Vidente Tara é uma criminosa?

Eu não sei se a mensagem a seguir constitui um crime ou não, mas acho que a exploração barata da fé alheia não deveria ser deixado de lado e encarado com algo normal ou inofensivo.

Clique na imagem para ver a página completa.

Mesmo ignorando os erros de concordância e de grafia, não dá para ler a página completa (link na imagem acima) sem sentir um gosto ruim no fundo da garganta.

Porque tirar proveito da inocência dos outros com esse tipo de seboseira comprovadamente falsa faz mal sim!

“Má sorte” é nada mais que estatística levada para o lado pessoal.

Alguém com problemas financeiros que consulta uma irresponsável do calibre dessa Vidente Tara (que provavelmente nem existe, não passando de um nome de fantasia de alguma empresa) vai apenas ter sua crença reforçada e fará muito pouco para realmente sair do buraco, esperando que sua “sorte” mude ou usando algum método ridículo (simpatias, por exemplos) para facilitar o processo de “reversão da adversidade”.

Isso me dá nojo. De verdade.

Recado

“Não só não somos o centro do universo e somos feito de praticamente nada como também começamos nossa existência numa espécie de gosma e chegamos onde estamos sendo macacos.”

Tenham todos uma boa semana!

Como se chapar sem drogas

Apareceu por aí um textinho interessante sobre como sentir sensações estranhas sem o uso de substâncias ilícitas (ou modificadoras do estado normal de consciência).

Eu gostei e achei que deveria não só espalhar como adicionar algumas coisas à lista.
(O título diz “como se chapar com segurança sem drogas”, mas eu não garanto a segurança de nada aqui porque tudo isso pode ser tornar vício que, de certa forma, é sempre uma coisa perigosa.)

1 – Hipotensão postural ou “levantar rápido demais”.

Uma forma bem comum de se sentir mal que é razoavelmente parecido com estar bêbado por alguns segundos.
Para atingir esse estado de desorientação, diminua rapidamente a pressão sanguínea dentro do seu crânio. A melhor maneira de fazer isso é se deitar no chão com as pernas para cima, respirar aceleradamente por alguns segundos e levantar o mais rápido possível.

Cuidado: você pode desmaiar e bater com a cabeça no chão no processo, causando outro tipo de alteração de consciência, mas de forma bem mais grave e permanente.

Efeito momentâneo comum: desorientação.

2 – Hiperventilação ou “nirvana acelerado”.

Alguns monges gostam de passar dias sentados contabilizando o ar que entra e sai de seus narizes para alcançar um “estado de consciência mais elevado”, o que quer que isso signifique (i.e. nada), mas uma forma de se chegar lá sem perder horas da sua vida é respirar fundo o mais rápido possível por alguns minutos para aumentar a quantidade de oxigênio no seu sangue (eu não acho que a mistura gasosa realmente mude tanto assim, mas o efeito é real de todo jeito).

Cuidado: isso cansa bastante, então certifique-se de que seu sistema circulatório aguenta o esforço. Você não quer sofrer um derrame, né?

Efeito momentâneo comum: euforia.

3 – Alucinação hipnogógica ou “paralisia do sono”.

Eu tive isso naturalmente e foi um dos eventos mais aterrorizantes da minha vida (clique aqui para ler o relato). Talvez forçar o acontecimento seja mais interessante, ainda não testei.

Segundo a lista (que pode ser lida em inglês no primeiro link deste texto), basta deitar-se completamente imóvel, resistindo ao máximo o impulso de se mexer até que seu cérebro se engana (o que não é raro, vides ilusões de ótica) e acha que você já está pronto para sonhar. Coisas bizarras se seguem.

Cuidado: você pode ficar traumatizado para sempre e passar a acreditar em fantasmas e afins.

Efeito momentâneo comum: o abandono completo da razão e pensamento crítico. Você realmente vai acreditar que uma força maligna e sobrenatural está agindo sobre seu corpo.

4 – Euforia do corredor ou “overdose de endorfina”.

Tendo sido, durante boa parte da minha vida, um atleta, eu garanto a existência deste. Faça o seguinte: se exercite (correr é uma maneira boa, mas nem todo mundo sabe correr atleticamente) moderadamente até além da sua capacidade perceptível. Você vai sentir um cansaço incrível e uma vontade irresistível de se deitar num lugar ventilado pelos próximos vinte e cinco dias, mas não pare. Logo após esse ponto, você cruza um limiar e seu cérebro, com pena do seu corpo, libera uma quantidade incrível de endorfina, proporcionando um prazer imensurável, indescritível e inefável e que também é viciante. No entanto, você provavelmente vai passar os próximos cinco dias sentindo todos os músculos que possui reclamando vociferozmente, o que vai impedir que você de fato se vicie nisso.

Mas vale a pena enquanto dura.

Cuidado: novamente, tenha certeza de que seu coração não vai explodir com o esforço e que você está respirando o suficiente para não desmaiar em alta velocidade.

Efeito momentâneo comum: muito prazer, seguido de imensa exaustão.

A lista acaba aqui, mas eu ainda posso citar alguns métodos de se drogar usando somente seu próprio corpo.

5 – Alucinação auditiva hipnogógica ou “ei, você aí dormindo”.

O que acontece aqui é muito estranho, mas você só tem seu cérebro a culpar. Quando estiver quase dormindo, comece a pensar no seu próprio nome, no equivalente mental a “em alto e bom som”. Você pode até apimentar um pouco com alguns vocativos tipo “ei, [seu nome]!”.

Quando você começar a dormir, vai achar que está acordado ainda e que há alguém ao seu lado, em alto e bom som (desta vez fisicamente), chamando sua atenção.

Talvez você não consiga dormir por algum tempo depois disso por causa do susto, mas é interessante.

Cuidado: tenha certeza de que você não vai ficar achando depois que foi alguma alma penada puxando seu pé enquanto você dormia, especialmente se, no outro dia, você souber que alguém que você conhece morreu durante a noite.

Efeito momentâneo comum: medo do escuro.

6 – Embriaguez psicológica ou “ebriedade pavloviana”.

Esta só funciona se você já bebe e sabe como é se embriagar (clique aqui para um relato mais dramático).

O método é o seguinte: vá para onde você geralmente vai para beber e com as mesmas pessoas com quem você geralmente se embriaga. Passe o tempo que você passaria normalmente mas, e aqui está o segredo, não beba uma só gota de álcool.

O ambiente e as companhias terão, depois de várias sessões, condicionado você de tal maneira que, mesmo sem beber, você se sentirá embriagado.

Cuidado: nenhum. Sempre que você lembrar que não está bebendo, ficará sóbrio instantaneamente.

Efeito momentâneo comum: embriaguez.

7 – Alucinação do prisioneiro ou “vendo estrelas”.

Este aqui ocorre geralmente como efeito do primeiro desta lista (hipotensão postural), mas pode ser ativado sem aquele contexto.

Se tranque num quarto completamente escuro (que é uma coisa bastante difícil, mas você precisa estar com os olhos abertos e sem enxergar coisa alguma para que funcione) e espere uns vinte minutos. Seus olhos vão tentar se adaptar aumentando a sensibilidade da retina até que você veja alguma coisa, real ou não. Em algumas pessoas o resultado é tão intenso que chega a parecer com uma tela de televisor fora do ar, mas o mais comum são apenas algumas “faíscas fantasmas” passando pelos seus olhos.

Isso também ocorre comigo quando eu olho por muito tempo para um céu sem nuvens. Depois de alguns minutos, eu começo a ver as faíscas cinzentas cruzando minha visão através do campo azul do céu aberto, porém praticamente nada quando comparado com o que acontece na escuridão total.

Infelizmente a maioria de nós vive em locais onde a maior escuridão é, na verdade, uma penumbra, suficiente para tornar nossa visão monocromática mas não para ativar essa reação exagerada da retina. Mas lembre-se: guarda-roupas são geralmente bem escuros de noite.

Cuidado: se alguém acender uma luz onde você estiver, seus olhos vão doer bastante.

Efeito momentâneo comum: alucinação visual intensa.

8 – Desaparecimento ou “ponto cego”.

Nem tanto uma alteração de consciência, apenas uma curiosidade. Para enxergar, nossos olhos precisam se mover constantemente. Fixar o olhar em um ponto faz com que ele desapareça até que os olhos (ou o ponto) se movam.

É um pouco difícil conseguir isso olhando para um monitor (que não é estático, mas pisca várias vezes por segundo) mas bastante fácil num papel.

Desenhe um ponto num papel e olhe fixamente para ele por alguns segundos (tentando não mexer os olhos) e, pasme, o ponto desaparece!

É por isso que quando olhamos para um foco forte de luz, aquele ponto negro na vista desaparece e só volta a aparecer quando as condições mudam (ou seja, quando piscamos). A queimadura temporária na nossa retina (sim, queimadura) está fixa num ponto, então depois de algum tempo deixamos de percebe-la.

Cuidado: nada quanto à técnica, mas evite olhar para o sol porque sua retina pode ficar irremediavelmente danificada e desenvolver para sempre um ponto cego no seu campo visual.

Efeito momentâneo comum: alegria da descoberta.

Relate sua experiência nos comentários ou adicione mais algum tipo à lista.

Dia 31 de outubro, vote 42!

Vote 42

Entre estabelecer uma neo-ditadura e voltar para um sistema que potencialmente pode quebrar mais uma vez nosso país, prefiro ficar em casa tomando sopa no dia 31.

E eu detesto sopa.

Quem sou eu

Gráfico

O artigo de hoje ia ser só isso aí em cima mesmo, porque eu pensei: “já que não sei mais escrever, vou começar a desenhar minhas ideias”.

Mas enquanto eu estava finalizando os últimos detalhes, recebi a notícia de que o Professor Sandro Silva e Costa havia se suicidado e pensei que não seria apropriado publicar uma piada.

Logo em seguida, pensei que talvez conseguisse extrair alguma coisa útil das duas situações anti-sincronicamente emaranhadas.

O que leva uma pessoa a tirar a própria vida? O que poderia ser tão ruim assim?

Essa linha de pensamento é sempre a primeira e a mais perigosa, pois eu estou supondo que uma escolha, mas isso é uma falácia.

Uma pessoa neurologicamente prejudicada não enxerga alternativa. Não é questão de opção, apenas um adiantamento no inevitável décimo-terceiro da vida.

“Todos vamos morrer de todo jeito, então por que permanecer aturando uma coisa que eu não gosto?”

Isso é, para mim, ainda mais triste, pois não há apoio familiar ou terapia que resolva. Só remédio.

Muito.

Para o resto da vida.

Assim como não há psicoterapia anticonvulsiva pois não existe conversa que resolva falhas eletroencefálicas, o mesmo é verdade para desequilíbrios químicos no cérebro. Palavras são poderosas, mas não onipotentes.

Para aumentar a minha tristeza, do plano individual para o público, existem aqueles que ignorantemente condenam o sujeito por ser “fraco” ou as pessoas que o rodeiam por não “enxergarem os sinais”.

Depois que o diabo do cachorro morde é fácil lembrar que ele “latia de um jeito estranho”, né? Previsões são sempre excelentes quando surgem depois do fato.

Os últimos textos de Stephen Dedalus mostram “claramente” como ele estava prestes a cometer um ato terrível:

“Ontem cheguei ao fundo do poço. No começo do dia encarei o abismo por longos minutos, decidindo se dava um passo à frente ou não, depois vaguei o dia todo a pé sem rumo, sem lugar para ir e sem praticamente falar com qualquer pessoa, só para terminar o dia muito cansado.”

Claro como o dia, não?

Agora esse outro pedaço de texto, de outra pessoa, igualmente carregado de frustração:

“Pois bem, reitero o apelo: procura-se a felicidade. Eu não sei onde ela está, devo tê-la perdido em algum lugar, mas sei descrever bem sua aparência por ter convivido tanto tempo com ela.
Mas aparentemente agora ela é Isabeau para meu Navarre, desaparecendo quando eu acordo e retornando quando me recolho.”

O autor do trecho acima não só continua vivo como está, neste exato momento, escrevendo sobre ele mesmo na terceira pessoa.

Tristeza todo mundo tem vez por outra. Menininhas adolescentes que brigam com o namorado não ficam depressivas. Depressão, apesar da banalização do termo, é uma condição psiquiátrica séria.

Voltando ao gráfico do começo: talvez uma pessoa com depressão enxergue a vida com os parâmetros trocados, intrinsicamente dando mais valor à opinião alheia sobre si e julgando hipernegativamente tal opinião, criando um “o que eu penso de mim” na ponta direita. E se algo vale assim tão pouco, qual o motivo para permitir que esse algo continue ocupando espaço valioso no mundo?

Não creio que uma pessoa se torne depressiva da mesma forma que ninguém se torna homossexual. Não é uma escolha ou resultado de experiências, mas algo definido fisiologicamente no cérebro do indivíduo.

E isso é triste, muito triste.

Especialmente quando chega ao mais extremos dos pontos finais.

Espero que a falta dele seja sentida e que sua vida seja lembrada.

MILAGRE DA CIÊNCIA REVELADO! O PODER EM SUAS MÃOS!

Você sabia que você possui um potencial infinito?

Já está no mercado um produto revolucionário que vai mostrar todo esse potencial como se fosse a LUZ DO DIA!

Graças a efeitos quânticos, agora é possível criar fótons a partir DO NADA!

E melhor ainda, do conforto do seu lar!!

Se sinta especial criando luz a partir do nada com uma tecnologia que já existe há 130 anos!

Antiga assim então você sabe que ela é boa!!

Você tem o poder em suas mãos!

Com o nosso ultramoderno Agitador Quântico Infravermelho de Elétrons você terá a capacidade de enxergar em condições prévias de escuridão total!

É o escuro que agora tem medo de você!

Nosso sistema utiliza as propriedades poderosíssimas do vácuo para amplificar a eficiência do aparelho e para manter você em contato com o Universo, que é feito de vácuo!!

Brilhante!

Imagine! Você terá um pouco de vácuo na sua casa!!

O MESMO VÁCUO do Universo, que é infinito! Isso significa poder infinito!

Nossa tecnologia utiliza o poder incontestável do misterioso eletromagnetismo!

Se um ímã de pulseira já cria bem-estar e agulhas elétricas curam qualquer coisa, imagine o que toda uma sala (ou quarto) da sua casa cheia dessa energia benéfica não faria!! Magnestimo elétrico!!

É o melhor dos dois mundos!!

Einstein, o cientista mais inteligente que já existiu, pregava que Energia e Massa são a mesma coisa, você só precisa da Luz!

E agora você terá tudo isso na sua sala (ou no seu quarto)! Um aparelho que finalmente confirma as ideias que Einstein inventou HÁ MAIS DE 100 ANOS ATRÁS e cria LUZ a partir do NADA usando apenas ENERGIA!!

E ISSO NÃO É RELATIVO!!!

Feito a partir de produtos 100% naturais e sem o uso de conservantes ou pesticidas! É seguro e SUA FAMÍLIA poderá finalmente respirar aliviada!

E mais, todos os materiais usados na confecção do Agitador Quântico Infravermelho de Elétrons no Vácuo são reciclados! Comprando nosso aparelho você estará ajudando a Mão Natureza a se livrar do desperdício de materiais como dióxido de silício, que é simplesmente jogado por aí sem o menor controle do GOVERNO, e outros, como o tungstênio, um elemento CHEIO DE QUÍMICA!!

Proteja o Meio Ambiente, crie um futuro iluminado para seus filhos e ainda ENXERGUE NO ESCURO!

É ou não é um milagre!?
milagre da luz

Chau. Vou passear no lado negro e não sei se volto.

Eis que estava eu a pensar se ainda valia a pena permanecer por aqui quando tive uma burrifania que me fez resolver descer do púlpito erigido sobre a plataforma elevada acima da passagem de nível onde repousa o pódio sobre o qual se encontra a base do meu pedestal de marfim e ouro e pensar mais a respeito dos motivos alheios para coisas além da minha compreensão.

Foi então que senti o gostinho do lado negro.

Percebam:

Gêmeos univitelinos são geneticamente idênticos; dois organismos derivados de um mesmo encontro gamético fruto do amor entre duas pessoas. Ou estupro.

Por que então cada uma dessas pessoas tem uma personalidade diferente? Do par, um é geralmente mais calmo e passivo enquanto o outro é mais agitado e controlador.

Desde a concepção, tudo no desenvolvimento dessas duas pessoas é exatamente igual.

Exceto duas coisas: posicionamento intrauterino e o momento do nascimento.

Considerando que nosso primeiro lar é o ventre de nossas mães (cada um na sua, senão dá confusão) e que este, do nosso ponto de vista fetal, é imóvel, podemos estender a metáfora e tratar o berço primário da nossa criação como uma casa, pois apesar desta também estar em constante movimento relativo a milhões de outras coisas no Universo, está absolutamente impávida em relação ao que realmente nos importa: nosso CEP.

Uma das inúmeras “tradições milenares” (há controvérsias aqui quanto à longevidade da técnica adiante nominada) que conseguiu sobreviver às pressões seletivas socio-temporais foi o Feng Shui, que nos ensina que devemos tratar nossa habitação como a caverna de um dragão, e que para finalmente conseguirmos viver confortavelmente devemos pensar em como o supracitado mítico réptil alado se sentiria ao passear distraidamente por nossos quartos e banheiros.

A organização estética dos aposentos agradaria, segundo tal filosofia, não só aos olhos como também à alma, nos fazendo viver melhor.

Um irmão que tenha passado a maior parte do seu citomerismo embrionário num nódulo indetectável de energias domiciliarmente negativas gerado pela proximidade maior do fígado (o órgão filtrador de tudo que há de ruim no corpo da progenitora, quem sabe até incluindo as tais “energias” de efeito cumulativo e não-metabolizável) vai crescer psiquicamente mais retraído e tímido, com medo do mundo onde foi gerado.

A não ser que seja mais descontraído e relaxado, num corajoso gesto de desafio contra seu desenvolvimento oprimido.

Bom, de toda forma essa disposição relativa não é algo testável ou previsível. Mas existe, não existe?
E essa existência não é tautológica e ontologicamente prova de sua própria existência? Eu me pergunto…

Agora, deixando as coordenadas histéricas de lado, vamos ao parto:

Por mais que o intervalo de tempo entre o nascimento de um e de outro dos gêmeos seja pequeno, jamais será igual a zero. O exponencial avanço tecnológico dos nossos aparelhos de mensuração temporal prova isso com mais e mais precisão a cada dia (ou attossegundo).

Logo, isso abre caminho para uma hipótese (ou teoria, como queiram, pois a prostituição do vocabulário pelos cafetões ideológicos não conhece limites) que responsabilize o horário do acontecimento natalício como definidor do caráter pessoal.

E qual melhor marcador de tempo que o homem pré-medieval conhecia senão os astros?

Daí, um pequeno salto intelectual torna perfeitamente cromulente e aceitável a suposição da criação de uma relação causal entre a posição de pontos de luz na abóboda celeste e os maneirismos de um indivíduo qualquer em situações sociais. A Astrologia deve estar certa, eu concluo.

Isto é, desde que a facção escolhida seja a adequada.

Por que não? É tão bom quanto qualquer outro sistema, haja visto que não sabemos ainda o que define “personalidade”.

Por que não, então, usar o momento em que nascemos como padrão?

Para aceitar esse ato de fé nem precisamos definir “nascimento” também, especialmente considerando o quão complicado isso seria. Qual parte da criança precisa transpor o umbral materno para que ela possa ser considerada nascida de fato?

Vamos manter a impossibilidade de atos simultâneos para corpos diferentes enquanto consideramos dogmaticamente um recém-nascido como um ponto adimensional. Acreditar é bem mais fácil.

E já que estamos nessa, vamos abraçar também tudo que eu venho combatendo há tanto tempo.
(Tempo esse que foi completamente estruído, deixo aqui registrado.)

Como explicar inteligentemente o efeito placebo que ocorre não só em humanos adultos como também em bebês e cavalos sem poder cognitivo de enganarem a si mesmos? Por que não chamar isso de “homeopatia”?

Talvez os praticantes de Reiki não gostem muito, contudo poderíamos usar também “alinhamento de energias”, “manipulação de meridianos”, “efeitos quânticos macroscópicos” dentre várias outras denominações, pois foi justamente para isso que Deus inventou a classe gramatical dos sinônimos. Vamos todos dar as mãos e usá-los.

Quem sabe esse toque não seja também terapêutico e milagroso?

É tão mais fácil assim. Aceitar. Simplesmente aceitar.

Explicações são tão demoradas e complexas. Fé é sempre o melhor caminho.

Ou pelo menos o de menor resistência para nossos elétrons mentais. Uma espécie de “aterramento intelectual”.

Qual razão teríamos para complicar o mundo quando ele tem dado certo até agora?

Por mais argumentum a posteriori que tenham sido os últimos dez mil anos, o fato irrefutável de nós estarmos aqui, eu escrevendo e você lendo, prova que o mundo funciona.

Método científico? Pensamento crítico? Racionalidade? Ceticismo? Às favas com todos eles.

Se Ugh, nosso ancestral testudo, tivesse parado para raciocinar, medir e tentar entender o comportamento do felino dentuço que o perseguia à toda velocidade, não estaríamos aqui, repassando à frente, para a próxima geração, nossos medos originais de fábrica e já pré-instalados nem forçando as pobrezinhas das nossas crianças a tomar decisões que afetarão suas vidas enquanto eles não têm capacidade sequer de entender o que significa “futuro”.

É impossível ensinar alguém a pensar.

Aliás, até agora tem sido impossível entender como alguém pensa, já que ainda não inventaram um medidor de ideias.

Então, se pode existir um pensamento inexplicável em mentes separadas, como provar que telepatia também não existe e que é apenas um pensamento compartilhado pelo Sub-Etha através de um processo sensormático?

Quem me garante com 100% de certeza que Medicina e Farmacologia funcionam e que Biologia, Física e Química estão 100% corretas o tempo todo?

Homeopatas, padres, acupunturistas, rabdomantes, hippies, vendedores de cristais e água ozonizada, terapeutas do esparadrapo, cartomantes, videntes, usuários de Mac, veganos, cromoterapeutas e demais crentes têm absoluta confiança em seus tratamentos/estilos de vida e me garantem sem qualquer margem de erro que estão completa e irremediavelmente corretos em suas asserções e escolhas de seus objetos de adoração venerável.

Qual dos dois parece mais tentador? A incerteza hesitante ou a certeza categórica?

Devo admitir; depois que os olhos se adaptam ao obscurantismo e o nariz se acostuma com o cheiro da decadência, o lado negro não parece tão ruim.

Até a volta.

Se houver uma.

P.S. Todavia, como ainda não tenho um tumor intratável no meu lobo parietal nem sofri lobotomia frontal total, sei que Autohemoterapia não funciona.

Nem no Mundo Mágico da Loucura Absoluta a AHT funcionaria.

Limites existem até para os delírios mais insanos.

A polêmica do Butantan

Não podemos ver deste ângulo, mas o tan-tan chora silenciosamente...

Adeus, dignidade…

Resenha: Guia Mangá de Biologia Molecular

Nunca li mangá na vida. Acho que essa é a melhor maneira de começar esta resenha.

Não posso dizer que estava preparado para a frenética variação emocional errática das personagens que conseguem, em uma página, passar por toda a gama de emoções que uma pessoa pode exprimir e mais algumas que só existem em desenho, mas acho que a juventude de hoje em dia entenda melhor que eu, manow. (Usei a gíria adequada?)

Passado o choque inicial, comecei a me divertir com a estória, que é de fácil imersão e abstração e o balanço entre ficção e conteúdo teórico é tão bem feito que minha suspensão de descrença ficou intacta praticamente o tempo todo.
E quando a informação fica difícil demais, o guia, um dos personagens da estória, liga o “modo fácil” que realmente ajuda na fluência.

O volume, apesar das quase duzentas e vinte páginas, pode ser facilmente lido em uma tarde, mas, a não ser que você tenha uma capacidade infinita de absorção de conhecimento (ou seja um biólogo molecular), não recomendo que o faça. Se você já não souber do que se trata, é muita informação prum dia só.

Por isso (eu acho, estou especulando aqui) o livro é dividido em cinco capítulos. Uma criança (para quem eu espero que o livro seja direcionado) poderia facilmente ler e aprender quase tudo ali no decorrer de uma semana de leitura.

Falando em criança, esse é o tipo de publicação que eu gostaria de ter lido vinte anos atrás.

Várias páginas ininterruptas de desenho, intercaladas com cinco ou seis de puro texto, aprofundando o assunto.
guia mangá de biologia molecular

Não que biologia fosse meu filão na infância, mas já se fosse um de física

Se bem que esse seria exatamente o tipo de livro que me faria querer virar técnico de PCR. Nasci para ser peão engenheiro mesmo

Uma coisa me decepcionou, no entanto: a falta de cores.

A capa é uma beleza e um desmantelo de informação multicromática, mas as páginas são todas em pretibranco, o que deve dificultar o interesse imediato de alguns estudantes.

Juventude de hoje em dia é acostumada com TVs digitais e suas mil milhões de cores. No meu tempo até as árvores eram em preto e branco!

Não, estou exagerando um pouco, o verde já tinha chegado na minha cidade naquela época.

Mas eu lembro de um livrinho com uma coletânea das tirinhas do recém-lançado Recruta Zero que demorei a ler porque era em tons de cinza.

Passando disso, o conteúdo é realmente muito bom e as explicações são fáceis de entender, especialmente quando o leitor é quem dita o passo.

Guia Mangá de Biologia Molecular
Nas bancas, por R$39, ou direto pela página da Novatec Editora com 20% de desconto.

A presença constante de ideogramas me deixou curioso, porque não tenho como saber se tudo aquilo está sendo traduzido ou não, no entanto eu não me importo muito em não entender tudo da primeira vez, pois quem sabe um dia eu não aprendo japonês, volto a ler a estorinha e descubro piadas novas depois de tantos anos? (Eu acho que entendi “peixes mortos no rio”, porém.)

Esse é um tipo bom de incitação à curiosidade.

Agora vamos ao desconto que eu sei que vocês adoram.

A editora, que foi gentil o suficiente para me mandar o volume resenhado aqui, abaterá 20% do preço de capa (que cairá de quase quarenta para quase trinta reais) para quem comprar direto da página informando o código “42” no carrinho de compras. E a promoção é válida por todo o site até 30 de junho!

Aproveitem!

A Veja e os índios

A SBPC lançou uma nota de repúdio e até por aqui fizeram barulho por causa disso. Tão parecendo uma ruma de índio!

E daí que um jornalista insinuou que todo índio é preguiçoso? São não, por acaso?

Só falta virem me dizer que nem todo japonês é igual e que nem todo cearense tem a cabeça chata.

Até que ponto somos fruto da nossa época?

Ano passado, o cineasta Roman Polanski foi preso por “namorar garotas menores de idade” na década de 70. A acusação foi feita em 1977 porque, aparentemente, ele não sabia que era contra a lei fazer sexo com meninas de treze anos.
(Antes de continuar, uma das minhas famosas interrupções que quebra completamente o fluxo da narrativa e faz a segunda parte do argumento parecer sem sentido até que se leia a primeira novamente pulando os parênteses: manter relações sexuais com menores é crime, independente da vontade do parceiro. Um sujeito que for seduzido por uma garota de 14 anos vai pagar, e vai pagar caro, por ter consumado o fato, caso seja denunciado.)

Em 1976, o mundo nos dava Quando as Metralhadores Cospem (Bugsy Malone), estrelando Jodie Foster que, aos catorze anos de idade, interpretava uma dançarina de cabaret (que não é exatamente o mesmo que um cabaré como nós conhecemos, mas também não é nenhum salão de vendas de concessionária de automóveis).

Não só todas as dançarinas são igualmente jovens como todo o elenco do filme o é.

Em 1980, três anos depois da acusação, víamos os peitos de Brooke Shields, recém-familiarizada com a adolescência (aos quinze anos, mais precisamente).

Não vou incrustrar o vídeo aqui porque quem já ligou a TV durante a tarde mais de uma vez nos últimos trinta anos já viu esse filme.

A mesma atriz, cinco anos antes, fez um ensaio “sensual” (até onde um corpo de uma criança de dez anos pode ser mais sensual que, digamos, tinta fresca ou um prato pingando no escorredor de louça) cujas fotos foram, não só no mesmo ano como no mesmo mês e apenas quatro dias após a prisão de Polanski, retiradas de uma exposição na Inglaterra porque “estava atraindo pedófilos” ou algo do tipo.

Atrair não pode, mas acobertar, proteger e remanejar tá liberado, né Ratzo?

Num mundo assim é realmente difícil ter certeza de que é errado fornicar com menores.

Notem que eu disse “ter certeza”. Obrigado.

Você, que agora me lê, tem certeza de que deve dar passagem a um carro de emergência (ambulância, polícia, bombeiros) mesmo correndo o risco de ser multado por uma câmera de sinal?
Certeza mesmo?

Eu sei que isso beira a analogia falsa e que desconhecer a lei não é desculpa para infringí-la sem punições, mas sério, se de uma hora para outra você descobrir que o simples fato de ter assistido ao vídeo acima faz de você um(a) criminoso(a), você acharia justo?

gramatica capaMudança 100% de assunto mas me aproximando cada vez mais da minha meta, no começo da semana eu desenterrei minha velha gramática (que é a minha preferida pois tem mais figuras que as outras) e, enquanto meu queixo caia ao ler que “explodir” não pode ser conjugado na primeira pessoa do singular do presente do indicativo (i.e. eu explodo) e que o mesmo se aplicar a “feder” (regra essa abolida segundo meu dicionário de conjugações 2010, graças ao qual agora eu fedo o quanto quiser), resolvi relembrar os erros gramaticais mais comuns do passado (a publicação é de 1994) e, na página 389, me deparo com o seguinte exemplo:
gramatica indio detalhe.jpg

Nós (e quando eu digo “nós” quero na verdade dizer “eu”, já que tenho uma forte tendência a extrapolar a minha experiência para todas as pessoas existentes e que são mais jovens que meus pais mas ainda nascidos antes do mundo se transformar num paraíso ridiculamente estéril) fomos criados realmente pensando que índio é bicho e que deve ser tratado como tal.

Mas, pior que isso, bicho selvagem, porque também fomos criados para tratar nossos cães e gatos como gente, então eles não contam. Bichos caseiros, de estimação, são melhores que índios.

Eu tomei um choque alucinante quando fui a Macapá em sei-lá-que-ano e vi índios andando na rua. Porque aquele dia foi a primeira vez que eu aprendi a associar “indío” com “pessoa” e não com “aldeia”.

Antes daquilo, todo índio usava cocar, andava com calção da copa de 86 e morava em uma oca. Depois daquilo, “índio” virou raça, como preto, branco e pardo (que só é raça no Brasil e uma vez por década, durante o censo).

Eu cresci sabendo que índio = bicho = selvagem < eu. E, sinceramente, num sistema de ensino deformado como o nosso é demais querer que um mero jornalista saiba que "selvagem" tem mais de um sentido.

Ironia? Talvez. Preconceito? Sem dúvida. Mas um preconceito institucionalizado, enraizado no âmago mais profundo da pessoa do nosso ser individual, com direito a todos os pleonasmos repetitivos e desnecessários que caibam aqui.

Antes da primeira pedra, impulsionada pela mentalidade de turba que há de se criar ao redor disso, voar e atingir algum inocente, vamos tentar atribuir culpa a alguém mais distante e mais efêmero, cuja honra, por já ser suficientemente etérea, não pode mais ser manchada.

O propósito deste ensaio não é inocentar a revista ou os redatores ou os jornalistas envolvidos na matéria, mas relembrar que devemos manter sempre a chama do ceticismo acesa, em todos os momentos.

Antes de matar, vamos ver se tem graça.

Antes de queimar a bruxa vamos ver se ela boia primeiro.

Depois, se forem realmente culpados, pau neles.

Eu seguro e vocês batem.

Você sabe conjugar o verbo "rir"?

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