Água, recurso renovável ou não?

Participei essa semana de um concurso onde fui questionado se a água é um realmente um bem renovável, ou se por outro lado, haveria alguma situação onde essa classificação não corresponderia à realidade. Confesso que a princípio, naquela situação de tensão, pensar sobre o tema e dar uma resposta firme e adequada não é fácil. Mas depois de algum tempo e, hoje, depois de alguns dias passados, a resposta se torna mais clara e creio que seria um assunto interessante a ser, aqui, tratado.
Pode-se entender por recurso algo (nesse caso um componente do ambiente – a água) que a que possa ser destinado um uso e/ou valor. Já a classificação como renovável ou não renovável está relacionada à capacidade e facilidade de se regenerar ou serem regenerados num curto espaço de tempo, ou não, respectivamente.
A água, comumente, é classificada como um recurso natural renovável. Literaturas sobre o tema são muitas. Entretanto, algumas ressalvas, muitas vezes, deixam de ser feitas. A questão aqui é se tais ressalvas, em alguns casos, podem “mudar” essa classificação. Essa talvez seja uma questão sem uma clara resposta, sem, contudo, comprometer a possibilidade e a necessidade de uma discussão mais aprofundada sobre o tema. É só por meio dela que um maior entendimento é conseguido e, consequentemente, esforços mais efetivos no combate à degradação do recurso podem ser realizados.
A Terra pode deve ser vista como um sistema fechado quando se trata do ciclo hidrológico. Em outras palavras, a quantidade de água no sistema permanece próxima da constância, globalmente. Dessa forma, também globalmente falando, a qualidade da água é que seria o maior problema à capacidade desse recurso se renovar. Mas algumas questões aqui devem ser consideradas. A qualidade da água, após comprometida, é facilmente recuperada? E localmente, essa manutenção da quantidade de água também é verdadeira? Ambas as respostas dependem das situações em questão. Dependem do grau de degradação do corpo d´água, dependem também do grau de degradação da área de recarga do mesmo, da condição climática em questão, das modificações da mesma, enfim, de um conjunto complexo de fatores.
Baseado em algumas situações fictícias, mas de ocorrência frequente no mundo real, procurarei basear minhas colocações a partir daqui.
Imagine o caso de uma microbacia hidrográfica cujo o entorno foi extremamente desmatado e cujo relevo é forte ondulado a montanhoso, situação comumente encontrada nos mares de morros florestados do estado de Minas Gerais. Nesse caso, a mata representa um importante fator cujas funções são várias, manter o solo estruturado, a ciclagem biogeoquímica, a infiltração de água no solo, reduzir as taxas erosivas, entre outros. A remoção da mata, pode então, levar a situações graves, localmente, reduzindo as taxas de infiltração e consequentemente a quantidade de água disponível para “reabastecer” superficialmente e subsuperficialmente a rede hidrográfica. Além disso, as taxas erosivas elevadas podem levar a um intenso assoreamento dos rios regionais, levando à uma séria mudança na configuração, localização e vazão dos mesmos. Dessa forma, pode-se ter uma situação onde a capacidade de renovação do recurso pode ser comprometida.
As mudanças climáticas globais também vêm sendo frequentemente citadas como responsáveis por mudanças na distribuição do recurso água mundo afora. Locais antes com abundantes reservas hídricas estão enfrentando significativa redução das mesmas, enquanto outros não acostumados com intensos índices pluviométricos, hoje os enfrentam. Naqueles locais onde a redução dessas reservas é extrema, dificilmente elas serão repostas no curto prazo. O conceito de recurso renovável, então, também estaria comprometido.
Falando agora em termos de contaminação hídrica, percebe-se um grande número de possibilidades de ocorrência. Seja por meio de atividades agrícolas intensivas com, o uso de agroquímicos descontroladamente, de despejos industriais e urbanos, entre outras atividades, a qualidade dos recursos hídricos podem ser severamente comprometidas. O comprometimento pode ser tal que não existam técnicas suficientemente adequadas para a recuperação desses recursos ou, mesmo, tais técnicas sejam extremamente caras, inviabilizando o processo. Nesses casos, o recurso continua sendo renovável?
Enfim, sem prolongar esse texto, acredito que em situações específicas os recursos hídricos podem perder o “status” de renovável. Afinal de contas, caso isso não fosse verdade, por que estaríamos tão preocupados com a disponibilidade de água ou, melhor dizendo, com a possibilidade de falta da mesma? É importante salientar que essa é uma opinião pessoal, mas que, apesar disso, nos dá uma real dimensão da importância do recurso e da necessidade de conservação do mesmo, bem como de todos os aspectos que positivamente possam influenciar sua qualidade e a quantidade.

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