Zoneamento da cana de açúcar no “Discutindo Ecologia”

O ecólogo Luiz Bento, autor do ótimo blog Discutindo Ecologia, escreveu dois textos essenciais fazendo considerações sobre o recente projeto de Zoneamento Agroecológico da Cana de Açúcar no Brasil que podem ser lidos aqui e aqui. Uma boa discussão nos comentários já foi iniciada e ainda deve ir longe. Recomendo que leiam e participem da discussão.

O segundo melhor

O professor e blogueiro Osame Kinouchi anunciou ontem no Semciência a classificação final do “Prêmio ABC para blogs científicos”. Ficamos muito felizes ao saber e agora em anunciar que o blog Geófagos ficou em segundo lugar na categoria Ambiente e Ciências da Terra. O primeiro lugar ficou para nossa vizinha de condomínio, a scibling Paula Signorini, com o excelente Rastro de Carbono. Ficamos sabendo do Prêmio meio de última hora e não fizemos sequer “campanha”, mas assim foi até melhor. Muito obrigado aos que nos votaram, certamente leitores fiéis e reconhecedores de nosso contínuo esforço em publicar textos informativos e confiáveis. É a todos vocês que dedicamos o trabalho feito neste blog. Parabenizamos também todos os premiados, lembrando ainda que todos os primeiros lugares nas categorias avaliadas fazem parte do condomínio ScienceBlogs Brasil. Parece que viemos para ficar.

Umas & Outras & Outros Bons Blogs Nordestinos

A paraibana radicada no Rio Grande do Norte, Clotilde Tavares, médica, professora universitária, artista e não sei quantos títulos mais, lançou há cerca de seis meses seu excelente blog, Umas & Outras, que só agora descobri, desatento que estou. Já falei noutros cantos de Clotilde, quando descobri dela um belíssimo texto sobre o cantador-mor dos Cariris Velhos da Paraíba, Severino Pinto da Silva, o Pinto de Monteiro, considerado pelos grandes cantadores e conhecedores como o maior repentista que provavelmente já houve por aquelas plagas.
Clotilde, assim como eu mesmo, tem origens familiares no Cariri paraibano e sofre, não sei em que grau, de uma doença benéfica que aflige grande número de sertanejos, eu inclusive: o amor pela genealogia. Como se já não fosse suficiente tudo isso, Clotilde Tavares corrobora a teoria defendida por Galton, primo de Charles Darwin, de que há algumas famílias que notavelmente se sobressaem: é irmã do poeta, escritor e compositor Bráulio Tavares, autor do blog Mundo Fantasmo, uma das minhas poucas leituras diárias obrigatórias.
Espero que mais nenhum Tavares resolva escrever na internet, senão me faltará tempo para outras leituras. Aliás, em termos de leituras na internet, ultimamente meu tempo tem sido em grande parte tomado por blogs excepcionais escritos por nordestinos. Minha estadia no Recife me possibilitou conhecer blogs como o Estuário, do jornalista Samarone Lima, grande cronista que acaba de lançar seu livro “Viagem ao Crepúsculo”, pela Editora Casa das Musas, no qual escreve sobre um período que passou em Cuba. Pelo que ouvi falar, o livro é muito bom e estou esperando acabar de pagar umas contas para o adquirir.
Aliás, em termos de blogs literários ou sobre literatura, Pernambuco é riquíssimo. Além de Estuário, costumo ler o belíssimo Trança, da poeta e professora Flávia Suassuna, sobrinha de meu ídolo pessoal maior, Ariano Suassuna, e prova viva de que há genes literários notáveis espalhados pelo Cariri paraibano, de onde vêm os Suassuna, e de que Francis Galton tinha alguma razão.

Feliz aniversário, Geófagos

Minha memória anda péssima. Há exatamente um mês completaram-se três anos que comecei, timidamente, a escrever o Geófagos, ainda hospedado na plataforma Blogspot. Meu primeiro post teve o título pouco original ‘Olá, Mundo’, uma óbvia referência à saudação inicial usada pelos programadores quando criam um software qualquer.
Desde quando descobri os textos de Stephen Jay Gould com seu inimitável estilo na coluna ‘This view of life’, na Natural History Magazine, senti vontade de tentar fazer algo semelhante com meus conhecimentos, divulgar ciência para as massas. Corria o remoto ano 2000. A internet ainda era, para nós, uma novidade. Eu sinceramente nunca ouvira falar de blogs e o máximo que pensava era em aprender HTML para criar um site onde pudesse, de alguma forma, por meus textos. Foram necessários mais seis anos até que me alcançassem notícias de uns tais blogs.
Nunca tive muita esperança de ser realmente lido, mas escrever era (e é) quase uma terapia econtinuei escrevendo. Descobri o site meter que por um tempo só registrou minhas insistentes visitas, como se para me certificar que meus textos estavam ali mesmo. Meses depois surpreendi-me com o fato de que, aparentemente, alguém que não eu visitava o blog. Uma blogueira portuguesa até mesmo me linkou, elogiosamente. Com altos e baixos, entusiasmos e decepções, aqui estamos, para durar, espero. E o resto é som e fúria.

Sobre a natureza do Geófagos

Senhores,
Concordo plenamente que o cientista ou os que tratam de ciência, seja por qual meio for, não se devem isolar na torre de marfim, lugar comum batidíssimo e por certo um sítio incômodo em que se viver. Nada disto se sugere. No entanto, quando se idealizou o Geófagos, tinha-se em mente exatamente o fato de que os blogs de ciência de então discutiam muito mais política e outros assuntos do que ciência propriamente.
A proposta inicial e atual, razoavelmente bem entendida e aceita pelo leitor típico e majoritário do Geófagos, é a de um blog com explicações de fatos científicos relativos principalmente às Ciências Agrárias, aliás muito pouco divulgadas na blogosfera. Tenho a incômoda impressão de que as opiniões políticas se aproximam muito mais das crenças religiosas do que das opiniões científicas e um dos nossos objetivos iniciais era também divulgar o método científico e as formas de se pensar daí decorrentes.
Siceramente, de forma alienada ou não, não desejaria que o Geófagos fosse visto como um espaço de discussão política. Parece-me claro que alguns blogs que inicialmente se propuseram a ser de ciência são hoje muito mais procurados pelas discussões de cunho político do que pela divulgação científica. Não tenho nada contra, mas não creio que o Geófagos seja necessário nesta contenda.
Blogs políticos há muitos, bons e profissionais, não acho que emissão de opiniões amadorísticas acrescente muito ao que está sendo feito por aí. Da mesma forma, geralmente não vejo com muito agrado as bobagens que são ditas sobre ciência em espaços dedicados a outros assuntos por profissionais de outras áreas. Nesta internet de opiniões bidimensionais, em que todos se julgam aptos a se pronunciar sobre todo e qualquer assunto, alguns portos de tridimensionalidade parecem ser necessários.

Agricultores maus, ambientalistas bonzinhos e cientistas loucos

Acredito que qualquer pessoa preocupada com a utilização prática do conhecimento científico e tecnológico saberá que a geração do conhecimento, em si, a produção de dados, nada tem de bom ou ruim. O conhecimento gerado a partir do estudo da estrutura dos átomos pode levar tanto à bomba atômica quanto à raditerapia para tratamento de câncer. Posso estar errado, mas creio que o mal uso do conhecimento científico se deve mais à ação de políticos do que à vontade de cientistas, o que não quer dizer que não haja cientistas ideologica e politicamente engajados.
O assunto em voga hoje nos meios preocupados com a questão ambiental brasileira é uma audiência pública convocada pela presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Katia Abreu (DEM-TO). A audiência faz parte de uma discussão acalorada entre ruralistas e ambientalistas sobre a ocupação de terras pela agricultura em detrimento de áreas de preservação ou conservação natural de variada natureza. O encontro contará com a participação do pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, Evaristo Eduardo de Miranda, que apresentará resultados de um estudo concluindo que, após descontadas as áreas de conservação e reservas indígenas, sobrariam 29% da área agricultável não utilizada no Brasil. Nas entrelinhas está a mensagem de que os ruralistas utilizariam esta informação para tentar abrandar a legislação ambiental brasileira visando mais terras para a agricultura.
Ora, como afirma um outro pesquisador da Embrapa, estes 29% correspondem a 240 milhões de hectares, o que é muita terra. Como já discutimos aqui no Geófagos, dizer que o aumento de áreas naturais protegidas comprometem a produção de alimentos de um país é um argumento falacioso. Existe uma diferença entre produção e produtividade agrícola. A primeira é o total produzido e contabilizado, por exemplo, o Brasil produz x toneladas de soja. Produtividade é a capacidade de produção de determinada área, geralmente um hectare, que corresponde a dez mil metros quadrados. O aumento da produção agrícola de um país pode depender ou do aumento da área plantada ou da elevação da produtividade pela adoção de melhores tecnologias agrícolas. Assim, o aumento na produtividade não está diretamente associado ao aumento na área sob agricultura. Nem o aumento da área plantada siginifica que a produção agrícola total será aumentada. Aumento de produtividade é aumento de eficiência. A abertura de novas áreas agrícolas é simplesmente uma solução mais fácil de se aumentar a produção sem que obrigatoriamente se implemente ou se adote mais tecnologia.
A Embrapa, conceitualmente, existe para gerar conhecimento científico e tecnológico para aumentar a produtividade no campo. Obviamente, haverá grandes produtores que utilizarão tecnologia gerada pela empresa. Mas vejo agora que existe uma tendência de demonização da empresa pelos meios eco-idiotas e eco-fundamentalistas. Um exemplo didático é esse texto, constrangedor de tão tendencioso, do novo blog Laboratório, da Folha de São Paulo. De forma insidiosa, em minha opinião, o autor do texto transfere a suposta maldade dos ruralistas para a Embrapa, que fica parecendo ser o braço letrado dos fazendeiros maus. Não houve competência sequer para checar fatos, como quando afirma que a Embrapa não se propõe a recuperar áreas degradadas, ignorando trabalhos importantes na área feitos em unidades como a Embrapa Agrobiologia, Embrapa Meio Ambiente, Embrapa Cerrados, entre outras (afinal de contas, a ausência da checagem de informações e de imparcialidade não é uma crítica dos jornalistas de ciência aos blogueiros de ciência? Ah, não é uma crítica, é o que alguns deles fazem quando escrevem blogs). Mas é óbvio que é mais interessante atacar a Embrapa, que junta em si as nefastas figuras do cientista e do agricultor, do que cumprir a desagradável tarefa de pesquisar e de ouvir o lado oposto. Não é coisa que a imprensa brasileira anda fazendo muito.
Ao mesmo tempo, ao equacionar a Embrapa e o interesse dos agronegociantes, o jornalista arquetípico convenientemente ignora o trabalho feito, por exemplo, na própria Embrapa Hortaliças (aos ambientalistas do asfalto informo que a esmagadora maioria dos horticultores brasileiros é composta de pequenos agricultores), na Embrapa Semi-Árido e muitas outras. Mas isso não importa aos jovens ambientalistas urbanos hipócritas e aos mocinhos manipuladores de informação do Greenpeace. O que importa é combater o mal.

Novo blog sobre Ciência do Solo

Creio que um campo do conhecimento floresce quando muitos se dispõem a discuti-lo e se interessam por seu avanço. Com a Ciência do Solo algo deste tipo parece estar acontecendo, pelo menos na blogosfera científica. Além de nós mesmos, há agora um novo bom blog de divulgação em Ciência do Solo on-line e o nome, para alguns hermético, é bem sugestivo: EdafoPedos, fazendo referência tanto à vertente aplicada quanto à pura do conhecimento sobre solos. O autor, o amigo e fiel leitor Marcus Locatelli, não é novato na blogosfera.
Ávido orquidófilo e competentíssimo orquidólogo, Locatelli há tempos mantém o blog Orquidofilia e Orquidologia, um dos melhores e mais lidos sobre orquídeas. Marcus Locatelli finalizou há pouco seu mestrado em Solos e Nutrição de Plantas da UFV, defendendo tese na área de Fertilidade do Solo. Seu orientador, Prof. Victor Hugo Alvarez V., também orquidófilo e orquidólogo, produz um excelente adubo para orquídeas, o B & G Orchidées, tão bom que merece inclusive esta propaganda gratuita.

Blogs de ciência versus Jornalismo científico, uma polarização inexistente

Sempre na mais adiantada vanguarda de qualquer assunto referente ao meio científico, a Nature de ontem publicou a reportagem Science journalism: Supplanting the old media?, escrita por Geoff Brumfiel, tecendo numerosos e relevantes comentários acerca de pesquisa que demonstrou a gradual eliminação de seções dedicadas à Ciência em meios de comunicação tradicionais. Pelo que se lê no ensaio, os blogs de Ciências, notadamente aqueles escritos por cientistas praticantes, têm cada vez mais influência na comunicação de fatos científicos, tanto para leigos quanto para jornalistas científicos. O autor e alguns entrevistados chegam a aventar a possibilidade de uma polarização, um conflito de interesses pela sobreposição de funções. Não acredito que realmente exista, ou devesse existir um tal conflito.
Meu ponto de vista é de que os blogs de ciência podem em grande parte complementar o jornalismo científico tradicional. O blog de ciência, além do viés noticioso, tem um viés principal educativo. Não se trata apenas de saber o que está sendo ou foi feito, mas de entender, ainda que incipientemente, de que modo e por que se faz determinada pesquisa, entre outras coisas. Junto a uma notícia, uma noção, e razoavelmente confiável porque obtida de alguém da área. Como bem diz John Timmer, um dos entrevistados, “A idéia [do blog de ciência] é disponibilizar às pessoas já interessadas em ciência um vislumbre maior de como a pesquisa funciona”.
Não se sugere que os blogs de ciência substituam os meios tradicionais de divulgação. No entanto, o viés educativo dos blogs, se bem e independentemente feito, pode permitir o incremento do senso crítico do próprio leitor ao lhe disponibilizar, além de uma simples notícia, um ensinamento. Achar, como afirmam alguns dos entrevistados na matéria, que um blogueiro cientista será inevitavelmente menos independente ou crítico que um jornalista é ingenuidade ou simples má fé. Aliás, o blogueiro típico em geral inicia seu blog voluntariamente, sem pagamento algum que não a esperança de que alguém o leia e comente. Não há como ser mais independente. Não há um editor a lhe observar por cima do ombro ou uma política editorial (muitas vezes influenciada pela política real) a lhe vigiar as palavras.
Os colegas de ScienceBlogs PZ Myers e Bora Zivkovic, também ouvidos, ecoam as reclamações de muitos pesquisadores ao falar das distorções de suas palavras em reportagens sobre ciência na mainstream media, geralmente utilizando um tom sensacionalista para vender que, ao invés de informar, tem sido a ênfase de muitos órgão tradicionais. O sensacionalismo irresponsável compromete a confiabilidade das informações e até mesmo a percepção pública da ciência.
O blog de ciência independente, creio eu, tem o potencial de corrigir estas distorções. Antes de ser uma ameaça, o blog de ciência é um complemento importante ao jornalismo científico tradicional, ao elevar o nível do discurso e realmente divulgar o conhecimento científico.

O Geófagos e a Rede Minas de Televisão

Caríssimos Geófagos!

Tenho a grata satisfação de anunciar que a Rede Minas de Televisão vai apresentar uma série sobre a Serra do Espinhaço. Será apresentada no programa “Planeta Minas”, que é exibido toda terça às 21:40.

Pois bem! A produção do programa, buscando informações na Web sobre a Serra do Espinhaço, encontrou o Geófagos e, através dele, a nossa pesquisa de doutoramento que trata das relações entre o solo e a vegetação na Serra do Cipó.

Resultado! Entraram em contato comigo e agendamos uma visita ao Departamento de Solos da UFV e daqui fomos para a Serra do Cipó. Foram feitas umas tomadas lá, in loco. Foi uma experiência boa, embora não tenha sido fácil, tendo em vista que a televisão exige objetividade, clareza, períodos curtos (entenda-se respostas curtas) e o não uso de termos técnicos. Some-se a isso o “nosso” despreparo psicológico e técnico para suportar, sem sobressaltos, aquela expressão GRAVANDO! Espero, enfim, ter correspondido às exigências acadêmicas e televisivas das respostas.

A série tem início hoje, 17/02, às 21:40. Nós devemos aparecer na próxima terça, 24/02. O último programa da série será exibido na outra terça, 03/03.

Só para reforçar, o “Planeta Minas” é exibido toda terça às 21:40, com repeteco na sexta, às 13:30, e no sábado, às 18:30. Divirtam-se!

Quero agradecer, em nome da Comunidade Geofágica, a oportunidade de divulgar o nosso trabalho e a gentileza com a qual fui tratado pelos profissionais da Rede Minas com os quais tive contato, em especial, à equipe designada para me acompanhar em Viçosa e na Serra do Cipó. São eles: a Jornalista Julia, o Operador de Câmera e Diretor Jordane (quase um Francis Ford Coppola), e o Cenógrafo e Motorista Paulo.

Sinceros agradecimentos a todos!

Elton Luiz Valente.

Serra do Cipó

O Marcus Locatelli do blog Orquidofilia e Orquidologia está com uma série sensacional de posts que narram uma “expedição” sua e do Geófago Elton Valente à Serra do Cipó, em Minas Gerais. Muito bem escritos e com excelentes fotografias, os posts lembram as saudosas narrativas de viagem de exploradores europeus dos séculos XVIII e XIX. Os posts podem ser apreciados aqui, aqui e aqui. Ótima leitura.

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