Hipóteses, teorias e leis
Quando eu digo (ou ouço, pois evito dizer isso para evitar confusões que terei que esclarecer depois) “minha teoria é de que todo almoço tem que conter alho”, eu estou usando a palavra “teoria” coloquialmente, mas deveria usar “hipótese” no lugar.
Em Ciência, o termo “teoria” é usado como referência para algo muito específico: um apanhado de idéias, alegações e modelos explicativos que agrupam múltiplas linhas de evidência entrelaçadas em um explicação totalmente abrangente.
Se difere de “hipótese” pois essa é essencialmente um palpite; um noção sobre uma alegação específica, ou o que se acha que o resultado de uma série observações ou experimentos vai ser.
Múltiplas hipóteses, após serem validadas, modificadas e alteradas para encaixar com as evidências, eventualmente evolui para um teoria científica coesa.
Muitas vezes algumas pessoas que defendem crenças que são contraditas pela ciência (como homeopatas ou defensores do desígnio inteligente) atacam os fatos dizendo que eles são “apenas teorias”.
Algumas dessas “apenas teorias”:
Teoria da Relatividade – prevê com exatidão a distensão temporal causada pela velocidade e força gravitacional em satélites e nos permite ter sistemas operantes de posicionamento global (GPS) com exatidão de centímetros. Bom para os negócios;
Teoria das Placas Tectônicas – descrevem com antecedência como as placas globais que constituem o planeta se movimentam e como isso afetaria alguns sistemas importantes (comunicação, por exemplo) ao longo dos anos e permite, indo para trás, mostrar como era o mundo e ainda prevê como animais e plantas se espalhariam pelo mundo (sendo estabelecido que um fóssil vegetal X tem uma certa idade, e tendo sido encontrado num local Y, então num local Z, numa mesma profundidade, representando a mesma regressão no tempo, fóssil semelhante deve ser encontrado). Bom para a Arqueologia;
Teoria do Sistema Heliocêntrico – o Sol é o centro de rotação de todos os planetas que formam seu sistema isso permite saber com antecedência a localização exata de qualquer planeta solar em qualquer data. Bom para a Astronomia;
Teoria dos Germes – explica como agentes infecciosos causam doenças e ajuda a criar soluções para combater tais mazelas. Bom para a Medicina e a Saúde Pública;
Teoria da Herança Genética – mostra como determinados traços (bons e maus) podem ser passados de pais para filhos, incluindo resistências ou pré-disposições a certos problemas de saúde. Bom para Genética e Medicina.
Teoria da Evolução – dados dois fósseis onde um evoluiu de outro, é possível conceber detalhadamente como um terceiro se encaixaria entre os primeiros (fóssil de transição) e saber a época em que essa mudança ocorreu. Bom para Biologia.
Teorias tão bem estabelecidas a ponto de poderem ser tratadas como Fatos, apresentando inúmeras linhas de evidência independentes, inúmeros fenômenos.
Uma teoria fará, obrigatoriamente, muitas previsões, não apenas uma previsão específica.
Mas, mesmo assim, nunca são imutáveis ou dogmáticas e podem (devem) sempre mudar para enquadrar observações e dados melhores, mais confiáveis, mais precisos.
Se apenas um evento não seguir conforme previsões de uma teoria, esta deve ser abandonada ou reformulada para se adequar à nova situação, podendo dizer com antecedência que aquilo ocorrerá novamente.
Não vale “isso aí que aconteceu diferente também vale, é porque tem que pensar da esquerda pra direita”. Post hoc não conta.
Desta maneira, teorias não podem ser provadas e nunca viram Leis.
Leis descrevem as coisas enquanto teorias as explicam.
A Lei da Gravidade diz que se eu jogar uma bola para cima num corpo com um campo gravitacional positivo, ela vai cair no chão. Sem explicação. Isso é o trabalho da Teoria Gravitacional.
Outro exemplo: a Teoria da Evolução por Seleção Natural é a melhor explicação para o Fato da evolução.
Árvore no pulmão
Essa chamada é, no mínimo, muito suspeita. Pelo menos muito exagerada.
O que Artyom Sidorkin tinha em seu pulmão (caso seja realmente verdade) era, no máximo, uma muda.
Mais alguém tem problemas com a idéia de uma planta se alimentando, aparentemente, de sangue?
A primeira coisa que pensei foi “planta hematófaga?”.
Essa estória saiu em todos os tablóides mas em quase nenhum jornal de respeito.
Hummm…
Se alguém não sabe do que estou falando, clique aqui.
Be skeptical!
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ATUALIZAÇÃO
E a clorofila, como fica?
Pulmão é geralmente escuro.
(Valeu Ítalo!)
Previsível. Replicável. Falseável.
O Método Científico é o processo pelo qual os cientistas, coletivamente e com o passar do tempo, se aventuram para ajudar a construir uma representação do mundo cada vez mais apurada, confiável, consistente e não-arbitrária.
Tudo o que acontece, se dá por alguma causa natural, que pode ser explicada racionalmente. Não conseguir ver a causa não é o mesmo que a causa não existir (ausência de evidência não é evidência de ausência). Exemplo: passamos alguns milhares de anos sem saber como o Sol se movia ou a Chuva caía. Não víamos a causa, mas ela sempre esteve lá. Se acontece, é natural; se é natural, pode ser explicado; se ainda não é explicado, com perseverança e diligência (e, às vezes, sorte), é passível de ser. Não tema!
Natureza = Ciência.
Duas palavras que exprimem a mesma coisa. Como “mexerica” e “tangerina”, “mosquito” e “muriçoca”, “sutiã” e “califom”, etc.
A Ciência não é uma coisa, um objeto ou algo em que se deva acreditar cegamente. Ciência é um método, uma maneira de fazer as coisas, e que nos ajuda a entender a Natureza.
Este método promove, necessariamente, mais que qualquer religião ou filosofia, a humildade. Um pesquisador pode passar a vida envolvido numa teoria, mas sabe que aquilo, fruto de uma vida inteira de trabalho, pode ser destruído de maneira muito simples, por um experimento, observação ou condições melhores. E sabe que muitas pessoas ao redor do mundo vão tentar, o tempo todo, fazer exatamente isso, o que deve servir para que o cientista em questão se resguarde e se esforce, tentando deixar sua teoria e seu experimento sem furos e à prova de balas.
O que é meio impossível. Podem perguntar a Aristóteles, Newton e Einstein o que aconteceu com a Gravidade.
Na Ciência não existe dogmas, ou verdades imutáveis. Ciência tem que ser maleável e é bom que mude constantemente, para adequar dados mais confiáveis de instrumentos mais sensíveis e tecnologias mais avançadas.
Acreditar no consenso da comunidade científica não é se valer do argumento de autoridade (isso seria acreditar na palavra de uma só pessoa que se diga entendida no assunto), pois cada teoria existente está, neste exato momento, sendo exaustivamente testada para tentar ser desmantelada e uma melhor surgir.
Uma teoria nasce da seguinte forma:
Observação de um fenômeno; uma bola jogada para cima, sempre cai de volta.
Formulação de uma hipótese que explica o fenômeno; o peso da bola está fazendo-a ser atraída pelo chão.
Previsão de resultado, usando a mesma hipótese, de outro fenômeno semelhante; um sapato jogado para cima deverá cair do mesmo jeito.
Realização de testes experimentais, por indivíduos independentes, para tentar confirmar a hipótese; alguém em outro país joga uma banana para cima e espera que ela caia do mesmo jeito que a bola ou o sapato.
Criar uma fórmula (matemática, por exemplo) que explique os resultados experimentais obtidos e preveja com exatidão os próximos; sabendo os dados da banana, do sapato e da bola, posso calcular como um piano vai cair.
Aquelas pessoas independentes são, geralmente, editores e colaboradores de jornais científicos, que recebem as mais variadas hipóteses para serem testadas, num processo conhecido como “revisão por pares“.
Quando alguém procura primeiro os veículos de comunicação em massa para divulgar suas pesquisas ou suas experiências, está se utilizando do apelo popular que aquilo possa ter (poções que curam tudo, cremes tópicos que emagrecem, etc.), ao invés de colocar a sua “descoberta” sob o escrutínio de um painel especializado, que iria testar exaustivamente sua teoria.
Alegações extraordinárias, requerem provas extraordinárias.
Para uma hipótese finalmente virar uma teoria, ela precisa, necessariamente;
1 – Fazer previsões do que vai acontecer ANTES do fato. Não adianta prever depois. Isso é coisa para astrologia.
2 – Ser completamente repetível por terceiros (observadores autônomos), usando os mesmos parâmetros. Não serve dizer que só Fulano consegue usar um certo procedimento para chegar a um certo resultado especial. Isso é coisa de curandeiro e feng shui.
3 – Ser passível de uma completa obliteração através de observações melhores. Não voga dizer que se deu errado, a culpa é sua. Isso é coisa dos escritores d’O Segredo e de caçadores de fantasmas.
4 – Ser suportado por dados científicos reais, concretos e públicos. Não vale de nada dizer que existe uma pesquisa que prova que algo funciona sem dizer quem fez e onde estão os resultados para que estes possam ser avaliados. Isso aí é coisa de homeopatas.
Se um cientista se apegar a uma hipótese ou teoria e não quiser, mesmo se confrontando com evidências avassaladoras, que ela seja provada falsa, por vaidade ou qualquer outro motivo, esse sujeito não é um bom cientista. Provas sempre devem falar mais alto.
Para finalizar, gostaria de deixar claro que a crença em Ciência e no Método Científico não é o mesmo que crença religiosa, existe uma diferença semântica.
Exemplo, eu acredito que tem 1 Real no meu bolso, mas não pretendo fundar uma religião para venerar ou adorar meu R$1. Não existe dogmas, ou verdades supremas no meu parco dinheiro. Se eu gastar esse miúdo, não passarei o resto da eternidade vagando liso pelo mundo.
A confiança no Método é cética, fruto de provas e evidências, e não resultado de ouvir-falar nem de ameaças nefastas.
Se você está lendo isto, agradeça aos homens e mulheres que se valeram do citado procedimento para fazer com quê seus ancestrais tivessem fogo para afastar os animais, plantações para evitar a fome, barcos para colonizar novos mundos, casas e carros, para nos manter num lugar só, mas não por muito tempo, hospitais para diminuir o risco de morte dos infantes e suas genitoras, vacinas e antibióticos para frear o avanço de doenças, livros para armazenar conhecimento e computadores para perdermos nosso tempo lendo coisas como esta.
Aos que até aqui chegaram, espero que tenham gostado (eu usaria “tenham se maravilhado”, mas acho que esse tipo de reação acontece mais comIgor) do relato e que tenham entendido o que é Ciência.
E obrigado pela visita!
“Um milhão de experimentos podem comprovar minha teoria, mas basta um resultado contrário para que ela seja totalmente demolida.”
– Albert Einstein-
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Publicado originalmente no meu outro blogue.
Poder da mente vs. Tecnologia
Um sujeito estava no terminal internacional do aeroporto esperando a sua mãe chegar da Bélgica quando notou um passageiro recém-chegado da Coréia do Sul, aparentemente falando sozinho enquanto andava pelo salão de desembarque.
Depois de alguns passos, o coreano se alivia do peso de suas duas malas de viagem pousando-as no chão, olha para o relógio e se despede dele.
Neste momento o observador nota que o passageiro não sofre de esquizofrenia de grau algum, mas está falando com alguém dentro do relógio.
Não literalmente dentro, mas uma projeção humana digital que aparece no mostrador de pulso. E também não se trata de um relógio, mas de um comunicador.
Muito curioso, se aproxima do esbaforido turista enquanto este descansa por alguns segundos do estresse natural que aflige os que passam muitas horas dentro de uma cabine pressurizada, mais pesada que o ar, impulsionada por motores a explosão, três quilômetros acima do chão e se movendo a metade da velocidade do som e do esforço causado pelo transporte das malas.
Quando atinge uma distância razoável, suficientemente perto para que se comuniquem com vozes baixas e amigáveis mas não tão perto que cause desconforto ou faça seu interlocutor se sentir ameaçado pela aproximação repentina de um estranho, pergunta, num inglês treinado na escola, como um relógio pode dobrar como um videofone.
O oriental, não se sentindo ameaçado e satisfeito com a proximidade entre si e seu inquisidor, responde que a tecnologia coreana é a mais avançada do mundo e que seu aparentemente insípido relógio de pulso não é apenas isso e nem somente um videofone, mas uma maravilha tecnológica.
– Ele permite que eu mantenha uma conversa sem precisar olhar para meu pulso, projetando uma imagem pseudotridimensional em meu campo de visão, independentemente de para onde meus olhos estejam voltados, fazendo o mesmo com o som, projetando-o diretamente em meu ouvido. Ele também me diz as coordenadas exatas de onde estou, informa a situação política, econômica e social e os resultados dos eventos esportivos mais importantes e as manchetes dos principais jornais do país onde chego para que não passe vergonha em conversas sociais, me atualiza constantemente sobre avanços científicos das maiores universidades e institutos mundiais. Também dá a cotação, em tempo real, de todas as moedas circulantes atualmente e as flutuações de todas as bolsas de valores ao redor do planeta. Ele lê minhas informações vitais constantemente, me alertando quando alguma taxa está fora da minha faixa pessoal e se eu necessito de algum nutriente que possa estar escasso no meu organismo. Também conecta-se com qualquer emissora de rádio e TV que eu queira e contém um banco de dados com as discografias de praticamente todos os artistas que já gravaram.
– Uau! E a hora?
– É sincronizado com vários relógios atômicos, me sendo possível saber a hora certa a qualquer momento.
-Inacreditável! Como vocês conseguem isso?
– Estudos, meu caro. Estudos e investimentos. Nosso país investe mais em tecnologia que qualquer outro no mundo!
– Impressionante! Isso deve custar uma fortuna!
– Na verdade não. Custa caro, mas não tanto quanto você deve estar pensando. E este meu me foi dado de graça, pois sou funcionário da empresa que o produz e possuo mais cinco destes. Estou aqui a negócios para vender nossos produtos a investid…
– DE GRAÇA!? Você recebeu isso aí de graça e ainda tem mais cinco??
– ..ores. Sim, é isso mesmo.
– Você… por algum acaso… não poderia… er… se fosse possível…
– Cem dólares.
– Só isso?
– Cem dólares é muito dinheiro na Coréia do Sul.
– Aqui. Cem dólares.
– Obrigado. Devo agora me dirigir ao hotel para relaxar um pouco. Tenha um bom dia!
– Obrigado… Ei, você esqueceu suas malas!
– Malas? Ah! Não, essas são as baterias…
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Mais sobre o robô controlado pela mente através de um computador do tamanho de um móvel de sala no Chi vó, no pó e no RNAm.
O fim da Dengue
Dengue só vai se acabar quando o Aedes aegypti for extinto e se o vírus não achar outro hospedeiro.
Não gosto de ser o arauto do terror nem o núncio do pânico, mas desde que o mosquito consiga pôr ovos, locais propícios faltarão jamais.
Por mais que se furem todas as latas, se virem todas as garrafas, se troque toda a água de jarro por terra e se queimem todos os pneus em rodovias federais durante protestos criminosos e indecentes, não vai parar de chover (pelo menos não aqui em Natal, pelo menos não no futuro próximo) e água não vai deixar de empoçar (ô palavrinha feia…).
Aqui, nós temos o segundo maior parque urbano do país (o maior natural, não-reflorestado) mais milhares de árvores espalhadas pelos canteiros e casas urbanas e de praia. Cada uma dessas árvores tem milhares e milhares de folhas que, pela falta de estações bem definidas a essa pouca distância do equador, estão o tempo todo sendo repostas, o que significa o descarte das velhas em favor das novas (“não vou mais com meias velhas, só vou com meias novas”). Cada uma dessas folhas mortas é um potencial receptáculo de água da chuva (que, através de impacto mecânico, derruba ainda mais folhas), se tornando também um berçário para os ovos dos mosquitos (talvez seja verdade que tampinhas de garrafa também podem ser).
Os ovos são postos acima d’água e podem sobreviver na secura por mais de um ano, em condições favoráveis (umidade, temperatura, falta de perturbações, etc). Quando a chuva (ou qualquer água, tanto faz, basta ser mais ou menos limpa) cai e o nível do líquido sobe, o ovo cai na água e choca (eu li que isso pode acontecer em meia hora), se desenvolvendo, em mais ou menos uma semana, num mosquito adulto que pode viver até trinta dias.
Eu não sei quantas vezes a fêmea põe, mas (ainda não sabendo com certeza) li que elas podem colocar até 200 ovos duma vez e que para produzir uma fornada elas precisam se alimentar até três vezes e que cada refeição do nosso sangue (o diabo do bicho é antropofágico, só gosta de sangue humano) leva de dois a sete dias para ser digerido.
Se a digestão durar em média cinco dias e a fêmea se alimentar duas vezes para gerar os ovos, são seiscentos ovos por mosquito(a).
Nem todos esses seiscentos vão chocar, alguns vão chocar na época errada, alguns vão ser comido por lagartixas, alguns nasceram machos (só as fêmeas se alimentam de sangue para ter energia suficiente para produzir ovos. Fora da época de reprodução, tanto elas quanto eles se alimentam de seiva e néctar, como as borboletas), alguns vão nascer mal formados, outros não vão encontrar as condições ideais. Aliás, por falar nisso, as condições ideais para o desenvolvimento das larvas se dão num local com alta umidade e temperatura entre 25 e 30 graus Celsius.
Eu conheço um lugar assim.
Voltando para o assunto “poças d’água”, quem aqui já subiu no telhado da própria casa (ou conhece alguém que o fez) para fazer o rodízio das telhas? Uma telha é uma tigela que não desenvolveu a tecnologia da borda contínua. Mas basta um empecilho (um mói de poeira ou terra ou folhas caídas) para tapar o escorrego e transformá-la num prato. Que fica escondido por duas outras telhas viradas para baixo.
Qual é o órgão da Prefeitura que vai passando de buraco em buraco (porque Natal está LOUCA de buracos, mais buraco que boneca de Vodu) das nossas ruas jogando água sanitária? Porque um buraco forrado com asfalto junta água bem que só. E junta muita.
Carros Fumacê (hoje tem muita palavra feia aqui…) são úteis porque matam os mosquitos. Mas não matam os ovos nem as larvas. E matam apenas na hora, já que a fumaça se dissipa muito rápido (não consegui achar um dado confiável, mas fumaça é fluida, que tende a se espalhar muito rápido, afinando e se diluindo, perdendo a eficácia) e toda hora tem mosquito nascendo.
Para ser eficiente MESMO, a fumaça teria que jorrar vinte e quatros horas por dia, por trinta dias, o que não seria muito bom para a nossa saúde.
Esta semana eu fiz uma observação interessante. Eu trabalho num prédio que fica entre duas ruas de mão única, uma indo, outra vindo. O bico da bomba de aerossol dos carros Fumacê é fixo e aponta para o lado do passageiro (talvez para zelar pela saúde do motorista que, desse jeito, não fica exposto ao produto o tempo todo). Ou seja, quando está subindo a avenida, a fumaça está indo para os prédios aqui em frente. Quando está voltando pela rua de trás, novamente o bico aponta para o outro lado. Se a via for mão-única, os prédios do lado esquerdo jamais serão encobertos pela névoa de querosene e veneno.
Os mosquitos atacam em ambos os lusco-fuscos e são guiados pelo cheiro do gás carbônico que exalamos pela nossa respiração e através da nossa pele e pelo ácido lático produzido em nossos músculos (existem outros odores também, mas esses dois são os principais).
Depois da picada, o tempo de incubação do vírus varia entre quarenta e oito horas até quinze dias, quando ficamos doentes (mas nem toda picada transmite o vírus e às vezes são necessárias várias incidências).
Os sintomas principais são: dores nos músculos e nas juntas, manchas vermelhas pelo corpo e moleza generalizada.
Mas um só não quer dizer nada, todos têm que estar presentes. Só dor nas juntas pode ser Gota, manchas na pele pode ser Chanha e moleza pode ser preguiça.
Se os três sintomas estiverem presentes, corram (mas corram devagar) para o médico ou posto de saúde, bebam água como se não houvesse amanhã e DESCANSEM. Dengue não tem cura, quem faz o sujeito melhorar é seu próprio sistema imunológico que precisa de energia para detonar os invasores. Não desperdice.
E façam um acompanhamento, pois a sociedade precisa saber por onde o infectado andava ao ser picado, quanto tempo durou o quadro e a intensidade daquele modelo do vírus (do qual existem quatro sortes).
Novamente, água e cama. Muito de cada.
Porque a Dengue jamais vai acabar…
(adjetivo) repórter (verbo) reportagem. (substantivo)!
Participando da enxurrada de indignação que está caindo sobre a cabeça da colunista Ruth de Aquino da Época Online, resolvi me pronunciar (nada como uma mentalidade de turba logo de manhã cedo para me deixar excitado).
Porém, não consegui pensar em nada, pois Renan e Karl roubaram tiveram as melhores idéias, portanto vou usar as palavras da própria Ruth e distorcê-las ao ponto do ridículo, assim como ela se mostrou capaz de fazer (apesar de ter chupado a idéia já pronta e o texto já escrito de uma publicação internacional).
Ponto-a-ponto:
Com tanta desgraça na política, uma receita de riso certo é ler sobre pesquisas “científicas” de universidades respeitadas.
Com tanta coisa importante acontecendo no mundo, uma receita certa de indignação é ler uma “reportagem” leviana numa revista respeitada.
Conclusões: o cérebro masculino vê mulher de biquíni e sem rosto como objeto. Canhotos vão pior na escola – e os mais desajustados são as meninas ambidestras. Genes gays excitam as mulheres. Brincadeiras fazem bem às crianças.
Sugestões, pois pesquisas isoladas não concluem muita coisa, de pesquisas primárias que podem ser o início de algo melhor, mais bem elaborado.
Resultados variam do óbvio ao inverossímil e preconceituoso. Como se arruma patrocínio para tanto besteirol?
O resultado da reportagem mostra que ela é obviamente preconceituosa e inverossímil em seu besteirol patrocinado (e ela realmente acha que “genes gays excitam as mulheres” é uma conclusão óbvia? Até a idéia de um “gene gay” já está sendo descartada).
Essa enxurrada de conclusões, com base em entrevistas e em ressonâncias magnéticas do cérebro, vem revestida de um manto de credibilidade.
Um manto de credibilidade parecido com o vestido por esse artigo, baseado em desinformação?
O próximo trecho é meio longo, vou tentar cortar um pouco sem mudar o teor:
A “mulher-objeto”, por exemplo. Foi “um experimento nos Estados Unidos com 21 homens heterossexuais estudantes de pós-graduação, apresentado em Chicago na Sociedade Americana para o Avanço da Ciência”. Avanço? O estudo, com uns gatos pingados, comprovou que “ao observar um corpo feminino sensual desprovido de identidade” – ou seja, ao olhar uma gostosa de biquíni e com o rosto escondido – “os circuitos cerebrais ativados nos homens são os mesmos acionados ao observar uma ferramenta, um objeto inanimado”.
Bom, não consegui cortar. Mas o que tenho a dizer é o seguinte: reclamar que o experimento foi feito com pouca gente é tão fácil quanto escolher poucos artigos com conclusões aparentemente óbvias e expô-los ao ridículo.
Será que Ruth teria chegado a essa mesma conclusão usando apenas seus extraordinários dotes previsíveis? “Todo homem é cafajeste” não conta como conclusão.
E “avanço” não é só uma marca de desodorante. Se mesmo com essa amostragem imensamente mínima já foi possível notar que certas partes do cérebro acendem e outras não, já é um avanço.
Agora já há base para uma pesquisa com vinte mil homens.
Um passo de cada vez, jovem padawan.
Contrariando meu próprio conselho, vou pular uma parte do artigo e vou direto para
Como o novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assina todos os documentos com a mão esquerda, é no mínimo inoportuna a pesquisa recente afirmando que “os canhotos vão pior na escola porque são uns desajustados com Q.I. mais baixo”.
Tem razão. Que burrice!
Resultados científicos tem que ser bonitinhos e favorecer os que mandam.
Longe daqui com essa idéia de que o presidente pode ter um traço ruim! Aff!
Se Obama começar a fumar vão mudar todos os resultados “inoportunos” que mostram que cigarro faz mal?
Homens gentis e sensíveis atraem mulheres, isso todo mundo sabe, para que pesquisar? E vice-versa.
Se todo mundo sabe, quem inventou o ditado “mulher gosta de apanhar”? E o termo “mulher de mecânico”?
E esse “vice-versa”? Mulheres atraem homens gentis e sensíveis?
Quando eu escrevia uma redação com ambiguidades assim no primário minha professora brigava comIgor…
Uma pesquisa inédita, da Faculdade Albert Einstein de Medicina, em Nova York, comprovou que crianças que dispõem de 15 minutos de intervalo para brincar na escola são menos bagunceiras e aprendem mais que as crianças confinadas o dia inteiro numa sala de aula. Esse estudo envolveu mais de 10 mil crianças entre 8 e 9 anos. Para provar o que todo ser humano já sabe.
A – todo ser humano sabe que uma criança de oito anos que passa quinze minutos brincando aprende mais.
B – eu não sabia disso
Conclusão – eu não sou um ser humano.
Isso explica tanta coisa! Obrigado Ruth, agora eu sei o que estava errado todos esses anos!
Para meu gran finale, uma explicação dos prêmios do IgNobel que ele acha hilários:
pulgas que vivem nos cães pulam mais alto que as que vivem nos gatos
Demonstração de corrida evolutiva. Cães são mais altos em geral, logo as pulgas que os afligem precisam pular mais alto.
Coca-Cola é um espermicida eficiente
No mesmo ano o mesmo prêmio foi dado a outra equipe que provou exatamente o contrário. Odeio explicar piada, mas isso é uma.
dançarinas de striptease ganham mais dinheiro nos períodos de fertilidade
Pesquisa sobre interações humanas e estados psicológicos afetados por mecanismos biológicos.
Isso é realmente muito interessante e merece mais pesquisa.
medicamentos falsos caros são mais eficientes que medicamentos falsos baratos
a comida é mais saborosa quando soa mais atraente
Mais sugestões acumuladas sobre o efeito placebo e o poder psicológico de influências externas.
montes de fios ou de cabelo inevitavelmente enroscam
Fios de qualquer tipo. Essa pesquisa pode ajudar a desenvolver um modelo matemático para a produção mais eficiente de certos produtos e embalagens.
Ruth, geralmente nós pensamos para a frente! Até primatas menores fazem isso.
É muito mais saudável que ler sobre o Senado, Sarney, Collor e Renan Calheiros. Está comprovado cientificamente.
Imbecil.
Pessoas mais discretas/responsáveis/esclarecidas que eu, sobre o mesmo assunto:
Em prol dos cientístas, idiotas e dos “ridículos” – Ciência Brasil
Conselho de Darwin para Ruth – Ecce Medicus
É muito fácil ser um jornalista frívolo – Geófagos
Nunca é tarde para uma autocrítica – n-Dimensional
Candidato a santo– Boca do Inferno
Ciência e o óbvio – Rainha Vermelha
Ciência é besteira? – Discutindo Ecologia
“Mas isso eu já sabia!” – 100Nexos
Pesquisas científicas me fazem rir! – Rastro de Carbono
Cara Ruth de Aquino, – Brontossauros
Ruth de Aquino já é a segunda colocada em comentários na Revista Época – SemCiência
Reportagem original – LINK
Pesca mortal
O G1, central de notícias mais visitado e mais mal escrito do país,
ataca novamente.
Reproduz uma matéria do Daily Mail, dizendo que um mergulhador pescou um marlin apenas com um arpão portátil.
E que ambos se encontravam a dois quilômetros de profundidade quando isso aconteceu.
O Daily Mail, tablóide inglês conhecido por fabricar matérias e com sua maior parte editorial centrada em fofocas, diz na manchete da
notícia que o médico pescou o peixe “com as mãos nuas” porque ele não usou vara ou linha.
Mais adiante, no entanto, revela que o peixe foi pego com arpão.
Se eu estivesse numa briga de mãos-limpas e meu adversário segurasse um arpão, eu não consideraria a luta como justa.
A foto parece MUITO com um trabalho de photoshop para ser real e o pescador está usando um tubo de mergulho (snorkel) na foto.
Ele mergulhou dois quilômetros prendendo a respiração?
E ainda foi atrás do peixe?
Nadou atrás de um Marlin, um peixe um tanto rápido (o texto da matéria afirma que ele pode chegar a 80Km/h), usando só seus pés (as mãos ocupadas com o arpão) e enquanto segurava o ar dentro dos pulmões em um ambiente de extrema pressão?
Novamente, não existe o mínimo de senso crítico no G1.
Sequer disseram que poderia ser exagero.
Nada, nem uma nota de rodapé ou um 😉 para disfarçar.
Deram a notícia como real, como tendo acontecido mesmo.
Repúdio.
Dica do Breno, via Twitter.
Cadê o horizonte?
Ombro deslocado, dente faltando, olho roxo, supercílio aberto, dedão quebrado, costela fraturada.
Levei uma Sra. Surra do programa novo que usamos para blogar aqui no SBB, mas agora o tenho numa chave de perna, esperando que ele diga “Mat-te” e desista (e torcendo para que não escape e reverta o golpe. Acho que tenho um pulmão perfurado).
Pois bem, referências a filmes de Van Damme à parte, vamos ao que interessa: informações relevantes.
Durante o último fim-de-semana eu fiquei tentando calcular o quão longe o horizonte estava (mas fiz isso em segredo e em silêncio pois não queria que meus amigos achassem que eu sou nerd), mas a falta imensa de memória e Internet não me deixaram chegar a uma conclusão satisfatória e então, logo na segunda-feira, fui atrás.
Munido de um computador e de duas línguas, descobri que o cálculo é bem mais simples do que pareceu na minha cabeça distraída por talharim aos quatro queijos e churrasco com chimichurri.
O horizonte está exatamente (aproximadamente, na verdade, mas a primeira palavra tem mais peso dramático) a uma distância que é igual à raiz quadrada do triodécuplo da distância entre o plano observado e o ponto de observação.
Fácil assim e eu não conseguia calcular de cabeça enquanto tomava vodca com soda. Estou ficando velho…
Tudo bem, eu admito, inventei uma palavra ali no meio, mas a definição é exatamente essa, sendo que é bem mais fácil pensar desse modo: multiplique a altura em que seus olhos ficam por 13 e tire a raiz quadrada desse número e você encontrará a que distância o horizonte se encontra (mas a conta só funciona para lugares planos, como o mar. Não adianta medir o horizonte se tem uma montanha nele).
Sua altura é em metros e o resultado é em quilômetros.
No meu caso, por exemplo, meus olhos ficam a um metro e oitenta do chão (sim, eu sou bastante alto), então 1,80 x 13 = 23,4.
A raiz quadrada de 23,4 é 4,84, aproximadamente.
Então, eu estando em pé na praia, o céu encontra o mar a pouco menos de cinco quilômetros.
Além do horizonte existe um lugar bonito e tranquilo pra gente se amar. E esse lugar se chama Universo.
O que vemos depois da linha limítrofe é mais céu, porque a Terra se curva para dentro e só podemos ver mais dela se subirmos um pouco mais.
Do terceiro andar de um edifício, veríamos mais ou menos dez quilômetros de mundo antes desse se esconder.
O Oráculo pode lhe ajudar nos cálculos se não houver lápis e papel por perto: basta escrever no campo de busca “raiz quadrada de (13 * altura)” e a calculadora Google vai resolver seus problemas aritiméticos.
Agora me dêem licença que eu vou tentar extrair mais informações deste programa e ver se consigo pelo menos colocar minha foto em algum lugar…
Mais spam
Como já foi sugerido que tentar desmistificar boatos acaba ajudando a reforçá-los por aumentar sua exposição, eu não vou me dar ao trabalho de rebater uma por uma as alegações do último absurdo que chegou a mim ontem via email.
Mas eu também não sei ficar quieto.
Clique aqui para ler o resto (atenção: contém material impróprio para quem está com pressa)
Batons com chumbo
Um dos meus hobbies é investigar emails que me parecem falsos.
E eu recebo MUITAS dessas correspondências eletrônicas.
Ontem eu recebi um com o assunto “Batons causam câncer”, o que já me chamou a atenção e ativou algumas sirenes de alerta.
“Batons causam câncer? Todos eles? Que tipo de câncer? Quem disse isso? Por que eu não conheço uma só mulher que tenha câncer de lábios apesar de 100% das mulheres que eu conheço usarem batons?” e por aí vai.