Transição agroecológica

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Melhoramento genético da batata-doce

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Hortaliças orgânicas só podem ser produzidas com sementes orgânicas?

Carlos Alberto Lopes, pesquisador da Embrapa Hortaliças

Uma das formas mais eficientes de disseminação de patógenos de plantas, em especial a longas distâncias, é por meio de sementes contaminadas (infestadas e/ou infectadas). Por isso, para oferecer garantia de seu produto, as grandes empresas fazem alto investimento na produção e no controle de qualidade das sementes que comercializam. Na produção, levam em conta uma série de medidas preventivas de controle fitossanitário, como a escolha de local de plantio, a época de plantio, o tipo de irrigação, o monitoramento constante de pragas e as pulverizações preventivas, dentre outras. E, para dirimir dúvidas quanto à sanidade da semente produzida, utilizam técnicas modernas e sofisticadas, inclusive moleculares, conscientes de que, ao adquirir a semente “sadia”, o produtor evita importante fonte de inóculo inicial no sistema produtivo, ou seja, elimina o “patógeno” do triângulo representativo da doença: patógeno, hospedeiro e ambiente. Assim, cumpre-se o preceito epidemiológico de que, sem patógeno, não há como a doença se instalar e causar danos.

Na realidade, qualquer semente pode estar contaminada com algum patógeno, mesmo tendo sido produzida por firma idônea e mesmo que tenham sido seguidas todas as boas práticas agrícolas, inclusive com aplicação de agrotóxicos. Isso porque, em algumas situações, patógenos podem não causar sintomas visíveis nas plantas (infecção latente) na ocasião em que passam por inspeções visuais em campos de produção de sementes. Além disso, mesmo que sintomas venham a aparecer, eles podem passar despercebidos quando em baixa incidência, devido à dificuldade de coleta de amostras representativas do lote e limitações dos testes de detecção atualmente disponíveis.

Estando a semente contaminada com um patógeno, o risco de a doença que ele causa vir a se manifestar é variável, e será maior quanto mais suscetível for a cultivar e mais favorável for a condição ambiental. Por exemplo, sob clima quente e chuvoso, somente uma semente de tomate infectada com Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis ou de repolho infectada com Xanthomonas campestris pv. campestris em um lote de 10.000 sementes é suficiente para provocar uma epidemia de cancro-bacteriano e podridão-negra, respectivamente. Assim, o produtor de alimentos, inclusive o de orgânicos, não pode abrir mão da sanidade da semente sob a pena de perder um robusto componente do controle: a supressão do inóculo inicial, ou seja, o patógeno no triângulo da doença.

Fato é que um importante aliado na produção de plantas isentas de doenças, em especial aquelas causadas por patógenos transmitidos pelas sementes, é o controle químico, principalmente por meio de fungicidas, muitos deles com alta eficácia quando aplicados de maneira e momento corretos. Poisso, se a produção de semente de boa qualidade fitossanitária em sistema convencional de cultivo já é tarefa difícil, na agricultura orgânica torna-se ainda mais complexa. Portanto, para garantir a mesma sanidade das sementes, há necessidade de o produtor “orgânico” compensar a ausência do controle químico pela adoção muito mais rigorosa das outras medidas preconizadas no controle integrado.

O aspecto complicador dessa situação é que, em países de clima tropical, como o Brasil, boa parte das medidas alternativas ou complementares ao controle químico são consideradas inviáveis em certas regiões de produção, seja por isolamento inadequado de outras lavouras, ambientes úmidos, correntes de vento desfavoráveis, solos argilosos, vegetação nativa hospedeira de patógenos e vetores etc. Assim, mesmo que muitas medidas de controle sejam executadas dentro das boas práticas culturais, existe um grande risco de ocorrência de doenças nas plantas e, consequentemente, nas sementes, levando-se em conta que as mesmas rígidas normas dos sistemas convencionais sejam seguidas nos sistemas orgânicos.

É bom lembrar que o princípio básico da agricultura orgânica, que é a possibilidade de conviver com a presença de patógenos e admitir pequenos danos na lavoura, não é tolerado para a produção de sementes. Sob o ponto de vista epidemiológico do controle eficaz, diferentemente do que pode ocorrer com a parte vegetativa da planta, a semente tem que ser sadia… e ponto final. O produtor, certamente, não admitirá arriscar a contaminação da sua lavoura e da sua área de produção pelo plantio de lotes suspeitos de sementes.

Feitas essas colocações, fica a pergunta, que pode ser subsídio a uma discussão mais ampla “do ideal e do possível” para a agricultura orgânica: Onde reside “pecado” maior: Utilizar sementes que tenham sido produzidas fazendo uso de produtos de baixa toxicidade humana  e que poderiam até ser analisadas para tolerância de resíduos? Ou correr o risco de não ter disponível um insumo (sementes genuinamente orgânicas) ou tê-lo caro e/ou desprovido de garantia e confiabilidade necessárias, visto que podem comprometer os sistemas de produção de alimentos orgânicos?

A Câmara Temática da Agricultura Orgânica, na sua última reunião de 2013, se posicionou com maturidade ao revisar a Instrução Normativa (IN) nº 46, de 6 de outubro de 2011, que proibia, a partir do dia 19 de dezembro de 2013, a utilização de sementes e mudas tratadas, permitindo apenas o uso de sementes orgânicas. Nesta reunião, a Câmara propôs a revogação do prazo desta obrigatoriedade dada à escassez de sementes orgânicas para atender ao processo de certificação da cadeia produtiva. Prevaleceu a autoridade no assunto e o bom senso do Dr. Rogério Dias, coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura (Mapa):  “Se as normas forem muito complexas, desestimulam os produtores. Este esforço da Câmara consiste em enxugar e adaptar a legislação à realidade”.

Como sugestão para o estabelecimento de normas para a produção orgânica: 1) estender o uso atual de sementes convencionais, como atualmente permitido, porém aprovando sementes com baixo resíduo de agrotóxicos (empresas interessadas se encarregariam das análises de resíduos) ; 2) a médio prazo, normatizar o uso de alguns produtos químicos de baixa toxicidade, de ação exclusivamente de contato e facilmente biodegradados no solo para a proteção da lavoura destinada à produção de “semente orgânica”; 3) prospectar áreas e regiões  que possibilitem os candidatos a produtores de “sementes verdadeiramente orgânicas” (este termo não é apropriado, mas compreensível no contexto) se organizem para terem as respostas quanto à viabilidade técnica e econômica de produção, além da capacidade de atender a demanda nacional.

Agricultura orgânica ganha páginas de almanaque infantil

HORTA E LIÇA - GIBI 4

 

Criado para incentivar o consumo de hortaliças pelo público infantil, o Almanaque Horta & Liça traz histórias em quadrinhos e diversos passatempos que aliam lazer e informação. A proposta é estimular entre os pequenos novos e bons hábitos – tanto o da leitura quanto o da alimentação saudável – e tudo isso com uma abordagem lúdica e descontraída.

Em sua quarta edição, a publicação, idealizada pela Embrapa Hortaliças (Brasília/DF), explica como funciona o sistema de produção orgânico à turminha do Zé Horta e da Maria Liça. Quem não vai gostar nada do assunto é a Marina, que se assusta com as minhocas no solo, mas isso até descobrir que os túneis cavados por elas são essenciais para a ventilação das raízes das plantas e para a infiltração da água da chuva.

Eles vão aprender que na agricultura orgânica o que vale é produzir sem prejudicar o meio ambiente, por isso, os produtos químicos são proibidos nesse sistema de cultivo. Assim, o modo de produção orgânica preserva a biodiversidade e garante uma salada mais saudável.

Embrapa & Escola
O almanaque Horta & Liça é distribuído para instituições de ensino e para as crianças que visitam a Embrapa Hortaliças por meio do programa Embrapa & Escola. Em 2012, mais de 1300 alunos de escolas da rede pública e privada conheceram a Unidade, os campos experimentais, as casas de vegetação e uma horta demonstrativa com produtos como alface, pimenta, berinjela, cebolinha, tomate, cenoura, entre outros.

De acordo com Orébio de Oliveira, responsável pelo programa na Unidade, o almanaque tem uma aceitação muito boa entre os pequenos. “Eles ficam felizes com o brinde e logo começam a folhear as páginas para ler as histórias e preencher os passatempos”, conta.

Ele ainda diz que a animação é tanta que o brinde tem que ser entregue no final para não atrapalhar o andamento da visita. Este ano, o período de visitação vai até novembro e as escolas interessadas podem fazer o agendamento pelo telefone (61) 3385.9110 ou cnph.sac@embrapa.br.

 

Divirta-se!
Nos links abaixo, é possível conferir as aventuras do Zé Horta e sua turma.
– Almanaque Horta & Liça – Número 1
– Almanaque Horta & Liça – Número 2
– Almanaque Horta & Liça – Número 3
– Almanaque Horta & Liça – Número 4

 

Paula Rodrigues (MTB 61.403/SP)
Assessoria de Imprensa
Núcleo de Comunicação Organizacional (NCO)
Embrapa Hortaliças
Tel.: (61) 3385-9109
E-mail: paula.rodrigues@cnph.embrapa.br 

Bactérias que promovem o crescimento de plantas

A Agronomia é muito mais do que simplesmente adubar e aplicar agrotóxicos, como querem alguns muito mal informados. Minha visão da ciência agronômica está muito mais para uma Ecologia Aplicada ou uma Eco-engenharia, o que não impede, obviamente, que certos profissionais manchem a profissão em prol de interesses imediatistas. Mas quero falar mesmo é da beleza oculta da verdadeira Agronomia e, para isso, sirvo-me de um artigo recentemente publicado na Scientia Horticulturae, periódico da editora Elsevier, intitulado “Effects of plant growth promoting bacteria (PGPB) on yield, growth and nutrient contents of organically grown strawberry“.
Neste trabalho, realizado na Turquia com morango produzido sob sistema de agricultura orgânica, Esitken e colaboradores (2010) observaram que a aplicação, nas folhas e/ou nas raízes, de bactérias promotoras do crescimento vegetal (Plant Growth Promoting Bacteria) durante 3 anos de safras estimulou tanto o crescimento das plantas quanto a produtividade da cultura. Os pesquisadores usaram estirpes de bactérias dos gêneros Pseudomonas e Bacillus.
Em relação ao tratamento que não recebeu a aplicação de bactérias, houve um aumento estatisticamente significativo no número de frutos pela aplicação de vários tratamentos contendo as bactérias. Além disso, os conteúdos dos nutrientes minerais fósforo e zinco foram maiores nas folhas das plantas tratadas, indicando que elas estavam mais bem nutridas. Além do efeito nas plantas, os tratamentos contendo bactérias parecem ter proporcionado aumento na disponibilidade de fósforo no solo, embora eu ache que esse possa ter sido um efeito indireto pelo estímulo a maior produção de ácidos orgânicos pelas plantas.
É um bonito exemplo do uso agronômico de microrganismos que ocorrem naturalmente no solo, mas em quantidades normalmente muito pequenas, como um “biofertilizante”. Mas o que e quais são estas “bactérias promotoras do crescimento vegetal”? São espécies de bactérias normalmente associadas ao solo em torno das raízes (rizosfera), mais rico em compostos orgânicos, e que por uma série de mecanismos, beneficiam as espécies vegetais, agrícolas ou não, em termos de crescimento e produção.
Os efeitos benéficos das bactérias em questão são comumente imputados à produção de certas substâncias, liberadas por este organismo no ambiente que circunda as raízes, a já referida rizosfera. Estas substâncias podem ser hormônios que estimulam o crescimento vegetal, como auxinas, citocininas, giberelinas; compostos que aumentem a solubilidade e disponibilidade de formas inorgânicas do nutriente fósforo, como ácidos orgânicos de baixo peso molecular, ou que facilitem a mineralização/disponibilização de formas orgânicas de vários outros nutrientes.
Boa parte da ação estimuladora das bactérias promotoras do crescimento vegetal é conseguida através da ação antagonista contra microrganismos fitopatogênicos (que causam doenças em plantas), quer seja pela liberação de enzimas, quer pela produção de substâncias antibióticas ou fungicidas; ou ainda pela competição por recursos (alimento). Acredito que certos solos tidos como naturalmente produtivos, como as Terras Pretas de Índio, devem sua fama em parte também a fatores que estimulam o crescimento deste grupo de bactérias.

Agricultura orgânica pode ser tão produtiva quanto a convencional

Em um post recente discuti brevemente algumas características da agricultura convencional que a fazem se afastar de qualquer conceito que se procure de sustentabilidade. Uma das críticas mais comuns que se faz em relação a qualquer alternativa às práticas convencionais de agricultura é a incapacidade de alcançar patamares comparáveis de produtividade, que seria a produção de biomassa colhível por unidade de área. A preocupação sem dúvida é relevante, tendo em vista a enorme e ainda crescente população mundial a alimentar. As técnicas alternativas de agricultura em geral enfatizam a substituição do uso intensivo de insumos externos (fertilizantes, agrotóxicos, sementes híbridas, combustíveis fósseis) por técnicas possivelmente mais sustentáveis como a utilização de adubação verde, rotação de culturas, controle biológico de pragas e cultivo mecânico do solo, quando necessário. Apesar de os adeptos pregarem as benessesdeste tipo de agricultura, a nosso ver até há pouco havia pouca pesquisa isenta publicada em periódicos revisados por pares confiáveis. Esta situação parece estar mudando e vem derrubar alguns mitos criados pelos defensores da agricultura de uso intenso de insumos externos. Neste mês de setembro foi publicado no tradicional periódico Agronomy Journal o primeiro de uma série de trabalhos analisando a produtividade, a lucratividade e o impacto ambiental de sistemas orgânicos de cultivo em comparação com sistemas convencionais em um estudo de longo prazo intitulado Wisconsin Integrated Cropping Systems Trials (WICST). O primeiro artigo, sob o título “Organic and Conventional Production Systems in the Wisconsin Integrated Cropping Systems Trials: I. Productivity 1990–2002” é de autoria dos cientistas Joshua L. Posner, Jon O. Baldock e Janet L. Hedtcke. Entre outras coisas, os autores concluíram que, em termos de pastagem, o sistema orgânico possibilita a mesma produção de biomassa que o sistema convencional. Isto quer dizer que a produção de carne e leite por bovinos não seria afetada, sob as condições em que os estudos foram desenvolvidos, pela substituição do cultivo convencional de espécies forrageiras por práticas orgânicas. Quanto à produção de grandes culturas, no caso milho, soja e trigo, a produção média atingiu 90% da produção sob cultivo convencional. “Ah”, suspiram aliviados os que pregam dogmaticamente a agricultura convencional, “não dissemos? A produção orgânica é menor mesmo”. Mas a questão não é tão simples. Segundo os autores do trabalho, os resultados médios para soja e milho mascaram uma dicotomia na produtividade das grandes culturas: nos cultivos orgânicos, ao invés do uso de herbicidas para controle de espécies adventícias (ervas daninhas ou inços), faz-se uso do cultivo mecânico com enxadas, enxadas rotativas, roçadeiras ou outros implementos. Obviamente, ao contrário dos herbicidas, o controle mecânico não apresenta efeito residual. Assim, dependendo das condições de crescimento das culturas principais e da frequência de cortes, o controle mecânico pode ser mais ou menos eficiente. Posner e colaboradores observaram que nos casos em que houve diminuição na eficiência do controle mecânico, a produtividade média do milho e da soja orgânica foi de 74% da produtividade sob plantio convencional. Por outro lado, quando a eficiência do cultivo mecânico não foi comprometida, a produtividade relativa dos cultivos orgânicos atingiu o patamar de 99% dos valores sob sistemas convencionais de cultivo! Qual a implicação disto? Se as capinas forem bem feitas, não há razão para se utilizar, em termos de produtividade, para não se adotar as práticas orgânicas. Claro, a intensidade de trabalho para se cultivar mecanicamente um campo agrícola é muito maior que o cultivo com herbicidas, podendo influenciar o custo final e a lucratividade do empreendimento. Isto será tratado nos trabalhos a ser publicados pelo grupo e certamente os comentaremos. Começa no entanto a ficar claro que as críticas em relação ao cultivo orgânico sofreram um grave revés. Aos que desejarem, podemos disponibilizar por e-mail o arquivo em PDF do artigo.

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