Você se daria bem num mundo pós-apocalíptico?

[Texto originalmente publicado no Papo de Homem que estou reciclando para a Blogagem Coletiva Apocalíptica]

– Sabia que caju é uma fruta?

– Sim! Toda amêndoa é fruta!

– Não, não é da castanha que estou falando. Ela vem junto com uma fruta suculenta, que pode ser tanto amarela quanto vermelha.

– Sério?

– Deixe-me achar uma foto aqui para mostrar… Isso é a fruta do caju. O que vocês comem é essa parte aqui, a castanha.

– Que coisa estranha! Que gosto tem?

Se esse diálogo parece estranho é porque aconteceu do outro lado do mundo, quando eu morava na Austrália.

Amêndoas em geral são bastante apreciadas por lá como lanche e castanha de caju (conhecidas apenas por cashew) é uma das mais populares, facilmente encontradas em qualquer supermercado ou loja de conveniência, geralmente em duas versões:

– crua, que obviamente não é crua mesmo, apenas levemente tostada e esbranquiçada, e;

– assada, que é tostada até ficar dourada.

Sempre já descascadas e separadas em duas partes.

Os australianos não sabem que não estão comendo castanhas cruas, mas eles também desconhecem que uma iguaria dentre as suas favoritas é apenas parte de um conjunto (a parte macia, doce e suculenta é na verdade um pseudofruto, mas era mais fácil chamar de fruta e acabar logo com a conversa enquanto eu estava por cima).

“Tá. E daí?”

E daí, caro leitor, que eles não sabem o que estão comendo. Não sabem o que aquilo é, não sabem como é preparado, não sabem de onde vem, nunca viram um in natura nem sabem que gosto tem um caju.

Só sabem que a castanha é gostosa e vai bem com cerveja.

Um órgão regulador do comércio dum país de primeiro mundo deixa que um produto seja abertamente vendido com raw (cru) escrito na embalagem, mesmo ele sendo assado (não recomendo que façam, mas um experimento interessante é morder uma castanha natural e ver o que acontece quando o ácido anacárdico que ela contém começar a escorrer pelos seus lábios), então eu imagino quantos outros nós eles não estariam levando de coisas bem mais sofisticadas.

(Não estou criticando práticas comerciais internacionais. O que eu disse aí em cima vai fazer sentido num minuto.)

Os australianos (a maioria) pensam que podem achar no meio do mato um arbusto que dá cashews como amendoins e que é só colher e comer, como amoras.

Não sabem que para chegar ao produto embalado elas precisam primeiro ser colhidas, separadas do caju, assadas sobre fogo intenso (a fumaça resultante é terrível e só sai das roupas quando você compra novas), descascadas (parte mais difícil do processo), separadas e polidas.

Pascoal, um morador da vila de pescadores de Genipabu, sabe o que comer castanhas envolve. E por isso só o faz uma ou duas vezes ao ano.

Não vou supor que ele plantou um cajueiro porque não precisa; a máxima de Caminha “em se plantando, tudo dá” é 100% adequada à Genipabu (desde que “tudo” seja um eufemismo para “cajueiro”), mas eu sei que ele tem uma lata de leite especial, onde foi pregada uma ripa de madeira para servir de cabo, e que serve de assadeira de castanhas.

O fogareiro eu não sei se ainda existe pois ele precisou dos tijolos para um reparo na parede do quarto mês passado, mas imagino que não seja difícil montar outro rapidamente.

O mesmo pé de caju pode fornecer a lenha, enquanto sua mulher e filhas fornecem o trabalho manual de descascar dezenas de castanhas ainda quentes porque “é mais fácil enquanto ainda tá pegando fogo“, segundo me garantiu a esposa Zefinha, mulher de belas unhas (que cria galinhas no quintal de casa alimentando-as com o milho que ela mesma planta).

Ah, Pascoal também sabe manobrar uma jangada sobre correnteza de maré em completa escuridão, “ler” suas imediações para saber não só onde está mas onde os peixes estão, arremessar tarrafas que foram tecidas (e posteriormente remendadas) por ele, tratar um peixe em alto-mar usando um facão de doze polegadas (sob a luz das estrelas) e retornar são e salvo para terra firme no quebrar da barra.

Só não sabe vender (ele é meio careiro), mas cada um com sua especialidade.

O que me possibilita fazer uma transição perfeitamente suave e perguntar: qual a sua especialidade?

O que você sabe fazer? Não tenho dúvida (talvez só um pouquinho) de que você é um membro ativo e importante da sociedade e uma peça fundamental na engrenagem social contemporânea, mas o que você sabe fazer?

Vamos supor que falte energia em toda a cidade agora (ou pelo menos pouco depois de você ler a próxima pergunta). O que você pode fazer em sua casa/trabalho, das coisas que você faz costumeiramente, sem eletricidade? Melhor ainda, tente lembrar do apagão do dia 11/11/09 (caso não tenha sofrido um bloqueio mental por trauma psicológico extremo) que estatisticamente afetou a sua vizinhança. O que exatamente você fez enquanto a energia não voltou?

A única coisa em que eu consigo pensar é tomar banho, já que eu sempre tomo banho frio (a resistência do meu chuveiro queimou em 2007 e eu nunca lembro de comprar outra), e lavar a louça.

Na minha terceira visita à geladeira, seu estoque já começará a esquentar / derreter / apodrecer / criar crostas lodais / juntar água / reviver / talhar.

Meu tocador portátil de MP3 não durará muito pois eu sempre esqueço de deixar carregando tempo suficiente e meu laptop seria inútil sem Internet pois jogar Soldat sozinho não tem graça e eu já zerei Lego Star Wars duas vezes (eu não possuo um televisor, então não sentiria falta de uma caixa mágica piscante, mas entendo que isso constitua um problema para alguns).

Também não posso ir caminhar, pois o elevador não está funcionando e eu não sou louco de descer pela escada porque corro o risco de ter que subir por ela na volta. Uma coisa é me exercitar, outra bem diferente é ser otário.

Escada… pff.

Ou seja, meu dia sem eletricidade se resumiria a eu sentado numa cadeira defronte à pia, vendo água escorrer pela torneira, numa fútil tentativa de me confortar em saber que pelo menos algum aspecto da minha vida moderna ainda funciona.

E como eu tenho quase certeza de que todos os outros moradores da cidade estariam fazendo exatamente a mesma coisa, a água acumulada acabaria rapidamente, pois sem eletricidade não há como bombear água cano acima até as caixas d’água.

Agora, num mundo sem energia elétrica (computadores) e sem água corrente (descarga), volto a perguntar: o quê você sabe fazer? Isso é, fora ligar e pedir uma pizza pois os telefones e fornos a lenha ainda funcionam (pelo menos temporariamente, enquanto o gerador da companhia telefônica e o forno da pizzaria tiverem o que queimar).

Dependendo da época do ano e do nível de poluição em sua cidade, o sol vai desaparecer bem rápido e as noites serão muito longas e escuras.

O que você faria com apenas doze horas de luz? Lembre-se; não há energia em lugar algum, então todas as cervejas estão quentes (o que tira a razão de ser dos alimentos fritos e dos churrasquinhos de rua), logo todos os bares estão fechados.

Se você mora num lugar quente, não pode contar com ventiladores. Se mora num lugar frio, não pode ligar o aquecedor.

Em breve, o gás também acabará, levando consigo a feijoada (feita com produtos salgados que não precisam de refrigeração), que nesse ponto nada mais é que forro para a cachaça, única bebida conhecida que pode ser tomada em temperatura ambiente.

“Ah, mas ainda restam as frutas!”

Ao que eu pergunto: quem é o índio que ainda come frutas?

Tudo bem, algumas pessoas (hippies) realmente ingerem alimentos não-fritos.

Mas se você, leitor, for uma dessas pessoas (um hippie), você tem uma fruteira em casa?

E não me refiro ao móvel com rodinhas onde bananas de supermercado são deixadas até apodrecer nem ao receptáculo semiesferóide que fica sobre a mesa cheio de peças disformes de cera pintada, mas sim às árvores de onde nascem frutas. Tem uma dessas na sua casa?

Porque se você mora num apartamento eu sei que não tem (bonsai não conta, não insista).

Vou conceder (fantasiosamente) que exista um pé-de-X no seu quintal. Com qual frequência você pode colher Xs maduros durante o ano? E qual a quantidade absoluta de Xs maduros que sua árvore produz por dia? E por quanto tempo você aguentaria comer nada além de Xs?

Ah, mas seu terreno é grande e tem um pé-de-Y também! Ótimo, agora você pode alternar Xs e Ys até abusar dos dois ou até passar a época da floração, o que vier primeiro!

Eu estou propositalmente deixando de citar as de supermercado, pois qualé o motorista de caminhão que vai gastar o restinho da sua preciosa gasolina indo buscar e deixar frutas (ou “rango de hippie”, como são conhecidas na profissão) ao redor do país? Porque a região onde dá jabuticaba não é a mesma onde nasce mamão.

Ademais, sem energia não há adutoras nem irrigação agressiva e voltamos ao tempo das cavernas, quando precisávamos esperar até março para comer pitombas e jambos só davam entre outubro e novembro.

Nesse ponto, o pico inicial de desespero já voltou ao nível normal de constante pessimismo e falta de perspectiva e o episódio de assar o cachorro usando as cadeiras da sala como lenha já volta a parecer um ato bárbaro e não mais um momento “ou ele, ou eu” de necessidade, causado pela visão anuviada pela fome e as alucinações causadas pela falta de banho e rádio.

Se você precisar, você sabe arranjar comida? E com “arranjar” não estou fazendo referência a roubar, mas a produzir comida a partir de, bom, a partir de seja lá o que produz comida.

E todos os dias, para o resto da sua vida, pois sem eletricidade não há refrigeração e a conservação desse alimento produzido diariamente será grandemente prejudicada por isso.

Mas pelo menos você estaria comendo alimentos frescos todos os dias.

E quanto à água? Pois ela acabou alguns parágrafos acima e já se passaram alguns meses na linha do tempo deste texto.

Já descobriu como obter água potável ou morreu junto com o cachorro/churrasco?

Falando nisso, se sua casa pegar fogo, você sabe usar um extintor? Tem certeza?

Uma coisa básica, fácil e intuitiva como tirar um lacre, puxar um pino e espremer uma válvula é um conceito totalmente alienígena para algumas pessoas (constatei isso pessoalmente no Dia do Grande Esguicho, como ficou conhecido no meu prédio o dia em que alguns vândalos esvaziaram alguns extintores nos corredores, não sem muita dificuldade).

Imagino o quão difícil serias tarefas ordens de magnitude mais complexas, como destilar água ou acender uma fogueira (que, em caso de perda de controle, consumiria todo um quarteirão antes de alguns indivíduos conseguirem entender que a mangueira de um extintor é flexível e precisa estar apontando para a base da chama).

Recentemente eu fiquei 24 horas sem Internet e sofri bastante. Passei pelo menos dezoito dessas vinte e quatro sentado defronte ao monitor, esperando algo acontecer. Planejava apenas ler meus emails e ir lavar a louça, mas enquanto a rede não retornava, minha mente também não funcionava. É como se minha casa só existisse virtualmente e, sem conexão, não posso sequer varrer a sala e limpar o banheiro.

Não é péssimo quando perdemos algo com o qual nos acostumamos? A Internet só tem uns quinze anos, a Web 2.0 uns cinco ou seis, mas quem conseguiria, voluntariamente, deixar de usar Orkut, MSN, Twitter, Facebook, etc?

O mundo funcionou perfeitamente bem durante décadas sem um telefone em cada bolso, mas imagine passar uma semana sem celular.

Só imagine. O terror é por conta da casa.

Imagine agora que não há mais veículos motorizados e você tem que ir numa bicicleta (ou pior, caminhando!) para onde quer que seja o local onde você recolhe sua comida/água. Qual a melhor estratégia a adotar quando seu lar e sua fonte de alimentação não habitam o mesmo fuso horário?

E não estou falando de quinze graus de curvatura geóide, porque isso, para quem está a pé, é como daqui até Marte. Me refiro à distância que, sob certas circunstâncias, deixa de ser contada em passos ou quilômetros e passa a ser medida em horas ou luas.

Boa sorte voltando para casa no mesmo dia em que saiu para catar comida.

Voltando à estratégia, é melhor caramujar (levar sua casa consigo) ou fidipedesar (correr 42 quilômetros indo e 42 voltando)?

No caso de um apocalipse tecnológico, além de passar o dia chorando com saudades do meu GReader (na época em que este texto foi escrito, o Google ainda não tinha dado o tiro no pé de acabar com o Reader), eu acho que não me importaria em dormir no mato de vez em quando, desde que estivesse sempre perto de uma fonte de água bebível e comida abundante.

E como saber se aquele líquido pode ser consumido seguramente?

O método ideal envolve transformá-lo em cerveja, mas nem sempre isso é possível (ou desejável; lembre-se que não existem mais geladeiras).

Então, #comôfas?

Sem tecnologia, eu não sei. E nesse mundo pós-apocalíptico não posso usar o Google para descobrir. Poderia usá-lo agora e decorar a informação, mas isso dá muito trabalho e eu posso fazer mais tarde.

Chegando nos finalmentes: estamos sem energia, sem água tratada corrente, sem alimentos e sem perspectiva de melhorar.

“Sem perspectiva? Mas o espírito humano é inquebrantável, caro amigo!”

Concordo. O otimismo é a doença mental mais difundida no mundo, beirando proporções pandêmicas, mas pensamento positivo não vai trazer o Viva a Noite de volta. Não é?

Vivemos num mundo quase 100% especializado, onde cada indivíduo é exatamente isso: individual e especialista.

Eu, por exemplo, sou formado em Engenharia de Áudio com especialização em Gravação e Edição. Sem um computador possante, sou tão firme quanto um prego na areia e apenas estou fazendo peso na Terra.

Se você for um biólogo pode até entender bastante do Mundo Natural, mas eu aposto que sua função atual se resume a um laboratório cheio de coisas com nomes contendo o sufixo “eletrônico”.

E se trabalhar num escritório (como eu atualmente) é certeza que depende totalmente de um computador, que depende de eletricidade. Se esta acabar, você está na rua, sem função.

Se for advogado você ainda pode manter seu trabalho temporariamente (até o mundo abraçar a anarquia generalizada com as pernas), mas imagine preparar uma peça com uma caneta. E se precisar copiar um processo?

Neste nosso mundo ocidental refinadamente tecnológico temos todo o conforto do mundo. Desde que elétrons corram livres por fios de cobre, para lá e para cá, sessenta vezes por segundo.

Acabou energia, acabou civilização. Todos correremos loucos pelas ruas, destruindo tudo que for inteiro e ateando fogo a tudo que for inflamável, até morrermos de sede.

Se perdermos nosso estilo de vida, nunca mais o teremos de volta, pois não existem mais (ou se existem são extintamente escassos) inventores alquimistas renacentistas que sabem, em casa, transformar areia em tecnologia.

Se alguém quiser construir um carro, jamais o fará sozinho. Mesmo depois de extrair e purificar minério, derreter e preparar metal, desenvolver e montar peças móveis e fixas, preparar e executar um plano e, finalmente, construir um carro, ainda é necessário produzir combustível, óleos, sistemas hidráulicos e vulcanização de borracha. Que precisará ser extraída por você.

Sem nossas máquinas automatizadas, fazer um parafuso que seja é a coisa mais difícil do mundo! Imagine um eixo de roda verdadeiramente reto.

Viveríamos em caos total, pois sem máquinas somos inúteis e sem tecnologia somos muito frágeis. Não teríamos a mínima chance. Morreríamos à míngua, totalemente desamparados.

Enquanto isso, Pascoal e Zefinha, que moram perto de um poço artesiano, continuam suas vidas normais de pescador (obtendo a própria comida) e dona-de-casa (remendando as próprias roupas), assando castanhas uma vez ao ano.

Blogagem coletiva Fim do Mundo

UTILIDADE PÚBLICA – Cuidado com os ESPELHOS, ops, SPAMS!

Gabriel mandou essa belezura para mim (eu já conhecia mas nunca tinha tido saco de escrever a respeito) e resolvi repassar aqui porque é realmente um assunto muito importante: a irresponsabilida de quem perpetua spams.

Por respeito aos meus leitores, a mensagem foi reproduzida aqui sem cores e com uniformidade de fontes.

Meus comentários estão intercalados ao spam. Acho que não será difícil reconhecer qual é qual.

VOCÊ SABE SE O ESPELHO EM LOCAL PÚBLICO EM QUE VOCÊ ESTÁ SE VENDO É O VERDADEIRO?

Se você está “se vendo”, provavelmente você está olhando para um espelho que, se fosse falso, não refleteria e, portanto, não seria chamado “espelho” mas “parede”.

ESPELHO DE 2 DIREÇÕES: COMO DETECTAR?

#comôfas?

INFORMAÇÃO POLICIAL

Mesmo que seja verdade, o que provavelmente não é o caso, seria uma informação policial de outro país, visto que o email é uma tradução.

Quando forem curtir um hotel, lojas de departamentos, pousada ou mesmo banheiro público, prestem atenção nos espelhos.

Especialmente se você for desengonçado, estiver carregando artigos pesados e pontudos e tiver a pele frágil. Eu me cortei num pedaço de espelho quebrado um dia desses e não foi nada divertido.

Vocês podem estar sendo observadas, por isso não custa nada fazer o teste abaixo.

O famoso “mas não custa nada”. Esses spammeiros sempre deixam de fora a dignidade, que nos é muito cara.

Serviço de Utilidade Pública em Prol da Integridade Feminina:

Todo Em Inicias Maiúsculas De Modo A Parecer Algo Oficial.

Não é para assustar, mas para alertar.

Igual ^alertar^ “FOGO! FOGO!” num cinema.

Quando as mulheres vão à toaletes, banheiros, quartos de hotel, vestiários de mudar de roupa, academias, etc., quantas podem estar certas de que o espelho, aparentemente comum, pendurado na parede é um espelho de verdade ou um espelho de duas direções? (daqueles em que você vê sua imagem refletida, mas alguém pode te ver do outro lado do vidro como os da Casa dos Artistas, A Fazenda e Big Brother).

Tirando o mal uso da crase (a prostituta da gramática), o idiota “vestiários de mudar roupa” (diferente daqueles vestiários onde já entramos nus) e a menção aos espetáculos televisivos da escória humana, eu posso responder à pergunta usando elementos dela mesma. Se o espelho está “pendurado na parede”, ele é um espelho comum.

Espelhos de observação não são pendurados, da mesma forma que janelas não são penduradas, mas instaladas dentro da parede. E uma forma de se pensar em tais espelhos é que eles são janelas refletivas (aliás, durante uma noite particularmente preta, acenda as luzes da sua casa e olhe pelo vidro de uma janela fechada e se surpreenda ao ver sua própria cara assustada, olhando de volta). O ambiente que estiver mais iluminado vai aparecer mais, independente de qual lado você esteja.

Tem havido muitos casos de pessoas instalando espelhos de duas direções em locais freqüentados por mulheres, para filmar, fotografar ou simplesmente ficar olhando.

A boa e velha informação vaga. Esse “tem havido” é do mesmo time de “dizem que comer capim faz crescer a orelha, vide os burros”. Como assim “tem havido”? Dá para ser mais impreciso que isso?

É muito difícil identificar positivamente o tipo de espelho apenas olhando para ele.

Ou, como se trata de espelhos, olhando para você mesmo.

Então, como podemos determinar com boa dose de precisão que tipo de espelho é o que estamos vendo?

Encostando o rosto no vidro e colocando as mãos acima dos seus olhos para cobrir o reflexo da luz, mais ou menos assim:

A cara de abestalhamento é opcional

Porque o vidro espelhado continua sendo um vidro translúcido (lembre-se do exemplo da janela) e, do jeito que a luz funciona, parte da iluminação do seu lado necessariamente vaza para o outro, mais escuro. Usando a técnica da imagem acima é possível “desmascarar essa quadrilha”, se é que existe uma.

É MUITO SIMPLES:

Concordo. Até já disse como fazer.

Faça apenas este teste: Toque na superfície refletida com a ponta da unha.

É. Faça apenas o teste sugerido e saia como entrou: totalmente ignorante quanto ao modelo do espelho.

Se existir um ESPAÇO entre a sua unha e a imagem refletida, o espelho é GENUÍNO.

"Ninguém vai colocar dedo nenhum em mim, sai dessa!"

E, se não existir reflexo, o espelho é falso. Você está encostando sua unha num muro.

O espaço é equivalente à espessura do espelho, pois a parte que reflete é a parte do FUNDO do vidro, não a parte da frente.

Isso nos espelhos cuja superfície refletiva fica atrás, e não na frente do vidro, que são a maioria. Mesmo porque o que reflete é uma fina camada metálica facilmente desgastável por pontas de unhas daqueles que são dementes o suficiente a ponto de acreditar inquestionavelmente em informações recebidas via email colorido. Um espelho bom e resistente com camada refletiva anterior é bastante caro e as lojas de departamento que esse pessoal frequenta jamais gastaria dinheiro com isso.

Entretanto, se a unha TOCA DIRETAMENTE na imagem, NÃO havendo um espaço CUIDADO COM ELE (…)

CUIDADO!!! SEU DEDO TOCOU DIRETAMENTE UMA IMAGEM!!! CORRAM!!!

(…) POIS É UM ESPELHO DE DUAS DIREÇÕES.

OU UMA BANDEJA DE PRATA!!!!

Ou qualquer outra superfície refletiva. Incluindo um espelho perfeitamente normal e extremamente caro. Não o quebre.

A parte reflexiva é a parte da frente, não a do fundo do vidro.

"Minha parte reflexiva certamente não é o fundo. Sai dessa."

Então, lembre-se a cada vez que você vir um espelho, faça o “TESTE DA UNHA”, tem que haver um espaço!

Teste da Unha® – para os obsessivos compulsivos entre nós.

Aproveite para chamar a polícia, pois trata-se de crime previsto em lei.

Que lei, exatamente? O melhor que eu achei foi o artigo 227 do Código Penal, que diz: “Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem”. Mas brechar não é induzir, então como fica?

Novamente, essa mensagem foi traduzida. Talvez voyeurismo seja crime no país de origem do mito, mas não o é (pelo menos explicitamente) no Brasil.

Acreditar em estorinhas e espalhar spams é sinal de uma mente pouco crítica e é exatamente disto que menos precisamos.

Vamos aprender a pensar e deixar de preguiça. Cinco segundos no Google (considerando que você está lendo emails, ou seja, com acesso instantâneo ao resto da Internet) mostraria como isso aí é falso e, ao contrário do que promete, só serve para espalhar o pânico. Imagine a quantidade de chamadas inúteis que a polícia receberia em virtude de um ridículo “teste da unha” feito por pessoas ingênuas, inexperientes e já crédulas nessa besteira de que estão sendo observadas. Além de burrice isso seria uma irresponsabilidade (fora que chamar a polícia para motivos fúteis ou falsos é crime sim, de acordo com o artigo 340)

Novamente, vou usar um lembrete do próprio spam e que se adequa aqui:

Mulheres, ensinem isto para suas amigas!
Homens, ensinem isto para suas esposas, filhas, namoradas, amigas.

(Fora que ainda nos deixa com a sexista mensagem “Os homens que se danem! Neste mundo só se brecha mulher!”. Que absurdo.)

Mais spams destruídos:

Como reconhecer um spam;

Motivos para não incluí-los em meus textos;

Spam da Doença de Chagas em feijão;

Spam sazonal da gripe suína;

Spam dos batons com chumbo;

Spam do camarão e da vitamina C;

A falsa cura do câncer desmentida mais rapidamente que eu já vi;

Spam dos absorvente internos que causam câncer.

Ferro, Lítio, Zinco, Astato e Alumínio para todos!

Aos meus estimados leitores e queridas leitoras;
ferrolítiozincoastatoalumínio

e
borooxigênioarsênico
flúoreinstêniotântaloenxofre

São esses os votos do molibdênio para o cálcio magnésio que se aproxima.

Divirtam-se.

Resenha – Por Que as Pessoas Acreditam em Coisas Estranhas

– Pode ser que seja uma mulher…

– Ora essa, e o que mais podia ser?

– Há mais coisas entre o céu e a terra… Se é uma mulher, por onde é que ela entra?

– Não sei.

– Pois é. Nem eu. Mas se for outra coisa… Ora, qual, para um prático homem de negócios no fim do século dezenove, essa espécie de conversa é um tanto ridícula.

Ele parou por aí, mas eu vi que o assunto o preocupava mais do que ele queria dar a parecer. A todas as velhas histórias de fantasmas de Thorpe Place, uma nova se estava acrescentando bem sob os nossos olhos.

No conto “A caixa de charão” (The Jappaned Box – 1899), dois personagens discutem acerca de uma voz feminina que surge sem explicação num quarto trancado onde ninguém é visto entrar ou sair.

Notem que a incredulidade expressa acima por um dos interlocutores é acompanhada de uma auto-recriminação, visto que “essa espécie de conversa é um tanto ridícula” já “no fim do século dezenove“. E por que pessoas práticas acreditam em coisas estranhas?

O conto citado acima foi escrito pelo criador do detetive que é (discutivelmente) o símbolo máximo do ceticismo, Sherlock Holmes. E mesmo assim, Arthur Conan Doyle, que tanto pregava a racionalidade em seus escritos, acreditava em fadas. Então, por que pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas?

Michael Shermer descreve casos, discute estudos, apresenta evidências e nos transporta para dentro da mente das pessoas que acreditam; tanto em coisas “comuns”, quanto em coisas “estranhas” (ou seja, todos nós).

Com uma bibliografia impressionante (quase vinte páginas só de referências), este livro, dividido em capítulos auto-contidos, é prazeroso e divertido de ler. Pelo menos para o verdadeiro cético, já que muitos conceitos e pré concepções são desafiados e demonstrados à luz da evidência científica, fazendo dele um volume bastante revelador em alguns pontos, que certamente são bem interessantes para os céticos de carteirinha (mas sinta-se à vontade para duvidar desta minha afirmação).

Eu notei alguns erros de tradução (como o uso de “desvio” em lugar do mais comum “viés” e o mais literal e confuso “sistema de endereçamento público” quando um simples “caixa de som” resolveria) e uma certa desatualização (como quanto ao consenso do início da vida na Terra), culpa da demora do lançamento nacional, quase dez anos depois da edição revisada e quase quinze depois do lançamento original.

Fora algumas besteiras que meu pedantismo não deixa passar, todo o livro se mantém fresco e revigorante.

Por que o fenômeno de “caça às bruxas” ocorre mesmo frente à impossibilidade das alegações? Como uma filosofia que prega o racionalismo e a individualidade absoluta se desvirtua e se transforma num movimento com aspectos de seita (onde discutem-se até se homicídio é justificável em casos de desrespeito ao líder)? Por que pessoas inteligentes defendem, com todos os seus recursos, ideias absurdas e apoiam a negação pura e simplesmente insustentável de fatos científicos e históricos, como a evolução e o holocausto nazista?

Algumas das pistas que Shermer nos dá para respondermos a essas (e outras) perguntas tão difíceis são: gratificação imediata; simplicidade, e; moralidade e sentido. Ou seja, algumas vezes, crer em absurdos é mais reconfortante, mais fácil e ainda transfere a responsabilidade para algo maior.

Teorias conspiratórias, seitas, religiosismo (e até livros de auto-ajuda) podem ser criaturas de simples falhas de pensamento crítico (como seria o caso das fadas de Conan Doyle, que não escapa de ser mencionado no último capítulo).

Dedicado a Carl Sagan, com prefácio de Stephen Jay Gould e com inúmeras referências a Martin Gardner, “Por Que as Pessoas Acreditam em Coisas Estranhas” tem um público certo que, sem dúvida, vai se identificar com as palavras do editor da revista Skeptic, Michael Shermer (e de Pope, Hume, Eddington, Malinowski, Randi, Pinker e outros tantos citados).

Excelente livro que irá residir ao lado do meu Mundo Assombrado Pelo Demônios (assim que a reforma aqui em casa acabar) por sua capacidade em ser, ao mesmo tempo, tanto uma leitura introdutória quanto de aprofundamento. Se você se interessa pela maquinaria do pensamento humano e gosta de ter seu próprio status quo interno desafiado, eu o recomendo fortemente.

Agora, vamos para o sorteio

Kentaro, editor do Ceticismo Aberto, está sorteando um volume entre todos que responderem à pergunta abaixo:

Participem. E, para a maioria que não ganhar, o livro pode ser adquirido diretamente pela página da editora.

Corram! Falta pouco!

As inscrições de novos blogues para o Science Blogs Brasil acaba em cinco (ou seis) dias!

Se você quer escrever para o maior condomínio do mundo de blogues científicos em língua portuguesa com a página inicial mais bonita que há, se inscreva AGORA, clicando neste link que leva para nosso blogue interno, o Raio-X, onde se encontra o formulário.

Para quem ainda está em dúvida, o maior incentivo que eu consigo imaginar é a lista interna de emails, onde um mundo inacreditável de ideias será entregue todos os dias, em sua caixa de entrada.

O tempo que eu passo não-blogando eu gasto lendo o que meus scibligns colegas escrevem.

Pense bem. Vale a pena.

Dia do Mol

É incrivelmente difícil escrever sobre o mol. Até para mim, que não tenho muito compromisso com coisas fazendo sentido.

No entanto, Kentaro (responsável pela administração da nossa página inicial) compartilhou um dado interessante na nossa lista interna (da qual você também pode participar, se inscrevendo aqui): um mol (6,02… x 10²³) é um número bem semelhante ao fatorial de vinte e quatro (6,20… x 10²³), o que imediatamente chamou a minha atenção, já que 24 é o resultado do fatorial de 4, que por sua vez é o número de letras no meu primeiro nome[1].

I G O R = 4 letras

4! = 24

24! ~ mol

Ou seja, eu estou a duas exclamações (e uma deserção paterna) de representar a quantidade de átomos em cento e noventa e quatro gramas de trimetilxantina.

24 é o número atômico do cromo, muito admirado por quem gosta de coisas brilhantes (excetuando-se o navegador, que é uma porqueira sem tamanho).

O Chrome é uma televisão. O máximo que você pode fazer é assistir ao que ele mostra.

(Isso e “24” é “42” escrito ao contrário.)

O nome completo do número “mol” é “seiscentos e dois sextilhões e uns quebrados”.

Dizer que um sextilhão equivale a duas vezes e meia um bilhão não é dizer muito (como aquelas comparações de telejornais que insistem em usar a distância daqui para a Lua como se nós conhecêssemos intimamente a medida). Alternativamente, recomendo meu texto antigo sobre números grandes, 1.000.000.000 (foi um dos meus primeiros textos publicados quando eu ainda não sabia que teria público. Sejam gentis).

Eu disse que era um assunto difícil, não foi?

[1] É esse o tipo de informação que eu guardo na minha cabeça.

A latrina dos deuses (ou, a cólonização do espaço)

Detrito espacial. Delícia.

Recentemente, cientistas espaciais completaram uma análise de detritos orbitais, recuperados depois de circular a Terra durante vários anos, e descobriram que a maior parte deles estava revestida por uma fina película do que foi elegantemente descrito como “matéria fecal”, proveniente do desleixo que astronautas têm com seu saneamento.

Isso pode resolver um dos mistérios da origem da vida no nosso planeta, que parece ter brotado quase que imediatamente após o surgimento de condições favoráveis, e não após os bilhões de anos de tentativa e erro molecular necessários para o que Isaac Asimov chamou de “trabalho visionário da probabilidade”.

Obviamente, formas de vida organizadas precisariam ter ocorrido apenas uma vez nesta galáxia caso a primeira civilização a desbravar o espaço fosse tão descuidada com o meio ambiente como nós somos.

Anos atrás, Hoyle e Wickramasinghe sugeriram que a vida tinha origem cósmica e não terrestre. Eles podem estar certos, embora não exatamente da maneira que imaginaram.

É uma ideia humilhante a de que podemos ser fruto de esgoto despejado. O primeiro capítulo do Gênesis certamente exigiria uma revisão drástica.

Por outro lado, se (como alguns filósofos sugerem) a Terra, de fato, abriga a única vida no Universo, esta questão deplorável vem sendo corrigida. Pelo menos podemos nos conformar (eu evitaria dizer “inspirar”) com o fato de que nossos descendentes já estão a caminho das estrelas.

No entanto nós certamente não iríamos reconhecê-los.

E seria indelicadeza perguntar como exatamente eles chegaram lá.

Arthur C. Clarke, para a revista Ad Astra, edição de janeiro/fevereiro de 1999.

A NASA confirma que a urina dos primeiros astronautas era ejetada imediatamente (hoje em dia eles guardam líquidos por mais tempo para criar espetáculos luminosos belíssimos), enquanto os detritos sólidos eram comprimidos e estocados para remoção em terra, sendo liberados para o espaço apenas os gases produzidos pelas fezes (se um saco libera gás e não há meio para propagação das ondas sonoras, o peido faz barulho?). Aliás, o problema com dejetos intestinais é tão complexo que antes dos primeiros lançamentos espaciais os astronautas faziam uma dieta “pobre em resíduos” por até duas semanas antes da viagem e, algumas vezes, se submetiam até a enemas.

E pensar que toda criança já quis ser astronauta.

No espaço, todo dia é dia de exame de fezes!

Não posso, porém, dizer o mesmo dos russos quanto ao seu saneamento orbital. Não consegui achar informações oficiais negando, mas correm boatos (o que seríamos sem eles?) de que os primeiros cosmonautas não armazenavam lixo por muito tempo. Um dos casos mais divulgados é o de um saco de lixo da estação espacial MIR que teria colidido com um satélite indonésio, cobrindo-o de fezes.

Há também o caso do cosmonauta que foi proibido de usar o banheiro americano da Estação Espacial Internacional devido aos efeitos cóloncolaterais da rica dieta soviética que “aumenta os custos de armazenamento e reciclagem“.

Pois é. O espaço, que já foi chamado de “a fronteira final”, hoje é pouco mais que uma cidadezinha do interior com carnaval tradicional onde foliões precisam pagar para obrar no banheiro dos outros. Com a diferença que o proprietário do bojo não cobra armazenagem em sua fossa séptica.

Por isso, proponho, de hoje em diante, outro lema:

Espaço: a fronteira fecal.

Satélite indonésio após o incidente, segundo relatos de testemunhas.

Outra coisa que não consegui confirmar: a veracidade dos fatos relatados no texto de Clarke.

Mas o mundo seria tão mais legal se fosse tudo verdade mesmo, não é?

E vocês, o que acham?

Este blogue é a favor do aborto

É muito fácil para alguém que não tem útero ser contra o aborto. Da mesma forma, é extremamente conveniente para alguém já nascido apontar o dedo e julgar a opção alheia.

Se uma mulher não quer sofrer a violência ao seu corpo que é uma gravidez nem está mentalmente preparada para enfrentar o mundo de incertezas debilitantes que será a concepção e criação de outro ser humano, por que você, sem útero e já nascido, é contra? Você se acha realmente tão importante assim a ponto de ditar o comportamente e o futuro de outrém?

Ah! Você teve um filho não-planejado e deu tudo certo? Parabéns. Você é minoria.

Sabe aquele assalto que ocorreu semana passada? Provavelmente o bandido foi fruto de um acidente e cresceu como uma criança indesejada (esclarecimento rápido: alguns já nascem ruins independente da criação. Felizmente porém, são poucos).

Talvez, uma adolescente com opções seguras e não-condenáveis preferisse interromper o processo, para, em outra ocasião, já tendo ela condições emocionais (e financeiras), levasse uma gravidez ao seu desfecho. Como ela não tem o direito de escolher o destino do próprio corpo, ou corre o risco de morrer (seja tomando um remédio abortivo, seja após usar os serviços de uma clínica clandestina), ou terá um filho com grandes possibilidades de virar marginal (link em PDF).

E, me adiantando aos xingamentos, ameaças e acusações gramaticalmente incorretas infanto-retro-fictícias de “era bom que sua mãe tivesse abortado você”, digo aqui que, antes de ter ficado grávida de mim, minha mãe sofreu um aborto espontâneo. Então, ao invés de me desejar a morte no pretérito imperfeito, ache bom e saiba que você escapou. O mundo correu o sério risco de ter dois de mim.

Saiba também que, mesmo você esperneando, agitando seus punhos cerrados ao vento e amaldiçoando a parte da humanidade que discorda da sua insignificante opinião, brasileiras fazem abortos todos os dias. Elas são muitas. Provavelmente uma é até alguém da sua família de quem você gosta bastante.

Sabe quando você está falando mal de uma pessoa sem perceber que ela está atrás de você, ouvindo tudo? Pois é. Da próxima vez que você vocalizar suas ideias quanto à temperatura do mármore do inferno destinado àquelas que abortam, lembre que você pode estar ferindo seriamente os sentimentos de alguém muito próximo a você.

Drauzio é pró, Ratzo é contra.

Acho que escolhi o lado certo.

Homeopatia, coitadinha, não tem vez porque a “Indústria Farmacêutica”, que se preocupa apenas com dinheiro, não deixa!

Por que homeopatia é gratuita, né? Todos os homeopatas são filantropos e fazem eles mesmos as preparações, sem qualquer custo para os clientes pacientes, não é verdade?

A pobrezinha homeopatia não tem do quê viver, apenas sobrevive de doações daqueles que por ela foram salvos, e… Opa, peraí! Que manchete é essa?

Multinacional homeopática processa blogueiro acerca de afirmações de que seu curativo mitológico “não tem ingrediente ativo”.

Samuele Riva, um blogueiro italiano, está sendo processado pela Boiron, multinacional francesa de “remédios” homeopáticos. Riva ousou fazer uma piada com a alegação de que Ooscillococcinum teria “ingrediente ativo”. A companhia alega que o produto é feito diluindo-se “oscillococcinum” (uma substância mitológica que dizem estar presente em fígados de patos, apesar de nenhuma evidência apoiar aquele fato) em 200 diluições de 1 para 100, o que “equivale a diluir 1ml do ingrediente original num volume de água do tamanho do Universo conhecido”.

Multinacional? Sim, a Boiron é, segundo eles mesmos, “grupo farmacêutico pioneiro e líder da Homeopatia no mundo”.

E uma multinacional está processando um blogueiro que teve o disparate de dizer que seus supostos remédios não contêm um ingrediente ativo que sequer existe.
Mas a homeopatia não tinha como único intuito curar todas as pessoas de todas as doenças do mundo de forma completamente grátis?

Não.

Homeopatia é uma indústria. Não é “farmacêutica” porque não existem fármacos associados aos seus produtos, porém é uma indústria assim mesmo.

E a Boiron está processando Samuele Riva porque ele disse que um remédio não pode ser feito com um ingrediente que não existe.

Explicitando, a Boiron diz que o Ooscillococcinum é feito diluindo raspa de chifre de unicórnio até que ele deixe de existir. Sem jamais ter existido em primeiro lugar.

Faz sentido para algum de vocês? Por que para mim não faz.

Samuele diz que a empresa não só ameaçou o provedor com um processo para apagar o post como exigiu “bloqueio de acesso ao meu website“.

E agora, fez sentido? Não, né? Que bom. Sinal de que não estou tão desconectado da realidade assim.

Homeopatia continua não funcionando mesmo quando você faz a diluição impossível de uma coisa que não existe.

Provas? Eu ainda estou vivo.

Via Kentaro, pelo GReader.

666, o mais besta dos números

Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Seu número é seiscentos e sessenta e seis.

Por algum motivo que totalmente escapa ao meu conhecimento, o famoso “meia, meia, meia” causa desde calafrios em alguns até constipação em algumas (sendo o bloqueio ventral mais comum nas de inclinação feminina) pelo simples fato de aparecer na passagem citada acima. Na minha “sabedoria”, tendo eu “entendimento”, calculo que o “número da besta” é o mesmo que o “número de homem”. Eliminando “número” dos dois lados da equação, concluo matematicamente que besta = homem, i.e., homem é bicho besta.

Por que então a hexacosioihexecontahexafobia? Se o seiscentos e sessenta e seis representa o homem, a boa e velha misantropia resolveria para os religiosos. Oh, wait…

Contudo não é só de maldições pueris e delírios místicos da idade do ferro que vive o número 666.

O número que tanto assombra os bestas[1] tem várias propriedades matemáticas bem interessantes.

Ou, no mínimo, mais interessantes que a conspiração capenga do código de barras.
pi barcode

Por exemplo; seiscentos e sessenta e seis é o resultado da soma dos quadrados dos sete primeiros números primos: 2² + 3² + 5² + 7² + 11² + 13² + 17² = 666.

Outra boa; somando cada 6 tanto individualmente quanto elevado ao cubo, temos novamente o número citado: 6 + 6 + 6 + 6³ + 6³ + 6³ = 666.

Já sentiu calafrios? Ainda não? E se eu disser que existe uma soma dos algarismos de 1 a 9, em seqüência, que dá 666?

1 + 2 + 3 + 4 + 567 + 89 = 666!

E se eu disser que existe ainda outra soma serial?

123 + 456 + 78 + 9 = 666!!

Do 9 ao 1 também funciona: 9 + 87 + 6 + 543 + 21 = 666!!!

A soma dos trinta e seis primeiros números naturais também: 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + 9 + 10 + 11 + 12 + 13 + 14 + 15 + 16 + 17 + 18 + 19 + 20 + 21 + 22 + 23 + 24 + 25 + 26 + 27 + 28 + 29 + 30 + 31 + 32 + 33 + 34 + 35 + 36 = 666!!!!

Oooooooh! /o\

Falando em seqüência, o número besta em algarismos romanos é DCLXVI, uma sucessão perfeita de todos os números romanos (exceto o M, de “mágica”) do maior para o menor!
dados 666

E não é só isso!

Adivinhe quanto dá a soma das 144 (que pode também ser expresso como (6+6)·(6+6)) primeiras casas decimais de pi.

ISSO MESMO, VOCÊ ADIVINHOU! 1 + 4 + 1 + 5 + 9 + 2 + 6 + 5 + 3 + 5 + 8 + 9 + 7 + 9 + 3 + 2 + 3 + 8 + 4 + 6 + 2 + 6 + 4 + 3 + 3 + 8 + 3 + 2 + 7 + 9 + 5 + 0 + 2 + 8 + 8 + 4 + 1 + 9 + 7 + 1 + 6 + 9 + 3 + 9 + 9 + 3 + 7 + 5 + 1 + 0 + 5 + 8 + 2 + 0 + 9 + 7 + 4 + 9 + 4 + 4 + 5 + 9 + 2 + 3 + 0 + 7 + 8 + 1 + 6 + 4 + 0 + 6 + 2 + 8 + 6 + 2 + 0 + 8 + 9 + 9 + 8 + 6 + 2 + 8 + 0 + 3 + 4 + 8 + 2 + 5 + 3 + 4 + 2 + 1 + 1 + 7 + 0 + 6 + 7 + 9 + 8 + 2 + 1 + 4 + 8 + 0 + 8 + 6 + 5 + 1 + 3 + 2 + 8 + 2 + 3 + 0 + 6 + 6 + 4 + 7 + 0 + 9 + 3 + 8 + 4 + 4 + 6 + 0 + 9 + 5 + 5 + 0 + 5 + 8 + 2 + 2 + 3 + 1 + 7 + 2 + 5 + 3 + 5 + 9 = 666.

E 144 é 12²!

Não que isso tenha relevância alguma neste contexto, mas é sempre bom saber o quadrado de alguns números de cor.

355 dividido por 113 é 3,141592 e mais uns quebrados. Pi também é igual a 3,141592 e uns quebrados. Agora, usando a propriedade esculhambativa da soma de números de três algarismos, temos:

553 (o inverso do dividendo) + 113 = 666, e;

311 (o inverso do divisor) + 355 = 666.

Tênue, eu sei. Mas volta a melhorar, prometo.
polidactilia hardcore

A soma de todos os dígitos da quadragésima sétima potência de seiscentos e sessenta e seis dá, acredite ou não, seiscentos e sessenta e seis!

666^47 = 5049969684420796753173148798405564772941516295265408188
117632668936540446616033068653028889892718859670297563286219594
665904733945856
.

5 + 0 + 4 + 9 + 9 + 6 + 9 + 6 + 8 + 4 + 4 + 2 + 0 + 7 + 9 + 6 + 7 + 5 + 3 + 1 + 7 + 3 + 1 + 4 + 8 + 7 + 9 + 8 + 4 + 0 + 5 + 5 + 6 + 4 + 7 + 7 + 2 + 9 + 4 + 1 + 5 + 1 + 6 + 2 + 9 + 5 + 2 + 6 + 5 + 4 + 0 + 8 + 1 + 8 + 8 + 1 + 1 + 7 + 6 + 3 + 2 + 6 + 6 + 8 + 9 + 3 + 6 + 5 + 4 + 0 + 4 + 4 + 6 + 6 + 1 + 6 + 0 + 3 + 3 + 0 + 6 + 8 + 6 + 5 + 3 + 0 + 2 + 8 + 8 + 8 + 9 + 8 + 9 + 2 + 7 + 1 + 8 + 8 + 5 + 9 + 6 + 7 + 0 + 2 + 9 + 7 + 5 + 6 + 3 + 2 + 8 + 6 + 2 + 1 + 9 + 5 + 9 + 4 + 6 + 6 + 5 + 9 + 0 + 4 + 7 + 3 + 3 + 9 + 4 + 5 + 8 + 5 + 6 = 666.

E por quê 47? Porque é um número primo!

Exatamente a mesma coisa ocorre com 666 elevado a 51: 666^51 = 9935407575913859403342635113412959807238586374694310089
971206913134607132829675825302345582149184809607489728389006376
34215694097683599029436416
.

9 + 9 + 3 + 5 + 4 + 0 + 7 + 5 + 7 + 5 + 9 + 1 + 3 + 8 + 5 + 9 + 4 + 0 + 3 + 3 + 4 + 2 + 6 + 3 + 5 + 1 + 1 + 3 + 4 + 1 + 2 + 9 + 5 + 9 + 8 + 0 + 7 + 2 + 3 + 8 + 5 + 8 + 6 + 3 + 7 + 4 + 6 + 9 + 4 + 3 + 1 + 0 + 0 + 8 + 9 + 9 + 7 + 1 + 2 + 0 + 6 + 9 + 1 + 3 + 1 + 3 + 4 + 6 + 0 + 7 + 1 + 3 + 2 + 8 + 2 + 9 + 6 + 7 + 5 + 8 + 2 + 5 + 3 + 0 + 2 + 3 + 4 + 5 + 5 + 8 + 2 + 1 + 4 + 9 + 1 + 8 + 4 + 8 + 0 + 9 + 6 + 0 + 7 + 4 + 8 + 9 + 7 + 2 + 8 + 3 + 8 + 9 + 0 + 0 + 6 + 3 + 7 + 6 + 3 + 4 + 2 + 1 + 5 + 6 + 9 + 4 + 0 + 9 + 7 + 6 + 8 + 3 + 5 + 9 + 9 + 0 + 2 + 9 + 4 + 3 + 6 + 4 + 1 + 6 = 666.

E por quê 51? Porque não é um número primo! Viu como o 666 está pouco se importando com as suas regras? \,,/

Eu poderia dizer que 4+7 multiplicado por 5+1 dá 66, no entanto, apesar de matematicamente correto e visualmente agradável, não faria muito sentido.

Alternativamente, direi que a soma do cubo dos dígitos em seu quadrado mais os do seu cubo dá 666.

666² = 443556; 4³ + 4³ + 3³ + 5³ + 5³ + 6³ = 621.

666³ = 295408296; 2 + 9 + 5 + 4 + 0 + 8 + 2 + 9 + 6 = 45.

621 + 45 = 666

Confuso, porém correto.

A fatoração de 666 em números primos é expressa como 2 · 3 · 3 · 37, e 6 + 6 + 6 = 2 + 3 + 3 + 3 + 7.

A sexta potência de seiscentos e sessenta e seis tem seis números seis.

666 em base 10 é 666.

O primo mais próximo de 666 é 661 que, subtraído daquele, dá 5, outro número primo.

666 + 666 + 666 = 1998, um ano doze anos atrás, contando do ano passado.

666 é número par.

Tá, eu paro. É melhor eu admitir que não sei mais nenhuma curiosidade interessante.

Finalizando esta aventura numérica de proporções bíblicas (desculpem, mas alguns clichês precisam ser explorados vez por outra), sabe outro número também associado ao Anticristo e a tudo-que-num-presta?

(Prepare-se para a explosão mental.)

À besta foi dada uma boca para falar palavras arrogantes e blasfemas, e lhe foi dada autoridade para agir durante quarenta e dois meses.

No capítulo 11 do nosso mais amado texto pré-científico movido a chá de cogumelo, uma rapaziada esperta composta por duas oliveiras e dois candelabros (versículo 4) que fazem bico de porteiro com poder para fechar o céu (versículo 6) mostram o quão descolados são ao vestir somente pano de saco (versículo 3) enquanto profetizam durante mil duzentos e sessenta dias (o número de dias em 42 meses).

Se considerarmos 1260 como capítulo 12, versículo 6, temos outra menção do número: “A mulher fugiu para o deserto, para um lugar que lhe havia sido preparado por Deus, para que ali a sustentassem durante mil duzentos e sessenta dias.

Ainda, usando magia influenciada pela delirante mitologia hebraica forjada sob o calor excessivo de um deserto inclemente que não perdoa os cérebros mais moles, temos: 1260 => 12; 6; 0 => 6+6; 6. (Zero não conta. É como Jesus quereria.)

42 · 30 (3 sendo metade de 6 e tomando emprestado o zero da conta acima) = 1260.

Ou seja, 42 = 666. CQD

Manipular números é legal, né não?

Bônus!

[D]iziam “Então diga: ‘Chibolete’ “. Se ele dissesse: “Sibolete”, sem conseguir pronunciar corretamente a palavra, prendiam-no e matavam-no no lugar de passagem do Jordão. Quarenta e dois mil efraimitas foram mortos naquela ocasião.

A moral aqui é: pelo amor de deus, aprenda a enunciar!
YHWH

[1] Certa vez, uma conta numa lanchonete deu R$15,15 que, depois dos 10% do serviço totalizou R$16,66. Quando apontei para a “aparição” do 666 (que, caso contrário, passaria despercebido), a pessoa (supostamente esclarecida) que estava comigo fez questão de pagar vinte reais e deixar o troco, justificando com um “ai, eu não gosto dessas coisas”. Nem meus protestos de “mas três reais e trinta e cinco compram outro suco!” foram suficientes para dissipar aquela inane superstição. Para vocês verem; falta de pensamento crítico também faz perder dinheiro. Tsc, tsc, tsc…

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