Pessoas com tetraplegia conseguem controlar braço robótico pela mente

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Pela primeira vez em 15 anos, Cathy Hutchinson foi capaz de tomar novamente o seu café matinal por conta própria, embora ela ainda não tenha recuperado o movimento pleno das pernas ou dos braços. O que permitiu este feito foi o uso das tecnologias mais avançadas atualmente de interface entre o cérebro e as máquinas. Cathy usou apenas o seu pensamento para controlar um braço robótico capaz de pegar o copo e levá-lo até a sua boca. O vídeo acima mostra Cathy manuseando o braço e o relato dos cientistas envolvidos no projeto.

ResearchBlogging.orgEsta foi a primeira demonstração que indivíduos com tetraplegia de longa data podem ser capazes de manusear um braço robótico a partir dos sinais neurais emitidos por uma região específica do seu cérebro, relacionados à sua atividade mental. Esta grande realização foi relatada em um artigo na revista Nature esta semana. No estudo, duas pessoas com tetraplegia de longa data e sem treinamento prévio foram capazes de realizar com sucesso movimentos tridimensionais com um braço robótico.

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Insônia: Como melhorar o seu sono

Pensamentos que "surgem" na mente podem atrapalhar o sono

Atualmente, muitas pessoas relatam dificuldades para dormir. Casos de insônia tem sido prevalentes entre adultos de muitos países. A baixa qualidade do sono pode ter diversos impactos negativos na qualidade de vida das pessoas, tanto biológicos (prejuízo no funcionamento do sistema imune) quanto psicológicos (depressão, ansiedade).

Comum a muitas destas reclamações são os relatos de cognições que surgem intrusivamente na mente das pessoas enquanto elas tentam dormir e que acabam atrapalhando o sono por muitas vezes induzir a determinados estados afetivos e fisiológicos que nos impedem de “desligar” a nossa mente. Estas “cognições pré-sono” agitadoras, normalmente relacionadas a planos futuros ou preocupações, podem ter um papel importante na manutenção da insônia.

ResearchBlogging.orgMuitos estudiosos tem buscado compreender os fatores que influenciam a qualidade do sono. No começo deste ano, por exemplo, a revista Cognitive Therapy and Research publicou uma edição especial de artigos relacionando o sono com a cognição. Vale a pena conferir também a coletânea de textos falando sobre os benefícios do sono e maneiras de melhorá-lo que foi recentemente divulgada pela revista de divulgação Psychology Today. Dentro das últimas publicações, um estudo publicado na revista Psychotherapy indica que uma intervenção simples com terapia cognitiva pode apresentar melhoras rápidas na qualidade do sono de pacientes com insônia. Eu me focarei aqui em descrever como essa intervenção foi feita e como você poderia aplicar ela em você mesmo.

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Budismo: O Uso Milenar da Neuroplasticidade

Fonte: NERDWORKING
Autor
: Felipe Novaes

Embora ciência e religião pareçam sempre estar vivendo num eterno conflito, existe outro lado dessa história, em que existe o diálogo, a curiosidade e a saudável e frutífera troca de informações. De quebra, esse lado ainda representa um importante diálogo entre Oriente e Ocidente. O Dalai Lama parece ser o catalisador desse tipo de relação, mostrando – juntamente com a ciência ocidental – que a prática budista tem mais a nos ensinar sobre a nossa própria ciência do que nós desconfiaríamos. Mesmo sem saber, o monge budista e líder político e religioso do Tibet colocou o dedo numa questão científica que muito em breve se tornaria uma revolução no nosso conhecimento sobre o cérebro: a relação entre a neuroplasticidade e o suposto poder de a mente influenciar a arquitetura cerebral.

Frequentemente, o Dalai Lama deixa seus aposentos na Índia, em Dharamsala, para ir ao encontro de cientistas políticos ao redor do mundo para conhecê-los melhor, saber mais sobre seus trabalhos. Essa ação tem destaque principalmente em relação ao seu acompanhamento da atividade de cientistas. Porser um monge budista, nós tendemos a imaginar que ele não se interessasse por ciência ou mesmo que fosse em alguma medida contra ela, já que não é raro as descobertas científicas acabarem colocando à prova a fé. Mas ele dialoga prazerosamente com todos os cientistas e tem muita curiosidade.

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Sacks: O que alucinações revelam sobre a mente

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O olhar da mente

Alucinações são fenômenos psicológicos intrigantes que têm ocupado a atenção e os esforços de psiquiatras e psicólogos por muitos anos. Elas fazem parte do cotidiano de muitas pessoas, sendo que muitas delas temem reconhecer publicamente suas experiências com medo de serem taxadas de “loucas”. Mas será que este tipo peculiar de fenômeno pode nos ajudar a entender como a mente funciona? Para Oliver Sacks, um médico popularmente conhecido pelo seu trabalho de divulgação científica, as alucinações podem revelar informações importantes sobre o funcionamento cognitivo.

Na palestra do TED acima, Sacks descreve alguns casos impressionantes de pacientes com alucinações visuais, relatados também em seu último livro, publicado em português há pouco tempo atrás, O olhar da mente. Sacks enfatiza que alucinações visuais são um fenômeno comum e descreve que em alguns quadros onde ocorre a perda de visão gradativa, pode haver uma hiperativação de áreas do cérebro relacionadas ao processamento visual que, por fim, pode resultar em alucinações.

Após fazer uma descrição de vários avanços que foram feitos na compreensão de como o cérebro processa informações visuais e de como estruturas neurais altamente específicas estão envolvidas no processamento de determinados aspectos visuais, Sacks reafirma a importância em reconhecer que ninguém sofre necessariamente de um transtorno grave por viver este tipo de experiência e o quanto o nosso conhecimento sobre estes fenômenos tem permitido insights importantes sobre “como o teatro da mente pode ser gerado pela máquinaria do cérebro.” Na palestra exibida no site do TED, é possível optar pela legenda em português. Ao final da palestra, Sacks confessa que também vivencia regularmente alucinações visuais, provavelmente resultantes das suas deficiências visuais.

Compreender a sua mente é uma missão crítica

FonteStreams of Consciousness / Scientific American*
AutorJamil Zaki, autor convidado
Tradutor: André Rabelo

Cortesia da Digital Shotgun via Flickr.

No início deste ano, o senador Tom Coburn publicou um relatório chamado “Sob o Microscópio“, no qual ele criticou o financiamento de qualquer pesquisa que ele não pudesse imediatamente entender como importante. De valor particularmente duvidoso, na opinião de Coburn, são as ciências comportamentais e sociais—incluindo o meu próprio campo, a psicologia. Seguindo no seu relatório, Coburn propôs eliminar o financiamento da Fundação Nacional de Ciência para estas ciências “humanas”, escrevendo: “…alguns destes estudos sociais representam prioridades nacionais óbvias que merecem um corte do mesmo bolo que a astronomia, a biologia, a química, a ciência da terra, a física ou a oceanografia?” Mr. Brooks, que ocupa a cadeira de um painel do congresso considerando tais cortes, ecoou esta opinião. Brooks explicitamente afirmou que as ciências humanas ainda têm que provar o seu valor.

Considerando que os pensamentos e as escolhas das pessoas, por definição, desempenham o papel mais poderoso na formação da nossa sociedade, porque estudar a mente humana parece um tipo de esforço dispensável? Uma razão pode ser que frequentemente as pessoas se sentem como se elas já compreendessem suas mentes, e que o estudo das pessoas e das culturas não pode revelar nada de novo para elas. Tópicos como redes sociais, emoção, memória e relações raciais soam menos científicos do que o estudo da estrutura celular, formação proteica ou força eletromagnética. Estes últimos tópicos parecem que irão revelar insights inacessíveis às nossas intuições, enquanto que as ciências humanas não poderiam. Isto não poderia estar mais distante da verdade: exames da mente humana frequentemente desenterram grandes surpresas. De fato, uma ampla mensagem emergindo dos últimos 50 anos de pesquisa psicológica é que forças além da nossa consciência guiam muitas das nossas operações mentais mais críticas—nossos julgamentos morais, preferências e operações semelhantes. Reconhecendo estas forças e botando elas para trabalhar tem o potencial de mudar—e até mesmo salvar—vidas. Aqui estão quatro maneiras pelas quais as ciências humanas podem nos ajudar em uma grande escala, e razões porque nós não podemos viver sem a investigação rigorosa das nossas próprias mentes.

Kahneman: Como ideias vem à mente?

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Thinking: Fast and Slow

No vídeo acima, Daniel Kahneman, psicólogo laureado com o nobel de economia de 2002 e atualmente professor de psicologia na Universidade de Princeton, fala sobre os dois sistemas de processamento de informações discutidos em seu mais recente livro, Thinking, Fast and Slow (Pensamento, Rápido e Devagar) publicado no final de 2011.

O livro é certamente uma boa recomendação para quem se interessa  nos processos cognitivos envolvidos na tomada de decisão, um tema para o qual Kahneman ofereceu enormes contribuições com uma linha de pesquisa riquíssima que extrapolou as vizinhanças da psicologia, ajudando a fundar uma das áreas mais importantes da economia atualmente, a economia comportamental. Mais detalhes sobre os modelos de processamento duplo discutidos por Kahneman podem ser encontrados aqui no blog.

Estes modelos ainda carecem de uma formalização e aprofundamento, pois muitos deles  se mantiveram em uma dimensão mais descritiva e a sua utilidade tem se situado principalmente no valor heurístico que eles oferecem para a interpretação de dados e elaboração de hipóteses. Existem, entretanto, esforços na área para formalizar computacionalmente estes modelos e oferecer um maior poder explicativo.

Para um aprofundamento mais denso neste tema e um panorama da área, juntamente com as contribuições da filosofia, recomendo a leitura do livro In two minds: Dual processes and beyond. Jonathan Evans, primeiro autor do livro anterior, também lançou em 2010 o livro Thinking Twice: Two minds in one brain. Este trabalho vai em uma direção muito semelhante ao do Kahneman, divulgando os achados na psicologia sobre os nossos sistemas cognitivos. A leitura destes livros são dicas para aqueles interessados na racionalidade humana, na intuição e na consciência.

Damasio: O mistério da mente consciente

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Um dos maiores neurocientistas e estudiosos da consciência atualmente, Antonio Damasio, professor na University of Southern California, expõe nesta palestra do TED a sua proposta sobre o que permite que existam mentes conscientes como as nossas. A mente consciente seria o resultado de um self (perspectiva subjetiva) no foco da mente. Para responder ao mistério da mente consciente, Damasio explica que precisamos entender como a mente é construída  no cérebro e somo o self é construído. Ele reuniu suas ideias em um livro lançado em 2010, intitulado Self Comes to Mind: Constructing the Conscious Brain.” O livro foi traduzido e publicado em português no ano passado, com o título de “E o Cérebro Criou o Homem.” Para quem quiser a legenda em inglês da palestra, única disponível até agora, recomendo que veja o vídeo no próprio site do TED e selecione “english” no menu “subtitles available in.” Ainda não pude ler o livro, mas vindo de um dos maiores pesquisadores na área, certamente é uma leitura recomendável para quem se interessa na compreensão da consciência.

Cientistas Aprendem a Ler Mentes: Estaria o Big Brother Muito Distante?

Fonte: Psychology Today

Autor: Sarah Estes Graham

Tradução: André Rabelo

Como muitas crianças, eu passei muito tempo sonhando com um mundo onde realidades interiores imaginadas poderiam de alguma forma se manifestar no ambiente externo. Uma vez eu desejei tanto o dom de voar que eu comecei a bater as minhas asas em público (muito depois da idade onde isso teria sido fofo). Eu rapidamente deicidi parar de ser tão observavelmente estranha, mas o sonho persistiu. Se a popularidade de filmes como “A Origem” é alguma indicação, eu não estou sozinha.

Tanto sonhadores quanto fãs de ficção científica podem segurar o fôlego – o futuro é agora. Cientistas do Gallant Lab da UC Berkeley publicaram um artigo na Current Biology mês passado apresentando a primeira abordagem bem sucedida para reconstruir filmes naturais da atividade cerebral. Estudos usando a tecnologia fMRI têm reproduzido imagens estáticas no passado, mas o fMRI mede mudanças no volume sanguíneo, não a atividade neural efetiva. Quando os neurônios estão ocupados disparando, eles demandam sangue rico em oxigênio para suprir suas atividades. Felizmente para os cientistas, este sangue possui propriedades magnéticas ligeiramente diferentes, correlaciona-se com a atividade das populações de neurônios e podem ser medidas usando-se o fMRI. Infelizmente, as mudanças no fluxo sanguíneo são muito pequenas comparadas à atividade incrivelmente complexa e rápida dos neurônios disparando. (A menor unidade mensurável sendo os píxels do  tipo voxel, mas para o imageamento cerebral isto inclui cerca de um milhão de neurônios!). Enquanto medir o fluxo sanguíneo nos da uma riqueza de informações, isto não é veloz o suficiente para refletir acuradamente o que está acontecendo com as populações neurais em nosso sistema visual. Neurocientistas estão sempre em busca de maneiras de refinar os correlatos neurais de mudanças na atividade hemodinâmica. Continue lendo…

Psicologia Evolucionista

Porque o ser humano é capaz de atos tão heróicos, mas também de outros tão cruéis? Porque fazemos sexo e fazemos guerra? Como indagava o grande Cazuza, porque que a gente é assim?

No final da década de 1980, pesquisadores de diversas áreas interessados no comportamento humano começaram a se perguntar se a teoria da seleção natural de Darwin poderia ajudar a responder esse tipo de pergunta, fundando uma das áreas mais influentes e importantes da psicologia atualmente – a Psicologia Evolucionista.

Darwin, ciente das implicações de sua teoria, conclui o seu livro A Origem das Espécies prevendo que “a psicologia será baseada em novos alicerces”. Provavelmente devido ao receio das reações que o seu provocativo livro causaria, Darwin não explorou muito a questão neste livro. Em livros subsquentes como A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais e A Origem do Homem e a Seleção Sexual, Darwin trouxe evidências que indicavam a importância de sua teoria para a compreensão da natureza humana.

Muitas questões levantadas por ele ficaram em aberto e só foram retomadas por volta de 100 anos após a publicação de A Origem das Espécies com o advento da Etologia, da Sociobiologia, da Ecologia Comportamental e, mais recentemente, da Psicologia Evolucionista. Boyer e Heckhausen (2002) consideram a Psicologia Evolucionista como um dos mais importantes desenvolvimentos recentes nas ciências do comportamento. Continue lendo…

Cientistas Desde Cedo

Um número crescente de evidências têm apontado que mesmo crianças muito novas possuem uma capacidade de identificar padrões estatísticos sofisticados e relações causais em suas interações com o ambiente, e que muitos aspectos centrais do pensamento científico já estão presentes mesmo em etapas iniciais do desenvolvimento infantil humano. Isso é o que o psicólogo cognitivo Frank Keil da Universidade Yale relata em um artigo publicado recentemente na revista Science (Keil, 2011). Alguns exemplos comentados no artigo serão brevemente ilustrados a seguir.

Os cientistas recorrem diariamente a uma vasta gama de habilidades cognitivas essenciais para a realização do seu ofício como quando detectam correlações, inferem causas e descrevem mecanismos para explicar suas observações. O que é mais impressionante nos recentes estudos sobre desenvolvimento cognitivo é que muitas dessas habilidades podem ser observadas em crianças nos seus primeiros meses de vida.

ResearchBlogging.orgPodemos encontrar um exemplo disso na forma como crianças adquirem linguagem. Uma criança aprendendo a usar a linguagem precisa perceber a frequência com que certas sílabas ocorrem assim como “inferir padrões emergentes de ordem superior a partir dessas sílabas” (Keil, 2011). Um estudo de 2009 demonstrou que crianças com 5 meses de idade  aprendendo uma linguagem eram capazes de identificar os sons das sílabas assim como padrões visuais associados com cada sílaba. Continue lendo…