Durante o banho, lavar a salada antes ou depois da calcinha?

Devemos à Índia e ao Paquistão gratidão eterna pela inveção do que para mim é o principal artefato dos banheiros urbanos da atualidade: o vaso sanitário. Claro… não como o conhecemos atualmente, mas, lá pelos idos de 2.500 a.C., latrinas ligadas a um sistema de corrente de água podiam ser usadas, desde que as pessoas estivessem de cócoras.
Coube aos egípcios o aprimoramento do sistema – a partir de 2.100 a.C, já se podia descomer sentado! Uma perfeição que só foi ultrapassada mil anos depois, quando o sistema sentar + dar descarga foi aprimorada pelos povos do oriente.
No Ocidente? Pasmem… no Ocidente a coisa desandou. Gregos e troianos se entendiam pelo menos em uma coisa: descomer ao ar livre. Já os para os romanos, que deviam mesmo gostar de mostrar suas obras, tudo era feito em grandes banheiros públicos – que também serviam de local para promoção de banquetes e debates! Sensacional! Em Roma, o sistema era bem parecido com o usado no Egito: sentado com fluxos de água para levar tudo embora. Pena que com a queda do Império Romano, os grandes debates e banquetes foram se extinguindo, assim como o uso coletivo do banheiro.
A popularização do vaso sanitário Europa afora só seu deu em 1668, a partir da França, quando um decreto determinou que deveria existir pelo menos um banheiro em cada casa. Em 1778, o inglês Joseph Bramah criou um vaso sanitário acoplado a uma descarga hídrica, que por muitos anos ficaria restrito à alguns usos.
lavar salada.JPG
Mas o que isso tem a ver com calcinha e salada? Bom, todo mundo sabe que esse negócio de descomer e desbeber em qualquer lugar pode ocasionar doenças – no caso do desbeber não pelo conteúdo em si, mas, assim como o descomer, pelos seres vivos que ele pode atrair – e, inclusive, seres vivos causadores de doenças.
A última campanha do S.O.S. Mata Atlântica sobre economia de água é uma loucura! Para economizar água vamos fazer o quê? Deixar de lavar o carro com tanta frequência? Trocar a válvula hidra do vaso sanitário por um sistema inteligente de dois volumes? Diminuir o tempo do banho? Recolher água da chuva? Não lavar a calçada? Fechar a torneira para escovar os dentes, lavar os cabelos ou ensaboar a louça? Aproveitar a água da máquina de lavar para lavar o quintal? Não!!!!
A bola da vez é FAZER XIXI NO BANHO (porque, aparentemente, é uma ação que todos podem fazer)! Óbvio, segundo o site, no começo do banho, senão fica cheiro, né? Resta saber como ficam os respingos nos azulejos! E o mal cheiro no ralo? Meu banho é ultra rápido – geralmente desligo o chuveiro para me ensaboar e para lavar o cabelo – não vai dar pra diminuir o cheiro!
Fora isso, segundo o gráfico apresentado acima, é possível economizar água no banho lavando roupa íntima e salada. Salada? Como assim, Bial? Antes ou depois da calcinha?
Mas, não paramos por aí! Apesar da aparente perfeição técnica dos criadores e diretores Eduardo Lima, João Linneu, Fabio Fernandes, Henrique Lima, Julio Zukerman e Fábio Simões (comentado nos mais conceituados blogs de publicidade – aqui e aqui), aparentemente é razoável fazer xixi na chuva (na fazenda, ou numa casinha de sapê também?) e embaixo de árvores (e viva a cultura greco-romana!) – como pode ser visto no gráfico abaixo (se bem que não peguei a ideia de como fazer xixi na chuva gasta água (será que devemos pedir pra São Pedro fazer parar de chover naqueles minutinhos fatídicos?):
chuva e arvore.JPG
Deixo a bola pra vocês… mas quando eu acho que tem gente que deveria parar de ajudar o planeta, é dessas e outras que eu me refiro. Só espero que ninguém saia por aí sugerindo que voltemos às fossas sépticas – lá não se gasta nem uma gota de água!
Fazer xixi no banho? Tô fora!
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Informações históricas: Fernando Dannemann
Mais sobre o tema: De repente
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UPDATE
No orkut, tem mais discussão sobre esse post rolando na comunidadePediatria radical.

Parem de ajudar o Planeta, por favor!

Estou em um momento de mudança de paradigmas, de vai ou racha. Tento, desde que comecei esse blog, ter uma visão positiva das ações verdes que vejo por aí. Mesmo detestando “green washing” busco ver o que há de bom na propaganda, ou na ação promovida por uma empresa. Mesmo duvidando de vários produtos “ecologicamente corretos”, busco ver o que há de bom nisso, se há enriquecimento de uma cultura, preços justos, respeito aos trabalhadores, entre outras coisas.
O momento “estou em dúvida quanto às minhas tentativas de ver pontos positivos” veio por conta de três acontecimentos essa semana. Estes três acontecimentos estão me levando a abandonar o velho pensamento e iniciar um novo, que estou chamando atualmente de “parem de ajudar o Planeta!”. Ele precisa de uma folga de tantas intenções de ajuda. Creio até que ele deve ficar melhor sem elas.
Atente! Não estou dizendo sobre TODAS as intenções. Só das representadas pelos três acontecimentos da semana.
Pare.jpgBy elNico on Flickr
Primeiro acontecimento: veio através da lista de discussão dos sciblings. Estarrecedor! O dito gestor ambiental da DERSA, Marcelo Arreguy Barbosa tem a cara de pau de dizer que “a natureza é a responsável pelas mortes, jamais o empreendimento”, justificando (se é que isso é possível) a morte de animais (inclusive de espécies ameaçadas de extinção), direta ou indiretamente relacionadas com a construção do trecho sul da obra do Rodoanel, em São Paulo. [Saiba mais aqui.]
Como não? Seguindo a lógica do dito gestor ambiental, a natureza é obviamente responsável pelo derretimento das calotas polares (afinal, quem mandou a natureza subir a temperatura média global?) e também pela escassez de água para beber em algumas áreas do globo (natureza boba, chata e feia! quem mandou programar a deriva continental e a distribuição de fontes de água potável desta maneira?)
Segundo acontecimento: veio de uma conversa com a Claudia Chow e, depois, da minha leitura dos posts (aquele e esse) sobre uma certa ação, provavelmente relacionada ao programa Aprendiz Universitário. Clau Chow, aproveitando seu momento Roberto Justus, demitiu todo mundo e com razão! Se os profissionais que estão preparados para ingressar no mercado de trabalho tem, frente aos recursos apresentandos pela dita operadora, essa visão pobre e burra sobre os potenciais de projetos sustentáveis de uma empresa estamos ferrados!
Gente!!!! Não pode!!! Estou estarrecida de novo, e é só terça-feira! Pára com isso! É ótimo plantar árvores? Fato! Todo mundo gosta de ganhar “eco-brindes”? Fato também! Mas até quando os profissionais vão empurrar a responsabilidade para o SOS Mata Atlântica ou para alguma empresa de brindes?! Bora fazer algo novo?!
O terceiro acontecimento: esse veio do Discutindo Ecologia e foi o mais decepcionante de todos. Juro… fiquei triste mesmo, fiquei chocada, fiquei mal o dia todo (e por isso estou escrevendo esse post). Numa ação desajeitada e aparentemente mal planejada, o Greenpeace enfiou os pés pelas mãos. A ideia – muito boa, mas de boas intenções… – era chamar a atenção dos líderes mundiais reunidos no encontro do G20, para que olhassem para as pessoas e para as mudanças climáticas antes de tomarem suas decisões.
Pois bem… o próprio Greenpeace contrariou suas reivindicações e os próprios ativistas, bem ali, no local da manifestação, causaram transtornos para as pessoas e para o meio ambiente. Parece pouco, mas, por conta da ação foram produzidos centenas de quilômetros de congestionamentos, pessoas ficaram atrasadas, estressadas e enlouquecidas, nem sei quantificar a quantidade de gases do efeito estufa emitidos. Bela ação para mostrar o despreparo e a falta de planejamento logístico dessa instituição que merecia mais de seus ativistas.
Por favor, Marcelo Arreguy Barbosa, aprendizes universitários e Greenpeace! Se for desse jeito, pelamordedeus: Parem de ajudar o Planeta!

Hora do planeta

horadoplaneta.JPG
Pois bem… chegou o dia da Hora do Planeta (ou a Hora do Apagão, segundo a senhora minha mãe).
A Hora do Planeta foi concebida com a intenção de chamar atenção das pessoas para o consumo consciente de energia – internacionalmente (no Brasil, ainda não – mas se depender do Minc e do Luiz Bento…), a produção de energia é a maior causa de emissão de gases do efeito estufa – e, portanto, (até onde rezam os relatórios do IPCC), do aquecimento global.
Aí, vamos discutir mais ou menos nesses termos:
Céticos: Mas vai adiantar apagar algumas luzes durante uma hora, num sábado?
Rastro de Carbono: Óbvio que não!
Céticos: Mas então, por que fazer?
Rastro de Carbono: Para conscientizar e mostrar para as pessoas como é fácil fazer ações que reduzam o nosso rastro de carbono.
Céticos: Mas nada garante que o cara que participar da hora do planeta hoje vai mudar seu estilo de vida, ou vai transformar alguma ação pessoal em algo mais limpo.
Rastro de Carbono: Bingo!
Céticos: Bingo?
Rastro de Carbono: É, a campanha está errada porque não ensina como continuar a ação de uma hora. Não dá dicas de como transformar seu estilo de vida, nem sequer pede para que você se preocupe com consumo de energia. Tanto que tem gente dizendo: vou twittar durante a hora do planeta pelo meu celular… ou vou aproveitar que não posso ligar o microndas para jantar fora… ou qualquer baboseira similar. E nessas, toda a ideia já se perdeu, toda a chance de conscientização em massa virou demagogia, ficou “para inglês ver”.
Céticos: Então você está dizendo que preferia que a Hora do Planeta não existisse?
Rastro de Carbono: Não… estou dizendo que queria que existisse mas que houvesse conscientização real, com educação ambiental de qualidade.
E, nesse diálogo fictício, mas absolutamente possível, vou dizer que minha casa vai ficar com todas as luzes desligadas durante a hora do planeta, por que estou na casa da minha mãe (HERESIA!!!). Mas, que na casa da minha mãe todas as lâmpadas são fluorescentes, que estaremos conversando altos papos na sala, e que – muito provavelmente – estaremos com todas as outras lâmpadas da casa desligadas. E, porque falamos demais, é bem provável que a televisão e o rádio também estejam desligados e, também por isso, meu computador e celular devem permanecer em silêncio absoluto.
Hora do Planeta pra mim, é igual Dia Internacional da Mulher e Dia do Índio – tem que ser todos os dias, senão não tem valor nenhum, nem como simbologia.
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Saiba mais:
WWF – Hora do Planeta
Earth Hour
Earth Hour no Flickr – veja como as pessoas estão participando ao redor do mundo

Pesquisas científicas me fazem rir!

Tenho problemas com generalizações. Fato.

O primeiro caso público foi aquele famigerado estudo da professora Luisa Lobo, que dizia que todos os blogs femininos eram diários. Veja bem. O meu problema com isso é com o “todos”, não com o “femininos”, menos ainda com o “diários”. O caso terminou na rádio CBN, onde Tania Morales, entre outras coisas, me fez falar – indignada – sobre a entrevista da semana anterior, que tinha sido com a professora. Saiba mais aqui.

O segundo caso é recentíssimo. A generalista da vez é a jornalista, mestre em mídias pela London School of Economics com o trabalho Ethics versus the need to sell or the Tabloidization of the British press, que eu traduzo como “Ética versus a necessidade de vender ou A tabloidização da imprensa britânica”.

Atualmente diretora da sucursal da revista Época no Rio de Janeiro, a jornalista acaba de afirmar que “O besteirol na ciência é melhor que no Senado” – isso, obviamente, analisando quatro pesquisas científicas e citando alguns indicados para o prêmio IgNobel – não sem se sentir penalizada pelo mau uso das estatísticas.

Difícil mesmo é tentar contrariar as conclusões da nossa generalista: “Ler sobre pesquisas científicas de universidades respeitadas é uma receita certa para dar risada”. Não consegui mesmo chorar frente às novas descobertas sobre o vírus HPV – e a produção da vacina para homens e mulheres. Também não consegui chorar frente aos estudos sobre células-tronco, e as possíveis esperanças que isso traz para milhares de portadores de distrofia muscular. Não consegui chorar frente aos avanços com os estudos sobre bioenergia, nem sobre a que diz respeito ao levantamento da biota brasileira

Diga-se de passagem, também não consigo chorar quando meu computador funciona, nem quando a internet me permite pesquisar e escrever. Não choro quando alguém me oferece comida aquecida no microndas, nem quando posso acessar um acervo incrível de obras raras à distância de um clique. Não choro se posso visitar museus on line, não choro quando vou de carro flex para o trabalho, nem quando o ar condicionado do trem está ligado quando o calor lá fora é imenso.

Enfim… difícil mesmo é não dar risada e agradecer como a vida é boa com tanta pesquisa científica de qualidade! 

Pena, que – sem contrariar as estatísticas – nem toda produção é sensacional, e em algumas situações, os investimentos não dão retorno. Funciona mais ou menos como pagar salário para um jornalista, que, vez ou outra, escreve um besteirol em cadeia nacional.

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[UPDATE] 

Leia mais sobre esse assunto no SBb:

Brontossauros em meu Jardim – Cara Ruth de Aquino,

100nexos – “Mas isso eu já sabia”

Rainha Vermelha – Ciência e o óbvio

Geófagos – É muito fácil ser um jornalista frívolo

n-Dimensional – Nunca é tarde para uma autocrítica

Ecce medicus – Conselho de Darwin para Ruth

Psicológico – Sobre pesquisa em psicologia

RNAm – Analisando a polêmica “palhaçada científica” de Ruth

[/UPDATE]

Vamô pedalá pelado!


Este final de semana rolou um movimento, na Avenida Paulista, chamado Pedalada Pelada. Mais do que um movimento pró-ciclistas, o evento que já ocorre em 150 cidades pelo mundo tem vários objetivos, entre eles, fazer com que as pessoas, pelo menos uma vez no ano, enxerguem quão vunerável são as pessoas que tentam usar a bicicleta como meio de transporte.  
Quem se interessa participa da manifestação, também batizada de peladada, “tão nu quanto você ousar”, ou, na minha interpretação, tão pelado quanto você se sentir confortável. O movimento, que já tem sua segunda edição no Brasil, aconteceu no sábado.
Acho absolutamente fantástico o modo não-violento que os participantes da manifestação se utilizam para expressar-se contra algo tão violento quanto à falta de segurança no trânsito e quanto à falta de planejamento público para com as pessoas que não usam carros. O desrespeito ao ciclista, aos pedestres e aos usuários de transporte público na maioria das cidades brasileiras é absurdo.
Os objetivos da manifestação são vários, e todos, na minha opinião, justos:
+ Pedala-se pelo meio ambiente e contra as emissões de gases do efeito estufa gerados por automóveis;
+ Pedala-se por diversão, porque pedalar é gostoso;
+ Pedala-se para tentar tornar os ciclistas mais visíveis aos olhos dos motoristas desavisados;
+ Pedala-se para chamar a atenção do poder público para a falta de sinalização de trânsito especial para pedestres e ciclistas;
+ Pedala-se a favor dos transportes públicos;
+ Pedala-se pela conscientização do corpo e purificação da mente;
+ Pedala-se pelos pedestres;
+ Pedala-se para conscientizar poder público e governantes para os absurdos de violência no trânsito, e para chamar a atenção dos  tomadores de decisão política e pública para a urgência em se resolver a obsenidade com que são tratados todos os usuários de transportes (e nisso incluem-se pedestres, ciclistas, usuários de transporte público, etc.);
+ Pedala-se com o objetivo de ocupar os espaços públicos.
E, pra quem acha que o movimento é obseno, porque os participantes pedalam pelados, aí vai uma listinha do o que eu acho obsceno:
– Acho obsceno não termos a maior parte das principais vias de trânsito com sinalização para ciclistas;
– Acho obsceno que o transporte público aumente de preço e os jornais não noticiem como uma barbaridade;
– Acho obsceno as pessoas terem tantos carrões, contribuindo para o imenso trânsito que temos nas grandes cidades;
– Acho obscenas as estatísticas de mortes no trânsito;
– Acho obscenas as cenas de infrações no trânsito a que sou exposta todos os dias.
E você? Já respeitou um ciclista e um pedestre hoje? Ajude a mudar as estatísticas
Espero que este evento não deixe de ser um movimento sério para ser apenas uma farra sem motivo. Espero que seja uma festa, mas uma festa consciente.
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Saiba mais:
World Naked Bike Ride
Apocalipse motorizado AQUI ACOLÁ e ALI
+ Vá de bike! +
Catracalivre

Fidelidade em quem?

A sustentabilidade, assim como o consumo sustentável é mantida por três pernas: o respeito aos limites ambientais; a justiça social; e a viabilidade político-econômica. Sem uma dessas pernas, o sistema cai, deixa de existir ou funcionar.
Uma cidade sustentável deve portanto respeitar o meio ambiente, as pessoas, a economia e a política. Pois bem, chegamos onde eu queria. Esse final de semana descobri uma coisa fantástica – o bilhete fidelidade para metrô e trem. A conversa começou assim:
Hoje começou um tal aumento no valor das passagens para transportes públicos aqui na cidade de São Paulo. O trem e o metrô sofreram reajustes e passaram de R$ 2,40 para R$ 2,55. Mas, o bilhete fidelidade será comercializado a partir de hoje! Com ele, podemos comprar 8, 20 ou 50 viagens e a tarifa fica menor quanto mais crédito se coloca no tal cartão. Por exemplo, o cartão de 50 viagens custa R$ 112,50 o que dá, por passagem, um desconto de R$ 0,30. Isso mesmo. A passagem que a semana passada custava R$ 2,40 e hoje custa R$ 2,55 pelo cartão fidelidade sai por R$ 2,25. Demais, não? Respeito à população e aos usuários das linhas, certo?

Errado!

Hoje fui pegar o trem como todos os dias. Só, que invés de usar meu bilhete único, fui até a bilheteria saber sobre o cartão fidelidade! Afinal, sou mesmo muito fiel ao trem, e pego o dito cujo todo dia pra ir e voltar do trabalho. 
Fui informada que o cartão fidelidade pode ser comprado e recarregado apenas na estação Barra Funda. Uma vergonha! Uma cidade do tamanho de São Paulo, com a quantidade imensa de usuários das linhas dos trens e metrôs e APENAS UM ponto de venda? 
Como cobrar das pessoas uma postura sustentável se a cidade onde elas moram não as respeitam? Como exigir das pessoas uma consciência ambiental e comunitária e o governo sacaneia com ela todos os dias? Poxa vida! Essas coisas me deixam muito revoltada!
Saiba mais aqui:
Notícias UOL
G1

Calculadora de FIB

Você sabe o que é FIB? Se não sabe, clique aqui.
Pois bem, fui apresentada a uma calculadora de FIB. Quer experimentar? Dirija-se a http://www.felicidadeinternabruta.com.br/
Minhas impressões:
1) Da abordagem das perguntas
Se considerarmos que a análise de Felicidade Interna Bruta deve se basear em nove dimensões, como sugere a psicóloga e antropóloga de Harward, Susan Andrews (padrão de vida econômica, critérios de governança, educação de qualidade, saúde, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, gerenciamento equilibrado do tempo e bem-estar psicológico), o teste pergunta pouco ou nada sobre critérios de governança, educação de qualidade, acesso à cultura e proteção ambiental. A calculadora baseia-se apenas em quatro temas, sendo eles: corpo, bolso, mente e mundo.
2) Das perguntas
O teste traz 36 questões de múltipla escolha, sendo  cinco as escolhas: nunca, raramente, às vezes, bastante e sempre. 
Entre as perguntas, estão algumas que revelam muito sobre seus hábitos. Por exemplo, a primeira pergunta é sobre a frequência da prática de exercícios físicos. Essa pergunta não só diz sobre a sua preocupação com a saúde, mas também sobre como você gerencia seu tempo e um pouco sobre como é o seu padrão de vida.
Outras, são mais diretas como a pergunta sobre com que frequência você consegue poupar – obviamente relacionada com o seu padrão de vida econômico.
Há apenas duas perguntas que se referem ao meio ambiente, mas não tocam na ferida sobre se você pratica ações em benefício de meio ambiente. Elas só queriam saber sobre com que frequencia você tem contato com a natureza e com que frequencia você se preocupa com o futuro do planeta. De ações mesmo, nada.
3) Da análise
A calculadora te coloca em uma de cinco posições, variando do que eu imagino ser muito infeliz e muito feliz. Achei falta de observações sobre onde você deveria “investir” mais para o crescimento do seu FIB.
4) Do site
O site também traz outras calculadoras, mas não consegui abrir nenhuma. Problemas de compatibilidade com o Mac? Será?
Ah! Eu já sabia, mas, pela calculadora, sou muito feliz. E você?

A diferença entre falar e fazer verde na #cparty

Estou aqui acompanhando a Campus Party de longe. Ano passado, pude acompanhar várias discussões de perto, pude conhecer pessoas que eu já acompanhava em blogs, comecei a acompanhar blogs que não conhecia. Posso dizer, sem exagerar, que a Campus Party do ano passado me tornou mais blogueira do que eu era antes. Mas, a Campus Party é mais do que network.
A Campus Party é um evento, promovido por uma empresa e deve ser analisado como uma empresa mais do que como um lugar que reune pessoas. Falar da Campus Party deve passar por avaliações de estrutura, organização, logistica & pessoas. E, de longe, só posso analisar o que consigo recolher pela internet. E, como esse blog é um blog sobre meio ambiente e sustentabilidade, a parte que me cabe neste latifúndio é falar sobre isso.
Ano passado, a Campus Party tinha um péssimo gerenciamento de lixo. Não houve o menor cuidado em separar lixo orgânico de lixo reciclável (sendo que a maior parte do lixo produzido pelos campuseiros era e ainda deve ser, de embalagens e copos plásticos). Fora que prometeu certo plantio de uma árvore para cada participante do evento (o que daria 3000 árvores só contando os campuseiros) e não cumpriu a promessa.
Este ano, a Campus Party resolveu esquecer que pode ser sustentável e resolveu deixar o “verde” de seu “campus” voltado exclusivamente para uma seção de conteúdos bastante complexa (mais fácil, né?). Nela pretende-se discutir pontos de união da economia, das tecnologias aplicadas às Ciências e das tecnologias que estão sendo desenvolvidas para melhorar a eficiência energética dos produtos, as novidades para produção de energia elétrica e o uso de novos conhecimentos tecnológicos para resolução de problemas ambientais.  A coleta de lixo, entretanto, pelo que pude ler pelo twitter, não parece estar melhor.
Tratando-se de um evento promovido por uma empresa (e financiado por várias outras) eu esperava maior coerência. Afinal, só falar em tecnologias e ações verdes mas não aplicá-las em seu próprio espaço é absolutamente contraditório. Ou não? Onde está de fato o “verde” do Campus Party?
Imagina que esse blog aqui é escrito por uma pessoa que não se preocupa nem um pouco com suas ações e na realidade não se importa com o meio ambiente. No mínimo iriam dizer que esse blog não tem credibilidade, e, aos poucos, as visitas minguariam até se resumirem a umas parcas visitas direcionadas. E com um evento do tamanho do Campus Party? O que acontece? As pessoas deixam de ir nesse evento mesmo sabendo que ele está estruturado numa área de reserva de Mata Atlântica? Mesmo sabendo que sua postura verde não passa de um blá blá blá de conteúdo para inglês ver? Mesmo sabendo que a promessa do ano passado, sobre plantio de árvores, não foi cumprida? E aí? Como fica? 
Espero que as próximas discussões do Campus Verde tragam à tona as discussões da sustentabilidade do evento. Esse é um texto que busca chamar os campuseiros para uma discussão mais profunda sobre a sustentabilidade do evento. É um manifesto contra o “parecer” mas “não ser” verde. É um chamado para os palestrantes da área de conteúdo do Campus Verde. Bora discutir?

Filosofando sobre divulgação e jornalismo científico

Eu estou um pouco filósofa estes dias. Isso porque eu aproveitei minhas microférias para conhecer um pouco melhor a blogosfera científica norte-americana. Então, estou eu aqui, em Research Triangle Park, North Carolina, onde aconteceu até agora a pouco o Science On Line 09′.

O evento reuniu muito mais que blogueiros e leitores de blogs. Há, por exemplo, uma professora chamada Miss Baker que trouxe os alunos dela do programa Extreme Biology para conversar com cientistas e para os garotos aprenderem a divulgar a ciência que eles fazem na escola. Há pessoas que não conhecem a ferramenta de blogs e vieram saber mais sobre. Há estudiosos, cientistas, educadores, observadores, interessados, perdidos, etc, etc, etc.
Mas, o que me fez ficar filósofa são particularmente os assuntos envolvendo divulgação científica, jornalismo científico e as novas responsabilidades que blogar fora do Lablogatórios vão trazer (É… o Lablogatórios vai morrer). Por quê? Porque na minha opinião deveríamos levar um peteleco cada vez que abríssemos a boca pra dizer que existe divulgacão científica e jornalismo científico no Brasil. Algo como um castigo por estarmos falando abobrinha.
Não, não há isso no Brasil. E, antes que venham argumentar que sim, existem sim jornais fazendo divulgação de Ciências, já vou adiantando que fazer tradução mal feita de press release e tradução mal feita de sites americanos e ingleses não é jornalismo científico. Quer exemplos do que seria jornalismo científico?
+ O que sabemos sobre a vida e contribuições de Carlos Chagas e sobre suas incursões no interior do Brasil?
+ O que sabemos sobre o que nossos cientistas fazem hoje nos seus laboratórios – muitos deles públicos e que gastam milhões em dinheiro?
+ O que sabemos sobre os avanços tecnológicos e científicos decorrentes das pesquisas do brasileiríssimo Dr. Nicolelis?
+ Quem são os expoentes na Ciência brasileira atualmente?
+ Onde precisamos investir mais dinheiro e que pesquisas deveriam ser completamente encerradas por conta de maus profissionais? (sim, temos maus profissionais, que mentem no currículo, por exemplo.)
+ Quais são os objetivos de cada campo atual das Ciências no Brasil?
+ Por que nossos alunos de ensino fundamental e médio não se interessam por Ciências?
+ O que deveríamos fazer para aumentar o interesse dos brasileiros em Ciências?
+ Por que não temos jornalismo investigativo de qualidade, desses que desenterram questões tipo “Afinal, quem observou pela primeira vez os cromossomos politênicos?”
Enfim…
Graças ao Lablogatórios temos pela primeira vez reunidos em um condomínio bons blogs de Ciência, que atuam em diferentes áreas do conhecimento. Temos cientistas, curiosos, interessados e temos um jornalista (que também é físico). Dos blogs que temos, fazemos bons comentários sobre artigos científicos, sobre novas tecnologias, sobre curiosidades, sobre educação de Ciências nas escolas, sobre ceticismo, sobre Ciência em geral. Mas também não fazemos jornalismo científico, até porque ser um jornalista científico (sendo jornalista ou não) demanda tempo (muito tempo) e precisa ser um trabalho pago (jornalismo científico é profissão, não passa-tempo).
Não sei se consigo levar vocês, meus leitores, onde quero chegar. O que eu tento dizer é que o Lablogatórios é sensacional e que cumpre seu papel em divulgar Ciências de uma forma simples (mas não simplória). Também tenta cumprir um papel interessante de fazer alunos se interessarem mais por Ciências. Também traz a Ciência para o cotidiano das pessoas, ensinando e desmistificando alguns conhecimentos. E também faz a Ciência parecer coisa de maluco, mas ainda assim ser fantástica. O que tento dizer é que para sermos um país preocupado em divulgar Ciências isso não basta. Temos que ter profissionais empenhados nisso. E empregadores interessados em pagar por isso. Temos que divulgar nossa Ciência em livros. Temos que conhecer mais nossos cientistas. Temos que ter mais responsabilidade social e conhecer mais onde nosso dinheiro vai sendo empregado. E isso não é responsabilidade só do Lablogatórios.