LGBT pela Família
NOTA PÚBLICA DE REPÚDIO¹
Nós, representantes autonomeados da causa LGBT, vimos, por meio desta nota pública, declarar repúdio às manifestações em favor da retirada de certas propagandas do ar, em especial a da Gillette, estrelando a modelo brasileira Sabrina Sato e o cantor coreano Psy, que afirma que homens devem se depilar.
Nós, integrantes da sociedade LGBT, acreditamos que a evolução natural do ser humano tem em mente levar a espécie a um padrão corporal completamente desprovido de pêlos (excetuando-se sobrancelhas – ver abaixo o motivo), onde todos seremos mais limpos e asseados.
Repudiamos veementemente os conclamantes das ditas “liberdades individuais” que são, em verdade, indivíduos sem qualquer organização formal (diferentemente de nós da LGBT) que apenas desejam tumultuar estruturalmente a sociedade contemporânea, esta baseada em asseio e boa imagem.
Somos também contra os cidadãos (cidadãs, em sua maior parte) que levantam a bandeira do “anti-patriarcado”, que visa estabelecer uma femiocracia fundamentada principalmente no acúmulo de sebo e outras secreções dérmicas repugnantes em desnecessários pêlos que escolhem cultivar em locais inadequados, como pernas e axilas – ambos já bem estabelecidos como indesejáveis pela maioria da sociedade, como bem devem ser.
A organização LGBT apóia incondicionalmente esforços visando a extinção definitiva de pêlos corporais (à exceção de cabelos propriamente ditos, sobrancelhas e, possivelmente, dependendo do caso, cílios) na humanidade, sem distinção de sexo (ou seja, homens e mulheres), sejam eles em forma de pôsteres, cartazes, propagandas televisivas ou em rádio, campanhas de Internet (ou Rede Mundial de Computadores) e ações de grupos organizados em redes sociais (p.ex. Orkut, Friendster, MySpace, Facebook, MSN, Lattes ou Twitter).
Esforços assim são extremamente necessários para garantir a perpetuação da espécie e ajudar a levar a cabo o plano que a evolução tem reservado para nós, humanos.
Porta-vozes LGBT que somos, orgulhosamente defendemos nossas idéias a ferro e a fogo, independentemente do que possam apresentar como evidências em contrário, pois acreditamos piamente que tudo isso é para a proteção da Família e fortalecimento do Núcleo Familiar, visto que as atitudes dos grupos pró-sebo servem um único propósito: diminuir as proles por meio de repulsão mútua (afinal, ninguém aceitaria se casar, e conseqüentemente procriar, com um representante peludo do sexo oposto), dificultando o serviço da evolução em sua meta de nos tornar uma espécie melhor, completamente pelados.
Ao tirar nossa liberdade em não ver cabelos saindo pelas mangas das camisas, nossa liberdade de ir à praia sem precisar aturar pernas cabeludas ou calcinhas e calções estufados, nossa sagrada liberdade em não precisar pensar naqueles que são diferentes de nós, representantes LGBT, os apologistas da causa do culto ao pêlo estão inadvertidamente caindo em contradição, pois apóiam as “liberdades individuais”, desde que elas sejam as deles.
Se essa situação de preconceito anti-depilação vier a se estabelecer, corremos um sério risco como sociedade, pois cairemos num declive escorregadio. Começaremos com a perseguição daqueles que sabem que o correto é raspar seus pêlos, daí passaremos à proibição de utensílios de corte, raspagem ou depilação (que, ao contrário do que pensam os pró-barba-feminina com seus dreadlocks mofados e pêlos pubianos transcendendo a linha da cintura, aqueles são instrumentos úteis em outras situações e para outros fins que não a eliminação de pêlos) por parte da ditadura capilar. O próximo passo lógico daqueles que admiram e desejam o excesso de pêlos mal cuidados é sair por aí fedendo ou, pior ainda, feios. Disso para quererem casar com cachorros é um passo, já que a diferença entre uma bola de pêlos e outra é mínima.
Essas pessoas não pensam nas pobres crianças que se assustarão com suas aparências e sem dúvida se traumatizarão ao ver nós em barbas e mulheres de bigode; as mesmas crianças que crescerão sendo oprimidas, com medo de dizer o que realmente sentem e quem realmente são, sendo forçadas a andar por aí com pêlos escorrendo pelas orelhas e narizes, como se isso fosse um comportamento normal.
Essas pessoas que desejam atrasar o processo evolucionário buscam a estagnação do crescimento vegetativo, onde as poucas crianças que por sorte nascerão – frutos de encontros inconseqüentes entre cabeludos drogados – passarão suas vidas com tanto medo de se assumirem peladas que fugirão do convívio social, diminuindo ainda mais as chances da sociedade de se recuperar.
Portanto, pedimos cordialmente que sigam os seguintes pontos:
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Ao invés de alisar os cabelos, corte-os;
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No lugar de desenhar um “bigodinho de Hitler”, mostre seu amor à Pátria e peça uma brazillian;
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Não pare o barbeador no joelho ou no pescoço, continue até o alto da coxa (em ambos os casos, subindo e descendo, respectivamente);
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Ao ir à manicure, peça uma depilação dos braços;
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Na cadeira do barbeiro, tire a camisa e peça para fazer seus ombros.
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Lembre-se que somente criaturas horripilantes têm pés cabeludos.
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Repudie também os esforços dos que pensam em criar uma comunidade cabeluda. Lute conosco!
Nós, LGBT, agradecemos em nome de toda a sociedade.
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¹ Post patrocinado pela organização LGBT – Laserpilados, Glabros, Barbeados e Tricofóbicos.
Porque spams de chumbo em batons nunca morrerão
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O texto a seguir não é meu, mas uma tradução autorizada de “Why Lead in Lipstick Stories Will Never Go Away“, de Perry Romanowsk do blog Chemists Corner que incluo aqui como complemento para o meu desmistificador texto Batons com chumbo, de 2008.
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Essa conversa sobre o estudo em batons feita pelo Daily Mail que mostrou que 55% dos batons contêm traços de chumbo me leva a concluir que esse problema jamais irá embora.
O problema?
Não, não é o chumbo em batons. Isso não é um problema. Não existe nenhum estudo com credibilidade que demonstre que o nível de chumbo em batons seja algo além de seguro.
O problema é a crença de que não existem níveis seguros para chumbo ou mercúrio ou “toxinas” que podem ser tolerados em cosméticos.
Infelizmente, isso é um problema com o qual químicos de cosméticos precisarão lidar pelo resto dos dias. Algumas pessoas nunca entenderão a noção, colocada por Paracelso:[1]
“Todas as substâncias são venenosas; não existe uma só que não seja veneno. A dose correta é o que diferencia os venenos” Paracelso (1493-1541)
Por que?
Eu tenho pensado muito sobre isso por ser um assunto tão frustrante para os cientistas. Aqui estão cinco razões pelas quais eu acho que este problema nunca vai desaparecer.
1. Estórias de medo são mais convincentes que estórias de segurança.
Isto é uma coisa óbvia em jornalismo. As pessoas estão mais interessadas em notícias que as assustam do que naquelas que são tranquilizadoras. Sensacionalismo vende. Assim, estórias de cosméticos tóxicos sempre superarão outras declarando a segurança dos mesmos. E já que os cosméticos são, de longe, mais seguros do que a maioria dos outros produtos de consumo, os meios de comunicação terão que reinventar estórias sobre chumbo no batom. Simplesmente não há muito mais que isso.
2. As pessoas são analfabetas científicas.
Essas estórias de medo são convincentes porque as pessoas, em geral, são analfabetas científicas [não sabem necessariamente como a Ciência funciona nem se interessam por fatos científicos]. Elas também preferem respostas simples a respostas complexas; “chumbo = ruim” é uma coisa muito mais fácil para o público compreender do que “certos níveis de chumbo são ruins porém outros níveis são perfeitamente seguros”. A mercantilização do medo é eficaz porque quem propaga essas notícias o faz para um público que não é entende o bastante de ciências para julgar a validade da estória.
Você sabia que para determinar o nível de chumbo num batom você tem que usar ácido fluorídrico para separar o chumbo? O ácido estomacal não é forte o suficiente para separar os componentes de um batom que tenha sido ingerido, dessa forma, o chumbo nunca nem vai entrar em seu sistema!
3. As pessoas são incapazes de avaliar adequadamente o risco.
Outro imenso problema é que as pessoas não são boas em avaliar riscos. Eles se preocupam com chumbo em batom ou BPA em garrafas de plástico que têm níveis de risco na casa do 1 em milhões, mas nem pensam duas vezes em entrar num carro que tem um 1 em 100 chances de matá-los. Aqui está uma lista das coisas que matam as pessoas. Cosméticos não são uma delas.
4. A mensagem beneficia alguns vendedores.
Uma das razões pelas quais essas estórias vão continuar circulando é que alguns comerciantes usam o medo para se destacar de seus concorrentes.[2 – veja anúncio da Mary Kay mais abaixo] Quando você lê alegações como “sem parabeno” ou “livre de sulfato” em um recipiente, há a afirmação implícita de que essas coisas são perigosas ou ruins [ou, no caso deste açúcar, de que seus concorrentes estão usando enxofre na composição]. Estas não são mentiras diretas, mas implicitamente propagam mitos que ajudam empresas a se beneficiarem deles.
5. Efeito Dunning-Kruger.
Finalmente, há o “efeito Dunning-Kruger“. Esta é a noção de que alguém não qualificado em um assunto tem mais confiança na sua opinião sobre aquele assunto do que alguém que realmente sabe alguma coisa sobre aquilo. Então, você tem livros escritos por agentes de relações públicas e modelos de passarela expondo a toxicidade e perigos de cosméticos. Por que é que as pessoas que passaram suas carreiras a pesquisar e testar produtos cosméticos não estão escrevendo livros assustadores sobre cosméticos? Por que será que justamente as pessoas que provavelmente mais conhecem a verdade sobre se os cosméticos são perigosos não estão escrevendo esses livros?
Dunning Kruger explica.
Formuladores cosméticos
Então, o que isso significa para cosméticos e químicos de cosméticos?
Em alguns aspectos estórias assim são positivas para os químicos de cosméticos. Sempre que um ingrediente cai sob a mira de uma ONG (organização não-governamental) fiscalizadora, os fabricantes de cosméticos se movimentam e colocam seus cientistas para trabalhar, desenvolvendo versões de fórmulas que não contêm o ingrediente visado. Este trabalho de formulação defensiva pode manter as pessoas com um trabalho remunerado durante anos.
No entanto, isso significa que você não vai conseguir criar qualquer inovação real ou desenvolver produtos com novos benefícios. Você simplesmente gasta seus dias reformulando produtos que funcionam perfeitamente bem usando ingredientes alternativos, geralmente de baixa qualidade. (Se não fossem de qualidade baixa, estariam sendo usados desde o começo).
Mas, infelizmente, o mundo é assim. Até que melhore-se a educação científica em nosso país e em todo o mundo, as pessoas ainda vão achar “Chumbo no Batom” convincente.
— Notas do tradutor —
[1] Essa passagem (e o link associado) diz respeito ao fato de que, na dose correta, qualquer substância se torna perigosa. Os mais perigosos são aqueles cujas doses prejudiciais são menores (ácido sulfúrico, soda cáustica, cianureto, metanol), mas até água e ar podem se tornar venenos quando em doses grandes o suficiente.
[2] Isto abaixo é um cartaz que supostamente a empresa Mary Kay está dispersando pelo Facebook (citando parágrafos inteiros do meu texto sem os devidos créditos corretos), se aproveitando da situação para virar o jogo a seu favor (clique para ver a imagem do tamanho correto):
Agradecimentos especiais a Pedro, por ter chamado minha atenção para o original.