Feliz 2009 para todos!

Gostaria de desejar à toda comunidade Geofágica (by Elton Valente) um excelente 2009. Que aproveitemos esse momento de crise para repensar nossas atitudes e que os ensinamentos passados sejam efetivamente aproveitados para conduzir-nos à um futuro melhor.
PS: A segunda parte do vídeo sobre a suposta Farsa do Aquecimento Global ficará para sexta-feira, 2 de janeiro de 2009. As razões para tal são as festas de fim de ano e a baixa “audiência” nesse período. Espero que todos compreendam.
Carlos Pacheco

Um desafio!

Há alguns dias recebi um e-mail afirmando que os defensores do aquecimento global foram desmascarados por um documentário exibido pelo canal 4 britânico. Havia ainda um desafio: postar os vídeos no blog e discutí-los. Confesso que climatologia não é minha principal “praia”, mas resolvi aceitá-lo. No entanto, resolvi fazer um pouco diferente, vou também abrir o desafio para os leitores geofágicos. Os vídeos, no Youtube, estão fragmentados, portanto, tentarei postá-los com uma certa periodicidade, a cada dois dias. Defensores e questionadores dessa teoria preparem-se para uma jornada de alguns dias de discussão. Segui abaixo o primeiro vídeo.

Comentário 1: Na minha opinião esse primeiro vídeo é tão fundamentalista quanto aqueles religiosos ou mesmo ambientalistas defensores da teoria do aquecimento global. Sem apresentar dados, parece uma lavagem cerebral inicial intensionalmente colocada para levar o telespectador à conclusões semelhantes aos autores do documentário. Que venham os comentários e o segundo vídeo.
Carlos Pacheco

Geófagos é um dos finalistas do Best Blog Brazil 2008!

É com muito orgulho que anuncio que o Geófagos é um dos finalistas ao Best Blog Brazil 2008. Nosso blog concorre na categoria ciências. Contamos com os votos de todos nossos leitores. A votação pode ser feita aqui. Para isso, inicialmente é necessário se cadastrar.
Ah! Com igual orgulho também comunico que dos 10 blogs finalistas da categoria, 7 são do lablogatórios. Parabéns aos labrothers indicados.
Segue abaixo a lista dos finalistas da categoria Ciências.
O cientista – http://ocientista.com
Brontossauros em meu jardim – http://lablogatorios.com.br/brontossauros
Lablogatórios – http://www.lablogatorios.com.br
Rainha Vermelha – http://lablogatorios.com.br/rainha
Rastro de Carbono – http://lablogatorios.com.br/rastrodecarbono
Geófagos – http://lablogatorios.com.br/geofagos
42 – http://lablogatorios.com.br/uoleo
Blog do Planeta – http://colunas.epoca.globo.com/planeta/
Universo Fisico – http://lablogatorios.com.br/universofisico
Xis-xis – http://xisxis.wordpress.com/

PARA ESCLARECER ALGUNS FATOS

Por Elton Luiz Valente

Eu imaginava até há pouco que não haviam dúvidas, tanto para os nossos leitores mais assíduos, quanto para os leitores fortuitos, de que o Geófagos é uma página que tem como norte a Ciência e, entre outras coisas, defende a Teoria da Evolução de Sir. Charles Darwin como a explicação lógica, fundamentada em bases científicas, para explicar a vida na Terra. Mais que isso, consideramos também que Darwin é um marco na história da ciência e da humanidade.

Às vezes nossos artigos, principalmente os meus, são redigidos com uma boa dose de bom humor e ironia. O que pode ser percebido na maioria dos meus textos, inclusive nesse último, intitulado “O Vestibular do Juízo Final”.

Parece que alguns leitores não entenderam isso, ou pelo menos um, o que já é suficiente para justificar este esclarecimento. Referindo-se ao artigo mais recente, e confundindo tudo, o leitor me enviou ontem um e-mail com a seguinte afirmação:

“… infelizmente temos uma dicotomia insanável: sou ateu, não posso considerar textos ou deduções ou considerações que não tenham base lógica, comprováveis e acima de tudo, com evidências” (sic.).

Santa Maria Madalena! Meu Deus! São Charles Darwin! Alguém que “não pode considerar” determinados textos, quaisquer textos, é um fundamentalista de sua própria crença, seja ela qual for; mesmo a crença de que não existe Deus. Pois o fundamentalista não admite nenhuma forma de pensamento diversa da sua. Não admite nem mesmo conhecer os argumentos da parte contrária. É daí que nasceram todos os males da humanidade. Vale a pena repetir! É daí que nasceram todos os males da humanidade!

Quem quer defender uma causa com bases éticas, morais e científicas não pode abster-se de considerar os argumentos da outra parte. É o mínimo que se espera da conduta de adversários dignos. Até porque a crítica bem fundamentada é aquela que se espera vir de uma autoridade que detenha pleno conhecimento do objeto criticado. Senão ela não tem valor, torna-se vazia em si mesma.

A quem ainda não percebeu, o Geófagos defende a Teoria da Evolução, o Geófagos é Darwinista, mas nós não somos radicais. Ao contrário, nós defendemos o diálogo bem fundamentado, sem viés fundamentalista, sem radicalizar, sem fazer da ciência um dogma. Portanto não apoiamos, por exemplo, atitudes como a de Richard Dawkins na sua “cruzada” contra os Criacionistas, ainda que Dawkins seja um cientista brilhante, como o é.

O objetivo deste cronista que vos escreve não é jactar-se ateu, ou transformar Criacionistas em Evolucionistas, ou Religiosos em Ateus. Não! O que se quer é apenas falar de Ciência numa forma mais “palatável”, às vezes ironizando, às vezes brincando com temas bíblicos. E nesta área da religiosidade, mostrar, com argumentos racionais, plausíveis, com bom humor, que os seres humanos não são anjos decaídos e sim animais diferenciados em alguns aspectos (alguém já disse algo parecido com isso, não me lembro quem).

É preciso respeitar todas as formas de entender o mundo. Elas só não podem virar dogmas, nem projetos políticos, nenhuma delas. É contra isso que se precisa lutar. A espiritualidade, a religiosidade, que são sentimentos entranhados na essência humana, deveriam ser usados apenas para fins pacíficos e lúdicos, nada mais. E que não existissem problemas em brincar com essas coisas.

Para finalizar, eu, particularmente, considero que Deus é apenas o efeito colateral da inteligência humana. Mas devo, no mínimo por questões éticas, respeitar aqueles que crêem na Santíssima Trindade, ou coisa parecida, desde que eles também respeitem a minha forma de enxergar o mundo e o universo. Mas para isso, eu não me abstenho de ler bons livros, a Bíblia inclusive, nem mesmo aqueles panfletos que “missionárias” e “missionários” eventualmente deixam em minha porta. Somos livres para discordar e criticar, mas é preciso ter conhecimento e bases argumentativas sólidas, racionais e éticas. Para tanto é preciso ler, TUDO, mesmo que você não concorde com nada. É o que eu recomendo para os nossos estimados leitores.

E não me abstenho de desejar um Feliz Natal a todos, indistintamente.

O Vestibular do Juízo Final

Por Elton Luiz Valente

No meu artigo anterior, fiz uma defesa do modo de vida Neolítico (e deveria ter recomendado também este post aqui, do Ítalo Rocha). No meu entusiasmo por reforçar essa defesa do Neolítico, admito que tenha cometido um possível equívoco. Eu afirmei que vamos todos pro buraco com nossa parafernália hi-tech, de uma tacada só, xeque-mate! E talvez não seja bem assim.

Digo isto porque, colocando a coisa dessa forma, eu estou subestimando os meus conterrâneos da Cabeceira do Rio São Mateus, do Jequitinhonha, do Sertão Nordestino, os Caboclos do Pantanal e da Região Amazônica. Essa gente, para usar uma expressão muito bacana de um amigo da pós-graduação, é uma “Galera Roots”. Não é qualquer pirotecnia do Criador em fúria que vai acabar com eles, não! Pois trata-se de um povo que sabe lidar com a natureza e com gente irascível, geniosa e estressada como o Onipotente quando se zanga. E ao que tudo indica, de acordo com os Profetas do Apocalipse e do Aquecimento Global, vêm dias difíceis por aí. O Criador está zangado e vai aprontar das suas, de novo.

Gosto muito dessa expressão “Roots”, não pelo que ela sugere de rusticidade, mas pelo que ela revela de apego à terra, de intimidade com o solo, com a natureza, com os ciclos da natureza, com o ecossistema. E isso vai fazer uma diferença danada “no dia do estrondo e do gemido”. Daí a minha retratação, pois as gentes dos nossos sertões estão habituadas com dificuldades, é o dia-a-dia delas, é a escola delas – a escola da vida. Leiam “Vidas Secas” de Graciliano Ramos; leiam “Grande Sertão: Veredas” de João Guimarães Rosa e vocês vão entender melhor do que eu estou falando.

Responda rápido, você saberia reconhecer no campo algumas espécies como Capiçoba, Jequeri, Lobrobô, Araruta, Caratinga e Jacatupé? Não? São vegetais nativos comestíveis e muito nutritivos, uns fornecem folhas, outros tubérculos. Você já comeu sementes de Cansanção, Indaiá, Coquinho-meloso e frutos de Maria-preta, Jataí, Jenipapo, Saborosa e Araçá? Não? Também são nativos e apresentam alto valor nutricional. Você sabe o que é um Jequi, Arapuca, Arataca, Mundéu e Esparrela? Vou lhe ajudar, estas cinco são Tecnologias Neolíticas, uma para capturar peixes e as outras para capturar animais silvestres. Você saberia construí-las? Não? Que pena!

Sinto muito em lhe informar, mas você não será aprovado no Vestibular do Juízo Final. Não vai receber o passaporte para integrar a tripulação da Nova Arca de Noé que, muito provavelmente, vai navegar em águas muitíssimo turbulentas e sobreviver ao Armagedon, para a glória do Todo Poderoso. Pois você não é Roots. Você é da espécie Homo sapiens urbanus da variedade hi-tech, e só os Neolíticos terão alguma chance. Só os Roots sobreviverão.

No dia em que a Grandiosa Babilônia ruir (Apocalipse: 18), todos serão chamados. Só os Roots serão escolhidos (Geófagos: 12-2008). Que o Senhor seja louvado! Amém!

Blogagem Coletiva – Térmitas Africanos: Relações edáficas e utilização por povos nativos

blogcoletiva-africa
Em primeiro lugar gostaria de dedicar o post que virá, referente à blogagem coletiva sobre a África, para os nossos leitores Moçambiquenhos e Angolanos, cuja presença aqui tem sido constante. À outros leitores Africanos, também vai a nossa singela homenagem.
Não há dúvidas quanto ao fato de os organismos atuarem significativamente na gênese dos solos. Alguns cientistas até consideram esse o principal diferencial entre os solos e fragmentos de rochas desintegrados. Obviamente, essa questão é mais profunda, levando o conceito de solo também à aspectos como a organzação, capacidade de sustentação de estruturas e vida, entre outros. A relação benéfica dos organismos em relação aos solos também acontece no sentido inverso. Ou seja, os solos também fornecem condições de vida mais adequadas para sobrevivência de determinadas espécies. Fatores como temperaturas mais adequadas, fornecimento de alimentos e áreas de refúgio, proporcionados por eles, podem ser determinantes no desenvolvimento delas. Em alguns casos, o homem também se aproveita dessa íntima relação, participando do processo de diversas formas. Citarei nesse texto o caso de populações africanas nativas que, por meio do uso (esse sim efetivamente sustentável) de recursos proporcionados por populações de térmitas (cupins), que são insetos da ordem Isoptera, têm garantida sua sobrevivência.
Os térmitas representam um dos grupos mais importantes de invertebrados do solo, apresentam uma impressionante organização social e grande flexibilidade de obtenção de recursos (comida, água, além de temperaturas adequadas) graças ao seu poder de escavação. Nesse sentido, apresenta grande vantagem competitiva e consequente capacidade de adaptação a diferentes ambientes, uma vez que não apresenta limitações de exploração às cavidades naturais do terreno ou, como é o caso das minhocas, movimentos laterais restritos. Tudo isso faz com que esses insetos apresentem-se em abundância mesmo em condições aparentemente hostis, relacionados a climas secos ou com grandes estações secas, desde que uma fonte de água (mesmo que em profundidades consideráveis) esteja presente. Para ter-se uma idéia da capacidade de adaptação desses insetos, os fósseis mais antigos deles datam do Eoceno e Mioceno e apresentam idade estimada em cerca de 50 milhões de anos.
A existência de grupos desses organismos está ligada, principalmente, às regiões tropicais do globo. No entanto, restrições ao desenvolvimento deles existem e estão ligadas a condições de extrema aridez e falta de vegetação, além de climas frios. Por isso, não é comum a existência de grandes populações em ambientes de clima temperado ou em regiões cujas altitudes sejam superiores a 3000 m, com seu consequente clima frio (altimontano).
Apesar de os cupins serem mais conhecidos por prejuízos causados (como devoradores de madeiras e de outros materiais celulósicos), eles apresentam grande importância na decomposição da matéria orgânica, estruturação do solo e ciclagem de nutrientes. Aparentemente as principais modificações por eles proporcionadas aos solos estão ligadas à qualidade da matéria orgânica e melhoria de aspectos físicos. No entanto, não são raros relatos de elevação de teores de C e de nutrientes essenciais como N e P em seus ninhos, também conhecidos como termiteiros ou murundus, quando comparados com os solos ao redor.
Os térmitas fazem parte da mesofauna do solo. Na ciclagem biogeoquímica da matéria orgânica atuam como detritívoros. São, portanto, determinantes da velocidade de decomposição de compostos orgânicos e consequentemente na liberação de nutrientes importantes. Isso porque a redução do tamanho das suas diversas formas de material orgânico (raízes, folhas, galhos, etc) é fator essencial para que uma elevação na taxa de decomposição da matéria orgânica ocorra, uma vez que aumenta a área especificamente “atacável” pelas comunidades microbinas. É frequente, em ambientes não propícios a esses organismos, a existência de matéria orgânica pouco alterada (fíbrica), enquanto que, em ambientes onde eles participam ou já participaram do processo, material orgânico mais alterado é encontrado (sáprico, por exemplo). Isso mostra, didaticamente, que em ambientes não propícios à existência dos térmitas, a ciclagem é prejudicada por não ter seu “cominuidor” inicial presente.
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Exemplo de termiteiro gigante africano (http://www.exchangedlife.com/Creation/african_macroterm.htm)
Em ambientes propícios ao crescimento de colônias e dos seus ninhos, o tamanho desses últimos pode chegar a relatados cerca de 30 m de diâmetro e 20 m de altura. Os maiores termiteiros são encontrados na África, especialmente em ambientes de savana, e apresentam uma arquitetura invejável, com efetivo sistema de aclimatação. Em noites frias, buracos existentes são preenchidos com o objetivo principal de reter calor, enquanto que em dias quentes eles são abertos. O sistema é bem estruturado, com um “cimento” a base de saliva de cupins e material edáfico (do solo) tão resistente que são utilizados até na construção de casas para os nativos. A estrutura de suas partículas formadoras garante uma boa drenagem e aeração dos ninhos, diferenciando-os, inclusive, de áreas mal drenadas ao redor. Em alguns casos, as taxas de infiltração registradas são o dobro daquelas dos solos regionais. Alguns pesquisadores até acreditam que a atuação dos térmitas durante alguns milhares de anos é um dos agentes de formação da estrutura granular, comumente encontrada nos Latossolos brasileiros.
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Termiteiro brasileiro – Foto: Sandro de Caires e Carlos Pacheco (Região de Paracatu – MG).

Quanto às características químicas, é comum o registro de níveis relativamente mais elevados de nutrientes nos termiteiros do que nos solos ao redor. Apesar disso, diversos trabalhos têm apontado para modificações nutricionais não significativas. Já o carbono orgânico geralmente apresenta-se em níveis mais elevados. Outras características como a CTC (capacidade de troca catiônica) também podem sofrer elevação em seus valores. A união dessas caratcterísticas com aquelas físicas tornam termiteiros abandonados aptos à utilização agrícola. A grande estabilidade por eles apresentada, resistindo à erosão por um longo período de tempo após a extinção da colônia, também é um fator determinante para garantir seu uso . Esse fato, associado à riqueza química e qualidade física deles, é o que permite populações nativas da África utilizem as “terras de cupinzeiro” para tais finalidades. É uma agricultura de subsistência que pode ser determinante na estadia de tais povos em suas áreas de ocorrência, contrastando, muitas vezes, com a pobreza nutricional ou características físicas indesejáveis ao cultivo dos solos regionais. Servem como base de sobrevivência para povoados inteiros. Além disso, em regiões onde as colônias ainda estão presentes, os térmitas são utilizados como alimentos por constituirem uma excelente fonte de proteínas.
Enfim, essa pequena história tentou representar um pouco dos modos de sobrevivência de alguns povos nativos africanos e também como as relações entre solos e organismos neles residentes podem determinar o modo de vida e garantir uma relação sustentável entre eles e o meio onde vivem.
Carlos Pacheco

Um pouco de geoquímica

O adjetivo ‘essencial’ e suas derivações são utilizados nas diferentes áreas de estudo para qualificar algo que constitui a parte necessária ou inerente de uma coisa. Porém, a qualificação quanto ser ou não essencial depende, a meu ver, de avaliação individual. Um exemplo é a maneira na qual o alumínio (Al), metal de número e massa atômica igual 13 e 26,98154 g, respectivamente, pode ser “considerado” na Ciência do Solo. Na fertilidade do solo, por exemplo, existe o termo elementos essenciais que agrupa certos elementos químicos (N, P, K, Ca, Mg, S, Fe, Mn, Mo, Zn, Cu, Co, Cl e B) que na ausência de pelo menos um deles a produtividade das plantas é comprometida. Como adendo, existe também os elementos benéficos (Ni, Se, V, etc.) que, embora não tenham sido comprovadas suas essencialidades, pode estimular o desenvolvimento de plantas ou substituir, parcialmente, a função dos elementos essenciais. Por outro lado, o Al é considerado elemento tóxico, ou seja, ele é um dos fatores que pode limitar a produção da maioria das espécies cultivadas e, sendo assim, sua atividade na solução do solo deve ser reduzida. A calagem (uso de calcários ou outras fontes de corretivos da acidez do solo) é a prática mais simples e eficiente adotada.

Entretanto, avaliando a importância do Al em outras áreas, como na geoquímica, mineralogia e gênese do solo, este passa ter papel crucial, haja vista o papel relevante que desempenha durante o resfriamento do magma, cristalização dos minerais e, por fim, formação dos diferentes tipos de rocha. Durante esses processos, a inserção do Al na estrutura dos minerais primários ou secundários (produto de intemperismo), denominada substituição isomórfica (não há modificação da estrutura original), por um lado interfere na gênese dos minerais silicatados e por outro modifica as propriedades físicas, químicas e físico-químicas dos oxihidróxidos de Fe do solo. Vale ressaltar que tais substituições são possíveis porque o raio iônico do Al (0,50 Å) é ligeiramente maior que o íon Si (0,41 Å) e menor que o íon Fe (0,64 Å).

Recapitulando! Os minerais silicatados são classificados de acordo com as diferentes ligações do seu arranjamento estrutural básico, o tetraedro de silício (SiO4). Dentre os diferentes grupos existentes há os tectossilicatos (SiO2), que tem o quartzo como representante mais conhecido. Pertencente a esse grupo, tem-se também os feldspatos que podem ser derivados do quartzo, durante a sua solidificação (cristalização). Para isso, a substituição isomórfica do íon Si pelo íon Al é condição sine qua non. Quando isso ocorre, há um desbalanço de carga estrutural nos feldspatos (SixAlyO8)x-4 que é balanceada pela incorporação de um cátion monovalente (K+), quando a substituição Al: Si é 1:1 (ortoclásio, KSi3AlO8) ou de um cátion divalente (Ca2+), quando são 2:2 (anortita, CaSi2Al2O8). Substituições similares do Si, Fe e Mg também ocorrem nas estruturas dos outros silicatos promovendo grande variedade na composição desses minerais. Nos filossilicatos, a substituição do íon Al por íons Mg e Fe2+ PARECE ser determinante para a gênese da biotita [K(Mg, Fe2+)3(Si3Al)O10(OH,F)2] ou da muscovita [Kal2(Si3Al)O10(OH,F)2].

De maneira generalizada, pode-se inferir que a pouca reserva de nutrientes, principalmente de K, observada nos solos pobres de regiões tropicais se deve à presença intrusa do Al seja durante a cristalização do quartzo, formando os feldspatos, ou na formação da muscovita. Seria isso um tipo de seqüestro de metais alcalinos e alcalinos terrosos? Desculpe o entusiasmo, mas na ausência do Al a quantidade de quartzo nas rochas e, consequentemente, nos solos seria bem maior devido sua maior resistência ao intemperismo. Teríamos também muito pouca muscovita que é mais resistente ao intemperismo que sua “irmã”, a biotita.

Como já mencionado, o Al está presente também nos oxihidróxidos de Fe dos solos. Postula-se que a maioria dos oxihidróxidos naturais (e.g. goethita, hematita, ferrihidrita, etc.) apresenta substituição isomórfica por Al. O menor tamanho do Al em relação ao Fe altera as propriedades da cela unitária (arranjamento mais simples dos átomos ou moléculas que se repetem regularmente na estrutura cristalina), resultando geralmente na diminuição do tamanho dos cristais. No Doutorado trabalhei com amostras sintéticas de goethita sem e com substituição por Al e pude constatar, na prática, tais alterações. Por exemplo, a redução no tamanho dos cristais das goethitas com substituição teve seus valores de superfície específica aumentado de 4 a 6 vezes em relação à goethita pura. Este aumento refletiu diretamente na capacidade máxima de adsorção de arsenato (As+5), que foi em média 6 vezes superior a do mineral puro. Além disso, a presença do Al aumentou a estabilidade da goethita em condições de baixo potencial de oxirredução (Eh).

Diante do exposto, como não considerar o Al é essencial, se por um lado ele contribui para diferenciação mineralógica que garantirá reserva de nutrientes, embora pequena, em regiões onde o intemperismo atua de maneira acentuada (regiões tropicais, por exemplo) ou, por outro, sua presença nos oxihidróxidos de Fe do solo aumenta a estabilidade desses minerais sob condições redutoras e a capacidade deles em reter elementos nocivos ao meio ambiente, agindo como “filtro”.

Por fim, como iniciei este post a essencialidade é subjetiva e depende de uma interpretação conveniente.

Juscimar Silva

Quiz: Porque, de maneira geral, se observa mais feldspatos potássicos (ortoclásio, Ksi3AlO8) do que cálcicos (anortita, CaSi2Al2O8) nos solos trópicais? Deixem a resposta no campo cometários.

 

Ninguém vai nos convencer, nem mesmo o clima!

Por Elton Luiz Valente

O Período Neolítico, que teve seu início há cerca de 10.000 anos, é aquele em que o homem deixa sua vida nômade, de caçadores-coletores, para fixar-se em aldeias. Isso foi possível com o domínio da agricultura, da domesticação de animais e uma série de outras conquistas que permitiram o sedentarismo.

Embora o homem nunca tenha deixado de ser guerreiro (nesse sentido George W. Bush é pré-histórico), no Neolítico a vida era bem melhor que antes. A alimentação era mais farta e de melhor qualidade, havia excedentes agrícolas, o que permitiu ao homem (e à mulher) dedicar tempo a outras atividades mais lúdicas, como as artes. Isso culminou na invenção da escrita. Nesse momento, com a invenção da escrita, o homem deixa a pré-história para ingressar na história, na Era do Bronze, do Ferro e etc. Daí pra frente todo mundo conhece o enredo desse tango do argentino doido.

E o final deste tango é o óbvio. Podem usar a equação que quiserem, não há crescimento econômico que se equalize com sustentabilidade. São coisas diametralmente opostas e pronto! Crescimento econômico, que todos os países (e políticos) almejam e defendem, é sinônimo, ipsis litteris, de drenagem dos recursos naturais. Sustentabilidade, se é que ela possa existir na presença do Homo sapiens, é exatamente o oposto.

Então voltemos ao Neolítico. Ali está um modo de vida que eu, particularmente, admiro muito (meu sonho dourado de Engenheiro Agrônomo é ter um sítio, uma fazenda – sou filho de agricultor). O modo de vida Neolítico é tranqüilo, sem muitos excessos, sem muitos impactos ambientais.

Mas a sina do homem é ser hi-tech. É ter um carrão de combustão interna, de preferência com a descarga furada para roncar mais grosso; é ter iPod (não, agora é iPhone 3G), laptop, celular, TV de plasma, LCD, DVD, home theater (nem sei se é assim que se escreve essa p….) e o escambau … e um shopping center logo ali na esquina. Ou seja, todo mundo quer um modo de vida norte-americano, de alto consumo.

Pergunte nos fóruns internacionais, pós-Kyoto, onde se discutem essencialmente as questões do aquecimento global e seus derivativos, se eles estão dispostos a retornar ao Neolítico. Pergunte nas ruas, ao militante panfletista do ambientalismo se ele se dispõe a adotar um modo de vida Neolítico. Eu me arrisco a adivinhar a resposta deles. É NÃO!

Todos querem ser hi-tech, com o padrão de consumo norte-americano, ninguém quer retroceder. E talvez seja exatamente esta uma das poucas chances que teremos: retroceder ao Neolítico e fazer controle de natalidade.

Mas todos queremos ser hi-tech, ê vida boa! Já pensou? Da caverna ao Blue-Ray Full HD, quem diria! Ninguém vai conseguir nos convencer do contrário, nem mesmo o clima. Às favas com o Ministério da Saúde! Se é pra morrer, morreremos cheirando fumaça de óleo diesel, plugados na Web, hi-tech, e dane-se! Resultado? A Terra vai se livrar de nós num sacolejo. Pá-Pum! Um só estrondo, um só gemido e tchau!

E o futuro da agricultura?

Por Elton Luiz Valente

Analisando alguns dados sobre as condições ambientais das partes elevadas da Serra do Cipó, na Cordilheira do Espinhaço, frutos de um estudo que trata das relações entre o solo e a vegetação naquele ambiente, surgiram algumas reflexões. Aliás, da Serra do Cipó já temos algumas publicações no Geófagos, como estas aqui e aqui.

Naquele ecossistema, o gradiente de vegetação, de Campo Rupestre para Floresta, acompanha o gradiente de solo. A vegetação vai se tornando mais elevada e densa na medida em que o solo torna-se mais profundo. Os solos são todos ácidos, extremamente pobres quimicamente e ricos em alumínio trocável. A principal estratégia da vegetação, segundo algumas de nossas conclusões, é a ciclagem biogeoquímica. Mais Bio do que Geo, diga-se.

No entanto, a vegetação florestal é robusta. São disjunções de Floresta Ombrófila ocorrendo a mais de 1.200 metros de altitude. Não há evidências de desnutrição na fitomassa. Ocorrem indivíduos com até 30 metros de altura estimada e mais de 200 cm de circunferência de tronco. Isso revela, de acordo com nossas conclusões, uma alta eficiência dessas espécies em utilizar os poucos recursos disponíveis e, com eles, sintetizar altas taxas de carbono. Em outras palavras, estas espécies sintetizam muito carbono, na forma de fitomassa, com pouquíssimos recursos minerais. Isso me fez refletir sobre algumas questões, entre elas, o futuro da agricultura e os possíveis caminhos que podem ser percorridos pelas ciências agrícolas. Ciência do Solo e Fitotecnia, por exemplo.

Os maiores avanços obtidos na agricultura, desde que o homem (ou a mulher) domesticou algumas espécies, tiveram como foco a produtividade. No último século, esses avanços foram espantosos. Ao aliar o melhoramento genético com a modificação, ou ajuste, de ambientes antes negligenciados, como o Cerrado no Brasil, produziu-se uma verdadeira revolução nos modelos e processos de produção agrícola. O Brasil é um excelente exemplo disso.

Muitos entusiastas desse novo modelo de produção agrícola chegaram a dizer que a Teoria Malthusiana (Thomas Robert Malthus, 1766-1834) estava equivocada. Será? Algumas questões nesse enredo não são novas, mas como estão se tornando cada vez mais pertinentes, vale repetir pelo menos uma delas: Os sistemas agrícolas vão suportar a pressão do agronegócio por longo prazo?

E aqui podem entrar outras questões: Qual será o futuro da agricultura? Qual será a demanda para o Engenheiro Agrônomo e para a Ciência do Solo? Será que com nossa visão eminentemente mecanicista do mundo nós estaremos preparados para elas?

Em resumo, o modelo de agricultura do agronegócio promoveu a produtividade, sem se preocupar com as necessidades de consumo das culturas. Essas espécies (ou cultivares) necessitam de um ambiente “ajustado” às suas necessidades. Necessitam de altas doses de nutrientes para manter suas altas taxas de produtividade e fechar os seus ciclos produtivos com a eficiência desejada. Estas culturas apresentam ainda aquilo que nós chamamos de “consumo de luxo”, em que o aumento na absorção do nutriente e sua concentração nos tecidos não são acompanhados por aumento no crescimento ou produção.

Por outro lado, as espécies nativas, em condições naturais, possuem alta eficiência na absorção de nutrientes (utilizam estratégias como associações simbióticas e exsudatos radiculares para “ajustar” a rizosfera); possuem alta eficiência na síntese de carboidratos sob condições adversas e apresentam menor demanda nutricional e, claro, menor produtividade quando comparadas às espécies “melhoradas”.

E aqui entram algumas questões que me ocorreram: Qual é a taxa mínima de disponibilidade de nutrientes que estas espécies nativas conseguem suportar? Qual será o comportamento delas mediante uma melhora na CTC do substrato, aumento do pH do meio e um aumento nas doses de nutrientes disponíveis? Elas responderão positiva- ou negativamente a essas mudanças? Qual a importância dessa alta eficiência na utilização dos poucos recursos disponíveis, mediante a uma agricultura que promoveu a produtividade sem se importar muito com os impactos de modificações do meio (o solo), nem com as exigências nutricionais das culturas?

Utilizando o comportamento das espécies nativas como balizador, será possível, num futuro próximo, conciliar estes dois extremos? Ou seja, será possível desenvolver adaptações, ou modificações genéticas, nas espécies cultivadas para que elas forneçam produtividades economicamente viáveis, exigindo baixos teores de nutrientes e poucas alterações no substrato (o solo)?

Quem sabe não está aí uma importante e promissora linha de pesquisa para a próxima década?

O que há por trás de tudo isso?

As questões ambientais no âmbito político e diplomático têm ficado cada vez mais obscuras. As últimas notícias têm sido veiculadas com evidentes contradições, poucas explicações e resultados práticos ainda não vistos. É muito oba oba e poucas ações efetivas.
Nas duas últimas semanas a décima quarta Conferência das Partes (COP – 14) foi conduzida de forma, diria eu, irresponsável pelos representantes de cerca de 150 países. Como já dito em outro post, os resultados obtidos foram ínfimos, longe de um novo acordo contra as mudanças climáticas globais. A crise econômica restringiu acordos e individualizou as ações (pelo menos essa foi a desculpa do momento).
A conferência rumou ao fracasso durante quase todo seu curso, no entanto, aos 45 do segundo tempo, a União Européia, que havia esvaziado algumas reuniões, apresentou um plano de redução de 20% das suas emissões de gases do efeito estufa até 2020. Essa decisão é bem aquém do que, antes da crise, vinha sendo veiculado pelos órgãos de imprensa que seria uma meta de redução das emissões em 50%. Além disso, não representa uma união de esforços de nações contra o aquecimento global, mas sim, ações isoladas e, ao meu ver, oportunistas de um grande bloco econômico. Afinal, qual a outra conclusão que eu poderia tomar após esse mesmo bloco ter dificultado sobremaneira os resultados de Poznan?
Hoje, ao abrir os noticiários, vejo que também a Austrália adotou uma medida isolada. Pretende reduzir suas emissões em 15%, também até 2020. Coincidência ou não o prazo é o mesmo dos bloco europeu e a taxa de redução bem menor do que as anteriormente veiculadas. E mais uma vez, outra ação isolada.
Quanto ao governo americano do presidente Bush, é melhor nem comentar. Já o futuro governo de Obama vem falando muito, mas nesse e em outros casos, prefiro agir como São Tomé, é ver para crer. Será que as metas de redução das emissões em 50% continuarão em pauta após os resultados intensos da crise econômica? Honestamente não acredito.
O Brasil também não foge à regra. Após receber elogios de Al Gore, de ser considerado como uma “economia verde” por Ban Ki-Moon (esse realmente não conhece a realidade do país) e de ter anunciado o Plano Nacional de Mudanças Climáticas e as metas de redução do desmatamento da Amazônia pela metade até 2017, eis que o governo “limpou a barra” dos desmatadores por mais um ano. Além disso, apesar da inteligente posição do ministro Carlos Minc em exigir que os países em desenvolvimento também tenham responsabilidades, entre elas a ajuda tecnológica para resolução de problemas ambientais dos países pobres, lá de Poznan, chegaram notícias de que o estabelecimento de metas contra o desmatamento era um dos principais entraves brasileiros quanto a um futuro acordo que substituiria Kyoto. Outro entrave, era a também posição inteligente dos países em desenvolvimento, de exigir o “patrocínio” por partes dos países ricos para as ações conduzidas em países pobres.
Mas afinal de contas, se todos se mostram tão interessados e competentes em estabelecer metas, por que não houve um acordo em Poznan? Como diria aquele velho ditado, de boa vontade o inferno tá cheio. Essas contradições fazem-me pensar que estamos sendo manipulados como meros fantoches. Ou será que eles estão duvidando da nossa capacidade de raciocínio ou nos achando com cara de palhaço?
Carlos Pacheco

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