade com o excesso de uso de agroquímicos na produção convencional de hortaliças, bem como para fertilizantes e água. Já são observados significativos conflitos pelo uso da água em importantes centros de produção de hortaliças no Sudeste e no Sul do país, principais regiões produtoras nacionais. Além da quantidade, a qualidade da água utilizada na agricultura é questão de grande importância na produção de hortaliças, inclusive na pós-colheita, tendo em vista que boa parte dos produtos olerícolas é consumida fresca.

O uso intensivo de fertilizantes pela olericultura e a grande dependência em importações desses insumos evidenciam o lado vulnerável da agricultura brasileira, fazendo com que o desenvolvimento de sistemas e práticas que aumentem a eficiência do uso de nutrientes seja uma questão crucial para a sustentabilidade econômica do setor. O incremento de renda média dos brasileiros, a legislação trabalhista vigente e a competição por parte de outras atividades econômicas tem tornado a mão de obra agrícola mais escassa e cara, criando desafios inéditos à produção e à pesquisa agrícolas brasileiras e a demanda por soluções inovadoras vinculadas à automação. No que diz respeito às mudanças climáticas, as projeções apontam para um aumento da temperatura média em todas as regiões brasileiras até o fim do século XXI. Projeta-se uma nova dinâmica do regime pluviométrico, tendendo, de modo geral, à maior concentração nos períodos chuvosos e maior escassez nos períodos secos.

Esse cenário pode alterar o comportamento de pragas e doenças, aumentando a importância de algumas e reduzindo de outras, bem como modificar a geografia de produção e sistemas de cultivo de diversas olerícolas, sendo o uso de ambientes protegidos uma das alternativas de controle para algumas espécies. Quanto às ameaças fitossanitárias, o Brasil encontra-se sob grande pressão no momento e deve permanecer assim nos anos vindouros. Segundo estimativas de especialistas da própria Embrapa, existem mais de 150 pragas e doenças prestes a entrar no território brasileiro. O aparecimento de ameaças potenciais às hortaliças, como por exemplo, a Helicoverpa armigera, lagarta polífaga identificada recentemente, que tem surpreendido produtores e pesquisadores pelo seu poder de destruição, causando prejuízos principalmente às lavouras de milho, soja e algodão, confere uma ameaça constante as diferentes hortaliças produzidas. Há ainda que se ressaltar os graves problemas causados pela mosca branca em diversas cadeias produtivas, como o feijão e o tomate, sendo que nesta última tem sido o vetor de viroses que ocasionaram prejuízos significativos nos últimos anos.

A pesquisa científica nessa área deverá certamente priorizar algumas áreas e ações estratégicas, visando tornar o setor, no Brasil, mais competitivo, aumentar o consumo interno de hortaliças e, futuramente, almejar mercados externos. Consigo vislumbrar algumas dessas prioridades:

• Expansão da base técnico-científica e avanço na fronteira do conhecimento, em temas como mudanças climáticas, mitigação de riscos ambientais e biológicos, meio ambiente, alimentos, nutrição e saúde, nanotecnologia, biologia avançada, automação e olericultura de precisão;

• desenvolvimento de sistemas produtivos mais sustentáveis, levando-se em consideração o zoneamento de risco climático e a elaboração de planos de manejo viáveis, visando o controle de pragas e doenças emergentes, decorrentes de mudanças climáticas;

• geração de tecnologias para sistemas orgânicos e/ou vinculadas à produção integrada de hortaliças, bem como o aprimoramento de normas e mecanismos de garantia de qualidade em culturas com suporte fitossanitário insuficiente (minor crops);

• desenvolvimento de fontes alternativas de insumos agrícolas e de tecnologias que maximizem a eficiência do uso da água e a qualidade do produto final;

• intensificação de pesquisa e geração de soluções em cultivo protegido de hortaliças para áreas urbanas e peri-urbanas;

•parcerias entre instituições dos setores público ou privado visando a automação de processos agropecuários e mecanização para pequenas áreas agrícolas;

• consolidação de estudos relacionados com Agricultura de Baixo Carbono – Programa ABC) em hortaliças;

• ações de pesquisa em genética e melhoramento de hortaliças, com foco no desenvolvimento de variedades e híbridos produtivos com maiores teores de compostos funcionais, resistência às principais doenças, maior eficiência de uso de água e fertilizantes, melhor qualidade sensorial e adaptados à temperaturas mais elevadas;

• redução de perdas pós-colheita de hortaliças, agregação de valor e conveniência às matérias-primas e desenvolvimento de práticas e processos agropecuários que contribuam para a manutenção da qualidade das hortaliças após a colheita;

• intensificação de atividades de PD&I ligadas à avaliação de compostos com propriedade funcional das hortaliças;

• desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e processos para a produção e a industrialização de alimentos seguros e nutritivos.

A agricultura brasileira precisa de uma revolução branca

Historicamente o consumo de hortaliças no Brasil tem permanecido baixo apesar de o país ser internacionalmente reconhecido como uma superpotência agrícola. As razões para esse aparente paradoxo são diversas e de resolução relativamente difícil. Há razões culturais, mas em geral concorda-se que o alto custo das hortaliças é uma das principais causas do baixo consumo. A população brasileira já superou as 200 milhões de pessoas e a renda média da população tem aumentado nos últimos anos. Apesar do que se esperava, no entanto, o consumo doméstico médio de hortaliças no país tem na verdade decrescido.

O Brasil é o maior país tropical e, como tal, apresenta uma grande variabilidade de climas e solos em seu território. Embora a produção de hortaliças sob ambiente protegido seja praticada desde o Sul subtropical até a região Amazônica quente e úmida, as razões por que se adotam práticas de agricultura protegida podem diferir de acordo com a região. O crescente interesse na produção de hortaliças sob ambiente protegido está associado ao aumento de renda dos consumidores, à urbanização da população brasileira e gradualmente à intensificação da preocupação com o alimento seguro, com o decréscimo no uso de pesticidas químicos e com o aumento na eficiência no uso de água e fertilizantes.

O uso intensivo de insumos e a grande dependência em importações denunciam o lado vulnerável da agricultura brasileira, tornando premente o desenvolvimento de sistemas e práticas que incrementem a eficiência no uso de insumos caso a sustentabilidade da cadeia de valor de hortaliças seja uma prioridade real. O já citado aumento na renda média do trabalhador brasileiro, a legislação trabalhista brasileira e a competição com outras atividades econômicas percebidas como menos árduas têm tornado a mão-de-obra para a agricultura escassa e cara, o que tem criado novos desafios para a produção agrícola. A própria pesquisa científica voltada ao setor tem sido pressionada a prover soluções inovadoras em termos de automação de práticas agrícolas, mecanização para pequenas áreas e principalmente a expansão da área de cultivo protegido de hortaliças.

A percepção de que o aumento na frequência de eventos climáticos extremos devidos às mudanças climáticas globais afetarão sobremaneira as áreas produtoras de hortaliças é um outro fator envolvido na intensificação da busca por soluções em cultivo protegido. Nunca é demais lembrar que os eventos climáticos imprevistos podem afetar não apenas a produtividade das hortaliças como a própria qualidade física das mesmas e já se tornou proverbial o fato de que o consumidor brasileiro “compra hortaliças com os olhos”.

A concentração da produção de hortaliças sob ambiente protegido ao redor de áreas metropolitanas, as quais são as maiores consumidoras deste tipo de produto, torna possível a redução da distância entre áreas produtoras e regiões consumidoras, favorecendo a redução de perdas devidas ao transporte inadequado por longas distâncias. É fato conhecido que as perdas de hortaliças após a colheita e antes de chegarem ao consumidor têm um papel importante na regulação do suprimento e consequentemente dos preços das hortaliças no Brasil.

Um fator que tem impedido a adoção mais ampla da produção de hortaliças em cultivo protegido no Brasil são as altas temperaturas internas, sentidas principalmente em empreendimentos no Centro-Oeste, no Nordeste e no Norte do Brasil, mas também presentes eventualmente no Sudeste e mesmo no Sul. A adoção de técnicas de controle da temperatura geralmente utilizadas em outras regiões do mundo, como a utilização de ar-condicionado, esbarra no alto preço da energia elétrica que inevitavelmente levaria ao aumento no custo de produção e no preço das hortaliças. Tendo em vista que o consumo doméstico médio de hortaliças pelo brasileiro gira em torno de 27 quilogramas por ano (na Coreia do Sul o consumo médio é de 170 quilogramas por habitante por ano), fica claro que o produtor brasileiro hoje ainda não pode se dar ao luxo de cobrar mais caro pela hortaliça produzida.

Há vários países em que a agricultura sob plástico atingiu níveis avançados de desenvolvimento tecnológico e altas produtividades. Estados Unidos, Espanha, Holanda e Israel vêm automaticamente à memória quando se fala sobre produção de hortaliças protegidas. Em termos de área de agricultura protegida e de nível tecnológico alcançado, é possível que nenhum desses citados se iguale à Coreia do Sul. Em 1970 a área sob cultivo protegido nesse país era de 762 hectares mas a associação entre governo, pesquisa e produtores incentivou um processo de desenvolvimento da agricultura protegida coreana como questão de segurança alimentar nacional, conhecido como White Revolution, a revolução do plástico na agricultura. Hoje há mais de 50 mil hectares de cultivo protegido na Coreia do Sul, com um forte setor hortícola gerando mais de 5 bilhões de dólares por ano.

A questão fundamental de se desenvolver soluções de pesquisa para a redução da temperatura interna no ambiente protegido permanece. Existem saídas técnicas, principalmente envolvendo técnicas e materiais na construção e cobertura de estruturas para cultivo protegido, utilizadas em vários países visando o controle das variáveis climáticas internas, principalmente temperatura e luminosidade. Estas técnicas ainda são pouco conhecidas e ainda menos utilizadas no Brasil, principalmente pela ausência de pesquisa e validação das mesmas em condições tropicais.

Em setembro de 2014, foi aprovado pela Embrapa em parceria com a Rural Development Agency da Coreia do Sul o projeto de cooperação técnica intitulado “Adaptação e introdução de estrutura e técnicas de controle ambiental e redução do uso de energia para a produção vegetal em sistema de cultivo protegido”, coordenado pelo lado da Embrapa pelo pesquisador Ítalo M. R. Guedes e pelo lado da RDA pelo pesquisador Kwon Joon-Kook. Os objetivos principais desse projeto são a capacitação de pesquisadores brasileiros em técnicas de otimização do cultivo protegido e controle e monitoramento da temperatura interna; e o desenvolvimento de técnicas para otimização das estruturas e controle climático interno em estufas adaptadas às condições brasileiras. É um primeiro e importante passo.

Hortaliças e inflação

As hortaliças têm sido acusadas de contribuírem para o aumento da inflação, em grande parte devido à sazonalidade de oferta e de preços ao longo do ano, ou seja, por grandes variações nos preços dependendo da quantidade de oferta dos produtos hortícolas de acordo com as estações. Isso parece acontecer particularmente com as espécies tomate, cebola, batata, cenoura e alface. Essas espécies não são produzidas em todas as regiões do Brasil em todas as épocas do ano. Na verdade, boa parte das hortaliças que em geral consumimos são originalmente de climas temperados ou frios e ainda não estão bem adaptadas a condições realmente tropicais, quentes e úmidas. Por uma série de razões, ainda não se consegue produzir satisfatoriamente  tomate, cenoura e batata na região Amazônica, por exemplo.

Até o início da década de 80 do século XX, as variedades de cenoura plantadas no Brasil eram exclusivamente variedades chamadas “de inverno”, as quais produziam exclusivamente no Sul do país. Com o desenvolvimento e lançamento da variedade Brasília, primeira variedade de cenoura dita “de verão”, resistente a condições mais quentes, esta olerícola deixou de ser uma espécie raramente vista nas mesas e nos pratos brasileiros, houve um decréscimo nas variações sazonais de oferta da mesma e os preços também deixaram de variar tanto. Aliás, a tropicalização de várias espécies agrícolas é uma das causas do sucesso da agricultura brasileira. O que poderia ser feito para diminuir o impacto da variação sazonal? Do ponto de vista técnico, tenho algumas ideias, que gostaria de explorar aqui.

Em primeiro lugar, acredito que o que foi feito para a cenoura deveria ser feito, se possível, também para outras culturas. A tropicalização de espécies agrícolas não é uma tarefa fácil e não se limita a inserir tolerância a altas temperaturas. Junto com altas temperatura e umidades vêm as doenças, principalmente fúngicas e bacterianas. Para hortaliças, não há possibilidade de tropicalização sem resistência ou pelo menos tolerância a doenças. Um grande desafio para a produção de solanáceas, como tomate e pimentão, na região Norte do Brasil, é a presença praticamente ubíqua de uma bactéria, a Ralstonia solanacearum, que causa a murcha bacteriana, nos solos daquela região.

O sucesso do cultivo não se limita à disponibilidade e à escolha de cultivares adequadas. Todo o sistema de produção deve estar adaptado às condições climáticas, de solo e mesmo culturais regionais. Há algum tempo presenciei um agricultor de Manaus que adquirira estufas israelenses e tentava produzir alface dentro das mesmas. A temperatura média certamente superava o conforto térmico da espécie e as plantas de alface rapidamente pendoavam, mesmo as de variedades com alguma adaptação ao calor.

Embora no exemplo anterior a escolha de estruturas protegidas não tenha sido adequada, não há dúvidas de que a garantia de disponibilidade mais homogênea de hortaliças ao longo do ano passa pela adoção mais ampla do cultivo em ambiente protegido. Aliás, uma das razões por que se migra para a agricultura protegida é a possibilidade de se produzir quando e onde normalmente não seria possível. Ainda há lacunas no conhecimento e na disponibilidade de tecnologias de controle ambiental para uma maior disseminação do cultivo protegido em regiões tropicais como boa parte do Brasil, mas já há equipes trabalhando intensamente no assunto.

A concentração da agricultura protegida ao redor de centros urbanos, maiores consumidores de hortaliças, torna possível a aproximação dos centros produtores e dos centros consumidores, diminuindo as perdas devidas ao transporte inadequado de longas distâncias. As perdas pós-colheitas certamente têm um papel importante na oferta de hortaliças e consequentemente nos preços. Para algumas espécies, no Brasil, as perdas após a colheita chegam a 40%, por uma série de razões. Ainda na fazenda há perdas, principalmente por armazenamento inadequado – poucas são as propriedades com casas de embalagem (packing houses) ou estruturas de refrigeração. O próprio padrão exigido dos produtos é causa de perdas em alguns casos. Estima-se, por exemplo, que pelo menos 20% da cenoura produzida na região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais, perdem-se no campo simplesmente porque não exibem o padrão de tamanho e grossura exigidos pelo mercado.

Perdas pós-colheita são um problema extremamente complexo. As causas das perdas, não apenas de hortaliças, são várias. Perde-se nas propriedades, perde-se no transporte em estradas de má qualidade, em caminhões sem refrigeração, com acondicionamento inadequado. Perde-se quando o produtor “tomba” ou transfere seu produto de suas caixas, não raro de madeira, para as caixas de comerciantes nas centrais de abastecimento, onde as hortaliças via de regra permanecem sem refrigeração até irem para os supermercados, onde igualmente se perde pelo empilhamento excessivo nas prateleiras, que continuam sem refrigeração.

Enfim, há muito o que se fazer, em termos de pesquisa, mas principalmente em termos de transferência de tecnologia e de subsídios públicos. Vários atores devem conversar harmoniosamente – Ministérios da Fazenda, da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário, do Planejamento, instituições de pesquisa e de extensão rural, agências de fomento. O setor de produção de hortaliças se ressente da ausência de estatísticas confiáveis e atualizadas – dados econômicos, mas também geográficos e de produção, para que se possa planejar racionalmente a produção.

Programa “Conexão Ciência” sobre cultivo de hortaliças em ambiente protegido.

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O que Steve Jobs teria a dizer sobre uma variedade de hortaliça?

Recentemente eu e um colega conversávamos sobre uma variedade de hortaliça muito promissora com que trabalhávamos mas que mostrara uma maior susceptibilidade à deficiência de cálcio que outras sendo desenvolvidas. O cálcio faz parte da composição de pectatos de cálcio os quais auxiliam na resistência estrutural da parede celular, a qual confere firmeza ao tecido vegetal. Esse problema era de tal monta que, sob determinadas condições, o fruto chegava a rachar antes de colhido, tornando-o imprestável para o mercado.

Discutindo possíveis estratégias para minimizar ou evitar o problema, meu colega fez a sensata sugestão de determinarmos a quantidade a mais de cálcio que essa variedade precisava para os frutos não racharem e recomendarmos aos produtores que suplementassem a adubação com aplicações extras do nutriente no início da frutificação. Sem dúvida, esta seria a solução mais simples…para nós, pesquisadores.

À medida que o país se urbaniza e a renda média da população aumenta, a mão de obra no campo escasseia de forma assustadora e torna-se mais cara, em muitos casos representando a maior fatia nos custos da produção agrícola. Duas ou três aplicações suplementares de adubo podem representar a diferença no custo de produção que levarão o produtor a escolher uma outra variedade talvez não tão produtiva mas que não exija este gasto extra de mão de obra por não apresentar esta menos eficiência no uso de cálcio.

Para mim, a melhor solução (e eu me inspiro escancaradamente na visão de Steve Jobs) seria ter mais trabalho no processo de melhoramento, tentando corrigir, por meio de cruzamentos direcionados e seleção, esta menor eficiência na aquisição ou no uso de cálcio e lançando um produto mais pronto e certamente mais competitivo por vir a realmente facilitar a vida do produtor.

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