Norman Ernest Borlaug, 1914-2009
Com tristeza soube e noticio o falecimento deste grande ser humano e agrônomo cuja história de vida e cujas opiniões admiro e respeito. Desde domingo venho planejando escrever um post sobre este agrônomo excepcional, Norman Borlaug, considerado por alguns como o grande herói de nossos tempos, ganhador do Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho de pesquisa em melhoramento de trigo que indubitavelmente matou a fome de milhões de seres humanos, infelizmente quase completamente desconhecido do grande público. Infelizmente as obrigações profissionais não me deixaram ainda tempo para compor o texto. Copio a seguir um texto divulgado na Folha de São Paulo, mas garanto que assim que puder, publicarei minhas impressões sobre este herói de nossos tempos.
Claudio Angelo escreve para a “Folha de SP”:
Morreu no último dia 12 de setembro nos EUA, aos 95 anos, o agrônomo Norman Borlaug, arquiteto da “Revolução Verde” e talvez o único ser humano que pudesse dizer, com justiça, que salvou centenas de milhões de vidas.
O americano Borlaug foi o responsável pelo desenvolvimento de variedades de trigo e de um pacote de técnicas agrícolas que impediram uma mortandade em massa na Índia, no Paquistão e nas Filipinas nos anos 1960. Graças a suas pesquisas, esses países praticamente dobraram sua produção do cereal em apenas cinco anos.
O trabalho ajudou nações do Terceiro Mundo a se tornarem autossuficientes na produção de grãos, rompendo um ciclo histórico de baixa produtividade e dependência extrema de chuva que matava de fome dezenas de milhões em certas regiões durante secas anormais.
“Norman Borlaug salvou mais vidas do que qualquer homem na história”, disse Josette Sheeran, diretora-executiva do Programa de Alimentação das Nações Unidas. “Seu coração era tão grande quanto sua mente brilhante, mas foram sua paixão e sua compaixão que moveram o mundo.”
Por seu trabalho, Borlaug ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1970, mas também a antipatia dos ambientalistas: o pacote de práticas agrícolas exportado para a Ásia, que depois virou padrão no mundo todo, incluía o uso maciço de fertilizantes à base de nitrogênio – poluentes da água – e levou à expansão acelerada da área cultivada no mundo, inclusive no Brasil, à custa dos ecossistemas.
A esses críticos, o agrônomo tinha uma resposta na ponta da língua: “Para aqueles cuja principal preocupação é defender o ‘ambiente’, vamos olhar o impacto que a aplicação da agricultura baseada na ciência teve sobre o uso da terra. Se a produtividade dos cereais de 1950 tivesse permanecido em 1999, teríamos precisado de 1,8 bilhão de hectares adicionais de terra da mesma qualidade, em vez dos 600 milhões que foram usados”, escreveu, num artigo publicado em 2002.
Nas últimas duas décadas, tornara-se um defensor fervoroso dos transgênicos, vendo-os como ferramentas principais de uma nova “Revolução Verde”. O instituto onde trabalhava e que dirigiu por três décadas, o Cimmyt (Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo), no México, desenvolve transgênicos para distribuir, de graça, na África.
Revolução silenciosa
Nascido no Estado de Iowa em março de 1914, Norman Ernest Borlaug foi trabalhar no México em 1943, numa parceria entre o governo e a Fundação Rockefeller para a pesquisa agrícola. Ali ele iniciou o desenvolvimento de variedades de trigo resistentes a doenças e a vários estresses ambientais.
Um dos truques usados por Borlaug foi criar plantas no nível do mar e a 2.500 metros de altitude e cruzá-las depois, combinando suas resistências.
As novas linhagens, auxiliadas pelo uso intensivo de fertilizantes, passaram a produzir tanto que o peso das espigas quebrava o caule. A resposta de Borlaug foi buscar uma variedade anã de trigo no Japão e cruzá-la com suas plantas resistentes, dando origem ao trigo anão mexicano. Com duas vezes a produtividade do trigo comum, o novo grão foi adotado com sucesso no México em 1961 e distribuído para a Ásia a partir de 1965, produzindo safras “milagrosas”. O sucesso foi reproduzido com arroz e depois com outros cereais.
O sucesso das novas variedades aconteceu numa década marcada por um pesadelo malthusiano: a explosão populacional humana levaria ao colapso da civilização. Tal temor foi expresso no livro “A Bomba Populacional”, de Paul Ehrlich.
“Três ou quatro décadas atrás, quando tentamos levar essa tecnologia à Índia, ao Paquistão e à China, eles diziam que nada poderia salvar aquelas pessoas, que a população tinha de morrer”, disse Borlaug em 2004.
No entanto, ele pregava insistentemente contra “o crescimento irresponsável da população”. “Ainda temos um número alto de pessoas miseráveis e famintas, e isso contribui para a instabilidade”, disse, em 2006. “A miséria humana é explosiva, não se esqueça disso.”
rlaug morreu em Dallas, em decorrência de complicações de um câncer. Deixa dois filhos, Norma Jean e Bill, cinco netos e seis bisnetos.
(Com Associated Press)
(Folha de SP, 14/9)