Sacks: O que alucinações revelam sobre a mente

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O olhar da mente

Alucinações são fenômenos psicológicos intrigantes que têm ocupado a atenção e os esforços de psiquiatras e psicólogos por muitos anos. Elas fazem parte do cotidiano de muitas pessoas, sendo que muitas delas temem reconhecer publicamente suas experiências com medo de serem taxadas de “loucas”. Mas será que este tipo peculiar de fenômeno pode nos ajudar a entender como a mente funciona? Para Oliver Sacks, um médico popularmente conhecido pelo seu trabalho de divulgação científica, as alucinações podem revelar informações importantes sobre o funcionamento cognitivo.

Na palestra do TED acima, Sacks descreve alguns casos impressionantes de pacientes com alucinações visuais, relatados também em seu último livro, publicado em português há pouco tempo atrás, O olhar da mente. Sacks enfatiza que alucinações visuais são um fenômeno comum e descreve que em alguns quadros onde ocorre a perda de visão gradativa, pode haver uma hiperativação de áreas do cérebro relacionadas ao processamento visual que, por fim, pode resultar em alucinações.

Após fazer uma descrição de vários avanços que foram feitos na compreensão de como o cérebro processa informações visuais e de como estruturas neurais altamente específicas estão envolvidas no processamento de determinados aspectos visuais, Sacks reafirma a importância em reconhecer que ninguém sofre necessariamente de um transtorno grave por viver este tipo de experiência e o quanto o nosso conhecimento sobre estes fenômenos tem permitido insights importantes sobre “como o teatro da mente pode ser gerado pela máquinaria do cérebro.” Na palestra exibida no site do TED, é possível optar pela legenda em português. Ao final da palestra, Sacks confessa que também vivencia regularmente alucinações visuais, provavelmente resultantes das suas deficiências visuais.

Psicologia Brazuca: Vitor Haase e a neuropsicologia

Vitor Haase

O professor Vitor Geraldi Haase é coordenador do Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento (LND-UFMG) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Configurando-se hoje como um dos maiores pesquisadores na área de neuropsicologia, tanto a nível nacional quanto internacional, o professor Vitor foi recentemente aprovado em primeiro lugar no concurso de professor titular da Psicologia da FAFICH-UFMG. Além de imerso em diversos projetos de pesquisa, ele escreve o blog Neuropsicologia e desenvolvimento humano, mais voltado para a divulgação de conhecimento científico na área, e o blog Reabilitação neuropsicológica, voltado para divulgar informações a pacientes e às suas famílias. Vejam esta ótima e profunda entrevista que o professor Vitor gentilmente nos cedeu, comentando sobre os mais diversos problemas não apenas da neuropsicologia, mas da psicologia de maneira mais ampla, estreando a nossa série Psicologia Brazuca em grande estilo!

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O que religião tem a ver com moralidade?

Religião e moralidade

Para muitos religiosos, a pergunta “O que religião tem a ver com moralidade?” teria uma resposta óbvia: “a religião é a base da moralidade e torna as pessoas moralmente melhores.” Entretanto, para muitos ateus, a resposta seria bem diferente, algo como: “a moralidade independe da religião e a religião torna as pessoas moralmente piores.” Podemos passar horas a fio construindo argumentos contra cada uma destas posições, mas melhor do que isso talvez seja analisar o conhecimento empírico que temos sobre a relação entre ambas. Foi com esse intuito que Paul Bloom, professor na Universidade Yale, publicou recentemente uma revisão discutindo a evolução da religião e da moralidade e como estes dois fenômenos se relacionam [1]. Trago abaixo uma breve discussão dos principais pontos discutidos por Bloom.

ResearchBlogging.orgA aversão que as maiores religiões do mundo compartilham por aqueles que “não crêem,” frequentemente vistos como indivíduos sem moralidade, ilustra a importância central que usualmente se dá às crenças religiosas para a moralidade. “Se um indivíduo não compartilha de determinadas crenças religiosas, ele deve possuir uma moralidade menos sólida do que a minha, que acredito”, reza a lenda. Por outro lado, o que um grande corpo de evidências tem demonstrado nos últimos anos é que se a religião tem alguma influência na moralidade das pessoas, esta influência não se deve às crenças religiosas, mas à outros aspectos menos aparentes das religiões, compartilhados por outros grupos sociais. Como muitas vezes as pesquisas na psicologia e nas ciências humanas indicam, mesmo intuições tão difundidas , como as que relacionam moralidade com crenças religiosas, podem se mostrar equivocadas a partir de um exame rigoroso.

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Compreender a sua mente é uma missão crítica

FonteStreams of Consciousness / Scientific American*
AutorJamil Zaki, autor convidado
Tradutor: André Rabelo

Cortesia da Digital Shotgun via Flickr.

No início deste ano, o senador Tom Coburn publicou um relatório chamado “Sob o Microscópio“, no qual ele criticou o financiamento de qualquer pesquisa que ele não pudesse imediatamente entender como importante. De valor particularmente duvidoso, na opinião de Coburn, são as ciências comportamentais e sociais—incluindo o meu próprio campo, a psicologia. Seguindo no seu relatório, Coburn propôs eliminar o financiamento da Fundação Nacional de Ciência para estas ciências “humanas”, escrevendo: “…alguns destes estudos sociais representam prioridades nacionais óbvias que merecem um corte do mesmo bolo que a astronomia, a biologia, a química, a ciência da terra, a física ou a oceanografia?” Mr. Brooks, que ocupa a cadeira de um painel do congresso considerando tais cortes, ecoou esta opinião. Brooks explicitamente afirmou que as ciências humanas ainda têm que provar o seu valor.

Considerando que os pensamentos e as escolhas das pessoas, por definição, desempenham o papel mais poderoso na formação da nossa sociedade, porque estudar a mente humana parece um tipo de esforço dispensável? Uma razão pode ser que frequentemente as pessoas se sentem como se elas já compreendessem suas mentes, e que o estudo das pessoas e das culturas não pode revelar nada de novo para elas. Tópicos como redes sociais, emoção, memória e relações raciais soam menos científicos do que o estudo da estrutura celular, formação proteica ou força eletromagnética. Estes últimos tópicos parecem que irão revelar insights inacessíveis às nossas intuições, enquanto que as ciências humanas não poderiam. Isto não poderia estar mais distante da verdade: exames da mente humana frequentemente desenterram grandes surpresas. De fato, uma ampla mensagem emergindo dos últimos 50 anos de pesquisa psicológica é que forças além da nossa consciência guiam muitas das nossas operações mentais mais críticas—nossos julgamentos morais, preferências e operações semelhantes. Reconhecendo estas forças e botando elas para trabalhar tem o potencial de mudar—e até mesmo salvar—vidas. Aqui estão quatro maneiras pelas quais as ciências humanas podem nos ajudar em uma grande escala, e razões porque nós não podemos viver sem a investigação rigorosa das nossas próprias mentes.

Kahneman: Como ideias vem à mente?

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Thinking: Fast and Slow

No vídeo acima, Daniel Kahneman, psicólogo laureado com o nobel de economia de 2002 e atualmente professor de psicologia na Universidade de Princeton, fala sobre os dois sistemas de processamento de informações discutidos em seu mais recente livro, Thinking, Fast and Slow (Pensamento, Rápido e Devagar) publicado no final de 2011.

O livro é certamente uma boa recomendação para quem se interessa  nos processos cognitivos envolvidos na tomada de decisão, um tema para o qual Kahneman ofereceu enormes contribuições com uma linha de pesquisa riquíssima que extrapolou as vizinhanças da psicologia, ajudando a fundar uma das áreas mais importantes da economia atualmente, a economia comportamental. Mais detalhes sobre os modelos de processamento duplo discutidos por Kahneman podem ser encontrados aqui no blog.

Estes modelos ainda carecem de uma formalização e aprofundamento, pois muitos deles  se mantiveram em uma dimensão mais descritiva e a sua utilidade tem se situado principalmente no valor heurístico que eles oferecem para a interpretação de dados e elaboração de hipóteses. Existem, entretanto, esforços na área para formalizar computacionalmente estes modelos e oferecer um maior poder explicativo.

Para um aprofundamento mais denso neste tema e um panorama da área, juntamente com as contribuições da filosofia, recomendo a leitura do livro In two minds: Dual processes and beyond. Jonathan Evans, primeiro autor do livro anterior, também lançou em 2010 o livro Thinking Twice: Two minds in one brain. Este trabalho vai em uma direção muito semelhante ao do Kahneman, divulgando os achados na psicologia sobre os nossos sistemas cognitivos. A leitura destes livros são dicas para aqueles interessados na racionalidade humana, na intuição e na consciência.

Como adivinhar de verdade o que alguém está pensando

Lendo pensamentos no cérebro

Quem nunca brincou de tentar adivinhar o que outra pessoa estava pensando? Será que conseguiremos algum dia pedir para alguém pensar em alguma coisa e então adivinhar, sem que a pessoa fale absolutamente nada? Ao que parece, os primeiros passos para isso acontecer estão sendo dados pelo pessoal do Gallant Lab, na Universidade da Califórnia, Berkeley.

Eu já havia traduzido um texto aqui no blog comentando sobre o artigo publicado na revista Current Biology onde o pessoal deste laboratório conseguiu, a partir de registros da atividade neural dos participantes, reconstituir de maneira aproximada as imagens que os participantes observavam. Neste link, tem o vídeo comparando as reconstituições obtidas com as imagens que de fato os participantes olharam.

ResearchBlogging.orgDesta vez, os destemidos membros deste laboratório publicaram um estudo na revista PLoS Biology onde eles conseguiram, novamente a partir da atividade neural, reconstruir palavras nas quais os participantes estavam pensando. Em outras palavras, eles conseguiram adivinhar a palavra que a pessoa estava pensando só a partir da atividade elétrica do cérebro dos participantes! Sim, é isto mesmo, você não está lendo nada errado!

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Fatos interessantes sobre a memória humana

Fonte: Learning Mind
Autora: Anna
Tradutor: André Rabelo

O que é a memória?

A memória é uma das funções mentais e tipos de atividade mental direcionada para preservar, armazenar e reproduzir informações.

Graças à memória usamos em nossa vida cotidiana nossa própria experiência e a de gerações prévias. É possível melhorá-la? Do que ela depende? Vamos tentar responder a estas perguntas.

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Annie Paul: O que aprendemos antes de nascermos

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Nesta provocante palestra do TED, Annie Murphy Paul apresenta uma área de pesquisa chamada de fetal origins (origem fetal), interessada em estudar as capacidades de aprendizagem humana durante o período de gestação no útero. Já não bastasse a extrema complexidade que caracteriza a relação entre cultura e herança genética no desenvolvimento dos seres humanos a partir do nascimento, esta área de pesquisa ainda vem nos mostrar evidências de processos de aprendizagem muito básicos que, aparentemente, ocorrem enquanto estamos no útero de nossas mamães, preparando-nos para o ambiente que iremos enfrentar! A área tem reunido evidências nas últimas duas décadas de que os 9 meses de gestação são cruciais para a saúde posterior das pessoas e é um período de férteis experiências sensoriais uterinas que influenciam várias características posteriores, como a preferência alimentar, a  saúde, a inteligência e a aprendizagem da língua de sua cultura. Annie Paul lançou em 2010 o livro Origins, onde apresenta um panorama dos principais achados desta interessante linha de pesquisa. Para quem quiser legendas em inglês, espanhol ou português de portugal para o vídeo, recomendo que vejam o vídeo no próprio TED.

Damasio: O mistério da mente consciente

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Um dos maiores neurocientistas e estudiosos da consciência atualmente, Antonio Damasio, professor na University of Southern California, expõe nesta palestra do TED a sua proposta sobre o que permite que existam mentes conscientes como as nossas. A mente consciente seria o resultado de um self (perspectiva subjetiva) no foco da mente. Para responder ao mistério da mente consciente, Damasio explica que precisamos entender como a mente é construída  no cérebro e somo o self é construído. Ele reuniu suas ideias em um livro lançado em 2010, intitulado Self Comes to Mind: Constructing the Conscious Brain.” O livro foi traduzido e publicado em português no ano passado, com o título de “E o Cérebro Criou o Homem.” Para quem quiser a legenda em inglês da palestra, única disponível até agora, recomendo que veja o vídeo no próprio site do TED e selecione “english” no menu “subtitles available in.” Ainda não pude ler o livro, mas vindo de um dos maiores pesquisadores na área, certamente é uma leitura recomendável para quem se interessa na compreensão da consciência.

Cientistas Aprendem a Ler Mentes: Estaria o Big Brother Muito Distante?

Fonte: Psychology Today

Autor: Sarah Estes Graham

Tradução: André Rabelo

Como muitas crianças, eu passei muito tempo sonhando com um mundo onde realidades interiores imaginadas poderiam de alguma forma se manifestar no ambiente externo. Uma vez eu desejei tanto o dom de voar que eu comecei a bater as minhas asas em público (muito depois da idade onde isso teria sido fofo). Eu rapidamente deicidi parar de ser tão observavelmente estranha, mas o sonho persistiu. Se a popularidade de filmes como “A Origem” é alguma indicação, eu não estou sozinha.

Tanto sonhadores quanto fãs de ficção científica podem segurar o fôlego – o futuro é agora. Cientistas do Gallant Lab da UC Berkeley publicaram um artigo na Current Biology mês passado apresentando a primeira abordagem bem sucedida para reconstruir filmes naturais da atividade cerebral. Estudos usando a tecnologia fMRI têm reproduzido imagens estáticas no passado, mas o fMRI mede mudanças no volume sanguíneo, não a atividade neural efetiva. Quando os neurônios estão ocupados disparando, eles demandam sangue rico em oxigênio para suprir suas atividades. Felizmente para os cientistas, este sangue possui propriedades magnéticas ligeiramente diferentes, correlaciona-se com a atividade das populações de neurônios e podem ser medidas usando-se o fMRI. Infelizmente, as mudanças no fluxo sanguíneo são muito pequenas comparadas à atividade incrivelmente complexa e rápida dos neurônios disparando. (A menor unidade mensurável sendo os píxels do  tipo voxel, mas para o imageamento cerebral isto inclui cerca de um milhão de neurônios!). Enquanto medir o fluxo sanguíneo nos da uma riqueza de informações, isto não é veloz o suficiente para refletir acuradamente o que está acontecendo com as populações neurais em nosso sistema visual. Neurocientistas estão sempre em busca de maneiras de refinar os correlatos neurais de mudanças na atividade hemodinâmica. Continue lendo…