III Conferência Regional sobre Mudanças Climáticas
Esta semana estou participando da III Conferência Regional sobre Mudanças Climáticas: América do Sul. Na sexta feira, escrevo um post mais significativo sobre minhas impressões, mas posso ir dando uma idéia básica do que anda passando pela minha cabeça por enquanto. Começam assim a série de posts das “lições aprendidas na dor”.
“Lições aprendidas na dor I” (DOMINGO): Alguns grandes cientistas brasileiros se emprenharam no campo da política e das políticas públicas. Um avanço para as comunicações entre a ciência e os tomadores de decisão, na minha opinião. Só que quase nada do que dos cientistas dizem é revertido em projetos de lei, ou ações mais concretas. Motivo: sempre o bom e velho dinheiro.
“Lições aprendidas na dor II” (SEGUNDA-FEIRA): Dos 20 modelos trazidos à tona no Quarto Relatório do IPCC publicado este ano, vários mostram cenários completamente distintos para a América do Sul (em alguns modelos vai chover muito na Amazônia, em outros, haverá uma espécie de desertificação, com chuvas concentradas em determinadas épocas do ano e estações secas bem definidas). Trocando em miúdos, quando os modelos são levandos em consideração todos ao mesmo tempo, existem áreas onde ocorre uma compensação (na Amazônia, exemplo dado acima, se somados todos os modelos, com iguais pesos, não acontecerá nada…). Para a tomada de decisão e políticas públicas eficientes seriam necessários modelos regionais, para a América do Sul ou para cada país especificamente. Então porque não fazemos isso? Falta o bom e velho dinheiro.
Agenda – 04 a 08 de novembro
O que: III Conferência Regional Sobre Mudanças Climáticas Globais: América do Sul – evento pago
Onde: São Paulo
Quando: De 04 a 08 de novembro de 2007
Objetivo:
+ Discutir o progresso e as incertezas no estudo das causas, magnitude e conseqüências das mudanças globais. Analisar as questões referentes a vulnerabilidade e a percepção da sociedade em relação aos problemas ambientais, sociais e econômicos advindos das mudanças globais;
+ Congregar cientistas, empresários e profissionais de áreas relacionadas com as pesquisas sobre as mudanças globais em um evento de caráter internacional e interdisciplinar, promovendo o intercâmbio de informações de várias naturezas, de forma equilibrada e o estabelecimento de sinergias, em especial entre as empresas e a academia;
+ Reunir conhecimento científico e sugestões para futuras ações das empresas, órgãos governamentais e organizações não-governamentais dos países sul-americanos em questões associadas às mudanças globais.
Mais informações:
III Conferência Regional Sobre Mudanças Climáticas Globais
Recomendo
Texto excelente pra quem se preocupa com as consequências político-econômicas da nova “salvação” brasileira, a cana-de-açúcar.
O texto é de Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), professor licenciado do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas. Publicado no Valor, on-line no Luis Nassif On line, aba Economia.
Clique aqui para ler o texto na íntegra.
Consumo e Aquecimento Global
Consumir “corretamente” sob os padrões ecológicos vai muito além de comprar lençóis de fibra de maconha (também conhecida como canhamo) ou cosméticos produzidos com matérias-primas retiradas sustentavelmente da Amazônia. Consumir “corretamente” muitas vezes passa antes por NÃO consumir. “Tenho que trocar de celular de novo”, “Tenho que comprar um carro flex“, “Tenho que trocar meu monitor por um LCD, que é mais econômico” são frases mais comuns do que deveriam ser.
“O grande objeto de desejo agora são as TVs de plasma. Para onde vão os tubos catódicos das TVs antigas? Cada um deles contêm até 4 kg de óxido de chumbo.” Professor Efraim Rodrigues, aqui
O consumo sustentável e ecologicamente correto deve obedecer a três princípios: o respeito aos limites ambientais; a justiça social; e a viabilidade político-econômica. O desbalanço entre qualquer um destes princípios pode causar danos catastróficos ao meio ambiente, a sociedade e a economia de uma nação. É extremamente complicado ter os três princípios balanceados. E é por isso que um comportamento sustentável deve vir seguido de uma transformação cultural, de uma mudança de hábitos.
Se de um lado os consumidores devem se conscientizar de que os produtos consumidos compulsiva e inadequadamente dependem de recursos naturais, energéticos, humanos, entre outros, do outro lado existe a necessidade de desenvolvimento tecnológico e investimentos na eficiência do uso destes recursos. Aos produtores e aos consumidores, deve estar claro que as necessidades de ambas as partes devem ser supridas utilizando-se o mínimo de recursos, iniciando-se por praticar os três Rs: Redução, Reuso e Reciclagem.
“A exploração crescente dos recursos naturais coloca em risco as condições físicas de vida na Terra, na medida em que a economia capitalista exige um nível e tipo de produção e consumo que são ambientalmente insustentáveis.” Professor Pedro Jacobi, aqui
A aplicação dos 3R´s diminui o uso de recursos ao mesmo tempo que diminui a poluição e reduz as emissões de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. Consumo e aquecimento global andam de mãos dadas. Mudanças de hábitos, a nível pessoal, industrial ou governamental devem ocorrer rapidamente, mas todos tem a responsabilidade perante ao problema. Ficar só esperando mudanças nas empresas ou na política é uma maneira de “lavar as mãos” e virar as costas para a crise ambiental.
Leia mais:
A cara do “consumo ecologicamente correto”
Shell Wildlife Photographer of the Year 2007
Na semana passada, iniciou-se a exposição do Museu Britânico de História Natural, com as fotos premiadas no Shell Wildlife Photographer of the Year 2007. As fotos ficam expostas no Natural History Museum, em Londres e, para os menos afortunados – ou não – online aqui!
Aproveitando que a WWF e o Greenpeace adoram um mamífero de olhos grandes para “alertar” sobre o aquecimento global, para falar sobre conservação de espécies, desmatamento e o que quer que seja relacionado à meio ambiente e ecologia, blogo uma das fotos ganhadoras do prêmio “One Earth Award”. Vale a pena visitar o site e conferir as outras fotos, ganhadoras de prêmios ou não.
Mais:
Uma Malla Pelo Mundo
Ônibus movido a álcool chega a São Paulo
Esta parece ser a boa notícia da semana para a cidade de São Paulo. Após alguns anos de estudos e financiamentos internacionais, vinculado ao Projeto Best (BioEthanol for Sustainable Transport, na sigla em inglês), chega às ruas de São Paulo o primeiro ônibus movido a álcool.
Segundo informações da Agência FAPESP, um único ônibus circulará a partir de dezembro, durante um ano, no corredor Jabaquara–São Matheus, que tem 33 quilômetros de extensão e atende cerca de seis milhões de passageiros por mês, com parada em nove terminais e deslocamento em quatro municípios: São Paulo, Diadema, São Bernardo do Campo e Santo André. De acordo com Marcio Schettino, gerente de desenvolvimento da EMTU, as linhas deste corredor permitem estudo da eficiência e viabilidade do motor movido a álcool submetidos a diferentes topografias e demanda de passageiros.
O preço do ônibus movido a álcool assemelha-se ao preço de um ônibus convencional. E, embora o álcool custe indiscutivelmente mais barato que o diesel, a quantidade necessária para rodar a mesma quilometragem é maior, o que significaria um aumento de 6 a 7% a mais no custo de operação. Isso sem contar o custo dos aditivos que devem ser incorporados ao álcool, e que devem ser importados. O UOL Economia destaca que este aumento pode chegar a até 20%.
“O motor chega a reduzir em 87% a emissão de hidrocarbonetos, em 92% a de monóxido de carbono e em 100% a de óxidos de enxofre e de dióxido de carbono, quando comparado ao motor a diesel”, disse o presidente do conselho gerenciador do Cenbio, José Roberto Moreira. “O argumento de que você está salvando vidas e economizando gastos com internações hospitalares deve ser uma justificativa para o governo aceitar usar um combustível mais caro”, afirmou.
Sem dúvida é um ótimo investimento na esfera ambiental. A cidade de São Paulo opera com 15.000 ônibus movidos a diesel. O uso de ônibus movidos a álcool reduziria consideravelmente a quantidade de gases tóxicos e gases do efeito estufa liberados todos os dias na cidade.
A Scania, empresa fabricante dos veículos, continua estudando novos meios de aumentar a eficiência dos motores, desenvolvendo novas tecnologias constantemente. Esperamos que estas tecnologias, aliadas a novas rotinas e políticas públicas ajudem a reduzir as emissões de GEEs e melhorar a qualidade de vida na cidade de São Paulo.
Saiba mais:
Ônibus a etanol será testado em São Paulo – UOL
São Paulo ganha primeiro ônibus a álcool – Agência FAPESP
Scania ethanol buses to be tested in Brazil – Press Release – Scania
Por que é polêmico produzir etanol a partir de milho?
Um dos assuntos nas pautas dos principais jornais e revistas dos últimos dois meses, pelo menos, é a polêmica da produção de álcool a partir do milho. Os conflitos giram em torno de causas ambientais, sociais e econômicas. Segundo artigo publicado pela BBC Brasil de hoje, a utilização de etanol de milho “não é uma solução para o aquecimento global, nem uma maneira de reduzir a dependência de petróleo”.
Os EUA são os maiores produtores de etanol do mundo, seguidos pelo Brasil, que produz, principalmente, etanol a partir de cana-de-açúcar.
Problemas
Água – Um dos problemas associados à cultura de milho é o alto consumo de água (maior que para produção de soja e algodão, considerada a mesma área de cultivo). Junto a isso, existe o problema do uso indiscriminado de nitrogênio como fertilizante do solo, que pode vir a contaminar o lençol freático, os rios e águas costeiras. Outro artigo, publicado a partir de estudos do National Research Council, dos EUA traz um dado acerca do consumo de água pela refinaria de álcool. A mesma quantidade utilizada para abastecer uma usina que produz 100 milhões de galões de combustível por ano poderia abastecer uma cidade de 5.000 habitantes.
Aumento no preço de alimentos – 2007 promete a maior safra de milho dos EUA desde 1944. O preço do milho dobrou nos últimos anos, e a tendência é continuar aumentando. Enquanto esta é uma boa notícia para os produtores de milho, para os consumidores a idéia não é tão aprazível. Há quem se pergunte quais outros cultivos serão substituídos por milho, que é mais rentável, colocando ainda mais pressão nos preços dos alimentos. A produção de soja teve seus preços projetados para aumentar 30% no próximo ano. Como o preço do principal componente da ração animal americada vem aumentando, é de se esperar aumento também nos preços de leite e derivados e carne de frango e ovos. A notícia é do NYT.
Área – Um dado da Organization for Economic Cooperation and Development diz que trocar 10% do combustível utilizado pelos motores nos EUA por biocombustível necessitará de um terço da área utilizada hoje para produção de cereais, sementes oleaginosas e lavouras de açúcar. Leia mais aqui no NYT.
Milho X Cana-de-açúcar
+ O balanço de energia para converter milho em energia é negativo (1:1,29), ou seja, para cada 1Kcal de energia fornecida pelo etanol de milho, foi necessário 29% a mais de energia (1,29Kcal) para produzi-lo. O balanço energético da cana-de-açúcar é positivo (1:3,24), ou seja, cada 1 Kcal investida tem 3,24 Kcal de retorno.
+ A cana-de-açúcar produz três vezes mais álcool por área do que o milho.
+ O custo de produção do etanol de cana-de-açúcar é U$ 0,28/L e o de milho U$ 0,45/L.
+ A redução de gases do efeito estufa na produção e combustão do etanol de cana-de-açúcar, comparada com combustíveis fósseis, foi de 66%. Para o etanol de milho, esta redução foi de apena 12%.
+ A indústria de álcool americano somente é viável devido ao subsídio de U$4,1 bilhões por ano para a produção de milho e etanol. No Brasil, esta prática não existe.
Outras comparações aqui.
A produção de etanol a partir de milho pode ser uma estratégia utilizada pelo governo brasileiro para manter os preços, principalmente durante a entresafra da cana-de-açúcar. A cana-de-açúcar é, dos pontos de vista econômico, energético e ambiental, a melhor alternativa para a produção de biocombustíveis no Brasil.
Saiba mais:
+ Lugar do milho não é no tanque de gasolina, diz jornal americano – Folha Online
+ The High Costs of Ethanol – The New York Times
+ Cana-deAcúcar: a Melhor alternativa para Conversão da energia solar e Fóssil em Etanol – Andreoli e De Souza
Até onde os fins justificam os meios?
Crise de abastecimento de água na África? Calor de 40ºC no Paquistão? Derretimento acelerado das geleiras do Ártico? Não…
Tem gente mesmo é preocupada com a proliferação de algas na praia onde surfa e com a dificuldade de vender os suéteres de casimira.
Enfim… se todo este discurso hollywoodiano servir para conter o aquecimento global em larga escala, por que não? Vale a pena dar uma conferida neste artigo só pra rir e constatar que o governo não é mesmo igual para todos.
Primeiro Projeto MDL de Reflorestamento
A AES Tietê, uma das grandes geradoras de energia elétrica do Brasil (10 hidrelétricas, capacidade de 2,65 mil MW), responde por cerca de 20% da energia gerada no Estado de São Paulo e de 2% da produção nacional. Em 2001, a empresa entrou com um ousado projeto de reflorestamento de Mata Ciliar nativa nas Áreas de Preservação Permanentes (APPs) às margens das represas das usinas hidrelétricas nos municípios de Boracéia, Barra Bonita, Ibitinga, Promissão e Ouroeste, no Estado de São Paulo.
Para o projeto, serão utilizadas aproximadamente 16 milhões de mudas, de no mínimo 80 espécies de árvores nativas, em uma área total de 9,6 mil hectares. Após 20 anos de acompanhamento das plantas, estas terão sido capazes de fixar cerca de 3 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, através do processo de fotossíntese.
O recuperamento da floresta nativa deverá trazer grande parte da fauna local de volta ao espaço. Fora isso, o projeto tem como objetivo proteger os rios, evitando assoreamentos e melhorar a qualidade de vida das populações vizinhas aos reservatórios. Para a empresa, o Projeto deverá render créditos de carbono, que poderão ser vendidos à exemplo do que ocorreu com o Aterro Sanitário Bandeirantes
O Programa de Reflorestamento da AES Tietê foi apresentado à Junta Executiva do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Esta Junta é responsável pela certificação de créditos de carbono (RCE – Reduções Certificadas de Emissões) a iniciativas que resultam ou na redução das emissões de GEEs (CO2 , CH4, NO2 ,etc.) ou na remoção de dióxido de carbono por projetos de aflorestamento ou reflorestamento.
Os projetos de reflorestamento são os mais polêmicos no MDL. As dificuldades para aceitar este tipo de projetos incluem a definição de floresta, da quantificação do número de toneladas de carbono fixado, do tempo que o carbono permanece preso e às reações das florestas às mudanças climáticas.
Saiba mais:
AES Tietê
Carbono Brasil