Seqüestro de carbono em solos tropicais II
Em solos tropicais profundos, submetidos a grande atividade bioturbadora (misturadora) da mesofauna (principalmente cupins e minhocas, mas também formigas e outros invertebrados), como os Latossolos, há presença de estoques de carbono consideráveis em profundidade, até mesmo com valores numericamente superiores aos estoques superficiais. No ambiente tropical não se podem considerar razoáveis estimativas de estoque de carbono que não contabilizem o que está armazenado subsuperficialmente nem adequadas ou eficientes estratégias de manejo de solos ou ecossistemas pensadas sem o levar em conta. Trata-se de uma promissora área de estudo, por serem ainda escassos os trabalhos contabilizando os estoques de carbono profundos em solos de regiões tropicais em escalas mais detalhadas, e ainda menos investigada a influência das práticas de manejo do solo sobre o compartimento. Saber-se quanto carbono se encontra acumulado no solo sem uma noção de sua estabilidade frente a mudanças ambientais traduz-se em conhecimento limitado. As perdas naturais de carbono orgânico do solo (COS) não são homogêneas, variando entre classes e regiões. Tanto a natureza da matéria orgânica do solo quanto as interações entre esta e o ambiente, quer seja no solo ou fora deste, influenciam sua estabilidade no solo. De particular importância são as interações com a matriz mineral, principalmente as argilas, que podem estabilizar a matéria orgânica no solo, dificultando sua perda na forma de CO2. Aliar as informações quanto ao carbono estocado com dados confiáveis sobre sua estabilidade torna mais factível estabelecer quais áreas são mais vulneráveis, auxiliar no planejamento de uso da terra e inclusive no estabelecimento, em áreas convertidas à agricultura, de valores padrões de perdas toleráveis de matéria orgânica do solo visando minimizar a perda de qualidade do solo.
Seqüestro de carbono em solos tropicais I
Na iminência de mudanças climáticas de controversa reversibilidade, a importância do conhecimento dos estoques de carbono em diferentes classes de solos está ligada à tentativa de avaliar o que poderá ser perdido no caso de mudanças no uso da terra com a adoção de práticas intensificadoras da decomposição ou mineralização da matéria orgânica ou de aumentos de temperatura como conseqüência das mudanças climáticas globais e, mais recentemente, o que isto pode representar em termos de serviços ambientais de estocagem de carbono pelos solos. As estimativas do que se encontra estocado na forma de carbono orgânico nos solos do mundo variam de 1500 a 2300 Pg (petagramas, um petagrama corresponde a um trilhão de quilogramas ou 1.000.000.000.000.000 de gramas), dependendo da profundidade considerada. Estima-se que de 1850 a 1998, mudanças no uso da terra (basicamente desmatamento para implantação da agricultura) tenham sido responsáveis pela emissão líquida de 136 ± 55 Pg de carbono para a atmosfera, tanto pela decomposição de restos vegetais quanto pela mineralização/oxidação da matéria orgânica do solo (MOS). Os estudos de avaliação de estoques de carbono (EC) em solos têm sido feitos com o objetivo de se conhecer o mais detalhadamente possível o tamanho do compartimento solo como armazenador de carbono, imprescindível no auxílio ao levantamento dos conteúdos de carbono orgânico seqüestrados nos ecossistemas terrestres, levando em conta que em escala geológica, as trocas de CO2 entre a atmosfera e os solos são rápidas. O conhecimento detalhado dos valores e da dinâmica deste carbono pode ajudar na determinação do comportamento de sumidouro ou fonte de dióxido de carbono, principal gás de efeito estufa, do solo. Não há ainda consenso quanto a isto nem conhecimento detalhado do papel particular das classes de solo, embora existam estimativas genéricas razoavelmente confiáveis do conteúdo de carbono estocado nos solos do mundo. Embora a situação esteja mudando rapidamente, houve até há pouco aceitação quase consensual de que os conteúdos de matéria orgânica do solo até os 20-30cm superficiais seriam responsáveis pela quase totalidade do carbono orgânico (CO) estocado neste compartimento. Uma série de trabalhos recentes, no entanto, tem demonstrado a reconsideração de que há conteúdos nada desprezíveis de carbono orgânico em camadas mais profundas do solo, demonstrando o quão estável é este carbono, por isso podendo vir a ser um reservatório potencialmente mais eficiente em seqüestrar CO2 por períodos de tempo mais longos do que fazem as camadas mais superficiais. (Continua)
Por que a OPEP odeia o etanol
Excelente entrevista com o Sr. Miguel Jorge, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, publicada no “Estado de SP” e reproduzida pelo Jornal da Ciência. Bom saber quais as estratégias utilizadas para demonizar o etanol. Vale conferir.
Composição química de rochas
Temos recebido muitas perguntas ultimamente sobre composição química de rochas, principalmente depois da publicação deste post. Comumente perguntam-nos algo do tipo “qual o elemento químico que forma o granito” ou outra rocha qualquer. É necessário que as coisas fiquem bem claras. Uma rocha é, em geral, um agregado de minerais. O granito, por exemplo, é majoritariamente formado dos minerais quartzo, feldspatos e micas. Um mineral, por sua vez, é uma substância, natural ou artificial, de composição química conhecida e característica, com estrutura atômica ordenada, geralmente na forma de cristais. Há minerais formados por apenas um elemento químico, como o ouro, mas a maioria dos minerais é de compostos multielementares. Há grupos de minerais “aparentados”, como os silicatos, formados a partir de inúmeras combinações físicas e químicas a partir de tetraedros de silício. Todos os minerais que compõem o granito por exemplo são silicatos: o quartzo e o feldspato são tectosilicatos e as micas são filossilicatos. A composição mineralógica das rochas ígneas dependerá basicamente da composição do magma a partir do qual se formaram. A composição das rochas metamórficas e sedimentares dependerá da composição das rochas ou sedimentos que lhes deram origem, lembrando que sedimentos são em geral resultado da intemperização (“decomposição”) de outras rochas ou da precipitação de compostos químicos. Dentro de determinado grupo de rochas, no entanto, há predominância ou maior presença de certos elementos químicos. As rochas ígneas ácidas são ricas em silício e relativamente pobres em ferro e magnésio, geralmente apresentando cor clara (leucocráticas) e são também chamadas rochas félsicas (de FELdspato e SÍlica), um exemplo é o próprio granito. Os solos originados destas rochas são geralmente mais amarelados. As rochas ditas básicas são menos ricas em silício e mais ricas em minerais contendo magnésio e ferro, por isso são também chamadas máficas, são rochas mais escuras (melanocráticas) e os solos delas originados costumam ser mais avermelhados. Um exemplo comum de rocha máfica é o basalto. Os minerais que compõem as rochas básicas são predominantemente silicatos: olivina, piroxênio, feldspatóides e feldspatos. As rochas metamórficas costumam ter composição semelhante à da rocha que lhe deu origem: o gnaisse é composto pelos mesmos minerais do granito. Dependendo do ambiente onde se dá o metamorfismo, no entanto, pode haver mudanças na composição em relação à rocha original. A composição mineralógica das rochas sedimentares, como já foi dito, depende da composição dos sedimentos. Rochas formadas a partir da litificação de areias de quartzo, como arenitos, são compostas principalmente por este mineral. Alguns arenitos, chamados de arcosianos, contêm também feldspatos. O calcário é formado da precipitação de carbonato de cálcio. A composição química dos solos, formados a partir do intemperismo químico e físico das rochas, é até certo ponto herdada da rocha parental.
Mais um ano sem Stephen Jay Gould
Meu hobby mais absorvente antes de fazer pós-graduação era fazer pesquisas genealógicas, minha e dos outros. Adquiri este hábito em minha adolescência, conversando com meu avô materno sobre velhos parentes. Acho que este passatempo tem algo a ver com minha personalidade e escolhas profissionais: não gosto de “conhecer” nada sem lhe saber a origem, como surgiu e se desenvolveu, em quais condições. Tenho bem claro na mente o momento em que minha “vocação” para divulgador de ciência. Comecei o mestrado em Fitotecnia na UFV em 2000 e vinha ávido por conhecimento. A Biblioteca da universidade me pareceu, e parece, um paraíso. Sempre tive o hábito nerd de realmente explorar bibliotecas e livrarias e numa destas ocasiões descobri a revista Natural History, do American Museum of Natural History. Dei de cara com um artigo do Stephen Jay Gould. Já ouvira falar dele, não fazia muito tempo seu livro O polegar do panda fora lançado no Brasil, mas não conhecia o homem e a obra. Sem exagero, ali descobri que eu queria fazer Ciência. Muito depois é que descobri que os escritos de Jay Gould eram um tanto controversos entre os próprios biólogos, alguns achando que ele fazia tempestades em copos d’água, exagerava conflitos meramente por recurso retórico. Naquele encontro inicial no entanto eu só tinha olhos para a erudição e estilo único do cientista. Em seus textos entendi a importância crucial da utilização do método científico, como a adoção daquela maneira de se abordar os problemas tinha um impacto veramente filosófico na maneira de interpretar o mundo, quem foi esta grande personalidade chamada Darwin, maior entre os maiores, porque sua descoberta do mecanismo da evolução, a seleção natural, mudara a forma como entendemos a vida. Em seus textos vi que se podia não só gostar da Estatística, que no tempo eu enfrentava, como também usá-la, como ele, para se encontrar forças para vencer um câncer. Em 20 de maio de 2002, pouco tempo depois de publicar seu 300° artigo em sua coluna “This view of life” na Natural History, intitulado “I have landed”, pequena obra prima em que fala de suas origens familiares e a continuidade da vida, Stephen Jay Gould morreu aos sessenta anos em seu apartamento em Nova Iorque, cercado de familiares, livros e fósseis. O Geófagos é fruto de seus textos, e como bom filho lembra tristemente sua morte. Voltando ao tema da gênese de coisas e fatos, o título deste post me veio de uma lembrança de juventude. Quando fazia graduação em Areia, Paraíba, muitas vezes viajei de Campina Grande para aquela cidade. Em certo ponto do caminho havia um bar, cujo dono era admirador do cantor Altemar Dutra e por isso instalou uma placa, razoavelmente visível, na frente do estabelecimento, com os dizeres “Mais um ano sem Altemar Dutra”. Eu achava aquilo engraçado, porque era uma placa que não perderia nunca a atualidade.
O infanticídio, a platéia e a lógica de Darwin
A opinião pública sempre fica indignada com fatos como este recentemente ocorrido em São Paulo, em que o pai e a madrasta são suspeitos, é bom repetir – por enquanto são apenas suspeitos – da morte de Isabella Oliveira Nardoni, uma garotinha de cinco anos. Há outros exemplos recentes como o daquela mãe, Simone Cassiano da Silva, que jogou a filha recém-nascida na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte.
Animais criados em cativeiro, como os suínos, por exemplo, podem comer as próprias crias, motivados por deficiências nutricionais (de proteínas, ferro, etc.). Em grupos de animais que vivem em bandos, como leões e macacos, o líder recém-empossado pode matar as crias novas, filhas do líder anterior, para garantir a perpetuação de sua própria carga genética. Geralmente peixes, anfíbios e répteis não cuidam de seus filhotes, que são entregues à própria sorte na natureza, mas eles já nascem prontos e sabem se defender sozinhos e com eficiência, portanto ainda estão por aí.
Por que nos causa tanta indignação o fato, ou a simples suspeita, de que um pai ou mãe tirou a vida do próprio filho?
Primeiro porque nós racionalizamos o fato e, portanto, os nossos códigos de ética, moral, direito e religião condenam qualquer tipo de homicídio. Mas há uma razão maior. Darwin explica. E vejam só – vamos abrir um parênteses aqui – os nossos códigos de ética, moral, direito e religião também condenam com veemência, por exemplo, o uso de drogas, que causam violência, morte, aliciamento de menores e etc. mas neste caso ninguém se indigna tanto e com tanta intensidade como na questão do infanticídio. Voltemos a Darwin. No tempo em que o homem habitava as cavernas e a civilização humana ainda estava em seus primórdios, com um contingente populacional ainda reduzido, o homem e sua prole corriam riscos de toda sorte e natureza. E para piorar, nossos bebês nascem prematuros, você sabe por quê? Darwin também explica. Mas isso é outro papo. O fato é que eles nascem prematuros e precisam de muitos cuidados. Aqueles pais que cuidavam bem de seus filhos tiveram seus descendentes preservados até que os mesmos atingissem a idade reprodutiva ou mais e, portanto, estes pais tiveram sua carga genética garantida até a próxima geração, e assim por diante. Os outros pais, aqueles que não cuidavam bem de suas crias, perderam-nas antes que atingissem a idade reprodutiva, ou seja, na população como um todo sobressaiu-se, principalmente, a carga genética daqueles que se deixavam seduzir por um sentimento, que hoje nós consideramos muitíssimo nobre, chamado amor parental. Somos descendentes desses.
É a lógica da velha Seleção Natural, sobressaem na população aqueles indivíduos que apresentam um conjunto de características que são mais eficientes quando se trata de sua sobrevivência e preservação, e de sua espécie por conseqüência. É simples assim.
Daí a nossa indignação quando a dor e a tragédia atingem as crianças.
Traições, Darwin, Freud e o Povo
Vez por outra uma “celebridade” é flagrada pulando a cerca. De Bill Clinton ninguém quer saber mais, a mídia vive de fatos novos. Então, depois de Renan, desconhecido da mídia internacional, foi a vez do cabra de Nova York, um célebre internacional flagrado com a boca na botija (sem trocadilho). A seqüência é previsível. O cidadão vem à público com a patroa ao lado para se explicar. A cena, dependendo dos arroubos de quem olha, pode ser tanto cômica, quanto trágica. A mulher do Don Juan geralmente permanece calada e cabisbaixa, para horror das feministas. E segue-se a cantilena previsível, lá está “a mulher devastada”, “ultrajada”, “traída”, “ferida em sua dignidade”, “viúva de marido vivo” e tantos outros adjetivos proferidos por quem, talvez, nunca tenha encenado na prática aquele enredo de tango argentino. Alguém se lembra que o vice-governador de Nova York, ao tomar posse, tanto ele quanto a mulher – vejam só – assumiram antecipadamente que já tiveram casos extraconjugais? É isso aí meus caros, as puladas de cerca, tanto deles quanto delas, existem desde que o mundo é mundo, ou melhor, desde que a reprodução sexuada surgiu no pedaço (coisa de milhões de anos atrás, no Proterozóico). Ainda entram nesta conta duas condicionantes de peso, uma é que o homem ainda ocupa a maioria dos cargos públicos de destaque, aí proporcionalmente eles aparecem mais na hora do flagra. A outra condicionante é que, segundo a biologia evolutiva, parece que o homem é realmente mais propenso às puladas de cerca. Neste caso, Dr. Darwin explica mais que Dr. Freud. De um lado está o “Gene Egoísta” (invenção de Richard Dawkins) masculino querendo espalhar-se o quanto pode. Para contrabalançar, do outro lado está o “gene seletivo” (acabei de inventar) feminino colocando critério na festa, pois o pai de sua prole não pode ser qualquer um, e assim caminhamos todos. Nesta seara dos traídos, homem ou mulher, cada um se ajeita como pode. Não há receitas ou código de conduta para estas horas. No quesito traição, segundo um dito popular, o mundo é dividido em dois grupos, os que sabem e os que não descobriram ainda. O que precisamos mesmo é consultar com mais freqüência gente sábia, especialistas do naipe de Dr. Darwin, Dr. Freud, Dawkins, Kant, Dostoiévski, Schopenhauer, Nietzsche, Kierkegaard, Sartre e muitos outros. Mas há momentos em que é preciso ouvir também a filosofia popular, a voz povo, tão antiga quanto as puladas de cerca. Na minha região de origem, o leste de Minas Gerais, entre os tantos ditos populares dignos de nota, há um lapidar que diz: chifre bem administrado não é defeito, é qualidade. E fim de papo!
Anel de Blogs Científicos
Acaba de ser inaugurado pela USP Ribeirão Preto o Laboratório de Divulgação Científica que hospeda o Anel de Blogs Científicos, cujo objetivo é agregar os blogueiros de ciência de língua portuguesa. O Geófagos teve a honra de ser um dos primeiros blogs convidados e já fazer parte do dito anel. Quem nos convidou foi o coordenador do projeto, Prof. Osame Kinouchi, também blogueiro no ótimo Semciência. Há algum tempo fazemos parte de algo parecido, o português Divulgar Ciência. Agora o fenômeno blog ganha a academia e, felizmente, com os blogs de ciência. O Anel de Blogs Científicos convida os blogueiros de ciência a se inscreverem mandando um e-mail para o Gustavo Miranda Forte (“Zedy”) no seguinte endereço: forte@fmrp.usp.br. Blogueiros de ciência, unamo-nos!
Nicolelis, Nordeste e Nobel
Como algum desejado leitor fiel deve ter percebido, temos mudado um pouco o “perfil” dos textos publicados no Geófagos. Além de meramente educativos, nossos posts têm agora procurado sugerir soluções. Semana passada, neste post, sugerimos como alternativa para o real avanço da região Nordeste o abandono de tentativas destinadas ao malfado, como a agropecuária em regiões sobre embasamento cristalino, e a conversão da região em pólo científico e tecnológico, como o que acontece embrionariamente na UFCG, em Campina Grande. Além de ter nascido e crescido na região, observando-a e meditando alternativas, tenho sido influenciado também pelas ações do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, fundador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, que, depois de atingir sucesso e prestígio profissionais internacionais, resolveu adotar o Nordeste como sede de seu Instituto e tem, como nós, a idéia de transformar a região em algo como o Vale do Silício, na Califórnia. O Jornal da Ciência acaba de publicar este texto sobre Nicolelis e sua caminhada irreversível para o Nobel. Não nos ufanemos demasiadamente no entanto: Nicolelis é brasileiro, formou-se e doutorou-se no Brasil, mas só teve condições de se mostrar ao mundo porque universidades americanas viram e gostaram de seu trabalho, a ponto de lhe criarem um laboratório próprio, com seu nome. O Brasil não lhe deu condições para aqui trabalhar e produzir o que tem produzido, mas, tenho certeza, as “autoridades” se apressarão em dividir os louros, quando vierem. E continuarão sem concordar que o país não precisa mais de políticos, mas de cientistas.
Guiana vende serviços ambientais e conserva floresta
Há poucos dias o Jornal da Ciência publicou esta notícia anunciando a venda pelo governo da Guiana de serviços ambientais a um fundo de capitais britânico. Que serviços ambientais? Basicamente, os benefícios ao meio ambiente de uma floresta mantida intacta. Em dezembro publiquei aqui no Geófagos o post Como pagar ao meio ambiente?, infelizmente muito pouco lido, introduzindo aos leitores como seria a prestação de serviços ambientais e sua valoração. Vê-se agora um país vendendo os serviços de 405000 hectares de mata, entre os quais “regulação de chuvas, armazenagem de carbono e regulação do clima”. Os que não conhecem a realidade da pequena agricultura brasileira descapitalizada, criticam, a partir de seus escritórios com ar condicionado, a derrubada de matas para fazer carvão por agricultores ignorantes e de pequena visão. Mas a visão tem que ser pequena e de curto prazo: de que adianta salvar as florestas para o futuro e morrer de fome hoje? É inútil tentar-se salvar o mundo apelando para as consciências, principalmente quando estas estão famintas. O agricultor em geral não derruba matas por maldade, mas por necessidade. A forma mais eficaz de se evitar isto é pagando de forma justa para que eles mantenham a vegetação de pé, pagando os serviços ambientais prestado pelas matas intocadas. E não só das matas, o solo acumula muito mais carbono que a vegetação e isto é um grande e potencialmente caro serviço, deveria também ser pago. Aliás, isto seria uma alternativa interessante para auxiliar a conservação da caatinga e do cerrado, a primeira ameaçada pela completa ausência de fonte de renda de agricultores do semi-árido, o segundo pela voracidade entomológica de sojicultores et allii. Há regiões de difícil agricultura que poderiam ser usadas extensivamente para isso. A Zona da Mata mineira, por exemplo, é uma região extremamente montanhosa e de solos nutricionalmente pobres. As áreas mais produtivas são os terraços nos vales. Mesmo assim, os morros estão quase completamente desmatados para a formação de pastagens, aliás muito degradadas, e a madeira restante é em geral usada para fazer carvão. Os topos dos morros se prestam à regeneração das matas e prestariam um serviço ambiental essencial para a região: a captura e manutenção da água que alimenta as nascentes de rios da região. É necessário buscar-se alternativas ousadas para a resolução dos grandes problemas ambientais de nosso tempo e usar o realismo monetarista como aliado, revertendo o papel do dinheiro como grande causador das tragédias mundiais modernas.