A importância de saber balancear equações

Digamos que você fritou um frango coberto da mais pura delícia crocante.

Cardápio: galinha frita em manteiga clarificada, arroz no caldo (caseiro) de galinha com alho frito, anéis de alho-poró empanados em farinha de rosca sem glúten (caseira), salada quente de brócolis, milho verde, cebolinha e pesto (caseiro) e maionese (caseira).

Digamos ainda que você não está pronto para comer (esqueceu de por a mesa ou de fazer o suco ou o arroz ainda não ficou pronto) e quer manter sua comida quentinha por mais dez minutos sem perder a crocância perfeita que, servindo o empiricismo de pista, você jamais conseguirá obter novamente.

O que fazer? Solução: ligar o forno no mínimo por uns cinco minutos e utilizar aquele ambiente recheado de quentura para estacionar suas coxas empanadas (não, isso não é um eufemismo).

Mas o forno da sua casa é a gás, correto? E sabemos (artigo 2, em PDF) que o gás nacional é butano e propano, não é?

Lembrando do mantra orgânico “met-et-prop-but; an-1, en-2, in-3; o-óico-ol-ona-al” (se você não lembra disso é porque esse cântico só existe na minha cabeça e foi por causa dele que eu tirei 11 no primeiro bimestre do pré), facilmente chegamos à conclusão de que prop-an-o é formado por três carbonos (prop) simplesmente ligado (an) de maneira a formar um hidrocarboneto (o), enquanto o but-an-o é quase a mesma coisa, sendo que com quatro (but) carbonos.

Segundo a piada, quando o carbono vai preso, ele tem direito a quatro ligações e, sendo o hidrogênio (o HIDRO em hidrocarboneto) o primeiro elemento da tabela periódica (por favor, pelo menos isso você decorou, né?), ele só faz uma ligação (mnemônicos, mnemónicos). Logo, o propano é nada mais que 3 Carbonos e 8 Hidrogênios enquanto o butano tem um Carbono a mais e, por motivos óbvios, dois H‘s a mais (cada C liga em outro C numa filinha e as beiradas são inteiradas por H‘s, tipo uma centopeia cabeluda onde a centopeia em si é formada por C-C-C e os cabelos são uma parêia de H‘s – melhor ainda, clique aqui e veja uma imagem).

O que mais é necessário para haver fogo? Lembrando da “pirâmide do fogo” calor-combustível-oxigênio, já temos o combustível e o calor (proveniente do fósforo ou daquela fagulha mortalmente elétrica e barulhenta dos fogões elétricos que, sério, dói muito ser eletrocutado por aquilo, portanto não seja), precisamos agora de Oxigênio.

OOOOO, como você é perspicaz!

Então, temos C‘s e H‘s de um lado, junto com alguns O‘s.

E o que dá juntando O + H, turma? Isso mesmo: sarcasmo.

(“OH! Quanta esperteza!” Sacaram? Destá…)

Não, sério, do outro lado vai ficar CO2 (resultado de toda queima de hidrocarbonetos[1]) e mais uma ruma de O‘s e H‘s conectados na proporção de 1 para 2, formando o tão temido monóxido de di-hidrogênio

Não, esse aí é o trapezóide *de* fogo.

Resumindo: quando você acende o queimador embutido da sua casa (isto também não é eufemismo), você está magicamente criando, além do gás carbônico, água em forma de vapor que, com a cessação do input calorífico, recondensará e implodirá qualquer superfície oleosa e prazerosamente quebradiça que tenha sido criada num processo de imersão em lipídios molecularmente agitados e completamente obliterará suas expectativas gastronômicas.

Essa medida também protegerá os anéis de alho-poró (que você já usou ao invés de cebola justamente pela menor quantidade de umidade intrínseca no allium escolhido) e sua extraordinária capa ovo-fasianideamente agregada a flocos de milho.

Ou seja, nunca use o calor residual de um forno a gás (a não ser em casos específicos e bem estudados que envolvem deixar a porta aberta por alguns segundos mantendo termodinamicamente o calor lá dentro com o uso de tijolos e jarros de cerâmica cheio de areia) para manter quentes por mais tempo frituras crocantes.

Use o forno, mas não o ligue. O frango vai continuar quente, por si só, por bastante tempo.

Notem, então, crianças, que balancear equações é imprescindível para a sua vida. Nunca saia de uma aula de química pensando “como é isso é inútil” ou “nunca vou usar isso na minha vida” porque sim, você vai sim. Ou usa, ou morre de fome (ou, pelo menos, nunca vai conhecer as maravilhas da Terra da Crocância Extrema).

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[1] Podem ficar tranquilos. Eu chequei essa parte com um professor.

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