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Para que serve um blog?

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Lembro como se fosse ontem. O Atila Iamarino e o Carlos Hotta tiveram a incrível ideia de unir os cerca de (no máximo 15?) blogueiros que escreviam sobre ciência, há dez anos. Você vê que o empreendedorismo de ambos praticamente nasceu com eles, não? A maioria de nós se conhecia pela internet. Um comentava no blog do outro. Assim, eles me chamaram para conversar.

Na época, tornou-se bem comum condomínio de blogs. Os mais populares até foram incorporados por grandes portais como o iG (Interney pode falar mais sobre). Eu, capira de Telêmaco Borba e precavida, fiquei com receio. “Será que são dois doidos?” Achei prudente marcar o encontro em um café movimentado da Vila Madalena. Avisei minha mãe assim que cheguei e combinei de informar quando estivesse longe deles, em segurança, destino minha casa.

Ao chegar no café, me deparei com duas pessoas agradabilíssimas, inteligentes e que até pareciam um pouco tímidas! Eles foram super gentis e explicaram a ideia. Percebi o pioneirismo de ambos naquela hora. E a força para realizar sonhos. Bom, como se pode ver, migrei para o ScienceBlogs. Eram dois doidos, sim. Mas doidos por mudar este país para melhor.

Agora, vou te contar um segredinho: o mais incrível em fazer parte deste grupo é conhecer pessoalmente pessoas tão fantásticas e conversar com elas em um e-mail de bastidores. Ah, se os bastidores falassem… Posso afirmar (e deixar aqui a curiosidade) que a troca de ideias mais maravilhosa acontece por e-mail. Qualquer conversa pode ser muito profunda e cômica ao mesmo tempo. Sagaz.

Pela percepção de quem tem blog desde antes da maioridade, de quem trabalha na área e que, por afinidade ou encantamento pelas possibilidades (boas) que a internet traz, vou tentar contar um pouco sobre a evolução do blog e usar minha bola de cristal para apontar onde estamos e para onde vamos.

 

De onde vieram os blogs

Muito resumidamente, para não ser cansativo, os blogs foram: um diário pessoal, um diário sobre um tema que gostamos, um diário sobre um tema que gostamos com opinião, uma coluna de opinião. Meio que nessa ordem. Muitos blogueiros publicaram livros. Foram até ao Faustão!

Aí, as empresas perceberam o poder da blogagem. E começaram a contratar blogueiros para escrever sobre suas marcas. Elas já haviam cedido aos publiposts e os jornais também inseriram blogueiros em seus veículos. Em seguida, as empresas criaram seus próprios blogs.

Com a crise na imprensa impressa, entre um dos motivos, devido à publicidade migrando para o Google e, atualmente, Facebook, as empresas perceberam que poderiam ser o próprio veículo de comunicação. Afinal, já tinham sites. Bastava transformar releases em notícias para vender o próprio peixe e colocar a notícia com as lentes voltadas para elas.

Em 2005, o YouTube começou a ganhar mais força. Eles incentivaram a migração de blogueiros pagando (bem) para vídeos com mais visualizações. Em 2011, quando eu trabalhava em uma empresa internacional da área de internet, as mensagens de fora já imploravam: “Por favor, façam vídeos, será o ‘novo’ blog”. Se você for ao meu canal do YouTube, verá que me arrisquei algumas vezes. Tenho até formação em locução e apresentação de televisão (olhe o jabá)!

Como estão os blogs

Bom, as empresas começaram a usar os blogs para divulgar suas marcas. Perceberam que quanto mais notícias, mais links para os seus sites, mais relacionamento com futuros clientes, mais vendas. O próprio YouTube disse, recentemente, que ele é uma enciclopédia em vídeo. Acho que queria ser uma televisão, mas se tornar uma enciclopédia é mais pesado no bom sentido, não? E o Google, de certa maneira, virou um Oráculo.

Você pergunta, o Google responde. Literalmente. As empresas perceberam isso. E começaram a aplicar em seus blogs Search Engine Optimization (otimização para mecanismos de busca). O tal do SEO. Agora, cá estamos. Pesquisas mostram que os primeiros quatro links que aparecem no Google são os mais clicados. Começaram os caça-cliques mais acirrados do mercado.

Você já clicou em um texto péssimo na fluência que tem mais “palavras-chave” (que ajudam os robôs do Google a entenderem que aquela página é mais relevante que outra) do que outra coisa no texto? Ou seja, que não diz nada? Pois é. Isso tem sido bem comum. Aí, quem vai ler tanta notícia?

Temos bons blogs. Blogueiros que migraram para outras mídias. Blogueiros que foram fazer outra coisa da vida – e não têm mais tempo para blogar. Temos muito conteúdo (não necessariamente em blog) “cozinhados” como chamamos no jornalismo, ou seja, reescritos sem novidades. Sabe o que falta?

Curadoria para os conteúdos bons. Além do ScienceBlogs, claro. 😉 Juntar em um único endereço de internet os canais, sejam eles de redes sociais ou de blogs escritos. Afinal, esqueci de mencionar. Muitos blogueiros ou que seriam possíveis blogueiros usam seus perfis das redes sociais, como o Instagram, como blog. Migraram.

 

Como serão os blogs

Acredito que haverá uma seleção natural. Parte feita pelo grande irmão Google. Que irá, assim espero, punir descendo nas buscas os blogs que “cozinham” outros textos ou que apelam nas palavras-chaves sem trazer conteúdo de qualidade.

Tenho notado também que há uma tendência em reunir em uma única notícia/ blogagem texto, vídeo, áudio, foto e o que mais caber. Os blogs podem ficar mais complexos, mais ricos, com conteúdo em diversas mídias para agradar a todos os fregueses.

Creio que nunca se leu tanto na face da Terra. Mas quem não gosta de um conteúdo bom? Quando a gente vai a uma loja e é mal atendido ou o produto entregue não é de acordo com a propaganda, a gente faz o quê? Evita voltar. Dessa forma, espero que os bons blogs permaneçam ou revivam.

Posso dizer por mim. Estou tentando fazer o Xis-xis voltar. Mas tenho mais uma boca a mais para alimentar em casa. Por isso, nas horas vagas, cuido desse ser e o meu foco é colocar os alimentos na geladeira. Mas estou aqui. Querendo-te. 😉

Imagine descobrir que tem Asperger depois dos 30 anos? Acontece :)

Quando tudo era mato na internet, descobri que o poder mais incrível de ter um blog sobre temas que gostamos é dele nos proporcionar a possibilidade de nos aproximarmos de outras pessoas que também gostam desses temas. No meu caso, ciência, meio ambiente e feminismo. A gente deixa de se sentir um extraterrestre. E faz novos amigos! <3 E, assim, há cerca de dez anos conheci a Maira Begalli. Posso dizer que foi afinidade à primeira vista. Ela me convidou para mediar um debate sobre meio ambiente dentro de uma Campus Party, onde cuidava da parte ambiental, e assim seguimos nossos encontros até hoje.

Atualmente, Maira é pesquisadora científica e trabalha com experimentações tecnológicas e ecológicas colaborativas. Durante uma recente conversa, ela me contou que descobriu, depois dos 30 anos, que tem Asperger – uma síndrome do espectro autista. Após o diagnóstico, tudo ficou mais leve e claro para ela. Nossa conversa foi tão emocionante e reveladora que perguntei se poderia fazer uma entrevista sobre o seu diagnóstico. Ela topou. Leia, com amor, nossa entrevista. Todos somos diferentes e iguais ao mesmo tempo, essa é a grande beleza da vida.

Isis: Como você descobriu que tem uma síndrome do espectro autista?
Maira: Eu descobri no início deste ano. Eu tinha acabado de voltar da Califórnia, nos Estados Unidos, numa situação muito hostil. Durante toda minha infância, passei por violência emocional e psicológica por parte da minha família. E isso aconteceu mais uma vez na Califórnia. Na minha cabeça de Asperger, eu havia feito uma equação que acreditava que quando eu crescesse e procurasse essas pessoas que me fizeram mal, mas que eu ainda amava, eles reconheceriam que estavam errados e se reconciliariam comigo. Assim, na Califórnia, apesar de passar por um gaslighting [abuso psicológico no qual informações são distorcidas] intenso por 40 dias, me adaptei porque realmente achava que resolver a equação era melhor do que responder. Dessa pessoa específica da família, ouvi coisas como “que eu era ‘assim’ porque eu precisava de um macho”; que eu tinha a doença da mentira, mas que Deus tinha me mandado lá para essa pessoa me curar (no caso ele é hipocondríaco, bebe e passa o dia no sofá dizendo que não é feliz); que “todos” sabiam que era tudo mentira que eu fazia projetos com pessoas do mundo todo; que era mentira que eu trabalhava; que a pessoa que mais enganava era eu mesma; que eu me maltratava muito (porque mantenho uma rotina de atividade física e alimentação saudável). Enquanto isso, eu andava nas ruas de lá e via a propaganda do filme “O Contador”, que já havia assistido no Brasil. Quando eu vi esse filme, me senti igualzinha o personagem do Ben Affleck. Ele tem um mundo complexo e processa coisas complexas o tempo todo, mas que ninguém imagina. Como a necessidade de ter poucas coisas, estabelecer rotina, não comer muitos alimentos.

I: Quando e quem fez o diagnóstico?
M: Quando voltei ao Brasil estava muito mal. O Asperger me fez desenvolver mecanismos de coping [esforços cognitivos e comportamentais para lidar com situações de dano, ameaça ou desafio quando não há resposta automática]. Hoje, com ajuda médica, mapeamos isso em cores. Eu posso estar mais “cinza”, mais “vermelha” ou mais “azul”. Na Califórnia, eu estava mais cinza, então tinha medo e desenvolvo uma série de comportamentos. Isto se chama transtorno dissociativo [perda total ou parcial de uma função mental ou neurológica, podendo ter, por exemplo, perda de memória]. Eu fiz isso a vida inteira em situações de estresse familiar. No começo do ano, testes de neurodiversidade apontaram para a Síndrome de Asperger. Fui diagnosticada por uma psiquiatra, também Asperger, hoje uma grande amiga. Minha vida mudou totalmente.

I: Como foi para você a descoberta? Se sentiu aliviada? Ficou preocupada?
M: Não, nada preocupada. Eu acho que as palavras sempre vão nomear coisas que já estão ali. Eu nasci assim. Falei aos quatro meses de idade em um elevador de shopping uma frase inteira “olha o japonesinho”. Meus pais disseram que os pais desse japonesinho olharam para o carrinho e perguntaram: “Ela fala”? Aprendi a ler sozinha aos quatro anos. E tudo que eu sei parece que sempre esteve aqui. Mas, em contrapartida, eu tenho muita dificuldade e não quero quebrar minha rotina. Por exemplo, eu acordo às cinco da manhã, sozinha, desde criança. E costumava dizer antes mesmo do diagnóstico que independente do lugar, minha vida nunca muda. Assim, um novo horizonte se abriu. Eu entendi que sobrecargas sensoriais não são síndrome do pânico ou ansiedade e que nunca vou ser normal e que tentar me enquadrar nisso, só piora.

I: Antes disso, você notou que pensava diferente de quem não tem? Ou achava que todos passavam pelo mesmo?
M: Eu sei que sou diferente desde sempre. Consigo me comunicar com animais, sentir fenômenos da natureza e sentir cores. Tenho processamento complexo o tempo todo. E uma ataraxia constante, nunca meus pensamentos são sobre minha vida, mas sobre assuntos determinados (o tal hiperfoco) que preciso solucionar.

I: Aliás, o que te diferencia de outras pessoas por ter a Síndrome?
M: Nós, neurodiversos, não somos doentes. Minha psiquiatra, inclusive, defende que temos apenas um outro default cerebral. Eu tenho dificuldade em ter contato cerebral, não saio para me “divertir”, não gosto de falar sobre pessoas, gosto de estudar, entender as coisas como funcionam e tenho muita dificuldade de sistematizar e verbalizar meus sentimentos. Eu até consigo, mas tenho que falar comigo mesma por dias até entender para depois externalizar. Fora isso, tenho sensibilidade alimentar e condição autoimune ligada ao estômago-intestino desde que eu era bebê – o que é um traço comum, em muitos TEAS [Transtorno do Espectro Autista].

I: Qual sua maior dificuldade enfrentada por ter Asperger?
M: Sem dúvida, a infância. Minha família não soube lidar comigo e fui criando mecanismos de coping que foram bem nocivos. Mas, por outro lado,, a negligência da minha mãe me obrigou a me adaptar e enfrentar as coisas. Aliás, as coisas mais bizarras e surreais que eu poderia ter passado. Nesse sentido, ela agiu mais ou menos que nem o pai do “O Contador”. E até hoje ela é assim. Se eu falo que tenho um problema, uma situação, ela diz: “Isso é normal, resolva, não quero saber”. Hoje não vejo dificuldades, certamente, por causa dessa postura. Eu cresci sabendo que teria que resolver e que não haveria o superman, a fada madrinha, ninguém.

I: E o que ela traz de bom claramente?
M: Não vejo essa dicotomia bom ou mal. Eu gosto do jeito que sou, não queria ser nada diferente.

I: O que mudou na sua vida após a descoberta?
M: Eu parei de tentar me adequar à vida neurotípica e com isso tenho me mantido no modo “azul” 🙂 que é a Maira 0, sem coping.

I: Quer deixar um recado para quem sente dificuldade em se encaixar nos padrões tidos como “normais”?
M: Não existe normal. É a coisa mais clichê. Mas é a verdade.

Notícias da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres

*Abri espaço neste blog para que a Cládice Nóbile Diniz, delegada pelo Rio de Janeiro e relatora da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, dividisse conosco suas impressões e o que está acontecendo esta semana no respectivo evento em Brasília. Ah, se estranhou o sobrenome, sim, somos parentes. Ela é minha tia-madrinha <3. Vamos lá às novidades. 

A 4aCNPM foi decidida em março de 2015. É um evento que ocorre a cada quatro anos. Neste participam quase três mil mulheres eleitas em conferências estaduais. Fui eleita delegada pelo Rio de Janeiro e convidada para ser relatora. Aqui tudo é grandioso: uma relatora para grupo de 150 delegadas. Vinte grupos sobre quatro eixos. Vai ser um trabalho incrível!

Hoje foi fogo. Houve de tudo. Uma delegada do Rio eleita e aprovada foi barrada na última hora por que ia com o filho de quatro anos. Foram detidas 73 delegadas da Bahia porque elas tinham gritado no avião “não vai ter golpe”. Esta manifestação foi contra a deputada federal Eronildes Vasconcelos, a “Tia Eron “, e o Deputado Federal José Carlos Aleluia, ambos da Bahia. Foram liberadas depois de quatro horas quando o José Eduardo Cardozo, da Advocacia-Geral da União, e a secretária especial de Políticas para as Mulheres Eleonora Menicucci foram lá.

Chegaram pouco antes da fala da Dilma e foram ovacionadas e recebidas em pé e com palmas. O discurso da Dilma foi emocionante. Afirmou que vai honrar seus 54 milhões de eleitores, nunca tendo pensado em renunciar. A ministra Eleonora falou bonito também. Lembrou que, nas décadas de 60 e 70, as mulheres “vestiram calças” e saíram para trabalhar. Mas os homens não “vestiram saias” e não se ocuparam da parte do trabalho deles em suas casas.

A delegada pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Camila Lanes, avisou em plenária que a CPI da merenda tinha sido instalada e o auditório veio abaixo. As mulheres conseguiram aprovar a eliminação dos delegados homens após tensa disputa, com seis intervenções próss e outras tantas contra.

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Mãe e filho na roda do berimbau tocado só por mulheres

 

 

 

 

 

Ter filho te deixará mais incompleta

maternidadeEu poderia estar dormindo, poderia estar comendo, poderia estar malhando, meditando, lendo, fazendo ioga, xixi. Mas, enquanto a bebê dorme, estou aqui para te alertar: ter filho te fará se sentir mais incompleta. Uma conversa que tive esta semana com a Maria Guimarães, bióloga-jornalista e uma das autoras do blog Ciência e Ideias, me fez refletir sobre esse sentimento. Na verdade, esta semana, eu iria escrever um post sobre cólicas em bebês e pesquisas sobre o assunto, mas deixo para uma próxima. Vou usar esta meia hora que tenho para avisar “azamigas”.

Não sei o porquê você resolveu ter filho. Não sei se eu escolhi parir para me sentir mais “completa”. Acho que os genes falaram mais alto: um brinde para a perpetuação da espécie. Há anos li um post da Paula Signorini, uma das autoras do blog Rastro de Carbono, que nunca esqueci (ATENÇÃO: NÃO ESTOU COLOCANDO REFERÊNCIAS DE LEITURAS E DE PESQUISAS NOS POTS ATUAIS PORQUE LEIO PELO CELULAR E ESCREVO PELO COMPUTADOR. PORTANTO, FAÇO AS ANÁLISES COM BASE EM ARTIGOS CIENTÍFICOS E OUTROS AUTORES, MAS SEM TEMPO PARA PROCURAR TUDO E COLOCAR AQUI). Nele, a Paula questiona a relação entre ter filhos e a degradação do planeta. Minha desculpa para ter é essa: criar uma pessoa para que ela ajude a formar um mundo mais harmonioso para vivermos. Que combata o aquecimento global como a mãe faz, hoje, trabalhando na Iniciativa Verde. Que tenha compaixão, respeito pelos outros seres e pela natureza. Que seja feliz procurando a felicidade dentro de si.

Quando estava grávida, amigas eram sinceras comigo. Diziam: “Quando ela nascer, você sentirá que um pedaço seu estará fora de você”. Até minha obstetra advertiu: “Eu digo que o cordão umbilical é cortado várias vezes durante a vida, se prepare para quando voltar a trabalhar”. Sempre fui uma pessoa independente dentro das condições de cada momento. Ou procurei ser. Nunca imaginei que seria uma mãe dedicada. Também me descobri mais paciente e tolerante às necessidades fisiológicas como o sono. Qualidades que eu tinha, mas não nesse tamanho. Por isso, quero aproveitar a me retratar com as demais mães que um dia critiquei – até por serem tão pacientes que se tornaram fastidiosas. Realmente, você só sabe como será como mãe quando nascer ou adotar um rebento (aliás, nascimento é uma forma de adoção).

E por que você se sente, então, mais incompleta? Desde o nascimento, aquele pedaço que um dia esteve, literalmente, dentro de você vai desenvolvendo autonomia. Ele deixa de se alimentar via placenta (aliás, sabia que a imunidade da grávida cai, um dos motivos, porque o bebê é um corpo estranho – tem genes do pai – e as células de defesa precisam tolerá-lo para que ele não seja abortado?) para se nutrir do leite produzido pelo teu corpo (outra curiosidade: parte da gordura e dos anticorpos que o bebê recebe são “retirados” do culote. Portanto, agradeça às gordurinhas localizadas pela saúde do teu filho). Depois, vai se descolando do seu seio para receber frutas e legumes.

“Os filhos são do mundo”, lembra o ditado. É verdade. Mas, cada vez que eles se “distanciam” do seu umbigo, mais você se sentirá incompleta. Aquele pedacinho originado por seu querido óvulo (que já estava pronto antes de você nascer, ou seja, você carregava o projeto de filho já quando vivia dentro da barriga da sua mãe), deve ganhar o mundo. Isso é ser saudável. Amém. Assim que deve ser. Então, querida mamãe, vou te dar um conselho: leve o mundo dentro de si.

Direitos iguais e diferenças respeitadas

Sucintamente, é isso que desejo para nós, mulheres. Somos fisicamente, quimicamente, biologicamente, quase-tudo-mente diferentes dos homens, mas essas particularidades não podem ser usadas como desculpa para que não tenhamos os mesmos direitos que eles. Ao contrário, as diferenças devem ser respeitadas. E, se você acha que somos, é uma sortuda que vive em um meio onde isso é possível (existe algum lugar assim no Brasil?) ou você não é mulher. Eu sou mulher.

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Quero ter TPM. Quero ter hormônios. Quero ter menopausa. Quero ter o direito de escolha sobre conceber ou não o filho. Quero ter equiparação salarial. Quero andar de minissaia. Quero ter acesso à educação e à saúde. Quero ficar com quem eu quiser. Quero andar de bicicleta pela rua. Quero poder ser bonita e inteligente ao mesmo tempo. Quero dividir as tarefas do lar. Quero ser gordinha ou magra sem ser discriminada. Quero fazer topless. Quero ser dona do meu corpo. Quero chegar ao cargo de gerência. Quero ser feminina. Quero poder expor as minhas ideias.

Recomendo para mulheres, homens e aqueles que estão acima das questões do gênero, a palestra no TED (organização sem fins lucrativos devotada a “Ideias Que Merecem Ser Espalhadas”) da escritora chilena Isabel Allende – vi o vídeo por meio da indicação da minha professora de canto e fono, Renata Bee. É imperdível. Você não perderá 18 minutos, e sim ganhará ensinamentos para o resto da vida.

 

Feliz Dia da Mulher para nós, objetos de pesquisas e pesquisadoras da vida.

Valorize os pequenos (grandes) momentos da natureza

Era um fim de tarde nublado em Ipanema. Eu caminhava no calçadão com amigos ao encontro de mais amigos num bar que comercializava deliciosos quitutes, localizado no xadrez dos quarteirões, no último novembro. Preferimos, claro, ir pela praia. Naquelas passadas recheadas de risadas, parei para observar as ilhas do Arquipélago das Cagarras. Elas me fascinam. Parece que foram propositalmente colocadas ali para, da areia, emoldurarem o mar. Descendo os olhos em direção ao centro do quadro, à praia, encontro três cenas comuns, quaisquer, triviais que devem ocorrer todos os dias sobre os minúsculos grãos. Suas plasticidade e vulgaridade cativaram. As oito personagens faziam parte daquele ambiente natural, talvez tendo consciência desse pertencimento. Querendo ou não, nossa relação com a natureza é de dependência. Somos pequenos em relação ao mundo em que vivemos, mas cada um pode ser grande dentro dele.

Foto e efeito: @isisrnd

Existe bicicletário em shopping?

Passei minhas últimas horas em Santiago, no Chile, dentro de um shopping. Não gosto de lugares fechados repletos de luz artificial durante o dia, de experimentar roupas e nem de comprar compulsivamente. Porém, resolvi conferir se os produtos vendidos no Brasil são, realmente, mais baratos no Chile como muita gente me contou antes de eu embarcar. É verdade: no vizinho há menos imposto sobre produtos importados. Apesar dessa oferta, o que realmente me marcou foi o “pequeno” bicicletário do tal shopping.

Veja na foto acima o tamanho da bicicleta – calculo que tenha cerca de 3 metros – informando que ali há estacionamento para as magrelas. Uau. Não consegui contar quantas estavam ali estacionadas, mas havia lugar para 50. O bicicletário é coberto, tem segurança e está localizado logo na entrada do shopping. Trazendo essa memória para o cotidiano paulistano, não lembro de ter visto sequer um bicicletário semelhante em um dos cerca de 50 shoppings que existem em São Paulo. A nossa capital das compras.

 

Recentemente, sem querer encontrei um pequeno e escondido estacionamento para dez magrelas próximo à entrada de pedestres de um shopping da Zona Oeste da capital paulista. Sem informações difundidas pelo shopping indicando o local do bicicletário. Caro leitor, se você conhecer algum bicicletário de destaque em lojas no Brasil, por favor, escreva nos comentários. Se você é logista, deixo a dica. Tenha uma boa pedalável semana!

O rio (não) pede passagem

O silêncio do rio Mapocho, que corta Santiago do Chile, atraiu o meu olhar quando estive na cidade em dezembro passado. Ele passava imperceptível por diversos bairros residenciais e turísticos, inclusive em frente ao famoso Mercado Central de Santiago. Suas águas barrentas tão rasas não eram vistas ao dar três passos de distância do muro que o separa da calçada. Ao encostar no parapeito, era possível observar as margens pedregosas e secas.

Santiago nasceu ao lado do Mapocho, mas acabou “engolindo” e canalizando parte do rio no fim do século XIX. Isso lembra alguma cidade brasileira chamada São Paulo? Apesar dessa semelhança na ocupação do local por meio do entorno das águas, o rio Mapocho é diferente do Tietê ou do Pinheiros que banham a capital paulista. Estes são de planície, ou seja, lentos e pouco profundos o ano todo. O Mapocho é um “rio de época”.

No verão, de tão seco, se torna quase um córrego. No inverno, com as chuvas seu volume começa a aumentar. Mas o ápice do Mapocho, que nasce nas Cordilheiras dos Andes, começa em setembro com o degelo delas. E, aí, a água desce com toda a velocidade montanhas abaixo levando muita terra e pedra. O rio vai que vai pelo interior do país até chegar à capital. Lá, pode quase transbordar. Quase.

Segundo informações que obtive no Chile, em algum museu que não lembro mais o qual, o Mapocho transbordou apenas duas vezes no último século. Uma em 1900 e bolinhas e outra há cerca de 20 anos. Não tenho mais informações sobre esses causos, mas lá no nosso vizinho contaram que é destinado um espaço fixo para o rio faça chuva ou sol. Afinal, no verão ele pode ser esbelto, mas no inverno é caudaloso.

Será que se o Mapocho fosse aqui, em São Paulo, o seu espaço ocupado em tempos de cheia também seria respeitado?

Pelo o que andei pesquisando – me corrija se eu estiver errada – foi feito um esforço para eliminar os dejetos domésticos do rio Mapocho. Apesar dele não feder mesmo quando faz um calor fluminense de mais de 35 °C em Santiago e um tempo seco, dizem que há resquícios químicos no rio.

Não existe a igualdade entre gêneros

Foto feita pela @PolineLys

Não quero ser igual aos homens. Aliás, nem se quisesse conseguiria. Nasci com os dois cromossomas “sexuais” femininos XX – e não os XY masculinos. Vim ao mundo com os órgãos reprodutores femininos, tensão pré-menstrual, tenho menos força física que a maioria dos homens da minha própria estatura. Poderia amenizar essas características para me tornar mais parecida com um homem? Sim, mas não quero – e nada contra quem tem esse desejo. As pessoas por essência, por nascença, por vontade, são diferentes. Devo ser respeitada pela mulher que sou.

Nossa cultura brasileira está muito, ainda, presa às dicotomias. Ou se é feminista, ou se é machista. Se parece atraente, não deve ser inteligente. Se gosta de se cuidar, é fútil. Se se diverte com futilidades, não tem conhecimentos gerais. Recebo muito, mas muito e-mail de homens reclamando da minha posição neste blog dizendo que sou feminista radicalmente exagerada. Pleonasmo. Eu sou mulher, sinto minha condição feminina na pele e quero alertar contra o preconceito que sofremos diariamente – sim, todo dia – nessa bola de neve calorenta.

Recentemente, uma amiga foi a uma entrevista de emprego feita pela pessoa que seria o chefe dela. Uma semana depois, ele ligou pedindo para que retornasse à empresa para conversar mais uma vez. No local, o tomara-futuro-chefe revelou que, entre os mais de 100 currículos recebidos e sabe-se lá quantas entrevistas feitas pessoalmente, ficou em dúvida entre três mulheres. Após duas semanas de expectativa, recebeu o telefonema: um homem foi contratado. O diretor do tomara-futuro-chefe não aceitou uma mulher preenchendo o pretendido cargo de chefia. Pensava que ela – uma mulher! – não conseguiria liderar os subordinados homens.

Segundo pesquisa do IBGE, o salário médio mensal das mulheres (R$ 983) é cerca de 30% menor que o deles (R$ 1.392). O curioso é que, segundos o mesmo Censo 2010, as mulheres estudam mais que os homens. Essa discriminação é tamanha que a “bancada feminina” quer votar um projeto de lei para multar as empresas que pagarem salário menor para as mulheres que realizam a mesma atividade dos homens. E, isso, acontece em diversas áreas do conhecimento. Já li muita pesquisa sobre mulheres que pensam em abandonar a profissão voltada às pesquisas científicas devido à impossibilidade imposta pelo mercado de ter filhos e continuar trabalhando – veja algumas matérias aqui e ali.
Não sou café-com-leite por ser mulher. Não sou boneca de luxo. Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher. Eu sou de ninguém. Sou contraditória. E, como toda mulher, sou meio Leila Diniz. Mas tenho vontade própria, não faça algo com o outro porque imagina que ele queira e não assume explicitamente. Eu sou minha, só minha e não de quem quiser.

A bicicleta é a solução para o trânsito?

Não. E sim. Essa é uma discussão que a cada dia tem se tornado mais frequente nas conversas de bar, nas redes sociais e em meios de comunicação como jornais e programas de televisão. Quem morou ou passou um tempo em cidades interioranas com cerca de 100 mil habitantes, se não usou a bicicleta para se locomover, deve ter observado muita gente pedalando. O mesmo é válido para quem vive ou viveu na periferia da cidade de São Paulo. E engana-se quem pensa que a bicicleta é utilizada apenas agora como meio de locomoção.

Desde criança eu observava as pessoas pedalando ao trabalho, quando morava em um bairro da periferia de São Paulo. Os porteiros do meu condomínio, por exemplo, com frequência chegavam de bicicleta. Uma pesquisa feita pelo Metrô de São Paulo sobre o uso delas na região metropolitana da cidade (de 2007, ok, desatualizada), gentilmente cedida para este blog, mostra que seu principal uso nos dias úteis é como locomoção ao trabalho (dito por 71% dos entrevistados). Quem mais pedala nesse período são as pessoas dos distritos do: Grajaú (10 mil), Vila Maria (9 mil), Jardim Helena (8 mil), Jaçanã (7 mil), Vila Medeiros (6 mil) e Tremembé (5 mil). Parte desses ciclistas escolheram a bicicleta por considerarem outros métodos de condução caros (22%) e a maioria usa para percorrer pequenas distâncias pedalando por até 30 minutos.

 

Eu sempre quis empregar a bicicleta como meio de transporte, mas como cheguei a me locomover até cerca de 30 quilômetros para ir e voltar ao trabalho, era inviável seu uso. Além disso, no bairro onde morava as ruas eram de mão única, com ônibus passando no limite máximo de velocidade e algumas calçadas não tinham a largura mínima exigida de 1,20 m. Se não havia espaço nem para os pedestres, imagine para uma ciclista (lembrando que pelo Código de Trânsito Brasileiro as bicicletas devem usar a rua, pois são veículos).

 

Assim, em grandes distâncias, a bicicleta poderia ser usada como um meio de ligação entre a sua casa e o metrô. Entre o seu trabalho e o principal terminal de ônibus da região. Atravessar a cidade todo dia sobre duas rodas, vamos combinar, exige um incrível preparo físico. O que nem todos têm. Quem mora perto do trabalho, até cerca de 10 quilômetros de distância, é um sortudo que pode usá-la como opção. E até – por que não? – intercalar com o metrô, ônibus, moto, carona e carro.

Hoje em dia, com pessoas com maior poder aquisitivo e formadores de opinião usando a bicicleta como meio de transporte, as discussões sobre o espaço destinado às magrelas têm se tornado mais frequente. Acontecem debates que já deveriam ter ocorrido há muitos anos. Felizmente, essa força – independente da classe social, afinal a ideia é todos podermos compartilhar do desejo de ir e vir como nos convém sem, claro, prejudicar a liberdade do outro – já obteve avanços. Nem que seja como forma de lazer, como as ciclofaixas aos domingos e feriados, para apresentar a vida sobre duas rodas para aqueles que só tem a perspectiva de dentro do carro.

A ideia não é demonizar os carros e outros veículos motorizados. Nem impor o uso da bicicleta para todos. Mas pensar em alternativas de locomoção. Em integrar os meios de transporte. Se pode haver no metrô estacionamento para veículos motorizados, por que não podem existir bicicletários? Precisamos melhorar a nossa qualidade de vida para sermos mais felizes. Tomar as ruas, seja de bicicleta ou a pé, significa ter mais segurança e fazer parte da vida que passa pela janela.

Aqueles que nos insultam enquanto ciclistas – ou também pedestres – pensem em duas coisas. Graças aos ciclistas e pedestres, há menos carro na rua para transitar mais livremente. E menos fumaça prejudicial à saúde. Quem pensa que fechado dentro do carro ou de casa está protegido das emissões de gás carbônico está enganado. Algumas pesquisas afirmam que os poluentes se concentram nesses lugares.

 

A rua tem espaço para todos. Vamos tomar o espaço público como o próprio subjuntivo diz.

Obs.: Quase a metade das viagens (49%) é realizada por pessoas entre 23 e 39 anos e por homens (91%), via pesquisa feita pelo Metrô.