Trabalho em progresso…

Sempre que eu faço propaganda deste meu blogue ao vivo e entrego meu cartão de visitas (sim, eu possuo um cartão de visitas com o endereço daqui) eu fico pensando na primeira coisa que a pessoa vai ver.
Nunca penso a mesma coisa dos outros blogues, porque um é de comida (todos os artigos têm o mesmo formato), um é de qualquer coisa (então tanto faz) e o mais novo é de apocalipse (todo mundo já sabe o final).
Mas esse aqui é mais “sério”. Eu tento divulgar Ciências aqui (apesar de já estar algumas semanas sem escrever algo relevante).
Acho que vou voltar com uma tradição perdida no tempo e vou fazer coletâneas vez por outra aqui.
Aí a página inicial sempre vai ter alguns links com coisas que realmente merecem ser lidas.
O que vocês acham?

Enfim, a resposta

A dica de ontem foi ordem alfabética.
Ou seja, a sequência de números 4; 1; 1; 1; 1; 0; 1; 0; 0; 0; 0; 4; 0; 0; 4; 0; ? … representa as letras do alfabeto, em ordem.
A primeira dica foi 4; 9; 7; 4; 3, que também está em ordem alfabética e cuja soma dá 27.
O quê tem 27 coisas que podem ser ordenadas daquela forma?
Última chance. Resposta depois do pulo.

Continue lendo…

E o enigma?

Nenhuma resposta? Sequer um palpitinho?
Bom, não quero dar a resposta assim sem ter com o quê comparar, então vou dar outra dica: ordem alfabética.
Amanhã eu coloco a resposta, de um jeito ou de outro. Por favor, pelo menos chutem.
Errar um enigma proposto por mim não é vergonha alguma.
Sério.

Apocalipse

Aparentemente, todo mundo gosta de ouvir que o mundo está para acabar.
Eu digo isso porque meu artigo mais popular até hoje (tirando um sobre o Homem-Árvore, mas esse é um ponto fora da curva que inchou artificialmente graças a um canal de TV) foi a trilogia pósapocalíptica que eu escrevi para uma blogagem coletiva em busca de paraquedistas (que são basicamente pessoas que entram em páginas por engano atraídos por um título sugestivo ou por uma busca mal feita).
E estou confirmando isso diariamente através de um experimento que estou conduzindo (por tempo indeterminado) e que, em homenagem ao primeiro título da minha trilogia, se chama “Agora o mundo acaba!” e tem como subtítulo “Você está preparado?”
Mantendo o espírito do “nem tudo precisa fazer sentido“, meu novo blogue é uma aventura apocalíptica fictícia que se passa numa realidade alternativa, não muito diferente da nossa (ou da minha).
Com o intuito de manter a fachada de um blogue real, ele é atualizado sem horário definido, mas por tratar de assuntos correntes e contemporâneos, eu recomendo que assinem o feed para não perderem o fio da meada.
Quem não tiver leitor RSS (ou não souber o que é isso), pode visitar normalmente quando der na telha, porque na verdade tanto faz mesmo (artigos novos aparecem em cima, então é bom começar a ler por baixo).
Sempre lembrando: não é sobre Ciências, não é sobre aleatoriedades, não é sobre comida. É um relato ficcional.
E também não é bonitinho com final feliz. No final o mundo acaba!
Acompanhe em agoraomundoacaba.wordpress.com.
Você está preparado?

Outro enigma envolvendo números

Vocês gostaram (não mais do que eu, no entanto) e pediram mais, então lá vai!
Primeiro, uma dica:
4; 9; 7; 4; 3.
Agora, a pergunta: qual o próximo número?
4; 1; 1; 1; 1; 0; 1; 0; 0; 0; 0; 4; 0; 0; 4; 0; ?
Mais uma vez, anotem suas respostas antes de lerem os comentários.
Descrever o raciocínio garante pontos adicionais!

Rapidinha: fiação mal feita

Eu descobri que meu cabeamento interno foi mal instalado e a ponte entre minhas sobrancelhas está dando curto-circuito na minha mucosa nasal.
Ao tentar (por via mecânica) me livrar de uma espinha situada onde meu nariz encontra a minha testa, espirrei violentamente.
Novamente a espremi, mais uma vez espirrei.
Intrigado por esse novo desenvolvimento, peguei uma pinça e puxei um pelo precursor de monocelha e, para meu espanto, espirrei com a mesma força de quando o fiz mexendo na espinha.
E continuou acontecendo. Quanto mais perto do centro, mais forte a conexão.
A sensação é inconfundível; claramente minha região intersobrancelhal está conectada à parte interna do meu nariz e puxar um cabelo daquela irrita esta me fazendo expelir saliva em alta velocidade e com excesso de decibéis.
Interessante.
p.s. Amanhã eu começo um experimento cujo protocolo se estenderá por um mês.
No começo de outubro eu revelo os resultados.

O que faria você mudar sua opinião?

A discussão – que já se tornou ridícula, sinceramente – que está se desenvolvendo aqui neste meu blogue me fez pensar muito durante o feriado (durante fins-de-semana e feriados eu me desplugo do mundo e fico pensando na vida) e eu cheguei à uma conclusão que deve aumentar minhas dores de cabeça consideravelmente mas que é, ao fim e ao cabo, a melhor de todas: mudar de tática.
Eu parei de responder aos comentários e emails por um motivo simples: “Ideias precisam ser distintas para que Razão lhes possa ser aplicada.”
Essa frase é a segunda metade de uma proferida por Thomas Jefferson (o autor é irrelevante, o que importa é o conteúdo). A primeira parte lê: “a única arma que pode ser usada contra propostas incompreensíveis é o escárnio.”
A frase é ótima, mas o problema que eu tenho com o começo dela é que nem todas as pessoas vão conseguir entender a piada. O que precipitará muitas delas a esculhambar e achincalhar o mensageiro, sem se preocupar com o conteúdo da mensagem.
Eu acredito em tudo o que escrevo aqui a ponto de incluir meu nome, meu email e meu rosto para que qualquer um possa me reconhecer.
Eu não me escondo, não tenho medo das minhas palavras nem receio de desagradar alguns poucos cujas ideias eu ataco.
Até alguns dias atrás eu pensava em proponentes de terapias pseudocientíficas como charlatões que nutrem o mal propositalmente por algum motivo obscuro (ou por simples maldade).
Mas depois de ler todas os comentários que recebi (e as agressões que sofri), notei que a grande maioria dessas pessoas não são mal-intencionadas, mas mal-guiadas ou apenas ignorantes (outras têm tão pouco em suas vidas que ficam lisojeadas achando que um texto foi escrito especificamente com elas em mente. Pena).
Elas querem o bem de todos. Apenas não sabem que estão enganadas.
É muito difícil entender como o mundo real funciona e fácil acesso a informação não implica necessariamente fácil entendimento ou mesmo vontade de aprender.
É normal aceitar a informação que mais se adequa ao seu pensamento como verdadeira e rejeitar qualquer coisa que diga que você está errado.
Cientificamente, a auto-hemoterapia não funciona. Ponto final.
Para que ela seja aceita, é necessário que prove (pois o ônus da prova está na alegação) que funciona.
O modo padrão sob o qual o mundo opera é o de que nada funciona. Não são necessárias provas disso.
Se eu disser que uma maçã cai porque a massa terrestre a está puxando para o seu centro de gravidade, eu preciso provar minha hipótese.
Alternativamente, se eu disser que não é a maçã que cai mas o chão que sobe para encontrá-la, eu preciso provar o que estou dizendo.
Ambos modelos estão errados até que se mostrem certos.
Band-Aid, cuspe, esparadrapo, bosta de vaca, Vick Vaporub e clara de ovo não ajudam a cicatrizar feridas até que provem que sim. Uns vão passar pelo corte, outros não.
O mecanismo usado para que uma hipótese venha a ser aceita é ao mesmo tempo extremamente complexo e extremamente simples.
É simples porque eu só preciso mostrar que aquilo funciona, mas é complexo porque o processo assim o é.
Para provar que uma auto-transfusão curou minha dor nas costas eu precisaria mostrar que sentar direito não curou e que dormir de lado não curou e que o problema não se curou sozinho e que etc etc.
Uma estória só não conta. Se eu jogar um dado só uma vez e cair um 2, eu não posso afirmar que aquele dado vai dar 2 sempre ou que ele só tenha uma face, o 2.
Já se eu jogar o dado seis milhões de vezes, o lado 2 só aparecerá em um milhão de jogadas.
Como é um tanto impraticável testar dor nas costas em um só indivíduo mil vezes, é necessário mil voluntários com dores semelhantes para que um teste razoável seja conduzido e um resultado significativo seja alcançado. E quanto mais gente melhor.
Infelizmente, estatística é um negócio aparentemente de outro mundo; o análogo matemático de “falar grego”.
Voltando ao dado do exemplo acima, eu posso dizer com toda confiança que a face 2 de um dado tem um sexto de chances de cair voltada para cima, mas posso me deparar com um resultado diferente, porque o mundo é assim mesmo. Murphy tem certa razão.
Eu estou atualmente engajado num tratamento anti-calvície que me diz que 60% dos pacientes experimentam estagnação da alopecia.
Isso não significa que pouco mais de metade da minha cabeça vai continuar cabeluda, mas que 6 em 10 homens param de ficar careca. Eu não sei se estou nos 6 ou nos 4, mas continuarei em frente por pelo menos um ano para saber o que vai acontecer (tenho mais que meia chance).
Reiterando e esclarecendo: os testes conduzidos para que se chegasse a esse número não foram realizados em dez homens, mas em centenas ou até milhares.
Uma parcela significativa da população precisa estar envolvida, como numa pesquisa eleitoral.
De que adianta uma pesquisa feita dentro de um escritório onde funciona a base da campanha de um candidato? 100% das pessoas ali dentro devem votar nele, não?
Para que eu saiba a altura médio do brasileiro eu não posso medir só os frequentadores da Associação Norte-Riograndense de Basquete nem tampouco os membros de uma só família de anões. Preciso medir inúmeros sujeitos aleatórios, inespecíficos e não-relacionados.
Anteontem eu não conseguia lembrar da palavra “alfândega”.
Posso concluir então que ninguém se lembra dessa palavra?
Ontem eu estava jogando bilhar e, com uma tacada, encaçapei três bolas.
Posso dizer que todo mundo que jogar bilhar vai sempre encaçapar três bolas com um só movimento?
Não.
E por que não? Porque minha experiência não vale de nada.
Sequer posso dizer que vou sempre esquecer de uma determinada palavra ou marcar tantos pontos num jogo.
Aconteceu comigo, aconteceu uma vez e pronto. Eu sou estatisticamente irrelevante em relação ao mundo.
E mais ainda, um acontecimento em minha vida é estatisticamente irrelevante em relação ao resto da minha experiência.
O seu relato de que a auto-hemoterapia o curou de uma conjuntivite é mais inútil que garçom de costas.
Mas para quem acha que isso é verdade, ver o outro lado é muito difícil.
A pergunta do título é uma chave que abre mentes e revela o que dentro há.
Se a resposta é “nada”, você é um crente (termo abertamente pejorativo), seja para um lado, seja para o outro.
Se nenhuma quantidade de evidências é suficiente para que você aceite um ponto de vista diferente do seu, você é um crente e sua vida (especificamente ou como um todo) está sendo regida por fé pura e simples. Você acredita naquilo e isso é suficiente.
Novamente, para um lado ou para o outro.
Se nada conseguirá provar-lhe que X funciona ou que X não funciona.
“Para quem crê, nenhuma prova é necessária; para quem duvida, nenhuma prova é suficiente.”
Outra resposta para a pergunta é: “provas adequadas.”
Mas aí existe outra armadilha; a adequação.
Eu quero que meu remédio de careca funcione, portanto se eu achar uns três ou quatro estudos que eu considere como bons, vou parar de procurar antes que comece a achar estudos melhores que mostrem o contrário.
É possível também achar estudos igualmente rigorosos com resultados opostos, o que apenas indica que mais estudos precisam ser conduzidos para que um resultado apenas seja obtido. Resultados mutuamente excludentes são suspeitos.
Alguns indivíduos, porém, mantêm padrões mais altos de qualidade.
Cinco ou seis estudos bons não são suficientes. Nove ou dez estudos excelentes sim. Independente do resultado (que é o que eu deveria fazer: achar resultados confiáveis, sem escolher meu lado favorito. Mesmo que isso signifique que eu vou ficar careca).
Integridade é isso. Aceitar uma verdade que não é sua pelo simples fato de ela ser verdade.
Mesmo que ela o prejudique.
A melhor ferramente que existe para se achar a verdade é o Método Científico, pois a Verdade pode até ser uma coisa estática, mas o caminho até ela é tortuoso.
E o Método é 100% íntegro. Se precisar, ele muda de opinião completamente para se adequar a observações mais confiáveis.
Observação, falseamento, replicação.
Veja uma coisa acontecer e investigue o motivo.
Verifique se o fenômeno pode ter outra causa.
Imite o ocorrido.
MAS
Aqui eu estou dando aulas de natação a peixes.
Quem vem por aqui constantemente é porque concorda com o que eu digo e eu estou praticamente falando para as paredes, pois minhas palavras são nada. Apenas reforço amigável das ideias que já existem.
Quem não concorda comigo e apareceu aqui só uma vez, saiu continuando não concordando, agitando os punhos fechados ao ar e gritando “HEREGE!”.
O título deste texto ia ser “cavando buraco n’água” por causa disso.
Por mais que eu me esforce, não atinjo meu objetivo principal: no caso da metáfora, manter um buraco aberto; em realidade, convencer alguém a pensar um pouco mais sobre a vida e ver que existe algo além das preconcepções individuais inatas.
Eu não alego que sei onde a verdade reside; apenas sei mais ou menos o melhor caminho para chegar lá.
p.s. O caminho é longo e cheio de gente brandindo placas de “O Fim Está Próximo” e “Beco Sem Saída” que olham para você com ar de superioridade conseguida às custas de fechamento intelectual irremediável e que acreditam que o mundo acaba no horizonte, onde residem os monstros marinhos. E a imensa maioria dessas pessoas nunca lê além do título do artigo.

Auto-hemoterapia e a ignorância galopante (e algumas ameaças vazias)

Proponentes de uma terapia mecanicamente sem sentido e potencialmente perigosa descobriram (até que enfim) um artigo que eu publiquei em busca de paraquedistas semana passada. Bom ver que deu certo.
Alguns têm comentado abertamente no espaço reservado para tal, enquanto outros não têm coragem suficiente para “mostrar a cara” (termo muito pouco apropriado quando na Internet) e me atacam por email.
Ameaças vazias como neste comentário de Fernanda:

Se houver dignidade, publique-se
Se não houver, será publicado igual, como disse o Marcelo aí acima, muitos receberão este email…

Uuu!! Muitos receberão!
Sabe quem são esses “muitos”?
De acordo com a lista de emails repassado por outro comentarista, Marcelo Fetha, eles são: a Procuradoria Geral do Ministério Público, o Senador da República Eduardo Suplicy, O Superior Tribunal Federal, uma coisa que eu acho ser uma ONG (Defesa Vida 2009), uma editora da revista Época e outros que eu não conheço nem acho que importe muito.
Pois bem, usando a velha tática do “olhe aí, se ligue viu!?”, esse pessoal “bonzinho” da AHT que só quer o bem da humanidade tenta intimidar um blogueiro para que ele se cale e fuja com medo e deixe a terapiazinha inútil deles para lá.
Aliás, esse mesmo Marcelo mandou, para esse mesmo conjunto aleatório de endereços, links para supostas pesquisas que suportam o tratamento da Auto-Hemoterapia.
O que não é o caso.
Um deles discorre sobre a aplicação de ozônio (um fármaco), outro sobre um tratamento tópico na bexiga via endoscopia e outro tão desacreditado, com resultados tão próximo do zero e ativamente diferentes dos propostos pela AHT que eu teria vergonha de confundir isso com provas da eficácia do tratamento.
Mais uma vez, nenhum dos estudos foi replicado, o que os torna cientificamente inúteis.
Mas, como disse outra (via email), eu estou na folha de pagamento da indústria médica, que abafa esse tratamento perfeito por ele ser barato.
“Só custa o preço de uma seringa!”, eles dizem. Será que a indústria de materiais médicos e farmacêuticos não tem um só caroço de poder para enfrentar os malvadões da Medicina, que só querem seu dinheiro?
Ainda não vi uma propaganda na TV de uma fábrica de seringas dizendo: “a auto-
hemoterapia é o caminho, se informe.”
Num mundo onde ainda se vende Epocler (que mudou o status de remédio e virou um neologismo lindo: hepatoprotetor), não seria difícil empurrar algumas seringas.
Alternativamente, existem pessoas educadas, como um Luiz Fernando, que se ofereceu a me mandar material caso eu tivesse interesse.
Aprendam com ele. Não quis me empurrar goela abaixo, foi gentil e elegante ao perguntar se eu estaria interessado em algumas palestras que ele coletou.
O problema é que isso é apenas mais do mesmo. Uma pessoa pode falar até cair a língua que não vai me convencer de que um tratamento médico funciona.
Medicina não vive de discurso. Um tratamento, para ser confiável (ou, no mínimo, etico), precisa passar pelas garras do Método Científico.
E outra, depois que passa não fica imune. Toda a Ciência é continuamente atacada por todos os lados. Se continuar em pé é porque presta. Se cair, foi merecidamente (vide a Lei da Gravidade, que apesar de ser razoavelmente simples e bem estabelecida, continua sendo “derrubada” e atualizada para se conformar melhor com observações).
Conselho para os que querem evitar caixas de email lotadas de verborragias incoerentes e ameaças ridículas: não mexam com as vacas sagradas dos outros. Dissonância cognitiva dói muito e alguns indivíduos não reagem bem a dor.
ATUALIZAÇÃO
Estão me pedindo provas e provas do que estou falando. Mas gostaria de lembrar a todos que quem está fazendo alegações extraordinárias não sou eu.
Não sou eu que quer curar todas as doenças do mundo com mágica.
É uma pena que essas pessoas confundam “anedota” com “prova”.
P.S. Tem um aí constantemente me chamando de “charlatão”. Não acho que ele saiba o que isso significa.

Das propagandas – aviso importante

O ScienceBlogs não vive de sorrisos e pensamentos positivos, mas precisa de dinheiro para pagar por hospedagem e alimentação. Por isso que, lá em cima e aqui ao lado direito existem propagandas.
Quem se interessar por alguma delas que clique e se deixem levar pelos impulsos consumeristas investigue calmamente cada produto.
M A S
Nada disso aí é vendido ou sequer apoiado por mim.
Desde que eu achei meu filão como desmascarador de spam, as propagandas (geradas automaticamente pelo Google através de palavras-chave no corpo do texto) têm se tornado cada vez mais bizarras, como um banner imenso promovendo um suplemento inútil que estava sendo destruído por mim no artigo do dia.
Ao passo em que noto tais propagandas, peço gentilmente para a Diretoria os incluir na lista de banimento, mas nem sempre eu leio meu próprio blogue (geralmente eu já sei o que tem escrito), o que pode permitir coisas que eu não gostaria que aparecesse.
Finalizando e reiterando: eu não sou responsável pelas propagandas e/ou produtos aqui oferecidos. Comprem se quiser, mas não achem que eu tenho algo a ver com isso.
Em caso de dúvida, podem me perguntar que eu dou uma investigada para os mais preguiçosos preocupados.
No mais, desconfie sempre.

Seu mestrado é em quê mesmo?

Esta é a terceira parte de um texto que começou segunda-feira (clique aqui para ler a primeira parte), seguiu pela quarta-feira (clique aqui para ler a segunda parte) e se encerra hoje.
Se não tiver lido as duas primeiras, por favor o faça antes de continuar aqui.
CONTINUAÇÃO
————
Mesmo que me considerem sinistro ou mórbido, eu consigo ver um lado bom nisso: rapidamente a verdade sobre “medicina alternativa” surgiria (antes tarde do que nunca), ao verem que uma fratura exposta não sara com reflexologia, que cólera mata independente da técnica de acupuntura usada e que homeopatia facilita a contaminação por cólera e esquistossomose mais do que cura catarata (homeopatia não cura catarata).
Pouca gente sabe, mas já existe um termo genérico para designar coletivamente qualquer tratamento ou procedimento de medicina alternativa que comprovadamente funcione de verdade fora da “realidade” mental de alguns hippies: “medicina“.
E, já que comecei a falar em lixo, algo que poucos consideram em seus dia-a-dias: remoção de sujeiras e dejetos.
O que fazer com o lixo? Porque sem dúvida ele há de acumular. E sem água corrente, vasos sanitários não servem para muita coisa além de monumentos em homenagem a uma época distante e confortável.
Em que ponto você teria que começar a se preocupar com a inevitável contaminação da sua única fonte de água razoavelmente segura das redondezas?
Não só com o que for produzido a partir de então, mas também com os bilhões de cadáveres impertubados apodrecendo onde cairam. Alguém terá tido o bom senso de retirá-los?
Fogueiras parecem uma alternativa boa, mas apenas momentaneamente (e tão somente pelo prazer de ver coisas queimando). Além do cheiro insuportável de cabelo queimado, tanta matéria orgânica sendo queimada abertamente sem restrições há de causar problemas mais adiante, desde nevascas de gordura até contaminação do ar.
E ainda o aumento do aquecimento da atmosfera, que vai fazer subir o nível das águas que por sua vez cobrirão os restos putrefatos de seus colegas e conhecidos, aumentando seus problemas de contaminação de água (mais uma dica: num mundo onde a neve é cinza, não beba água da chuva).
Se você acha que pensamento positivo vai ajudar a manter doenças longe, sugiro que consulte um londrino do século 17 e use palavras-chave como: “miasma”, “bubônica” e “Tâmisa”.
Voltando um pouco para a eletricidade que não mais existe abundantemente.
É possível usar motores de combustão para gerar eletricidade, mas depois que gasolina, álcool e diesel acabarem, quem vai refinar e destilar mais? Melhor ainda, quem vai obter o petróleo ou plantar os inúmeros hectares de cana ou milho necessários?
Por aqui nós usamos basicamente hidrelétricas, que teoricamente têm combustível ilimitado fornecido por barragens, mas e quanto a reparos? Elas não foram feitas para durarem para sempre. Quando uma turbina emperrar, quem vai consertar enquanto outra é encomendada? E quem vai se responsabilizar pela construção da encomenda?
E você faz ideia de onde fica a hidrelétrica mais próxima da sua casa? Eu apostaria a metade do meu salário em “não” e a outra metade em “muito, muito longe”.
E mesmo que a usina esteja em perfeito estado, ainda não é tão simples. E as subestações? E as linhas de alta-tensão? Um único poste caído em milhares de quilômetros ou apenas um transformador queimado em alguma dentre centenas de cidades é só o que basta para que a energia permaneça faltando.
O mesmo problema de manutenção é valido para painéis solares e turbinas eólicas, com o aditivo de que esses métodos geram pouquíssima eletricidade.
E se você mora perto de uma usina nuclear que ficou abandonada por muito tempo, eu só lamento. Brilhar no escuro pode lhe trazer certas vantagens imediatas, mas você não vai conseguir aproveitá-las por muito tempo.
“Mas e o conhecimento armazenado? E as bibliotecas?”, eu ouço você perguntando neste momento.
É bem verdade que bibliotecas não são raras, mas boa sorte tentando achar um livro sobre Reparo em Peças Móveis de Turbinas Transdutoras de Núcleo Gerador e melhor sorte ainda tentando aprender e por em prática tirando diretamente de um livro que, sem dúvida, está repleto de jargões e termos técnicos que requerem conhecimento prévio (transdutor: equipamento ou dispositivo que converte um tipo de energia em outro).
O mesmo é válido para os problemas médicos. Quantos livros você acha que existem com a receita para morfina? Se você já tentou instalar um ventilador de teto mesmo lendo instruções detalhadíssimas, sabe o quão difícil seria realizar uma cirurgia de hérnia de disco em outrem.
Ademais, certamente alguém já terá chegado lá antes de você e a biblioteca à sua frente será agora pouco mais que um enorme reservatório de lenha para fogueira (livros queimam supreendentemente bem).
E você sabe que isso é mais que provável. A maioria das pessoas são terrivelmente péssimas em planejar suas necessidades futuras (e surrealmente proficientes em queimar coisas, especialmente livros).
Em resumo, alcançar novamente o nível de sofisticação que temos hoje em dia levará consideravelmente mais tempo do que o necessário para se chegar a ele da primeira vez, pois onde antes tínhamos “engenheiros”, hoje temos engenheiros: florestais, atuariais, de incêndio e combate ao pânico, biomédicos, eletricistas, têxteis, de materiais, hidráulicos e mais umas mil especializações com “engenheiro” no começo.
Onde antes haviam “médicos”, hoje há ortopedistas, traumatologistas, otorrinolaringologistas, reumatologisas, oncologistas, nefrologistas e mais duas mil especializações derivadas da Medicina.
Ferreiros viraram apertadores de botões; Sapateiros viraram encaixotadores; Tecelões viraram vendedores; Cientistas viraram Químicos que viraram misturadores, ou Físicos que viraram digitadores, ou Biólogos que viraram cozinheiros.
Minha avó sabia plantar milho para alimentar galinhas que seriam posteriormente depenadas por ela para serem cozidas e postas à mesa junto com queijo feito por ela a partir de leite tirado também por ela de uma vaca alimentada com grãos que ela plantou, e que iriam somar ao jantar para alimentar a família da minha mãe, que por sua vez sabe escolher, no supermercado com o melhor preço, um frango congelado e os ingredientes mais frescos que irão para a panela juntos para serem cozinhados e transformados em um delicioso almoço para me alimentar.
Eu sei o telefone da pizzaria.
Provavelmente o pai da minha avó sabia curtir o couro das vacas que criava para fazer suas próprias roupas. Eu não sei o número das minhas calças e quem compra minhas camisas é a minha namorada.
Seis ou sete gerações atrás, um ancestral meu talvez usasse um bico de ema modificado para raspar carne dos ossos de um peba.
Ontem eu cortei o dedo tentando separar um pão em dois.
Numa sociedade altamente especializada como a nossa em que fósforos e pão são facilmente obtidos, poucas são as pessoas que sabem, sozinhas, resolver muitos dos problemas que enfrentaríamos num futuro desorganizado.
Não que especialização seja ruim. Não é. Sem ela não teríamos todas essas coisas que irão fazer falta aos seis milhões de brasileiros remanescentes, mas quando o pau cantar, algumas habilidades serão de grande uso. Por exemplo: experiência em primeiros-socorros, caça e pesca, tendências piromaníacas (não me julguem), conhecimentos gerais de botânica, geografia e animais peçonhentos, noções de química, física e aplicações práticas laboratoriais e, em casos extremos, sangue frio para “eliminar” os irremediavelmente feridos num mundo sem centros cirúrgicos ou analgésicos.
Você conhece alguém assim?
———
Esta estória completa faz parte da blogagem coletiva da semana de Caça ao Paraquedista do ScienceBlogs Brasil.
Se você estava procurando previsões obscuras para o fim do mundo e veio dar aqui, seja bem-vindo!
Se você gostar de Ciências, aqui é o seu lugar (e não, eu não escrevo tanto assim sempre).

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