Teorias de Conspiração são Naturais
Fonte: Ceticismo Aberto
artigo de Douglas T. Kenrick, publicado em Psychology Today
tradução cortesia de André Rabelo
Que tipo de pessoa teria tão pouca confiança em seus companheiros para acreditar que o presidente dos E.U.A e a CIA conspiraram para forjar a morte de Osama Bin Laden, ou que a imprensa é rigidamente controlada por um grupo poderoso de extremistas ricos? Se você examinar a literatura em psicologia sobre a crença em teorias da conspiração, ou leu comentários políticos sobre o tópico, vai ouvir falar muito sobre paranóia, alienação e anomia. Você vai aprender que pessoas que acreditam em uma teoria da conspiração bizarra também são propensas a acreditar em outras (está tudo conectado com os illuminati e os assassinatos dos Kennedy, afinal de contas). Você descobrirá que crenças em conspirações têm sido relacionadas com ser pobre, ser membro de uma minoria oprimida, ter a sensação generalizada de que a vida é controlada por fatores externos e outras circunstâncias lamentáveis.
Mas existe outra perspectiva que decorre do pensamento sobre a história evolutiva de nossa espécie: o cérebro humano foi moldado para teorias da conspiração. Nesta perspectiva, somos todos teóricos da conspiração – você, eu e sua tia Ginger de Iowa. Continue lendo…
Simpósio Internacional de Filosofia da Biologia
Fonte: Evolucionismo
Autor: André Rabelo
Recentmente a UnB sediou o Simpósio Internacional de Filosofia da Biologia, organizado pelo professor Paulo Abrantes do departamento de filosofia da UnB. Eu tive o privilégio de participar de dois dos três dias do Simpósio, e trago aqui um breve relato das discussões que mais me interessaram.
Anteriormente ao simpósio, houve a publicação no começo desse ano do livro Filosofia da Biologia. Pesquisadores internacionais e nacionais, tanto biólogos como filósofos, integram os colaboradores do livro assim como boa parte deles também foram palestrantes no simpósio, juntamente com outros pesquisadores convidados.
De um modo geral, as comunicações dos palestrantes estimularam e ilustraram uma visão muito clara e enfatizada pelo professor Abrantes: ciência e filosofia estão intimamente atreladas, uma tendo contribuições fundamentais para oferecer avanços à outra. Não me refiro aqui à óbvia relação histórica entre ambas, mas à atual de dependência entre elas. A ciência necessita de uma discussão filosófica que esclareça seus problemas de investigação e que facilite a sua construção teórica através de uma ênfase na clareza e na lógica do uso de seus conceitos e de suas teorias. A filosofia precisa usar o conhecimento produzido pela ciência se quiser ter avanços em suas investigações, do contrário ela perde uma grandiosa contribuição. Continue lendo…
Psicologia Evolucionista
Porque o ser humano é capaz de atos tão heróicos, mas também de outros tão cruéis? Porque fazemos sexo e fazemos guerra? Como indagava o grande Cazuza, porque que a gente é assim?
No final da década de 1980, pesquisadores de diversas áreas interessados no comportamento humano começaram a se perguntar se a teoria da seleção natural de Darwin poderia ajudar a responder esse tipo de pergunta, fundando uma das áreas mais influentes e importantes da psicologia atualmente – a Psicologia Evolucionista.
Darwin, ciente das implicações de sua teoria, conclui o seu livro A Origem das Espécies prevendo que “a psicologia será baseada em novos alicerces”. Provavelmente devido ao receio das reações que o seu provocativo livro causaria, Darwin não explorou muito a questão neste livro. Em livros subsquentes como A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais e A Origem do Homem e a Seleção Sexual, Darwin trouxe evidências que indicavam a importância de sua teoria para a compreensão da natureza humana.
Muitas questões levantadas por ele ficaram em aberto e só foram retomadas por volta de 100 anos após a publicação de A Origem das Espécies com o advento da Etologia, da Sociobiologia, da Ecologia Comportamental e, mais recentemente, da Psicologia Evolucionista. Boyer e Heckhausen (2002) consideram a Psicologia Evolucionista como um dos mais importantes desenvolvimentos recentes nas ciências do comportamento. Continue lendo…
Porque as Pessoas Acreditam em Seres Invisíveis?
Fonte: Psychology Today
Autor: Stephen Law
Tradução: André Rabelo
Por que, por exemplo, a crença no invisível ou em agentes sobrenaturais – como fantasmas, anjos, antepassados mortos e deuses – é tão difundida? A crença nesse tipo de agentes sobrenaturais parece ser uma característica quase universal das sociedades humanas.
Existem evidências de que uma predisposição em relação a crenças deste tipo pode realmente ser inata – parte da nossa natureza, herança evolutiva. O psicólogo de Oxford Justin Barrett sugeriu que a prevalência de crenças deste tipo pode ser em parte explicada pelo fato de possuirmos um Dispositivo Hipersensível de Detecção de Agente, ou H.A.D.D. (Hyper-sensitive Agent Detection Device).
Seres humanos explicam aspectos do mundo a sua volta de duas formas diferentes. Por exemplo, às vezes recorremos a causas naturais ou a leis para explicarmos um evento. Por que essa maçã caiu da árvore? Porque o vento assoprou e balançou o galho, causando a queda da maçã. Por que a água congelou nos canos na última noite? Porque a temperatura da água caiu para abaixo de zero, e é uma lei que a água congela abaixo de zero.
Entretanto, também explicamos recorrendo a agentes – seres que agem com base em suas crenças e desejos de uma forma mais ou menos racional. Por que a maçã caiu da árvore? Porque Ted queria comê-la, acreditou que balançar a árvore faria ela cair e então balançou a árvore. Por que as chaves do carro de Mary estão sob a lareira? Porque ela quis se lembrar de não esquecer elas, e então as colocou aonde ela pensou que iria enxergá-las. Continue lendo…
Inato x Aprendido (Parte 2)
Autores: André Rabelo e Felipe Novaes
Texto também publicado no Blog NERDWORKING
A rejeição contemporânea da natureza humana tem a ver com o medo da desigualdade, do racismo, da guerra e da violência, visto que durante o século XX algumas explicações biológicas foram (mal) forjadas por pessoas para justificar idéias eugenistas e racistas.
Portanto, tais receios não são totalmente injustificáveis, visto que movimentos como o nazismo, por exemplo, ficaram conhecidos por fazer uso de explicações supostamente biológicas (como a noção de raça superior que deveria dominar), de uma forma totalmente deturpada para cometer atrocidades.
O problema é que estas preocupações que se pautam exageradamente no passado acabam ignorando a proposta atual da utilização de explicações biológicas, que é diferente da que foi feita, de forma distorcida e desonesta, no passado por certas figuras políticas.
A própia biologia se encarregou de demonstrar que somos todos primos, unidos pela mesma árvore da vida, sendo que diferenças superficiais como a cor da pele ou o formato dos olhos não podem dizer quais são os nossos potenciais nem as nossas características fundamentais, muito menos a nossa função social. Dois avanços importantes na teoria genética ajudaram a desmisitifcar o determinismo genético (Gould, 1991): a idéia de herança poligênica e a falta de diferenciação genética entre humanos. Essas duas idéias podem ser resumidas, respectivamente, da seguinte forma: as características humanas são o resultado da participação de vários genes juntamente com um “exército de efeitos interativos e ambientais” (Gould, 1991); as diferenças genéticas entre indivíduos das diversas raças humanas são extremamente pequenas, ou seja, não existem “genes raciais” que diferenciem uma raça da outra.
A antipatia à explicações biológicas, ironicamente uma “herança” do debate entre o que era inato ou aprendido, surgiu principalmente por conta de idéias como o darwinismo social, o determinismo genético e a frenologia. Continue lendo…