Determinismo pedogeoclimático
Parece ser gradualmente mais comum entre geólogos, cientistas do solo e climatologistas, além de arqueólogos, a impressão de que o substrato geológico, os solos e o clima exerceram influência certamente importante e possivelmente preponderante sobre ascenção e queda de civilizações antigas e modernas. Em 2003 os geólogos G. H. Haug, L. C. Peterson e outros publicaram na Science um artigo relacionando o colapso da civilização Maia a um ciclo de secas entre os anos 750 e 950. Os autores encontraram fortes evidências de períodos secos severos e longos durante este período analisando sedimentos da Bacia de Cariaco, na costa setentrional da Venezuela. Em 2005 os dois autores citados divulgaram seus resultados na American Scientist e uma tradução deste artigo aparece na edição de setembro da Scientific American Brasil. Interessantemente, a equipe de geólogos utilizou uma metodologia não estranha aos cientistas do solo para avaliar a ocorrência de períodos secos. Os sedimentos marinhos são em grande parte oriundos dos continentes. As chuvas intemperizam (“decompõem”) as rochas fisica e quimicamente. O intemperismo físico nada mais é do que a quebra em pedaços cada vez menores das rochas sem que haja alterações químicas dos minerais: é o que acontece com o quartzo, principal componente de muitas areias de praia. No intemperismo químico há perda de elementos químicos e associadas a estas perdas há mudanças mineralógicas. Assim, os solos, formados a partir do intemperismo das rochas, possuem alguns minerais já existentes nas rochas que lhes deram origem e minerais que se formaram depois. Os solos por sua vez são erodidos (levados) principalmente pela água, mas também pelo vento. Os sedimentos depositados pelos rios no mar provêm em grande parte da erosão dos solos. Quando há mais chuvas, a erosão é maior e a quantidade de sedimentos depositados nos oceanos é conseqüentemente maior, qundo há secas a quantidade de sedimentos é menor. Como estes sedimentos se acumulam em camadas diferenciáveis de ano para ano, é possível identificar períodos de seca pela menor espessura das camadas ou pela menor quantidade de alguns elementos químicos presentes nestes sedimentos, como ferro e titânio. Foi exatamente analisando os teores de titânio nos sedimentos que os geólogos conseguiram identificar os períodos de seca coincidindo com o período de decadência da civilização Maia.
Carbono em Semi-árido
Na edição de hoje da Nature há um artigo sobre mineralização de carbono de litter na Patagônia, sob clima semi-árido. Os autores observaram mineralização do carbono orgânico por fotodegradação, ou seja, não houve decomposição do material orgânico por microrganismos, mas uma “queima” direta pela luz solar, de forma que este carbono não contribuiu para a matéria orgânica do solo. Imaginem o que ocorreria com a diminuição da nebulosidade em regiões semi-áridas. O clima semi-árido da Patagônia não é, obviamente, igual ao do Nordeste brasileiro, então generalizações inconseqüentes não devem ser feitas, mas é possível que a fotodegradação seja um processo importante em outras regiões sob semi-aridez.