Descobriram a pólvora…mas ela pega fogo com arsênio
Artigo publicado recentemente no site da Science Express relatando à descoberta, pela equipe de Astrobiologia da NASA , de uma bactéria – organismos unicelulares que pode ser encontrados na forma isolada ou em colônias – que utiliza o arsênio (As) em suas rotas metabólicas ganhou destaque em vários meios de comunicação científica do mundo todo e também dos telejornais. Em que pese a importância da descoberta desse microorganismo que poderá auxiliar nas pesquisas relacionadas à biogeoquímica de elementos traço e também para os estudos futuros dessa agência que até então tem procurado novas formas de vida baseada apenas nas análises de N, P, K, Ca, Mg e S, a minha grande surpresa a qual traduzo numa pergunta simples é: O que há de tão novo nisso?
Para os leigos – uso o termo sem nenhuma conotação pejorativa, mas sim para agrupar aqueles que não desenvolvem pesquisas relacionadas ao As e aqueles que não são do meio científico- a noticia tem caráter impactante afinal de contas como um elemento tóxico, contido num produto para matar rato (As é elemento presente no “chumbinho”), pode servir como fonte de vida para algum organismo? Seria isso a explicação do porquê de algumas pessoas não morrerem após ingestão de tal veneno?
A similaridade geoquímica do As e do P é de senso comum no meio acadêmico e se deve as suas diversas propriedades as quais os agrupam na mesma posição da tabela periódica. O suporte a vida conferida pelo As ou outros elementos químicos é bastante possível desde que sejam bem próximos na tabela periódica e apresentem propriedades similares daqueles considerados essenciais. A substituição do carbono por silício e do oxigênio por enxofre são os exemplos mais comuns.
No livro The Biological Chemistry of the Elements, os editores Frausto da Silva e Willians (2001) já fazem referência ao As como possível elemento essencial a vida de algumas espécies, como por exemplo: algas castanhas- algas multicelulares, fundamentalmente marinhas, embora algumas espécies sejam de água doce; samambaias- como a bioacumuladora Pteris vittata, publicação da Nature (Ma et al., 2001); celenterados- animais aquáticos representados por hidras de água doce, medusas ou águas vivas, corais, etc. A revista Element em 2006 dedicou número especial ao AS e nos diferentes capítulos há informações bem fundamentadas sobre microorganismos que obtém energia a partir da oxidação do As(III) para As(V).
Para finalizar, esse “Post” não tem a mínima pretensão de desqualificar o trabalho dos pesquisadores da NASA, no entanto minha irrequieta consciência não concorda com a maneira que o noticia esta sendo veiculada. Na minha modesta opinião, tal informação não se trata do estado da arte, mas sim da ratificação de informações já relatadas por outros autores. Imagina se alguém vem e diz que inventou a pólvora! Às vezes uma pequena revisão de literatura pode economizar milhares de dólares.