Este blogue é a favor do aborto

É muito fácil para alguém que não tem útero ser contra o aborto. Da mesma forma, é extremamente conveniente para alguém já nascido apontar o dedo e julgar a opção alheia.

Se uma mulher não quer sofrer a violência ao seu corpo que é uma gravidez nem está mentalmente preparada para enfrentar o mundo de incertezas debilitantes que será a concepção e criação de outro ser humano, por que você, sem útero e já nascido, é contra? Você se acha realmente tão importante assim a ponto de ditar o comportamente e o futuro de outrém?

Ah! Você teve um filho não-planejado e deu tudo certo? Parabéns. Você é minoria.

Sabe aquele assalto que ocorreu semana passada? Provavelmente o bandido foi fruto de um acidente e cresceu como uma criança indesejada (esclarecimento rápido: alguns já nascem ruins independente da criação. Felizmente porém, são poucos).

Talvez, uma adolescente com opções seguras e não-condenáveis preferisse interromper o processo, para, em outra ocasião, já tendo ela condições emocionais (e financeiras), levasse uma gravidez ao seu desfecho. Como ela não tem o direito de escolher o destino do próprio corpo, ou corre o risco de morrer (seja tomando um remédio abortivo, seja após usar os serviços de uma clínica clandestina), ou terá um filho com grandes possibilidades de virar marginal (link em PDF).

E, me adiantando aos xingamentos, ameaças e acusações gramaticalmente incorretas infanto-retro-fictícias de “era bom que sua mãe tivesse abortado você”, digo aqui que, antes de ter ficado grávida de mim, minha mãe sofreu um aborto espontâneo. Então, ao invés de me desejar a morte no pretérito imperfeito, ache bom e saiba que você escapou. O mundo correu o sério risco de ter dois de mim.

Saiba também que, mesmo você esperneando, agitando seus punhos cerrados ao vento e amaldiçoando a parte da humanidade que discorda da sua insignificante opinião, brasileiras fazem abortos todos os dias. Elas são muitas. Provavelmente uma é até alguém da sua família de quem você gosta bastante.

Sabe quando você está falando mal de uma pessoa sem perceber que ela está atrás de você, ouvindo tudo? Pois é. Da próxima vez que você vocalizar suas ideias quanto à temperatura do mármore do inferno destinado àquelas que abortam, lembre que você pode estar ferindo seriamente os sentimentos de alguém muito próximo a você.

Drauzio é pró, Ratzo é contra.

Acho que escolhi o lado certo.

Desafio #ten23 – overdose homeopática: vídeo-diário

Ontem, às 10:23h, eu ingeri 200 pílulas de arsênico homeopático numa diluição de 30CH, o que, segundo os homeopatas, deveria ter me matado em poucos minutos.

Mas isso eles disseram antes do ato, quando ainda estavam na fase das ameaças veladas e tentando criar medo. Depois, quando eles perceberam que os participantes sabiam da nulidade de efeitos negativos e iriam em frente de todo jeito, eles mudaram de ideia e disseram que temos que dar mais dinheiro para a indústria homeopática tomando as preparações por muitos e muitos anos para termos sucesso no nosso suicídio.

De superdosagem de vida, aparentamente.

Fica cada dia mais claro que homeopatia, além de matar, também emburrifica.

Eu e Jairo, do Um deus em minha Garagem, tomamos a suposta medicação enquanto o processo era filmado. O vídeo pode ser visto neste link.

Em seguida, ainda no shopping, iniciei um vídeo-diário para registrar qualquer efeito colateral causado pela extraordinariamente imensa quantidade de nada que eu tomei. Abaixo vocês podem acompanhar minha saga, em nove vídeos (mas calma, nenhum tem mais de cinquenta segundos).

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